NovelToon NovelToon

O Último Resgate

Capítulo 1

O clima no quartel de bombeiros estava tranquilo, quase sereno. O cheiro do café fresco invadia o ar, e o som ocasional de risadas e conversas entre os bombeiros criava uma atmosfera de camaradagem.

Apolo Harrington, o líder da equipe, estava sentado na sua mesa, revisando alguns relatórios. Com o seu porte atlético e sorriso charmoso, ele atraía a atenção de todos ao seu redor.

No entanto, por trás daquela imagem perfeita, havia um peso em seu coração.

Apesar de ser um homem íntegro e honesto, Apolo sentia-se preso em um acordo que não desejava. O casamento com Catherine Ashton não era o que ele havia sonhado; era uma obrigação imposta por seu pai. Catherine era uma jovem forte e resiliente, a salvadora do idoso que Apolo admirava profundamente. Mas o amor que deveria existir entre eles nunca foi cultivado. Em vez disso, haviam se tornado estranhos vivendo sob o mesmo teto.

Enquanto Apolo refletia sobre sua vida, a sirene do quartel soou abruptamente, cortando o clima tranquilo. A luz vermelha piscava freneticamente, e a central de atendimento começou a transmitir as informações.

"Central de Bombeiros para todas as unidades! Chamado para incêndio em supermercado localizado na Avenida Central! Repetindo: incêndio em supermercado! Acionar Ambulância 23, Carro Pipa 34 e Caminhão 18! Todos os disponíveis, compareçam imediatamente!"

A adrenalina começou a correr nas veias de Apolo e de sua equipe. Ele sentiu um misto de excitação e preocupação. Era hora de deixar as questões pessoais de lado e agir. Com rapidez, ele se levantou, pegou seu capacete e chamou Tom.

— Vamos lá! Precisamos estar prontos! - Disse Apolo enquanto se dirigia para a garagem.

Tom, seu melhor amigo e conselheiro leal, já estava se preparando ao lado do caminhão. Com um olhar decidido, ele respondeu:

— Apolo, você precisa lembrar que a sua filha também precisa de você. Não é só sobre ser bombeiro; é sobre ser pai.

Apolo hesitou por um momento, sentindo o peso das palavras de Tom. Mas a urgência da situação rapidamente tomou conta dele novamente.

— Agora não é hora para isso, Tom! Temos vidas em risco!

Tom assentiu com compreensão.

— Eu sei, mas não esqueça que você tem uma família esperando por você quando tudo isso acabar.

Com essas palavras ecoando na mente de Apolo, ele subiu no caminhão enquanto Tom seguia logo atrás. O motor rugiu e a equipe se preparou para a corrida até o supermercado incendiado.

Naquele momento crítico, Apolo sabia que precisava enfrentar tanto o fogo no supermercado quanto as chamas que queimavam dentro dele — mas agora era hora de salvar vidas.

O som do motor do Carro 18 ecoava pelo ar enquanto eles chegavam ao supermercado em chamas. Apolo saltou do veículo, a adrenalina pulsando em suas veias.

— Equipe, vamos lá! Tom, você e Sarah façam a ventilação na entrada! O resto de vocês, comigo! - Ele apontou para a entrada do supermercado, onde as chamas devoravam prateleiras e produtos.

Com a equipe seguindo suas ordens, Apolo e os bombeiros começaram a trabalhar rapidamente. A fumaça era densa, mas eles conseguiram abrir uma passagem que permitisse a entrada de ar fresco. Assim que a ventilação foi feita, Apolo gritou:

— Vamos entrar e retirar os civis! Fiquem atentos!

Assim que eles adentraram o supermercado, o caos se desenrolava diante deles. Pessoas desesperadas tentavam escapar da fumaça e das chamas. Enquanto Apolo coordenava a equipe, Tom se afastou um pouco mais, seus instintos o guiando.

Foi então que ele ouviu um choro fraco vindo de um frigorífico entreaberto.

— Espere! - Ele gritou para os colegas que já estavam longe e seguiu na direção do som.

Ao se aproximar, ele viu uma jovem presa ali dentro, tossindo com dificuldade.

— Capitão! Preciso do marreligan! Tem uma jovem aqui! - Ele chamou pelo rádio.

— Tom, espere! Não entre em ação sem apoio! - Apolo respondeu rapidamente pela comunicação.

Mas Tom não podia ficar parado.

