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Alpha White, A Origem da Mestiça

Capítulo 1

Ela tentou tranquilizá-lo pegando-o na mão com força e simplesmente fechou os olhos, entregando-se a cada açoite que desmembrou suas costas nuas.

Naquele momento, imersa na intensa dor, a única coisa que pôde confortá-la foi pensar que havia salvado a vida de seu pai. Nada tinha mais valor do que isso para ela; se seu corpo pudesse conceder-lhe um dia mais de vida, o entregaria uma e outra vez sem hesitar.

Seus olhos começaram a ceder; viu sua vida passar diante de seus olhos. De repente, um uivo ensurdecedor fez tremer as paredes e os vidros das janelas estouraram em mil pedaços.

Um grunhido profundo e áspero se intensificou junto com os gritos daquele homem que soube que era seu fim. Em questão de segundos, foi destripado, esmagado como lixo pelas garras daquela besta.

Alguns minutos depois, a escrava sentiu o calor de um corpo diferente que a tomou rápido, mas delicadamente, em seus braços. Sorriu satisfeita; por sua espessa e suave pelagem, reconheceu que o pequeno lobo que havia salvado quando criança finalmente havia voltado para ela…

ATUALIDADE

≈NAOMI≈

Quando era pequena, meu pai costumava me contar histórias sobre lobisomens, bruxas, lendas e todo tipo de coisas fantásticas. Claramente, como toda menina amava essas histórias, mas jamais imaginei que pudessem ser reais. Claro, tudo isso mudou quando completei dezessete anos e descobri acidentalmente que meu padrinho era; um lobisomem.

Aquele dia foi uma loucura. Estávamos sentados no pátio traseiro, rodeados pela imensidão da floresta que abraçava a casa, desfrutando da noite com o papai e José, meu padrinho.

Tudo ia de maravilha até que uma silhueta estranha, suspensa no ar como se a gravidade não tivesse poder sobre ela, apareceu diante de nós.

Em um instante, me encontrei paralisada de medo. Aquela silhueta escondida sob uma túnica negra, ocultava sua aparência sob um capuz que cobria completamente seu rosto. A aura de maldade que emanava era tanta que, com tão só respirar sentia que oprimia desde dentro meus pulmões.

“Você.” Disse levantando um dedo, apontando-me diretamente.

Instintivamente, retrocedi. Justo quando estava a ponto de dar outro passo atrás, senti uma mão firme em meu ombro. Era o papai, que mantendo uma atitude tensa mas desafiadora se interpôs entre essa efígie e eu, como se estivesse disposto a qualquer coisa com tal de me manter a salvo.

A silhueta permaneceu levitando, imóvel mas sombria, como se estivesse esperando o momento exato para atacar.

Então, algo incrível aconteceu. Foi incrível e aterrador ao mesmo tempo.

Eu o vi, vi meu padrinho se transformar em um lobisomem frente aos meus próprios olhos. Com um uivo feroz, se lançou sobre ela, desatando uma luta tão brutal, que ainda hoje, me impressiona recordar.

Se enfrentaram com tanta ferocidade que a peleja parecia tirada de um filme de terror mais que uma de fantasia. Eu estava atônita, não podia acreditar no que via. Chegado um momento recordo que colapsei, havia sangue espalhado por todas as partes, mas não soube diferenciar de quem dos dois era.

Alguns minutos depois, não sei quantos exatamente, José conseguiu ferir gravemente essa coisa, que desapareceu na escuridão, assim do nada, tal qual como havia chegado.

E sim, se me perguntam me custou assimilá-lo, porque Como podia ser real algo como isso? Lobisomens, figuras maléficas... por deus!, O que me restava pensar? Que o bicho-papão, as quimeras e o cavaleiro sem cabeça também eram reais? Que absurdo!, mas não, neste caso a evidência estava frente aos meus olhos, e não podia negá-lo.

Desde então comecei a dar-me conta de que meu mundo não era tão normal como pensava.

