A cidade brilhava sob as luzes da noite, mas para Isabela, cada reflexo na janela era uma lembrança do que ela tentava esquecer. A nova vida que construíra parecia sólida à distância, mas bastava um toque do passado para que tudo tremesse como vidro prestes a se estilhaçar.
Naquela noite, o silêncio do apartamento era diferente. Carregava uma presença invisível, um peso que se espalhava pelos cômodos, tornando o ar denso. Isabela estava sentada à mesa, uma xícara de chá esquecida ao lado, enquanto lia as últimas páginas de um romance qualquer. Procurava distração nas palavras, mas seus olhos deslizavam pelas linhas sem absorver uma única frase.
Foi então que o telefone vibrou.
A tela iluminada projetou sombras em seu rosto enquanto ela observava a mensagem sem tocá-la. Quatro palavras simples, mas capazes de desfazer meses de esforço:
"Ainda não acabou."
Isabela sentiu o coração acelerar. A respiração ficou presa em sua garganta, e por um instante, parecia que o passado a engoliria de volta.
Ela se levantou devagar, como se movimentos bruscos pudessem quebrar a frágil segurança que construíra. Caminhou até a janela e olhou para a rua abaixo. Carros passavam, pessoas riam nos cafés, e o mundo seguia seu curso, indiferente ao turbilhão que se formava dentro dela.
"Não outra vez", pensou, fechando os olhos.
Mas as palavras na tela brilhavam como uma promessa inevitável.
Longe dali, em algum canto escuro da cidade, Leonardo Vasquez guardava o telefone no bolso e observava a noite se desenrolar. Um sorriso leve brincava em seus lábios, enquanto ele aguardava pacientemente.
No segundo livro de Ecos da Obsessão, um novo antagonista surge para ameaçar a paz recém-conquistada por Isabela. Esse homem, chamado Leonardo Vasquez, é enigmático e manipulador, com uma presença que mistura charme e perigo. Ele aparenta ser um empresário bem-sucedido e altruísta, conhecido por seu trabalho em instituições de caridade. No entanto, por trás dessa fachada impecável, esconde um passado sombrio e intenções perigosas.
Leonardo aparece na vida de Isabela como um aliado inesperado, oferecendo apoio em um momento de vulnerabilidade. Ele parece saber mais sobre seu passado do que ela gostaria, e suas palavras sugerem que ele também tem contas a acertar com Victor, o homem que a destruiu. Inicialmente, Isabela hesita em confiar nele, mas sua habilidade em manipular situações e conquistar confiança a faz baixar a guarda.
Conforme a história avança, Isabela percebe que Leonardo tem uma obsessão sombria por controle. Ele não busca apenas protegê-la, mas dominá-la, usando segredos do passado dela como moeda de troca para manter sua proximidade. Ele é imprevisível, ora carinhoso e protetor, ora cruel e implacável, testando os limites emocionais e psicológicos de Isabela.
Com um poder que vai além do físico, Leonardo ameaça não apenas a liberdade de Isabela, mas sua sanidade e capacidade de confiar em si mesma. Ele se torna um novo tipo de vilão, representando o perigo de aqueles que se escondem atrás de máscaras, tornando a luta de Isabela pela liberdade ainda mais complexa e perigosa.
Leonardo Vasquez será o teste definitivo para Isabela, obrigando-a a confrontar tanto os fantasmas do passado quanto sua própria força interior para escapar de uma nova prisão – dessa vez, mental e emocional.
Algumas batalhas nunca terminam.
O trem deslizou pela plataforma como um fantasma, e por um instante me perguntei se realmente deveria descer. A mala estava leve, mas pesava em minhas mãos como uma âncora, e a nova identidade que carregava parecia um papel fino demais para sustentar o peso do meu passado.
Sofia morreu aqui.
Era o que eu me dizia repetidamente. A mulher que desceu daquele trem era outra pessoa, com outro nome. Isabela.
O nome era antigo, mas eu nunca o havia usado. Era da minha avó, uma mulher que morreu antes que eu pudesse conhecê-la. Peguei emprestado seu nome porque ninguém a conhecia nesta cidade, e isso tornava a escolha segura. Ser Isabela era um passo para longe de tudo o que eu tentava esquecer.
