O som de passos ecoava pelo salão principal do Palácio Presidencial. Giulia Moretti, observava a cidade através da imensa janela de seu gabinete. Do alto, os prédios imponentes e as luzes da capital pareciam pequenos diante do turbilhão de pensamentos que ocupavam sua mente. Era a mulher mais poderosa do país, mas também a mais solitária.
"Presidenta, o ministro Bellucci chegou." A voz da secretária a trouxe de volta à realidade.
"Peça para entrar." Giulia ajustou o blazer, endireitou a postura e adotou a expressão impassível que aprendera a carregar como uma armadura.
A porta se abriu, e Vitor Bellucci adentrou o gabinete com passos firmes. O novo ministro da Defesa era jovem para o cargo, mas sua reputação como estrategista e sua lealdade inquestionável haviam conquistado a atenção dela. Ele parecia diferente dos outros ministros: menos subserviente, mais direto, mas sempre mantendo o respeito.
"Presidenta Moretti," ele cumprimentou, inclinando levemente a cabeça. "Trouxe o relatório sobre a situação nas fronteiras."
Ela fez um gesto para que ele se aproximasse. Vittorio colocou uma pasta sobre a mesa e começou a explicar os detalhes. Sua voz era firme, sem hesitação, e seus olhos, marcados por um tom profundo de determinação, mantinham-se fixos nos dela.
"Precisamos reforçar a presença militar nas áreas de conflito, mas isso exigirá redistribuir recursos de outros setores. Será uma decisão difícil, mas necessária", concluiu Vitor.
Giulia cruzou os braços, avaliando não apenas as palavras dele, mas também sua presença. Havia algo em Vitor que a desconcertava. Ele não parecia intimidado por ela, e sua confiança contrastava com a bajulação que estava acostumada a ver nos outros.
"Decisões difíceis são meu cotidiano, ministro Bellucci. Quero resultados, não justificativas." Sua voz era fria, mas a intensidade de seu olhar encontrava um rival à altura no dele.
"É exatamente o que espero oferecer, Presidente. Resultados."
Por um breve instante, um silêncio denso pairou no ambiente. Giulia percebeu, para sua surpresa, que havia algo desafiador em Vitor, algo que despertava sua curiosidade.
"Você tem três dias para me trazer um plano detalhado", ordenou ela, encerrando a reunião.
"Terá em suas mãos em dois", respondeu ele, virando-se para sair.
Quando a porta se fechou, Giulia voltou sua atenção à cidade lá fora. Algo havia mudado naquele dia. Bellucci não era como os outros ministros, e, por mais que ela tentasse ignorar, havia algo nele que fazia o gelo ao redor de seu coração começar a derreter.
Enquanto isso, do outro lado da porta, Vitor caminhava pelos corredores com uma expressão séria. Ele sabia que servir sob a liderança de Giulia Moretti não seria fácil, mas, pela primeira vez em anos, sentiu estar diante de alguém que poderia inspirá-lo a ser mais que apenas um político.
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Dois dias depois, como prometido, Vitor Bellucci retornou ao gabinete presidencial. A pasta que carregava em mãos estava repleta de gráficos, projeções e estratégias detalhadas. Ele havia trabalhado sem descanso, reunindo dados e coordenando informações com sua equipe. Para ele, o prazo curto não era um desafio, mas uma oportunidade de provar que merecia estar ali.
Giulia estava sentada à sua mesa, analisando documentos, quando Vittorio foi anunciado. Sem levantar os olhos, ela apenas gesticulou para que ele entrasse.
"Presidente Moretti, aqui está o plano detalhado que me pediu." Ele colocou a pasta sobre a mesa com cuidado, seu tom sério e profissional.
Ela pegou a pasta e começou a folheá-la sem pressa, avaliando cada página com olhos críticos. Vittorio observava em silêncio, mas internamente sentia o peso daquele momento. Trabalhar para Giulia Moretti significava conviver com o julgamento mais rigoroso que já enfrentara.
Depois de alguns minutos, ela fechou a pasta e finalmente ergueu os olhos para ele.
"Impressionante," disse ela, com uma nota de aprovação em sua voz. "Você foi além do que eu esperava. Estratégico, eficiente... e ousado."
"Eu sabia que precisava trazer algo à altura de sua confiança," respondeu Vitor, com um leve sorriso de satisfação.
Por um breve instante, ela o encarou, avaliando não apenas o trabalho dele, mas o homem à sua frente. Sua determinação e autoconfiança eram desarmantes, mesmo para alguém acostumada a lidar com homens poderosos.
"Espero que esse seja apenas o começo, Bellucci. Não gosto de me decepcionar."
"Eu nunca decepciono, presidente."
Houve um momento de silêncio, e então, para surpresa dele, Giulia se levantou e caminhou até um pequeno bar no canto do gabinete. Ela pegou uma garrafa de Macallan, um dos uísques mais refinados de sua coleção, e serviu duas doses em copos baixos.