O papai me fez prometer-lhe que não lhe perguntaria que ou quem era essa figura nem por que estava aí. Só me disse que, por meu bem, era melhor que não o soubesse. No entanto, sequer meu silêncio logro evitar sua morte. Um ano depois, em meu aniversário de dezoito anos, essa coisa reapareceu e sem mediar uma palavra lhe arrebatou a vida.

As marcas que jazem em minhas costas e em parte de meus braços são a recordação constante de que o perdi, e apesar de que me esforço por recordar o que aconteceu exatamente, não o consigo. Tudo foi tão rápido... Às vezes me pergunto se as coisas teriam sido diferentes se me houvesse contado a verdade…

Capítulo 2

≈NAOMI≈

— Como te sentes, querida? — Perguntou-me o meu padrinho enquanto conduzia pela estrada, apertando-me a mão.

— Estou bem. — Respondi com um sorriso.

— Tens a certeza?

— Sim, prometo.

— Bom. — Disse, concentrando-se novamente na estrada. Olhei-o por um breve instante enquanto conduzia, senti-me grata por tê-lo ao meu lado. Depois que o pai faleceu, José viajou imediatamente para a Patagônia para lhe dar sepultura, cuidar de mim e levar-me para sua casa. Recordar como cumpriu a promessa que fez ao pai quando era apenas uma menina encheu-me de nostalgia. Essa promessa que ambos fizeram era simples: caso algo acontecesse a Albert, ele nunca me deixaria sozinha. A sua amizade e o seu amor incondicional enchiam-me o coração, porque sem ele, agora estaria perdida…

Estamos apenas a alguns minutos de chegar ao seu território e já estou com os nervos à flor da pele. Por quê? Bem, é tão simples como o que faço eu, uma humana, no meio de uma alcateia de lobos? Era mais simples quando desconhecia que ele era um. A sua família também era como ele? A sua esposa uma loba? E os seus filhos? Sabia que tinha uma família, ouvi-o falar deles dezenas de vezes, mas nunca veio visitar-me com eles.

Ao chegar à Vila Lupinville, surpreendi-me.

Ainda que fosse de noite, podia-se contemplar desde a estrada o aroma a terra molhada, o murmúrio do rio Olivia que cruzava a vila, as árvores altas e frondosas como as casas antigas, que pela sua fachada pareciam contar histórias de tempos passados, mas o que mais me impressionou foram as mansões luxuosas que paradoxalmente se encontravam ao seu redor.

Alguns minutos depois, ao chegar à residência do meu padrinho, fiquei boquiaberta. Era uma mansão enorme, semelhante a um castelo, rodeada de uma vegetação densa e, claro, vigiada por muitos homens. Ou lobos, suponho…

— Bem-vinda, querida — disse Lesly, sua esposa. — Que bom ter-te de volta em casa.

— Olá, querida. Como têm estado as coisas por aqui? — Disse descendo do carro.

— Tudo está em ordem. — Respondeu virando-se para mim. — Olá, Naomi! Bem-vinda a casa. Sou Lesly, a esposa de José. — Expressou de maneira afetuosa, dando-me dois beijos nas bochechas.

— Muito prazer, senhora. Obrigada por me receber. — Foi tudo o que consegui dizer.

— Oh! És tão bela, José! — Disse fechando os olhos e pegando nas minhas mãos. — Tens uma aura linda. — Expressou virando-se de lado. — Mariel, vem saudar a Naomi.

— Olá, Naomi! Que bom ter-te finalmente aqui! — Disse com entusiasmo dando-me um forte abraço, como se nos conhecêssemos de toda a vida. — Não sabes quantas coisas planeei para fazermos juntas, seremos grandes amigas, prometo. — Admirada pela sua receção, não pude mais do que corresponder-lhe com um sorriso.

— Mariel, filha, podias mostrar à Naomi o seu quarto? — Disse o meu padrinho.

— Claro, pai! Segue-me, Naomi. — Disse com um gesto de mãos para que a siga. — Como foi a viagem? — Perguntou abrindo a porta principal, convidando-me a entrar.

— Foi bastante tranquila, mas pareceu interminável. — Admito seguindo-lhe o passo por uma ampla sala até toparmos com uma enorme escadaria. — Este lugar é impressionante. — Murmurei subindo, admirando de cima a arquitetura, as obras de arte, as lâmpadas eremitas que penduravam no teto até aos talhados da fase da lua no corrimão.