A nova cidade não tinha nada de especial. Pequena, esquecida no mapa, do tipo que poucas pessoas escolhem para recomeçar. E foi por isso que eu a escolhi. As ruas de paralelepípedo, as janelas fechadas, o vento arrastando folhas secas pelas calçadas… Parecia um lugar onde segredos podiam se esconder nas sombras sem serem notados.
Caminhei devagar, sentindo os olhos dos poucos moradores me observando enquanto eu seguia pela rua principal. Sabia o que eles pensavam. Uma forasteira. Ninguém se muda para cá sem motivo.
O apartamento que encontrei ficava acima de uma pequena livraria. As paredes eram finas, e o cheiro de papel antigo impregnava o ar. O aluguel era barato e o proprietário, um homem de meia-idade chamado Enrique, não fez muitas perguntas. Ele só queria o pagamento adiantado, e eu estava feliz por isso.
— Não há muitas regras — ele disse enquanto me entregava a chave. — Apenas mantenha as portas trancadas à noite.
Assenti, mas o aviso ficou martelando na minha cabeça.
Mantenha as portas trancadas à noite.
Eu sempre trancava.
As primeiras noites foram longas. O colchão rangia sob meu peso e as cortinas deixavam frestas por onde a luz da rua invadia o quarto. Ficava acordada, ouvindo cada som que o prédio fazia. Cada passo no corredor. Cada batida no vidro da janela.
Eu me levantava várias vezes para checar a porta, girava a chave até sentir que estava firme. Uma vez ouvi passos parando diante do meu apartamento. A luz do corredor foi bloqueada por uma sombra que ficou imóvel do outro lado da porta por tempo demais.
Eu prendi a respiração, segurando a faca que mantinha ao lado da cama.
Mas a sombra se afastou, e o silêncio retornou como uma onda.
Não é ele.
Repeti isso em minha mente até conseguir dormir.
Durante o dia, eu tentava criar uma rotina. Comprava café na padaria da esquina e passava as tardes na livraria de baixo, fingindo ler enquanto observava as pessoas pela vitrine.
Eu precisava de um trabalho, mas me recusava a dar informações pessoais que pudessem ser rastreadas. Enrique, por algum motivo, ofereceu que eu ajudasse na livraria. Pagava pouco, mas me permitia ficar longe de olhares curiosos.
Passei a ser apenas "Isabela, a garota da livraria".
— Você não fala muito, né? — ele comentou certo dia, enquanto organizávamos as prateleiras.
Dei de ombros.
— Prefiro ouvir.
Ele aceitou a resposta com um aceno. Talvez soubesse que eu fugia de algo. Talvez não se importasse.
As semanas passaram, e aos poucos a sensação de perseguição foi diminuindo. Comecei a andar pelas ruas sem olhar para trás o tempo todo. Passei a usar meu nome sem hesitar quando alguém perguntava.
Isabela.
Era quase como se Sofia nunca tivesse existido.
Até que a primeira mensagem chegou.
Eu estava trancando a livraria tarde da noite quando o telefone vibrou no bolso do casaco. A tela iluminou meu rosto no escuro, e por um momento, senti o chão sumir sob meus pés.
"Você achou que podia fugir de mim?"
Meus dedos tremiam enquanto lia aquelas palavras. Olhei para os lados, tentando enxergar através da escuridão da rua, mas não havia ninguém. Apenas carros estacionados e a luz de um poste piscando.
Eu corri até o apartamento.
Tranquei a porta três vezes, passei a corrente e empurrei uma cadeira contra a maçaneta. Sentei no chão, com as costas apoiadas na parede, encarando o telefone como se ele fosse explodir.
Tentei convencer a mim mesma de que era uma coincidência. Que alguém tinha mandado a mensagem errada.
Mas então outra vibração.
"Ainda não acabou."
Meus olhos se encheram de lágrimas.
Eu estava certa. O passado não desaparece. Ele se esconde, esperando que você baixe a guarda.
Victor estava me observando.
Passei os dias seguintes evitando sair. Enrique percebeu minha ausência na livraria, mas não perguntou nada. Talvez soubesse que certas perguntas não têm respostas.
