Capítulo 1: O Chamado
O som do despertador ecoou pelo pequeno quarto de Mizum, despertando-o de mais uma noite de sonhos vagos e esquecidos. Ele estendeu a mão, ainda meio sonolento, e desligou o alarme com um suspiro profundo. Sua rotina era sempre a mesma: acordar, trabalhar, voltar para casa, repetir. Apesar de jovem, ele sentia que sua vida era vazia, como se algo estivesse faltando.
"Outro dia comum..." murmurou para si mesmo, levantando-se lentamente.
Após se arrumar, Mizum saiu de casa e caminhou pelas ruas movimentadas da cidade. Ele passava por rostos desconhecidos, cada um imerso em suas próprias rotinas. A sensação de estar preso em um ciclo sem fim o consumia.
Ao anoitecer, enquanto retornava para casa, algo incomum aconteceu. O céu, geralmente estrelado e tranquilo, começou a se encher de nuvens escuras e rodopiantes. Um trovão ressoou, e um feixe de luz dourada cortou o céu, iluminando uma pequena praça próxima. Mizum parou, intrigado e, de certa forma, atraído por aquela visão.
"Isso... não parece normal", pensou, sentindo um arrepio percorrer sua espinha.
Curioso, ele se aproximou da praça. No centro, onde normalmente havia uma fonte seca e desgastada, agora havia um círculo de runas brilhantes, pulsando com uma energia que parecia viva. Antes que pudesse reagir, a luz do círculo envolveu Mizum, e o mundo ao seu redor desapareceu.
---
Quando abriu os olhos, Mizum percebeu que não estava mais em sua cidade. Ele estava em uma clareira cercada por árvores imponentes e um céu de tons vibrantes, como se o crepúsculo tivesse se congelado no tempo. O ar era fresco e carregado de um leve aroma de flores silvestres.
"Bem-vindo, forasteiro", disse uma voz feminina suave.
Mizum se virou e viu uma mulher parada à sua frente. Ela tinha longos cabelos dourados que brilhavam como o sol, olhos azuis profundos e vestia um traje branco adornado com detalhes dourados. Na mão, segurava um cajado delicadamente entalhado.
"Eu sou Lyra, sacerdotisa de Velandria. Você foi invocado por nós, o povo deste mundo."
"Invocado? O que está acontecendo? Onde estou?" Mizum perguntou, confuso e assustado.
Lyra deu um passo à frente, sua expressão gentil, mas séria. "Você está em Velandria, um mundo ameaçado por forças sombrias. A magia antiga nos permitiu trazer alguém de outro mundo, alguém que carrega o potencial para ser nosso salvador. Você, Mizum, é esse escolhido."
Mizum deu um passo para trás, sua mente lutando para processar as palavras de Lyra. "Isso deve ser algum tipo de sonho... ou loucura. Não sou um herói. Sou apenas... alguém comum."
"Talvez você pense assim agora," respondeu Lyra, "mas há um poder adormecido dentro de você. O portal não escolhe ao acaso. Por favor, confie em mim. Velandria precisa de sua ajuda."
Antes que Mizum pudesse responder, um rugido ensurdecedor ecoou pela floresta. Árvores se agitaram, e uma criatura grotesca, com pele escura como piche e olhos vermelhos brilhantes, surgiu entre as sombras.
"Um lacaio do Rei Sombrio!" exclamou Lyra, levantando seu cajado.
A criatura avançou, e Mizum congelou no lugar. Ele nunca havia enfrentado algo assim antes. Suas mãos tremiam enquanto ele tentava decidir entre lutar ou fugir.
"Pegue isto!" Lyra gritou, jogando-lhe uma pequena adaga encantada. "Lute, ou pereça!"
O instinto de sobrevivência falou mais alto. Mizum segurou a adaga e tentou desviar do ataque da criatura. Apesar de desajeitado, ele conseguiu acertar um golpe na lateral do monstro, que rugiu de dor.
Lyra conjurou um feixe de luz que acertou a criatura diretamente no peito, fazendo-a desaparecer em fumaça negra. Ela se virou para Mizum, que ainda estava ofegante.
"Agora você entende? Este mundo está em perigo, e você foi chamado para protegê-lo. Por favor, Mizum, confie em mim."
Apesar do medo e da confusão, Mizum percebeu que não tinha escolha. Algo dentro dele dizia que aquele era o começo de algo maior do que ele poderia imaginar.
"Eu... não sei como posso ajudar, mas vou tentar."
Lyra sorriu, colocando uma mão reconfortante em seu ombro. "Obrigada. Este é apenas o início de sua jornada, Mizum."