— Não quero parecer convencida, mas para mim não é grande coisa. Vivi aqui toda a minha vida, então já me acostumei. Mas sim, é bonito. — Disse sorrindo.

— De quem são todos esses quadros? — Consultei desde o degrau superior, notando uma longa fila deles.

— São a hierarquia de todos os lobos Alfas na nossa alcateia. São muitos, verdade?

— Sim, são — admiti.

— Olha, estes com molduras de ouro são os Alfas atuais, e estes de ferro forjado representam a linhagem dos Alfas mais antigos.

— O que aconteceu com este? — Perguntei detendo-me num, onde o rosto estava praticamente apagado da tela.

— Oh, esse retrato é o mais antigo de todos. Acho que a pintura não resistiu com o tempo. — Claro, entendo. — Disse passando os dedos pela pintura, estranhamente sentia uma conexão que não conseguia explicar.

— Bem, vamos. Vou mostrar-te o teu quarto. — Disse pegando na minha mão, levando-me pelo corredor.

Finalmente, depois de alguns metros paramos no que seria o meu quarto. — Uau! — Soltei ao entrar. O meu quarto tinha-se revelado tão luxuoso como o resto da casa. Este era espaçoso e elegante, com uma cama antiga de estilo vitoriano que parecia tirada de um conto. A cama tinha um dossel de um tecido tão claro que se via a minha mão através dele. Estava maravilhada, isto sem exagerar era digno de uma princesa. Mariel olhou para mim e deixou a minha bagagem sobre ela.

— Grandiosa, certo?

— Sim, definitivamente é.

— Sabes, ainda que não acredites, esta cama pertenceu a uma lua humana. — Não sei que cara fiz, mas a minha expressão não passou despercebida por Mariel, que notou que não entendia a que se referia. — Na nossa alcateia — começou a explicar —, uma Lua não só representa o par do Alfa, mas também uma autoridade superior. Uma líder feminina, por outras palavras.

— Então… Queres dizer que uma humana os liderou?

— Sim, pelo menos entre a alcateia existe um precedente onde uma escrava humana, submetida por um antigo Rei, conseguiu tornar-se Lua depois de o seu companheiro a conseguir salvar.

— Quando te referes a companheiro, queres dizer…

— Um lobo — respondeu sem hesitar. — Embora os lobos costumem emparelhar-se com outros lobos, há casos excecionais, como essa união entre esse lobo e a humana.

— E… Como é que ele conseguiu salvá-la?

Capítulo 3

— Bem, é uma longa história, mas ela pertencia à servidão. Desde que nasceu, sabia-se que estava condenada. Seus pais eram escravos do Rei, então ela nasceu e cresceu como tal. No entanto, quando ela chegou à adolescência, o rei ficou obcecado por ela, a tal ponto que até quis desposá-la. No entanto, o que nunca imaginou é que seu próprio primogênito, "o bastardo" de quem havia tentado se desfazer, a reclamasse como sua companheira. Assim, este, quando a encontrou, massacrou seu próprio pai de tal maneira que sequer restaram vestígios de sua existência. Enfim, como verá, nas alcateias também temos histórias como a de Romeu e Julieta, mas as nossas são muito melhores que a dos humanos — zombou com um sorriso — Venha, deixe-me mostrar o resto do quarto. — Disse encaminhando-se na direção oposta — Olha, por aqui tens o teu vestiário, tem espaço mais que suficiente para todas as tuas coisas. Também tens uma cômoda, uma escrivaninha e, por ali, tens um banheiro privado. — E a minha parte favorita… — disse com suspense abrindo de par em par as cortinas — Cha-chan! A melhor vista da mansão, tens aqui, na tua varanda. — Meu Deus — disse boquiaberta observando todo o lugar. Sem dúvida era extraordinário, praticamente se podia ver toda a vila de ponta a ponta.

— Bem, já haverá tempo para que eu te mostre o resto. Agora vamos para a sala, o jantar está pronto.