Ele olhou pelo pequeno buraco da porta do frigorífico e viu o desespero nos olhos da jovem.

— Ei! Está tudo bem? Meu nome é Tom! Como você se chama? - Ele perguntou com uma voz suave, tentando acalmá-la.

— É... É Lara. - Ela respondeu entre tosses: Estou tão assustada...

— Eu sei, Lara! Você precisa ficar comigo, tá? Tente respirar devagar. - Disse Tom, mantendo o olhar fixo nela.

Mas a situação estava crítica; cada segundo contava.

Enquanto esperava pela ajuda, os minutos pareciam se arrastar. Tom não podia mais esperar. Ele pegou um pedaço de madeira próximo e começou a forçar a porta de ferro do frigorífico.

— Lara, estou quase lá! Aguente firme!

Finalmente, com um último esforço, ele conseguiu abrir a porta com um estrondo. A jovem caiu nos braços dele e começou a desmaiar. Tom rapidamente acionou o rádio novamente:

— Capitão! Consegui! Estou saindo com ela!

Nesse momento crítico, Apolo e sua equipe chegaram correndo ao local. Com agilidade, eles pegaram Lara dos braços de Tom e começaram a evacuá-la para fora do supermercado em chamas.

Mas no meio da confusão, enquanto Apolo carregava a jovem no colo para segurança, um pedaço de ferro despendeu do teto em queda livre.

— Apolo! - Gritou Tom ao constatar o perigo iminente.

Em um ato instintivo, ele atirou-se na direção do seu amigo e empurrou-o para o lado junto com Lara.

Mas não conseguiu desviar-se a tempo; o ferro atravessou seu corpo.

Apolo ficou paralisado por um momento ao ver seu melhor amigo ferido gravemente. O pânico tomou conta dele enquanto as paramédicas tentavam estabilizar Lara e os outros feridos.

— Tom! Não! Paramédicas!!! - Ele gritou desesperadamente.

Tom segurou a mão de Apolo com força enquanto o sangue escorria de sua boca.

— Prometa...cuidar...da...Kimberly e da minha filha! - Tom disse com esforço.

As lágrimas começaram a escorregar pelo rosto de Apolo enquanto ele balançava a cabeça em negação.

— Não! Não faça isso comigo! Você vai ficar bem!

Mas à medida que as paramédicas trabalhavam freneticamente para salvar Tom, ele sentiu sua força diminuindo. Quando finalmente Apolo conseguiu prometer que cuidaria da esposa e da filha de Tom, as palavras foram suficientes para permitir que Tom desse seu último suspiro.

O silêncio tomou conta do lugar enquanto Apolo segurava seu amigo nos seus braços, totalmente devastado pela perda.

A dor daquela promessa ressoaria dentro dele para sempre — um lembrete constante do preço heróico que seu amigo pagou para salvar a sua vida.

Capítulo 2

Um ano passou-se desde a tragédia que transformou a vida de Apolo e de todo o corpo de bombeiros.

Naquela manhã cinzenta, ele se encontrava diante do túmulo do amigo, com a foto em preto e branco na lápide, um retrato congelado de um tempo que parecia tão distante.

A expressão de Apolo era sombria, refletindo a dor e o arrependimento que o consumiam.

Desde o incidente fatídico, ele havia se tornado um homem mais frio, distante, mergulhado em uma rotina de proteção à viúva e à filha do amigo falecido, enquanto sua própria família era relegada ao segundo plano.

Após deixar o cemitério, onde visitara o túmulo do amigo que havia perdido a vida para salvar a dele, Apolo dirigiu-se para sua casa depois de dias.

Os seus passos eram lentos e cadenciados, como se ele estivesse carregando o peso de um mundo desmoronando nas costas. Apesar de passar dias afastado da sua casa, vivendo num casamento forçado, ele amava a sua filha Alyssa.

Ela era a única coisa boa nessa situação em que ele se sentia infeliz.

Mas era nítido que a sua atenção era mais voltada para a viúva e a filha do amigo falecido.

A culpa e o fracasso de não ter conseguido salvar sua própria mãe de um incêndio fatal ainda o atormentava. Essa tragédia o fez temer compromissos emocionais e fracassos futuros, principalmente devido às constantes idas e vindas dos próprios pais. Ele desejava fervorosamente que seu casamento com Catherine acabasse logo, mas seu pai não concordava com essa ideia, não gostava da possibilidade do filho negligenciar sua esposa.