E assim, com o coração pesado de incertezas, Mizum deu seu primeiro passo em uma aventura que mudaria não apenas o destino de Velandria, mas o seu próprio.
Capítulo 2: O Despertar do Herói
O amanhecer em Velandria trouxe consigo uma brisa calma e um céu pintado com tons dourados e rosados. Mizum, no entanto, sentia-se tudo menos calmo. Após os eventos da noite anterior, ele ainda tentava processar tudo o que havia acontecido. Sentado em uma clareira ao lado de uma fogueira que Lyra havia acendido, ele observava o pequeno fio de fumaça que subia para o céu, perdido em pensamentos.
"Você está bem?" Lyra perguntou, aproximando-se com uma tigela de sopa quente.
"Eu... ainda não sei," respondeu Mizum, aceitando a tigela com um leve sorriso de gratidão. "Ontem eu estava na minha cidade, vivendo uma vida comum. Agora, estou em um mundo onde monstros aparecem do nada e me chamam de escolhido."
Lyra sentou-se ao lado dele, segurando seu cajado com delicadeza. "Eu entendo que tudo isso é demais para processar. Mas há uma razão para você estar aqui, Mizum. A magia que o trouxe não erra."
"Você fala como se eu fosse especial, mas eu não sou," disse ele, olhando para o reflexo no caldo da sopa. "Não tenho habilidades. Nunca lutei antes. Ontem, eu mal consegui segurar aquela adaga sem tremer."
Lyra colocou a mão no ombro de Mizum, seus olhos transmitindo uma calma quase mágica. "O potencial está dentro de você. O despertar é um processo. É por isso que estamos aqui: para ajudá-lo a descobrir quem você realmente é."
---
Depois de comer, Lyra levou Mizum para uma clareira maior, cercada por árvores antigas cujas folhas brilhavam levemente, como se estivessem imbuídas de magia.
"Vamos começar seu treinamento," disse ela.
"Treinamento? Com o quê?"
Lyra ergueu seu cajado, e um círculo dourado de runas surgiu ao redor de Mizum. Ele recuou, surpreso, mas antes que pudesse falar, uma sensação estranha tomou conta dele. Era como se algo dentro de seu peito estivesse queimando, mas não de forma dolorosa.
"O que está acontecendo?" ele perguntou, com a respiração ofegante.
"Esse é o seu poder. A Chama Primordial," explicou Lyra. "É uma energia rara, capaz de consumir tudo ao seu redor, mas também de criar e proteger. Você foi escolhido porque é compatível com ela."
Mizum olhou para suas mãos, que agora brilhavam com uma leve chama alaranjada. "Isso é... fogo? Mas não está me queimando."
"Exatamente. A Chama Primordial não é como o fogo comum. Ela responde à sua vontade, aos seus desejos mais profundos. Mas cuidado: ela também pode ser perigosa se você perder o controle."
Lyra deu alguns passos para trás e ergueu o cajado novamente. "Agora, tente direcionar sua energia para aquele tronco."
Ela apontou para um tronco de árvore caído a alguns metros de distância. Mizum hesitou, mas fechou os olhos e tentou se concentrar. Ele sentiu a energia se acumulando em suas mãos, como uma corrente quente que fluía por seu corpo. Quando abriu os olhos, uma pequena bola de fogo flutuava sobre sua palma.
"Isso é incrível," ele murmurou, olhando para a chama.
"Agora, lance-a," instruiu Lyra.
Mizum ergueu a mão e tentou arremessar a bola de fogo. No entanto, ela explodiu antes de atingir o alvo, criando uma pequena nuvem de fumaça.
"Não se preocupe," disse Lyra. "É só a primeira tentativa. Controlar a Chama Primordial exige prática e paciência."
Mizum franziu a testa, determinado. "De novo."
---
As horas passaram enquanto Mizum praticava incessantemente. A cada tentativa, ele conseguia controlar melhor a chama, moldando-a e direcionando-a com mais precisão. No entanto, o esforço também cobrava seu preço. O corpo dele parecia exausto, como se toda a energia estivesse sendo drenada.
"Chega por hoje," disse Lyra, aproximando-se dele.
"Eu posso continuar," respondeu Mizum, ofegante, mas determinado.
"Exigir demais de si mesmo só irá prejudicá-lo," disse Lyra com um tom firme, mas gentil. "Você já fez grandes progressos hoje."
Relutante, Mizum assentiu. Ele sabia que Lyra estava certa, mas sentia uma pressão constante para provar que merecia estar ali.
