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Trono de Ossos

CAPÍTULO 1 ∆

"Existem prisões que não têm muros, correntes que não se veem e julgamentos que não deixam cicatrizes visíveis. Eu sou herdeira de todas elas."

Essa foi a primeira verdade que compreendi sobre quem eu era.

Minha linhagem não é um legado de glória, mas de sangue. Um sangue que muitos almejam, mas poucos compreendem. Dizem que somos descendentes diretos do primeiro ancestral dos lobos, uma bênção e maldição carregada por cada membro da minha família desde a aurora dos tempos. Nosso sangue é especial, imune a venenos, capaz de curar qualquer ferida, e, para aqueles ousados ou insanos o suficiente para bebê-lo, uma fonte de poder inimaginável.

Mas a singularidade sempre atrai os predadores. Ao longo dos séculos, os Grey foram caçados, vendidos, traídos por aqueles que um dia chamaram de aliados. Ser a última portadora desse legado é viver com um alvo nas costas e correntes invisíveis no coração.

Hoje, porém, é um dia diferente. Meu destino sempre foi ser algo mais, algo maior. Aos 18 anos, eu finalmente receberei meu lobo, um rito que marca a verdadeira ascensão à minha herança.

Eu sou Calyssa Grey,

filha do Alfa Dominic Grey, líder da Matilha Sombria. Nosso clã é antigo, uma força unida de lobos que sobreviveu à extinção de outras linhagens. Mas apenas minha família carrega o sangue do ancestral. Meu pai é a personificação da força, minha mãe, Lyanna Grey, a calma que equilibra o caos. Meu irmão mais velho, Kael, está destinado a liderar a matilha um dia, enquanto minha irmã, Evanna... Bem, ela e eu nunca fomos próximas.

Evanna Grey

Hoje, no meu aniversário, tudo muda.

......................

A lua cheia estava no ponto mais alto do céu quando me ajoelhei no altar. O sacerdote, um lobo velho e sábio chamado Theron, movia-se ao meu redor com cânticos em uma língua antiga, uma língua que ressoava dentro de mim como um eco perdido.

A cerimônia era simples, mas cheia de simbolismos. Ao meu redor, a matilha inteira observava em um círculo. Meu pai estava à frente, minha mãe ao lado dele, e Kael logo atrás. Evanna estava ali também, mas mantinha-se afastada, como se minha presença a incomodasse.

— Hoje, Calyssa Grey, você se tornará uma com sua loba. Ela te encontrará, te reclamará, e juntas vocês serão completas, — declarou Theron.

Ele me entregou uma adaga de prata. Era tradição que o sangue do ritual fosse o meu, o sangue da linhagem Grey. Sem hesitar, cortei a palma da mão, deixando meu sangue pingar na pedra do altar.

Foi então que começou.

Uma dor lancinante atravessou meu corpo, como se algo estivesse rompendo todas as barreiras dentro de mim. Caí de joelhos, meu coração parecia que iria explodir. Minha visão ficou turva, e por um momento pensei que não suportaria.

"Calyssa..."

A voz era suave, mas carregada de força, como o uivo de um vento que atravessa uma floresta antiga.

"Eu sou Akira, sua loba. E agora somos uma só."

Senti sua presença antes de vê-la. Quando abri os olhos, ela estava lá, dentro da minha mente, mas tão real quanto o mundo ao meu redor. Sua pelagem era de um branco prateado, brilhando como a própria luz da lua. Seus olhos eram dourados, intensos, e suas presas eram longas e afiadas, uma marca clara da linhagem Grey.

"Finalmente," ela disse, uma mistura de força e ternura em sua voz.

"Akira," respondi em pensamento.

A conexão entre nós era indescritível, como se duas metades que sempre estiveram separadas tivessem finalmente se encontrado.

A dor foi desaparecendo aos poucos, e quando me levantei, senti como se o mundo inteiro fosse diferente.

— Ela conseguiu,— Kael murmurou, um sorriso orgulhoso no rosto.

Meu pai assentiu, enquanto minha mãe enxugava uma lágrima silenciosa. Até Evanna parecia surpresa, embora houvesse um vislumbre de algo mais sombrio em seus olhos.