[…]

Alguns minutos depois…

— Por favor, Naomi, sente-se. — Convidou-me Lesly com um gesto.

— Muito obrigada. — Disse acomodando-me na mesa.

— Onde está Howl? — Perguntou meu padrinho entrando na sala.

— Quem é Howl? — Perguntei disfarçadamente a Mariel.

— É meu irmão, Demian. Papai o apelidou assim quando pequeno porque cada vez que uivava conseguia estourar as janelas da mansão. — riu — Praticamente nunca está em casa, é um jovem popular na região. — Disse desta vez semicerrando os olhos — Já entenderá a que me refiro… — advertiu-me e foi verdade. Durante o jantar, o filho do meu padrinho chegou acompanhado de sua namorada, Úrsula. Quando o vi entrar, entendi de imediato por que Mariel havia me dito que era um jovem muito popular.

Era a primeira vez que via um jovem tão imponente, com uma altura que o situava acima das pessoas comuns. Sua pele era pálida, seus traços finos, seus olhos eram uma mistura de azul celeste e cinza, que pareciam mudar de tom dependendo da luz e do ângulo de onde se o olhasse. Além disso, tinha uma compleição física que denotava uma força tremenda, com músculos bem definidos que ressaltavam ainda mais pelas tatuagens que serpenteavam por seus braços e que sua camiseta deixava transparecer em seu torso. “Acho que a este garoto não o avisaram sobre o uso de esteroides” … pensei para meus botões.

— Bem-vinda — entoou seco e direto à distância, sentando-se à mesa enquanto sua namorada saudava a família. Meu padrinho endureceu o queixo, parecia irritado, como se tivesse a intenção de repreendê-lo, mas não disse nada.

— Obrigada. — Limitei-me a dizer. Por alguma razão, me provocou arrepios quando seu olhar se fixou no meu.

— Muito prazer, sou Úrsula. “A namorada de Demian”. — Disse me saudando com um gesto. Parecia-me que, por seu tom de voz, fez ênfase na palavra NAMORADA?

Fiquei olhando para ela boquiaberta, não pelo que pensei, mas porque sua beleza era sobrenatural, sim, como a de seu namorado. Seu rosto era perfeito, com maçãs do rosto altas, olhos azuis e um nariz delicadamente perfilado, além da dita de uma figura esbelta e perfeitamente proporcionada.

— E você é...? — Perguntou-me.

— Naomi, a afilhada de José. Um prazer em conhecê-la. — Apresentei-me educadamente.

— Ah, sim, certo. “A afilhada do Alpha”. — Não, definitivamente não estou louca, ela fez de novo. Qual era o problema dela? Pensei.

— Conte-me, Naomi, de que alcateia provém? — Perguntou-me Úrsula com uma expressão curiosa sentando-se.

Olhei para ela sem saber o que responder, mas depois de meditar um momento, não vi necessário ocultar minha origem. Cedo ou tarde, acabaria por descobrir.

— Sou humana, — respondi com serenidade.

— A que se refere especificamente com humana? Pensei que provinha de uma alcateia importante, como Ciénaga lunar ou talvez… — continuou Úrsula, antes de ser interrompida pelo meu padrinho José.

— Ela é humana, — repetiu, com um tom que deixava claro que o tema estava encerrado. — Imagino que a fará sentir-se como parte da alcateia, correto?

— Claro, meu senhor, — respondeu com um sorriso. — Seremos grandes amigas, — acrescentou, olhando-me com um sorriso forçado, que apenas dissimulava. — Só me perguntava como a receberão os demais na vila. É a única humana na região — comentou. — Demian se encarregará disso, — interveio Lesly. — Meu rapaz cuidará dela, ninguém se atreverá a incomodá-la no instituto. Verdade filho? — Ele assentiu em silêncio. Não parecia contente com isso, aliás, parecia aborrecê-lo.

— Não me tinhas dito, querido, que estudaria conosco. — Mencionou Úrsula a Demian, como se fosse grande coisa.

— Não é uma obviedade? — Interrompeu-a Mariel — É a afilhada do Alpha, Úrsula, se ele diz que estudará ninguém se atreverá a negar-lhe um lugar.

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