---
Naquela noite, enquanto descansavam ao redor da fogueira, Mizum finalmente teve um momento para refletir. Ele olhou para as chamas dançantes e lembrou-se do calor que sentira mais cedo ao usar seu poder.
"Lyra," ele chamou, quebrando o silêncio.
"Sim?"
"Por que você acredita tanto em mim? Você me conheceu ontem."
A sacerdotisa sorriu levemente. "Eu acredito no destino. E quando tive a visão de você, soube que seria alguém especial. Não porque você já é forte, mas porque você tem a capacidade de crescer. A força não vem do poder que possuímos, mas do que fazemos com ele."
As palavras dela ficaram na mente de Mizum enquanto ele se deitava para dormir. Talvez Lyra estivesse certa. Talvez ele pudesse fazer a diferença, mesmo que ainda não soubesse como.
---
Na manhã seguinte, Mizum acordou com o som de folhas farfalhando. Ele se levantou rapidamente, procurando por Lyra, mas encontrou outra figura no lugar dela. Era um homem alto, com cabelo castanho desarrumado e uma armadura de couro.
"Então, você é o 'escolhido', hein?" disse o homem com um sorriso zombeteiro.
"Quem é você?" perguntou Mizum, dando um passo para trás.
"O nome é Kael. Sou um espadachim, enviado para escoltar você e Lyra até Eldoria. Parece que vou ser sua babá por um tempo."
Antes que Mizum pudesse responder, Lyra apareceu, carregando sua bolsa de suprimentos. "Kael, não seja rude. Mizum ainda está se adaptando."
Kael deu de ombros. "Só estou dizendo. Espero que ele aprenda rápido. O caminho até Eldoria não é exatamente tranquilo."
"Por que precisamos ir até lá?" perguntou Mizum.
"Eldoria é a capital de Velandria," explicou Lyra. "É lá que estão os maiores recursos mágicos e nosso rei. Você precisará de treinamento especializado se quisermos enfrentar o Rei Sombrio."
Mizum assentiu, sentindo uma mistura de ansiedade e determinação. Ele sabia que a jornada não seria fácil, mas algo dentro dele o impulsionava a continuar.
"Então, quando partimos?" perguntou ele.
Kael deu um sorriso largo. "Agora mesmo. Espero que você esteja pronto para andar, 'herói'."
E assim, Mizum começou sua jornada rumo a Eldoria, acompanhado pela misteriosa Lyra e pelo sarcástico Kael. Ele ainda não sabia o que o aguardava, mas uma coisa era certa: ele estava longe de ser o mesmo jovem comum que havia sido tragado para aquele mundo.
Capítulo 3: A Jornada Começa
A floresta de Eldenwyn era imensa, seus troncos altos e folhas brilhantes formavam uma cúpula verde que bloqueava parte da luz do sol. Cada passo de Mizum fazia o chão de folhas secas ranger sob suas botas recém-adquiridas, enquanto ele tentava acompanhar Lyra e Kael. Apesar do ambiente majestoso, Mizum não conseguia evitar sentir um frio na espinha. Havia algo inquietante na floresta, algo que parecia observá-los.
"Você está muito quieto, herói," disse Kael, quebrando o silêncio. Ele carregava sua espada longa no ombro, movendo-se com uma confiança descontraída.
"Eu só... não estou acostumado a isso," respondeu Mizum, olhando ao redor. "Minha vida antes era bem mais... normal."
"Bem-vindo ao seu novo normal," Kael disse com um sorriso sarcástico. "Aqui, se você não estiver sempre atento, pode acabar como jantar de alguma fera mágica."
"Kael," interrompeu Lyra, sua voz calma, mas firme, "não o assuste. Ele já tem muito com o que se preocupar."
Kael deu de ombros, mas não disse mais nada.
---
Depois de algumas horas de caminhada, o grupo chegou a um pequeno riacho. Lyra sugeriu que descansassem ali antes de continuar. Enquanto ela enchia cantis com água cristalina, Mizum sentou-se em uma pedra próxima, observando seu reflexo na água.
"Eu realmente não pareço um herói," ele murmurou para si mesmo.
"Isso é porque você não é ainda," disse Kael, sentando-se ao lado dele. "Mas sabe de uma coisa? Todos os heróis começaram como alguém comum."
Mizum olhou para Kael, surpreso pela seriedade em seu tom.
"Você já viu muitos heróis antes?" perguntou.
"Vi alguns. Nem todos sobreviveram. Mas os que sobreviveram, Mizum, eram aqueles que não desistiram, mesmo quando o mundo parecia estar contra eles."