Quando a cerimônia terminou, não consegui me segurar. Transformei-me pela primeira vez, sentindo o poder de Akira correr por minhas veias. A sensação era pura liberdade, como se nenhuma prisão pudesse me segurar novamente.

Kael e alguns dos lobos correram comigo pela floresta. Entre eles estava meu melhor amigo, Ryden, um guerreiro leal e quase tão teimoso quanto eu.

— Você parece bem melhor como loba, — brincou ele enquanto corríamos lado a lado.

"Diga isso de novo e vou arrancar sua cauda", Akira respondeu por mim, e não consegui evitar a risada.

Corremos até o amanhecer, explorando cada canto da floresta, testando minha nova força. Era como se eu tivesse nascido de novo, finalmente completa.

......................

Quando voltamos à fortaleza, o sol já estava alto no céu. Meu corpo estava exausto, mas minha mente vibrava com energia. Porém, ao cruzar os corredores de pedra, senti algo estranho.

Um cheiro. Intenso, envolvente, e tão marcante que meu coração acelerou.

Akira ficou alerta. "Companheiro," ela sussurrou em minha mente.

Apenas um pensamento me dominava enquanto seguia o aroma. Ele estava ali. O homem que a deusa Lua havia escolhido para mim.

Mas então algo estava errado. O cheiro me conduzia para o lado errado... para o quarto de Evanna.

Empurrei a porta, e o que vi me roubou o fôlego.

Evanna estava ali, sua pele brilhando de suor, e sobre ela estava ele.

— Damon?

(Continua...)

CAPÍTULO 2 ∆

"Dizem que a deusa da Lua nunca erra. Mas hoje, ela destruiu tudo em mim. Porque o destino, mesmo escrito pelas estrelas, nem sempre é justo."

Damon era um beta guerreiro da nossa matilha. Forte, destemido, e facilmente o mais atraente entre os seus. Com olhos cor de âmbar e um sorriso que encantava qualquer um, ele era o sonho de muitas mulheres da nossa matilha. Não meu. Nunca foi. Eu o respeitava, mas nunca o olhei duas vezes como algo além de um membro da matilha.

Até agora.

O cheiro dele me atingiu com uma força avassaladora assim que entrei no quarto. Meu coração disparou, meu peito apertou, e, naquele momento, soube. Ele era meu companheiro.

Mas o que vi destruiu qualquer esperança que eu pudesse ter.

Ele estava com Evanna.

Evanna, minha irmã, a que sempre teve tudo. E agora, até isso.

— Damon? — Minha voz saiu baixa, quase um sussurro.

Ele congelou ao ouvir minha voz, seu corpo tenso enquanto lentamente virava a cabeça na minha direção. Seus olhos encontraram os meus, e naquele momento, percebi que ele também sentia. O laço.

— Calyssa... — Ele começou, mas sua voz soava confusa, quase dolorosa. Ele sentia, sim, mas sua mente parecia lutar contra o que o destino havia decidido.

— O que você está fazendo aqui? — Evanna interrompeu, levantando-se rapidamente, enrolada em um lençol. Seu tom era afiado, cheio de superioridade. — Este é o meu quarto, Calyssa.

Eu ignorei sua provocação, meus olhos presos em Damon. — Você é... — Minha voz falhou. — Meu companheiro.

Evanna soltou uma risada cruel. — Companheiro? Não, querida irmã, Damon é meu. Ele me ama. Não importa o que a deusa tenha decidido, ele nunca será seu.

— Evanna... — Damon tentou falar, mas ela continuou, se aproximando de mim com aquele sorriso vitorioso.

— Acha mesmo que, só porque nasceu na nossa linhagem, tem o direito a tudo? Não, Calyssa. Damon ia pedir minha mão em casamento esta noite. Ele não é seu companheiro, ele é meu homem.

Minhas pernas enfraqueceram, e Akira ficou em silêncio, mergulhada em tristeza. O vínculo pulsava dolorosamente em meu peito, e lágrimas brotaram em meus olhos.

— Damon... — Olhei para ele, uma última súplica. — O que você sente... você não pode ignorar. A ligação está lá. A deusa nos escolheu.