Apolo lembrou-se da noite em que, em meio à bebida e a uma sensação de desamparo, ele havia perdido o controle e feito amor com Catherine.

Naquela noite, descobriu que era o primeiro homem dela e, como resultado, ela engravidara da pequena Alyssa, agora com quatro anos e meio.

Ao se aproximar da porta da sua casa, Apolo hesitou antes de entrar. A sua mente estava cheia de pensamentos conflitantes, e o seu coração pesado com as lembranças do passado e a consciência da responsabilidade de proteger a família do amigo, uma promessa que ele iria cumprir.

Ele precisava cumprir.

Ele sabia que precisava ser forte, não apenas para si mesmo, mas também para sua filha Alyssa, a única alegria em meio àquela tempestade.

Apolo finalmente toma coragem e abre a porta. O som da porta se abrindo alerta Alyssa, que vem correndo em sua direção. O seu rosto ilumina-se com alegria ao ver o pai depois de tanto tempo, e ela estende os bracinhos em um abraço estreito.

Ela desliza suas mãozinhas até a farda de bombeiro do pai, pega-a delicadamente e a coloca no cabide. Suas pequenas mãos são ágeis e expertas, realizando essa tarefa como se fosse uma dança ensaiada inúmeras vezes.

Apolo carrega a filha nos braços e a abraça com carinho. Sua barba áspera roça o rosto da menina, fazendo-a rir. Ele pergunta em voz suave:

— Como foi seu dia hoje?

Alyssa franze a testa e responde com sua voz fofa e infantil:

— A escola é chata, papai.

Apolo ri e leva a menina para o sofá, deixando-a continuar seu desenho enquanto ele observa com orgulho.

Catherine entra na sala com o jantar nas mãos. Os seus olhos encontram os de Apolo, e ela sorri com esperança, buscando algum tipo de conexão.

No entanto, Apolo mantém o silêncio, o que deixa Catherine com as mãos atadas e um nó na garganta. A negligência de seu marido é evidente, e as raras vezes em que ele volta para casa, o clima tornava-se tenso e estranho.

Ela compreende que Apolo nunca quis casar e que estar naquela posição também não era algo que ela desejava, apesar de amar profundamente o seu marido.

Catherine suspira, servindo o jantar em silêncio, enquanto o marido e a filha interagem como se ela não estivesse lá. A solidão cresce no seu coração, e a esperança de um dia ter um verdadeiro relacionamento com Apolo parece mais distante a cada dia que passa.

Após o jantar, Apolo levanta a pequena Alyssa nos braços, sua força e gentileza em perfeito equilíbrio enquanto carrega a filha para a cama.

Ele ajeita cuidadosamente as cobertas em torno dela, ajeitando-a como se fosse uma jóia preciosa. Seus lábios quentes encontram a testa da menina em um beijo delicado, e ele deseja-lhe boa noite com um sorriso triste.

Ao sair do quarto da filha, Apolo se dirige para o quarto de hóspedes, seus passos lentos e hesitantes. Catherine se aproxima dele, seu rosto uma mistura de determinação e vulnerabilidade. Ela diz em voz baixa, tentando não despertar a pequena Alyssa:

— Podemos pelo menos agir como um casal normal diante da Alyssa?

Apolo suspira, seus olhos fixos no chão.

— Certo. - Ele responde: — Mas não me espere. Estou trabalhando direto.

Catherine franze o rosto, frustrada com a falta de conexão com o seu marido.

— Até quando vai ficar cuidando da família do Tom? - Ela questiona, seu tom acusador: — Eles já podem se virar e Ada me disse que a Kimberly fica se jogando para cima de você! Tudo bem que você fez uma promessa, mas já está bom, não concorda? Você nem vem em casa e eu tenho que ficar inventando desculpas sobre sua ausência para sua própria filha!

Apolo encarou a sua esposa e perguntou:

— Está duvidando do meu caráter? Falta alguma coisa pra vocês?

— Você acha que uma esposa só precisa de comida, dinheiro e roupas, Apolo? Sua filha nem te ver direito. Eu não fiz ela sozinha! Enquanto você cuida daquela mulher e da filha dela, eu fico sozinha com sua filha. E eu sou a droga da sua esposa, aqui! O que quer que eu pense depois de saber que aquela mulher faz de tudo para você ir correndo atrás dela e da filha? Quem morreu foi o Tom, e não você! - Ela se altera um pouco.