O telefone continuava sobre a mesa, mas eu não o tocava. A tela trincada refletia meu rosto sempre que passava por perto, como uma lembrança de que não importa quantas vezes eu troque de nome ou cidade — o medo sempre me encontra.
Mas desta vez não vou correr.
Eu era Sofia quando fugi. Mas agora sou Isabela.
E Isabela não vai se esconder.
O telefone permaneceu intocado sobre a mesa durante três dias. Eu o olhava de relance, como se ele pudesse ganhar vida a qualquer instante, mas não tinha coragem de desbloqueá-lo. As mensagens de Victor pareciam pulsar, vivas, presas naquela tela.
Na quarta noite, decidi que não podia continuar assim.
Respirei fundo e deslizei o dedo pela tela trincada. As palavras estavam lá, exatamente como eu lembrava:
"Você achou que podia fugir de mim?"
"Ainda não acabou."
Minhas mãos estavam firmes, mas dentro de mim, o pânico fervia. Eu precisava de respostas. E a única forma de obtê-las era encarar aquilo de frente.
Sentei no sofá, as costas curvadas, e digitei o nome dele na barra de pesquisa. Victor Hernández.
A cada letra que surgia na tela, meu coração martelava no peito, pesado e irregular. Eu quase esperava que nada aparecesse — que ele continuasse como uma sombra, sem vestígios no mundo real.
Mas não foi o que aconteceu.
Os resultados se espalharam diante de mim, manchetes antigas e fotos familiares demais. No centro de uma das matérias, uma imagem de Victor, seu sorriso frio, o olhar afiado que eu jamais esqueceria. Era como ver um fantasma.
Meus olhos desceram pelo texto, as palavras dançando diante da minha visão turva:
"Empresário Victor Hernández morre em explosão misteriosa."
A matéria era datada de cinco meses antes. Li e reli o título, incapaz de compreender. Continuei descendo:
"A polícia local confirma que Victor Hernández, empresário conhecido, faleceu após uma explosão em uma de suas propriedades particulares. O incidente permanece sob investigação, mas indícios apontam para um possível vazamento de gás. O corpo foi encontrado entre os escombros, embora em condições irreconhecíveis. DNA confirmou sua identidade."
Larguei o telefone.
Victor estava morto.
As palavras giravam em minha mente, mas não pareciam reais.
Levantei-me, andando de um lado para o outro do apartamento. A sensação de estar sendo observada, de que ele estava à espreita em cada esquina, era tudo mentira? Uma ilusão que eu mesma alimentei?
Mas… e as mensagens?
Corri de volta ao telefone, abrindo os detalhes do número que havia me enviado as mensagens. Nada. Nenhuma identificação.
De repente, a livraria abaixo do apartamento pareceu absurdamente silenciosa. O prédio respirava comigo, e cada estalo das paredes soava mais alto do que deveria.
Se Victor está morto… quem está me mandando essas mensagens?
A ideia de que outra pessoa poderia estar jogando comigo se insinuou lentamente, fria como gelo descendo pela espinha.
Me aproximei da janela e puxei a cortina, espiando a rua deserta lá embaixo. A luz do poste ainda piscava, lançando sombras irregulares na calçada. Nenhum sinal de alguém me observando. Nenhum carro parado onde não deveria estar.
Mas o desconforto persistia.
Voltei para o sofá e deixei o telefone de lado. A imagem de Victor na tela ainda queimava na minha memória. Por mais que tentasse me convencer, uma pergunta se recusava a desaparecer:
E se ele não morreu?
A matéria dizia que o corpo foi encontrado, mas e se houvesse um engano? E se Victor tivesse manipulado tudo, como tantas vezes fez no passado?
Conhecendo ele, aquilo não parecia impossível.
Aquela noite foi mais longa que as anteriores. Mesmo sabendo que Victor estava, supostamente, morto, eu continuei ouvindo passos que não existiam e sentindo olhos sobre mim.
Talvez eu esteja me tornando paranoica.
Mas no fundo, eu sabia.
Alguém estava por trás daquilo.
E, morto ou não, Victor ainda não havia saído da minha vida.
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