Ele fechou os olhos, como se estivesse tentando apagar a dor. — Eu não escolhi isso, Calyssa. Eu amo Evanna. Sempre amei. E vou pedir sua mão hoje.

As palavras dele foram como uma lâmina fria atravessando meu coração.

— Então é isso? — sussurrei, lutando para manter a dignidade. — Você vai me rejeitar?

— Calyssa... — Ele hesitou, mas então, respirou fundo, como se tentasse reunir coragem. — Eu, Damon Valerias, rejeito você, Calyssa Grey, como minha companheira.

A dor foi instantânea. Uma faca rasgando meu peito. Senti o vínculo se partir de forma cruel, como se algo dentro de mim estivesse sendo arrancado. O sangue escorreu do meu nariz, e minhas pernas fraquejaram.

Akira não disse nada. Sua presença estava lá, mas era como se ela estivesse encolhida em sua tristeza.

Mesmo assim, recusei-me a cair. Levantei a cabeça, mesmo com o mundo girando ao meu redor.

— E eu, Calyssa Grey, rejeito você, Damon Valerias, como meu companheiro.

Vi quando ele cambaleou, a dor refletida em seus olhos, mas não fiquei para assistir.

— Você nunca o mereceu, irmã, — Evanna provocou enquanto eu me afastava.

— Ele já não me importa mais, na verdade nunca importou, — respondi, a voz fria. Mesmo que fosse mentira, recusei-me a dar mais um motivo para ela sorrir.

No meu quarto, chorei como nunca antes. A dor da rejeição era insuportável, mas pior do que isso era o silêncio de Akira.

— Akira... por favor... diga algo, — implorei, mas não houve resposta. Ela estava tão destruída quanto eu.

Na Manhã Seguinte

Kael foi o primeiro a entrar no meu quarto. Ele sentou-se ao meu lado, seus olhos cheios de preocupação.

Kael Grey

— O que aconteceu, Calyssa?

Contei tudo. Sobre Damon, sobre Evanna, e sobre a rejeição. Sua expressão ficou sombria, e ele saiu do quarto para confrontar nossa irmã.

Minha família reuniu-se na sala principal. Meu pai parecia furioso, minha mãe estava chocada, e Kael parecia prestes a explodir.

— Isso é inaceitável, — meu pai rosnou. — Ele jamais deveria ter rejeitado o vínculo. A deusa pode nos punir por isso.

Evanna cruzou os braços, desafiadora. — Damon e eu nos amamos há anos. Só porque a deusa escolheu Calyssa, isso não significa que ele tenha que aceitá-la. Ele ia me pedir em casamento esta noite, e ninguém vai nos impedir.

— Você está brincando? — Kael gritou, a raiva brilhando em seus olhos.

— Basta, — interrompi, a voz baixa. Todos me olharam, surpresos. — Deixe-os. Não importa mais. O pior já aconteceu.

Meu pai hesitou, mas assentiu.

......................

À noite, a sala principal estava decorada para o noivado de Evanna e Damon. A felicidade dela era como um espetáculo cruel, e eu mal conseguia suportar estar ali.

Quando o anúncio foi feito, aplaudi mecanicamente, sentindo-me cada vez mais desconectada. Eventualmente, não aguentei mais. Levantei-me e saí em silêncio, sem olhar para ninguém e fui para a floresta.

A floresta me recebeu com seu silêncio reconfortante. Corri até que minhas pernas não aguentassem mais, o vento frio queimando meu rosto.

— Por que... — murmurei, deixando as lágrimas caírem. — Por que comigo?

Akira permaneceu em silêncio, mas, dentro de mim, senti seu sofrimento. Estávamos presas juntas nessa dor.

Sob a luz da lua, caí de joelhos, esperando que a escuridão me desse as respostas que eu não conseguia encontrar.

CAPÍTULO 3 ∆

"Dizem que a dor molda quem somos. Que, ao perder tudo, renascemos mais fortes. Mas naquele momento, enquanto corria pela floresta, tudo o que sentia era o vazio devorando minha alma. A rejeição de Damon ainda queimava dentro de mim, mas a destruição que encontraria mais adiante seria a verdadeira ruína do meu coração."