— Você não sabe o que está falando! É por isso que não venho pra casa. Porque você questiona tudo, faz acusações baseadas em fofocas. Se um dia eu quisesse te trair, eu já tinha feito isso. - Ele fala indiferente.

— Então me explica sobre o fato dela fazer você correr para elas, sempre que ela inventa uma desculpa ou usa a filha para você ceder? Vocês dois têm um caso? - Catherine acusa.

Apolo levanta os olhos para encontrar os dela, sua voz se erguendo em uma mistura de raiva e dor.

— Tom morreu para me salvar! - Ele exclama: — O mínimo que eu faço por ele é cuidar da família dele. O que você espera que eu faça? Que eu deixe eles de lado depois do que o Tom fez por mim?

Catherine fica tensa, olhando ao redor como se temesse despertar a filha.

— Fala baixo. Está usando a mesma desculpa por que? Se apaixonou por ela e tem medo de me contar? - Ela sussurra, sua voz cheia de frustração e medo.

Apolo faz um sinal negativo com a cabeça, sua dor e raiva se misturando em um turbilhão de emoções.

— Quer saber? - Ele pergunta, sua voz uma sussurração cortante: — Vou embora. Vou dormir no quartel.

Sem esperar pela resposta de Catherine, Apolo se vira e sai do apartamento. Sua ausência quase tangível, como uma ferida aberta em seu rastro.

Catherine fica sozinha no corredor, com as lágrimas escorrendo silenciosamente pelo seu rosto. Ela se sente perdida e solitária, se perguntando se algum dia será capaz de alcançar o coração do marido que ela tanto ama.

Os dias passam, e Apolo parou de ir para casa e dormia no quartel, aceitava horas extras e acompanhava Hazel, filha de Tom ao hospital. Kimberly disse que sua filha tinha uma doença cardíaca, o que deixou o bombeiro em pânico, pois ela era uma criança ainda.

Enquanto isso, Alyssa, sentia a ausência do pai.

Ela olhava para porta com aqueles olhos inocentes, pensando que ele abriria a porta, mas ele não voltava.

Catherine, estava sempre inventando desculpas para justificar o desinteresse do marido.

Capítulo 3

Apolo entrou no quartel com o peso do dia ainda presente em seus ombros. O ambiente militar estava em movimento, com colegas se preparando para as atividades noturnas, mas ele precisava de um momento para clarear a mente. Dirigiu-se ao seu alojamento, um espaço simples e funcional, onde as paredes eram adornadas apenas com alguns itens pessoais e fotografias que o ligavam à sua família.

Ao abrir a porta, o cheiro familiar do lugar o envolveu. Ele se dirigiu até a mesa que usava para trabalhar e começou a procurar por papéis que precisava para fazer seu relatório. Enquanto folheava os documentos, Apolo sentia a pressão da responsabilidade e das situações difíceis que enfrentara recentemente. O som dos passos e das vozes do quartel eram um pano de fundo constante, mas ele estava imerso em seus pensamentos, tentando organizar sua mente e encontrar um foco para o dia.

............

O sol começava a iluminar os cômodos da casa de Catherine. A luz suave da manhã filtrava-se pelas cortinas, trazendo uma nova energia ao ambiente. Catherine acordou sua filha com carinho, sabendo que mais um dia de escola estava começando. A menina, ainda sonolenta, espreguiçou-se antes de se levantar e ir para o banheiro.

Após tomar banho, Alyssa vestiu seu uniforme escolar com precisão, cada botão preso com cuidado. Catherine observava cada movimento da filha com uma mistura de amor e preocupação. Quando desceram juntas as escadas, Alyssa olhou para o quarto da mãe e perguntou, com sua voz bem articulada:

— Papai?

A pergunta ecoou no coração de Catherine. Ela forçou um sorriso suave e respondeu:

— Amor, papai precisou sair cedo para o trabalho. E esses dias ele vai trabalhar muito. Mas ele disse que te ama demais. - As palavras saíram como um mantra que ela repetia para si mesma tanto quanto para a filha.

A pequena olhou nos olhos da mãe por um instante; havia uma mistura de compreensão e confusão em seu olhar infantil. No entanto, decidiu permanecer em silêncio enquanto desciam as escadas até a cozinha.