Antes que Mizum pudesse responder, Lyra se aproximou, entregando-lhes os cantis. "Vamos seguir. Ainda temos muito caminho até Eldoria."
---
Enquanto continuavam a jornada, Mizum decidiu usar o tempo para aprender mais sobre seus companheiros.
"Kael, você sempre foi um espadachim?" perguntou, tentando quebrar a tensão.
Kael riu. "Nem sempre. Cresci como filho de um fazendeiro. Aprendi a lutar quando nosso vilarejo foi atacado por bandidos. Depois disso, resolvi nunca mais depender de outra pessoa para me proteger."
"Isso explica por que você é tão bom," disse Mizum, genuinamente impressionado.
"Bom? Eu sou excelente," corrigiu Kael com um sorriso.
Lyra balançou a cabeça, rindo levemente. "E eu já era sacerdotisa antes de você perguntar, Mizum. Sempre tive afinidade com a magia, e foi natural seguir esse caminho."
"Você parece muito dedicada," disse Mizum.
"Porque acredito no que faço," respondeu Lyra, olhando para o horizonte. "Proteger este mundo é minha missão, assim como agora é a sua."
---
À medida que o dia avançava, a atmosfera da floresta começou a mudar. As árvores pareciam mais densas, as sombras mais profundas. O grupo ficou em silêncio, com Kael liderando o caminho e Lyra mantendo seu cajado preparado.
"Algo está errado," sussurrou Kael, parando abruptamente.
Mizum sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem. Um som baixo e gutural ecoou entre as árvores, seguido pelo estalar de galhos.
"Preparar-se," ordenou Kael, puxando sua espada.
Lyra levantou o cajado, e Mizum tentou invocar sua Chama Primordial, mas a pressão do momento fez sua mão tremer.
"Concentre-se, Mizum," disse Lyra calmamente.
De repente, a criatura surgiu das sombras. Era um lobo gigante, com olhos vermelhos brilhantes e dentes afiados como lâminas. Sua pele parecia composta de uma mistura de carne e sombra, uma visão aterrorizante.
Kael foi o primeiro a atacar, movendo-se com agilidade impressionante. Sua espada cortou o ar, mas o lobo desviou com rapidez. Lyra conjurou uma luz dourada que obrigou o lobo a recuar momentaneamente, mas ele rosnou e avançou novamente.
"Mizum, agora é sua vez!" gritou Kael enquanto desviava de um golpe da criatura.
Mizum respirou fundo, tentando controlar o tremor em suas mãos. Ele sentiu o calor da Chama Primordial dentro de si, mas ela parecia instável, como um animal selvagem que ele ainda não sabia domar.
"Você consegue, Mizum," disse Lyra, com uma voz encorajadora.
Com um grito, Mizum lançou uma bola de fogo em direção ao lobo. O ataque atingiu a criatura em cheio, fazendo-a uivar de dor. Aproveitando a abertura, Kael desferiu um golpe final, eliminando o monstro.
O silêncio voltou à floresta, interrompido apenas pela respiração pesada do grupo.
"Bom trabalho," disse Kael, dando um tapinha no ombro de Mizum.
"Foi... assustador," admitiu Mizum, ainda ofegante.
"É sempre assim no começo," disse Lyra. "Mas você conseguiu. Isso é o que importa."
---
Depois do confronto, o grupo decidiu montar acampamento para passar a noite. A fogueira iluminava o pequeno espaço, enquanto todos se recuperavam do embate.
"Essa floresta está infestada de criaturas do Rei Sombrio," comentou Lyra. "Precisamos ter cuidado."
"Isso foi só o começo," disse Kael. "Os lacaios dele estão por toda parte. Quanto mais nos aproximamos de Eldoria, mais perigosos eles se tornam."
Mizum ouviu as palavras deles, sentindo um peso crescente. Ele sabia que aquela era apenas a primeira de muitas batalhas que enfrentaria.
"Vou ficar mais forte," disse ele de repente, quebrando o silêncio.
Kael e Lyra olharam para ele.
"Eu não quero ser um fardo para vocês," continuou Mizum. "Se vou estar aqui, quero lutar de verdade."
Um sorriso surgiu no rosto de Lyra. "É assim que começa, Mizum. Um passo de cada vez."
Kael riu. "Você tem potencial, garoto. Só não vá morrer antes de se tornar útil."
Apesar do tom de brincadeira, Mizum sabia que Kael estava falando sério. Ele olhou para as chamas da fogueira, sentindo-se mais determinado do que nunca.
A jornada estava apenas começando, mas Mizum estava pronto para enfrentar o que viesse.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!