Eu não sabia por quanto tempo corri pela floresta. Minhas pernas pareciam se mover sozinhas, guiadas por um instinto de sobrevivência que nem eu sabia que tinha. A dor da rejeição e o vínculo quebrado ainda pulsavam em meu peito, mas, naquele momento, o que mais me dominava era a confusão.

"Por quê?" pensei, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. "Por que a deusa me abandonaria assim? Por que daria um companheiro que nunca foi meu de verdade?"

Akira continuava em silêncio. Sua dor refletia a minha, e isso só tornava tudo mais insuportável.

Quando finalmente parei, percebi que estava longe demais.

Girei os calcanhares e retornei para a matilha.

A lua iluminava a clareira à minha frente, mas algo no ar fez meu peito apertar. Um cheiro intenso de sangue.

"Akira?" chamei, a voz trêmula.

"Tem algo errado," ela rosnou, despertando de sua letargia. "Algo terrível aconteceu."

Antes que eu pudesse perguntar mais, ela assumiu o controle. Meu corpo se transformou rapidamente, e agora éramos uma só, correndo em direção à origem daquele cheiro metálico e sufocante.

À medida que nos aproximávamos da matilha, os sons ficaram mais claros. Gritos. O rugir de fogo consumindo madeira. Meu coração disparou, e Akira soltou um uivo de pura fúria.

"Não... não pode ser," sussurrei em pensamento.

Quando chegamos mais perto, vi o caos. Casas queimando, corpos caídos ao chão. A visão era um pesadelo, uma cena que nunca esqueceria.

De repente, uma figura cambaleante surgiu entre as árvores. Era Ryden. Seu corpo estava coberto de sangue, e ele tropeçou antes de cair de joelhos. Imediatamente voltei à minha forma humana, correndo até ele e segurando-o antes que ele atingisse o chão.

— Ryden! — gritei, meu coração afundando ao vê-lo naquele estado.

Ele tentou falar, mas o sangue borbulhou em sua boca. Ainda assim, ele segurou meu braço com força, como se estivesse lutando contra a morte para me avisar algo.

— Você... precisa fugir, Calyssa, — ele disse com dificuldade, sua voz rouca.

— Não! Eu não vou te deixar! O que está acontecendo? Onde está minha família? — Minha voz tremia, e as lágrimas escorriam enquanto eu o sacudia levemente, tentando mantê-lo acordado.

— Estão... estão todos mortos, — ele revelou, e aquelas palavras cortaram mais profundamente do que qualquer lâmina jamais poderia.

Meu mundo parou. A dor da rejeição que senti antes parecia insignificante em comparação ao que aquelas palavras carregavam.

— Não... — murmurei, as lágrimas caindo sem controle. — Não pode ser... Quem fez isso, Ryden? Quem?!

— Os Bloodfang e Shadowclaw, — ele conseguiu dizer, tossindo violentamente em seguida. — Eles... se uniram. E massacraram tudo.

A raiva tomou conta de mim, queimando como fogo. — Por quê? Por que fariam isso?

— Poder... território... vingança... Não importa, — ele respondeu, sua voz ficando mais fraca a cada palavra. — Calyssa... eles virão atrás de você. Você é a última. A única que restou.

Minha mente estava um caos. Eu não podia processar tudo ao mesmo tempo. — Não vou deixá-lo aqui, Ryden. Vou cuidar de você. Vou... — comecei a procurar algo ao meu redor, desesperada para ajudar, para salvar pelo menos uma vida. Nem que precisasse usar meu sangue para curá-lo.

— Não... Não tem salvação para mim, não temos tempo — ele disse, sua mão segurando a minha com um aperto fraco. — Calyssa, por favor... fuja.

— Não! Eu não vou te abandonar! — gritei, mas, naquele momento, ouvi vozes. Vozes distantes, mas cada vez mais próximas.

Ryden olhou nos meus olhos com uma urgência desesperada. — Fuja, Calyssa! Agora!

— Ryden, não... por favor! — supliquei, mas ele balançou a cabeça.

— Salve-se, Calyssa. Akira... leve-a para longe.