Sentaram-se à mesa para o café da manhã. Catherine preparou torradas e suco, mas notou que Alyssa estava distante. A menina costumava ser falante e cheia de perguntas curiosas pela manhã, mas hoje parecia presa em seus próprios pensamentos. Catherine observou sua filha em silêncio, percebendo como a ausência do pai impactava a dinâmica entre elas.

Após o café da manhã, as duas saíram de casa em direção à escola. O trajeto foi marcado por um silêncio prolongado; Alyssa estava sentada no banco de trás do carro, enquanto Catherine, dirigia para a escola dela.

As árvores passavam rapidamente pela janela, criando um vislumbre verde e dourado em um dia ensolarado de outono. O som do motor do carro ecoava pelo interior, enquanto Catherine ouvia música suave em uma estação de rádio local.

Alyssa, cujo cabelo castanho escuro estava amarrado em dois coquezinhos, olhou por cima de seu ursinho de pelúcia preferido, seus olhos verdes grandes e brilhantes refletindo o céu do lado de fora da janela. Sua pele pálida e rosada era típica de uma criança tão jovem, e suas bochechas gordinhas e rosadas eram perfeitamente amáveis.

Alyssa, com seu olhar curioso e um pouco triste, virou-se para a mãe e perguntou:

— Mamãe, o papai não me ama? - As palavras saíram de sua boca como um sussurro, mas o impacto delas foi profundo.

Catherine sentiu seu coração acelerar.

Ela freou o carro no acostamento da estrada quando ouviu a pergunta de sua filha. Ela olhou para trás por cima do ombro, seus olhos verdes expressando uma mistura de surpresa e preocupação. Ela desligou o motor do carro e virou-se no assento para olhar para a pequena Alyssa

O sol da manhã iluminava o interior do veículo, e o silêncio ao redor parecia amplificar a dúvida na voz da filha.

— Quem disse isso, filha? - Catherine perguntou gentilmente, tentando entender de onde vinha aquela preocupação: — Claro que seu pai ama você. Ele é só um workaholic.

Alyssa fez uma careta confusa e questionou:

— O que é isso?

Catherine sorriu com ternura ao perceber a expressão inocente da filha.

— É como se ele amasse muito o trabalho dele..- Começou ela, tentando simplificar: — Às vezes, quando as pessoas amam muito o que fazem, elas passam bastante tempo trabalhando e esquecem de brincar ou ficar com a família. Mas isso não significa que ele não te ama!

Os olhos de Alyssa se arregalaram em compreensão e ela exclamou:

— Aaah! - A expressão dela era tão fofa que qualquer um que a visse não conseguiria resistir ao seu charme.

Catherine riu suavemente, aliviada por ver a filha mais tranquila.

— Porque perguntou isso, filha? - Catherine continuou, desejando entender melhor a origem daquela dúvida.

A menina hesitou por um momento antes de responder:

— Uma colega na escola disse que papai não ama a gente, mas ama ela e sua mamãe! - Alyssa fez uma careta emburrada, como se estivesse tentando processar a injustiça da situação.

Catherine sentiu uma onda de proteção sobre sua filha.

— Meu amor.. - Começou ela com suavidade: — As crianças falam coisas erradas. Talvez essa menina seja apenas uma bobinha. - Ela sabia que era importante reforçar a confiança da Alyssa em seu pai.

Alyssa pareceu entender as palavras da mãe e relaxou um pouco mais. Com um sorriso encorajador, Catherine ligou o carro novamente e seguiram para a escola.

Quando finalmente chegaram à escola, Catherine notou que Kimberly e Hazel também estavam chegando.

O que mais irritou Catherine foi ver que elas estavam no carro de Apolo. Uma sensação de desconforto subiu por seu estômago; ela não conseguia entender como Apolo vivia dizendo que não tinha um caso com a falecida do amigo, mas aquelas mulheres pareciam gostar de se exibir como se fossem suas parceiras.

Catherine tentou ignorar os sentimentos confusos enquanto ajudava Alyssa a sair do carro.

Catherine segurou a mão de Alyssa enquanto caminhavam juntas em direção ao portão da escola. O sol brilhava, e a atmosfera estava cheia de risadinhas e conversas de crianças. Ao chegarem ao portão, Catherine se agachou, olhando nos olhos da filha com carinho. Ela deu um beijo suave no rosto da pequena e disse com um sorriso afetuoso:

— Boa aula, meu amor.