Akira rugiu dentro de mim, e, antes que eu pudesse protestar, ela tomou o controle. Meu corpo voltou à forma de lobo, e ela começou a correr, me carregando para longe.

Enquanto corríamos, pude ouvir as vozes e os uivos dos lobos inimigos nos perseguindo. Meus olhos ardiam de lágrimas, e minha mente gritava para voltar, mas Akira não me deu escolha.

"Precisamos viver, Calyssa", — ela rosnou.

Corremos por um tempo que pareceu uma eternidade, até que chegamos à beira de um precipício. Quase caí, minhas patas escorregando na terra solta, mas consegui parar a tempo.

Olhei ao redor. Lobos surgiram das sombras, cercando-nos. Akira recuou até a beira, rosnando para os inimigos que avançavam lentamente.

"Não temos para onde ir," ela disse, sua voz carregada de resignação e fúria.

A solidão não me incomoda. Sempre fui assim, isolado, separado do resto do mundo. Minha matilha, Nightbane, é o reflexo disso. Nós somos o que as outras matilhas temem: predadores que não hesitam em atacar. Não fazemos alianças, não buscamos aprovação. Somos lendas vivas, e, como todo mito, nosso nome é sussurrado com respeito e medo.

Eu sou Draven Black, Alfa da matilha Nightbane.

Minha posição como Alfa não veio de sangue ou privilégio. Eu conquistei meu lugar. Cresci órfão, lutando por cada pedaço de respeito e por cada gota de poder que possuo agora. Aos 20 anos, desafiei o Alfa anterior e tomei o trono que ele nunca mereceu. Desde então, minha palavra é lei.

Mas, mesmo entre os mais poderosos, há coisas que nos tornam únicos. Minhas presas negras, por exemplo. Um veneno mortal corre nelas, uma marca de algo que não entendo. Já me trouxe vitórias incontáveis, mas também tragédias... como a morte de minha última companheira.

Agora, anos depois, evito laços. Uma fraqueza que não posso me permitir novamente.

Caminhava naquela noite com meus betas, Caius e Axel, sob a luz prateada da lua. A noite estava agitada, os ventos trazendo aromas desconhecidos.

— Acha que os Bloodfang vão causar problemas de novo? — Caius perguntou.

— Eles sempre causam, — respondi secamente. — Mas não são estúpidos o suficiente para cruzar nossas fronteiras.

Axel riu, mudando de assunto. — Chega de guerra. Vamos falar de coisas melhores. E por melhores, quero dizer mulheres.

— Claro que você diria isso, — retruquei, minha voz carregada de sarcasmo.

— Talvez seja disso que você precise, Alfa, — Axel provocou. — Uma nova companheira para te tirar dessa constante nuvem de mau humor.

— Não preciso de ninguém, — respondi friamente. — E não se esqueça do que aconteceu com a última.

Axel insistiu. — Não acha que está na hora de reconsiderar? Uma alfa ao seu lado fortaleceria a matilha. E, francamente, a solidão pode ser perigosa.

— Só se ela cair do céu, — retruquei sarcasticamente. — Até lá, vocês dois vão parar de me irritar ou preciso lembrá-los do que acontece com lobos desobedientes?

Axel soltou um suspiro resignado, mas antes que pudesse responder, algo mudou no ar.

Foi súbito. Um som cortou a noite, um grito que ecoou de cima do penhasco.

Minha atenção foi capturada instantaneamente, e meus instintos assumiram o controle. Olhei para cima, para o alto do desfiladeiro. Algo estava caindo. Não, alguém.

— Que merda.

Corri. O mundo parecia desacelerar enquanto meus pés me levavam para o ponto exato onde o corpo cairia. Não havia tempo para pensar, apenas agir.

O impacto foi forte, mas eu não vacilei. Segurei-a com firmeza, protegendo-a contra meu peito enquanto absorvia o choque.

Ela estava inconsciente, o corpo coberto de feridas e sangue. Seus cabelos estavam emaranhados, mas havia algo em seu rosto... algo que me fez parar.

— Quem é ela? — Caius perguntou, a surpresa evidente em sua voz.

Eu não respondi. Apenas continuei olhando para ela. Meu peito subia e descia enquanto minha mente processava o que havia acabado de acontecer.

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