Alyssa retribuiu com um sorriso radiante, seus olhos brilhando de felicidade antes de entrar na escola.

Ela observou a filha se afastar, sentindo uma mistura de orgulho e amor. Mas quando estava prestes a ir embora, ouviu a voz de Kimberly chamando-a.

— Catherine!? - A mulher parecia determinada.

Catherine revirou os olhos e decidiu não parar, mas Kimberly não desistiu.

— Você acha mesmo que ele te ama? Deve ser horrível amar e não ser amada!

Nesse momento, Catherine parou lentamente e se virou para encarar Kimberly, seu olhar firme.

— Sério? Você, falando de amor próprio? Onde está o seu? - Sua voz era calma, mas carregava uma força que fez Kimberly hesitar.

— Desfilando com o carro de um homem casado. - Catherine falou alto de propósito, fazendo com que outras mães nas proximidades olhassem para Kimberly com repulsa.

A expressão de Kimberly mudou por um instante, mas ela rapidamente recuperou a compostura e respondeu com um sorriso astuto:

— Pelo menos eu não preciso fingir que sou amada, Catherine. Você está cega demais para perceber a verdade sobre seu próprio casamento.

Catherine encarou Kimberly, ponderando suas próximas palavras. Sorrindo com um misto de piedade e desprezo, ela disse:

— Eu prefiro ser cega de amor do que ser alguém que perdeu seu próprio sentido de dignidade e decência.

A frase acertou Kimberly como uma faca, mas a mulher não se abateu.

Catherine encarou Kimberly em silêncio por um momento, antes de sorrir sarcasticamente e partir. Ela sabia que tinha tocado em um ponto sensível, e isso a deixava satisfeita.

Enquanto Catherine se afastava, Kimberly abraçou sua filha e disse:

— Acabe com a filha dela, meu amor. O tio Apolo poderá ficar conosco se elas saírem do caminho.

A menina ruiva fez sinal de continência e entrou na escola sem hesitar.

Kimberly observou o carro de Catherine desaparecer ao longe, um sorriso malicioso se formando em seus lábios enquanto murmurava para si mesma: “Espere e veja.”

Havia uma confiança disfarçada em sua voz que ecoava como uma ameaça velada no ar.

.............

Catherine acelerou, sentindo a adrenalina correr em suas veias enquanto fazia a curva com precisão, direcionando o carro em direção ao quartel. O motor roncava sob o capô, e a cidade passava rapidamente pela janela, como se tudo ao seu redor estivesse em câmera lenta.

Ela tinha um objetivo claro na mente: confrontar Apolo.

No quartel, Apolo estava sentado à mesa durante o Brief matinal com o comandante do batalhão. A atmosfera era tensa, cheia de informações sobre as operações do dia e os desafios enfrentados pela equipe. De repente, a porta se abriu abruptamente e um bombeiro entrou apressado, interrompendo a reunião.

— Comandante, desculpe a interrupção. Mas a esposa do capitão está no escritório dele.

A menção de Catherine fez Apolo respirar fundo, um misto de resignação.

Pedindo licença ao comandante, Apolo se levantou e caminhou em direção à sua sala.

Enquanto isso, Catherine observava do outro lado da mesa, seus olhos fixos no escritório dele. Um pequeno detalhe chamou sua atenção: uma foto de Alyssa nos braços de Apolo quando ela ainda era um bebê.

O instante congelado na imagem trouxe à tona memórias vívidas; ela se lembrou do dia em que Alyssa nasceu e como Apolo fez questão de levar todos no caminhão de bombeiros para vê-la nascer. Naquele momento especial, Catherine tinha certeza de que tudo seria diferente entre eles. Mas com o passar dos anos, as coisas não mudaram como ela esperava.

Com a foto em mãos, Catherine se perdeu na beleza da cena; seu marido era lindo e Alyssa também era uma criança amável.

Porém, a tranquilidade foi interrompida quando a porta se abriu e Apolo apareceu.

— O que veio fazer aqui? - Ele perguntou, com um tom que misturava surpresa e desinteresse.

Catherine guardou rapidamente a foto e respondeu provocativamente:

— O quê? Não posso?

Apolo fechou a porta atrás de si com um movimento brusco e declarou:

— É meu trabalho. Seja breve.

Ela não hesitou em ser direta:

— Por que deu seu carro para aquela mulher levar a filha na escola? - A pergunta pairou no ar como uma bomba prestes a explodir.

Apolo esfregou os dedos nas têmporas em exasperação.

— O carro dela furou o pneu e ela emprestou o meu. - A resposta dele parecia simples demais para Catherine.

Ela riu sarcástica:

— Então ela veio aqui e levou seu carro? Sério que você acredita mesmo na desculpa dela?

O olhar fixo dele encontrou o dela com intensidade.

— Eu mesmo levei o carro no mecânico. - Ele insistiu: — Cathy, eu não tenho um caso com ela e pouco me importa o que você pensa.

Catherine lançou mais uma linha:

— A filha da sua amante disse para sua filha que você não a ama!

A desconfiança nos olhos dele era palpável enquanto ela continuava:

— Espero que você converse com sua amante e a filha dela porque se elas mexerem com a minha filha, eu não vou ter pena só porque ela não sabe educar a própria filha.”

Apolo cortou as palavras dela com frieza:

— Sabe o que eu acho?

Catherine ergueu os olhos desafiadoramente:

— O quê?

Ele foi seco:

— Acho que você deseja realmente que eu seja esse tipo de homem que vive traindo a esposa e no final ela tem que aceitar. Porque todo tempo que vivemos juntos, você vive empurrando mulheres para mim! - As palavras cortaram fundo.

Ela engoliu em seco antes de responder:

— Inverte os papéis, Apolo! Você aceitaria que eu ficasse 24h grudada no viúvo de uma amiga falecida? Se a resposta for sim, então eu também preciso de um amante já que você é um imponente! Um homem que sequer toca na própria esposa.

Ele cruzou os braços e questionou:

— Então o problema é esse? Você quer que eu te toque novamente?

Um rubor subiu ao rosto de Catherine enquanto ela tentava mudar de assunto:

— Não seja ridículo! Eu salientei seu papel de pai.

Apolo deu um passo à frente, diminuindo ainda mais a distância entre eles.

— Eu vou pra casa hoje. Me espere! - Sua voz tinha um tom sedutor inesperado.

Catherine empurrou-o levemente, tentando manter as aparências enquanto dizia:

— Seria bom você nem ir.

E assim saiu da sala, deixando Apolo sorrindo para si mesmo, ciente de que essa batalha estava longe de acabar.

..............

Catherine saiu do quartel com o coração acelerado, seus pensamentos tumultuados. O ar estava pesado. Ao se aproximar do estacionamento, avistou Kimberly, que estava estacionando o carro de Apolo de maneira quase casual. A forma como a ruiva manobrou o veículo na área destinada aos superiores dava a impressão de que ela frequentava aquele lugar com frequência, como se tivesse um direito sobre ele.

Quando Catherine pegou a chave do carro, Kimberly se aproximou com um sorriso provocador nos lábios.

— Veio aqui reclamar com ele? Acha que ele vai acreditar em você? - A provocação era clara, e Catherine sentiu um frio na barriga.

Ela olhou para Kimberly de cima a baixo, avaliando cada detalhe da mulher que tinha se tornado uma sombra em sua vida.

— Não vim reclamar. Até porque esposa não reclama, reduz os riscos. - Respondeu Catherine com uma confiança calculada.

Então, inclinando-se para mais perto do ouvido da ruiva, ela sussurrou:

— Hoje vamos fazer amor até o amanhecer. Meu marido me quer tanto.

A reação de Kimberly foi imediata e agressiva; ela empurrou Catherine com desprezo.

— Sua sem vergonha! - Exclamou.

Catherine, sem hesitar, retrucou:

— Sem vergonha? Eu sou a esposa dele. É normal fazermos amor. Como acha que a Alyssa veio ao mundo, pela cegonha? - Sua risada soou alta e desafiadora no ar tenso.

Mas Kimberly não parecia derrotada.

Com um olhar frio e calculista, ela fez a pergunta que Catherine não esperava ouvir:

— Ele já disse que te ama?

As palavras atingiram Catherine como um soco no estômago. Ela ficou paralisada por um momento, processando o impacto da pergunta.

— Ele me disse ontem. - Kimberly continuou, a sua voz cheia de satisfação amarga: — Ele prometeu cuidar da gente, e ele faz isso muito bem. Ele até cozinhou para a gente ontem à noite.

A última frase foi como uma facada nas costas de Catherine.

— Pode fazer sexo com ele hoje, porque eu fiz ontem. - Completou Kimberly com um sorriso triunfante.

Catherine sentiu uma onda de raiva e dor ao mesmo tempo.

— É mesmo? - Perguntou ela, tentando manter a compostura.

Kimberly sorriu maliciosamente:

— Ele tem uma marca marrom perto da virilha. Como eu saberia disso?

Essa última revelação deixou Catherine em silêncio absoluto.

O peso da traição começou a se instalar no seu peito enquanto ela entrava no carro e ligava o motor, furiosa e magoada ao mesmo tempo.

Durante o caminho para casa, as lágrimas escorriam pelo seu rosto enquanto ela refletia sobre como havia sido ingênua ao acreditar que Apolo não a traía.

Como poderia Kimberly saber de algo tão íntimo?

O desespero tomou conta dela.

...........

A noite chegou silenciosamente, envolvendo a casa em uma penumbra suave. Catherine, após colocar sua filha na cama, se encontrou deitada em seu quarto, o coração pesado. Fechou os olhos, tentando se afastar da realidade que a cercava. O som do motor do carro de Apolo quebrou o silêncio da noite, e ela sentiu uma onda de ansiedade percorrer seu corpo.

Alguns minutos depois, a porta do quarto abriu-se e Apolo entrou, a sua presença preenchendo o ambiente. Ele aproximou-se da cama.

— Eu sei que não está dormindo. - Disse ele.

Catherine abriu os olhos e olhou para ele com desdém.

— O que veio fazer aqui? - Perguntou, tentando esconder a mistura de sentimentos que a invadiu.

— Eu moro aqui. - Respondeu Apolo, como se isso fosse suficiente para apagar os problemas entre eles.

A frustração tomou conta de Catherine.

— Eu quero o divórcio, Apolo. - Declarou firmemente.

Ele pareceu desinteressado, quase indiferente.

— De novo? Quanto tempo faz que você me pede o divórcio? Eu achei que você queria estar comigo, porque estava reclamando no quartel sobre minha imponência.

As palavras dele a deixaram constrangida e irritada.

— Seu sem vergonha! Porque não pede para sua amante provar você? O que foi? Ela te liberou hoje? - Sua voz tremia de raiva.

— Do que você está falando? - Perguntou Apolo, confuso.

Catherine não se conteve:

— Como ela sabe sobre sua marca de nascença, Apolo?

A expressão dele mudou para surpresa e perplexidade.

— Como diabos eu vou saber disso? Eu só tomei banho na casa dela uma vez! Porque vim correndo de um chamado quando a Hazel teve um ataque cardíaco.

As palavras dele cortaram Catherine como uma faca. Engolindo o choro, ela disse:

— Vai embora daqui! Eu te odeio! Eu me arrependo de... - Mas antes que pudesse terminar a frase, ele colidiu os lábios contra os dela em um beijo inesperado.

Após quatro anos afastados emocionalmente, Catherine sentiu aquele toque familiar e intenso. Um misto de raiva e desejo tomou conta dela enquanto ele rasgava o vestido de seda que ela usava.

O clima entre eles esquentou rapidamente; Apolo parecia hesitante mas ao mesmo tempo atraído por aquela mulher em seus braços. Agora sóbrio, ele percebeu como aquela sensação era boa.

Quando ela puxou Apolo para cima dela, o telefone dele tocou, interrompendo aquele momento intenso. Ele ignorou a primeira chamada, mas quando o telefone tocou novamente e a insistência se fez ouvir, ele atendeu com uma voz furiosa:

— O que foi?

Do outro lado da linha, uma voz chorosa respondeu:

— Apolo! A Hazel, ela teve um ataque grave.

A expressão de Apolo mudou instantaneamente; ele vestiu suas roupas rapidamente enquanto Catherine segurava o seu braço com força.

— Apolo, não vai. - Implorou ela.

Ele olhou nos olhos dela por um instante e disse:

— Desculpe. Eu não posso deixar a Hazel nesse momento. - Com isso, ele saiu batendo a porta atrás de si.

Catherine ficou sozinha no quarto, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto enquanto a raiva fervia dentro dela.

O vazio deixado pela partida de Apolo parecia ainda mais profundo agora; ela sentia-se traída não apenas por ele, mas também por suas próprias emoções confusas e contraditórias.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!