"Um brinde ao seu primeiro passo no meu governo," disse ela, estendendo um dos copos para Vitor.
Ele hesitou por um segundo, surpreso com o gesto, mas logo aceitou. Giulia raramente fazia gestos como aquele, o que tornava o momento ainda mais significativo.
"Obrigado. É uma honra."
Eles ergueram os copos e brindaram em silêncio. Vittorio sentiu o calor do uísque descendo pela garganta, mas foi o olhar de Giulia, firme e enigmático, que o deixou mais inquieto.
"Vou aprovar sua proposta," disse ela, voltando a se sentar. "Mas esteja preparado, Bellucci. Isso é apenas o início. A guerra lá fora é tão dura quanto a que enfrentamos aqui dentro."
"Eu sei. E estou pronto."
Enquanto ele deixava o gabinete, Giulia o observou sair. Havia algo que a intrigava, algo que ela não conseguia definir. Ele não era apenas competente; parecia entender o peso do poder que ela carregava.
Sozinha, ela olhou para o copo vazio e suspirou. Giulia Moretti sabia que não podia se dar ao luxo de confiar em ninguém, mas, naquele momento, algo lhe dizia que Vittorio seria diferente.
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Na manhã seguinte, Giulia Moretti estava em sua residência oficial, terminando de revisar os documentos que antecediam uma reunião de emergência. O silêncio de sua rotina foi quebrado pelo som insistente do telefone. Era sua chefe de comunicação, Clara Santini.
"Presidente, você já viu os jornais de hoje?" Clara perguntou, sua voz carregada de tensão.
"Não. Estou focada no relatório para a reunião. Algo importante?"
"Digamos que decidiram se focar na sua vida pessoal. Pegue qualquer portal de notícias, vai entender."
Intrigada, Giulia abriu rapidamente seu tablet e acessou as manchetes. A primeira página de um dos maiores jornais do país exibia uma fotografia dela saindo de um evento diplomático, acompanhada por um título chamativo:
"Giulia Moretti: A Presidente de Ferro e Seu Segredo de Solteira. Quem Conquista o Coração da Mulher Mais Poderosa do País?"
O artigo detalhava sua vida como uma mulher solteira em um cargo de poder, especulando sobre possíveis relacionamentos e "affairs" com figuras políticas e empresários influentes. Giulia fechou o tablet com um estalo e esfregou as têmporas, irritada.
"Clara, isso é ridículo. Estou sendo atacada por manter minha vida pessoal privada."
"Concordo. Mas você sabe como é, presidenta. Uma mulher no poder sempre vira alvo. E, francamente, o fato de você ser solteira incomoda muito mais do que deveria."
"Eu não me importo com o que dizem. Só quero saber se isso pode prejudicar a imagem do governo."
As tensões no Palácio Presidencial estavam no ápice. Os ataques políticos às decisões de Giulia Moretti se intensificavam, alimentados pelas especulações da mídia sobre sua vida pessoal. O gabinete estava dividido entre aqueles que acreditavam em sua liderança e os que viam uma oportunidade para enfraquecê-la.
No meio do caos, Vitor Bellucci se mantinha como uma figura discreta, mas sempre presente. Giulia sabia que ele era um dos poucos em quem podia confiar, ainda que a proximidade entre eles estivesse sob o escrutínio de todos.
Naquela noite, Giulia decidiu tomar uma atitude incomum. Convidou Bellucci para um jantar privado no salão reservado do palácio. "Precisamos alinhar estratégias longe dos olhos e ouvidos dos outros," justificou, mantendo o tom profissional.
O salão estava iluminado por luzes suaves. Uma mesa longa fora preparada, mas, para quebrar a formalidade, Giulia mandou que arrumassem os lugares lado a lado, em vez de opostos. Quando Vittorio chegou, encontrou-a já à mesa, trajando um elegante vestido preto que ressaltava sua autoridade, mas também revelava um lado mais humano que ele raramente via.
"Espero que não tenha se incomodado com o convite," disse ela, enquanto um garçom servia vinho.
"De forma alguma, presidente. É um privilégio," respondeu ele, sentando-se.
Por um tempo, discutiram assuntos relacionados à segurança nacional e estratégias para lidar com as tensões nas fronteiras. Apresentou propostas detalhadas, demonstrando, mais uma vez, sua habilidade em pensar rápido e agir com precisão.
Mas, conforme o jantar avançava, a conversa começou a se desviar do trabalho.
"Você sabia que seria tão difícil quando aceitou esse cargo?" Giulia perguntou, olhando-o de lado, com uma expressão de curiosidade.
"Sabia que seria desafiador, mas não tão intenso quanto tem sido. No entanto, estou acostumado a desafios. É o que me move," respondeu Vitor, com um leve sorriso.
"Você fala como se nunca se permitisse descansar."
"Eu poderia dizer o mesmo de você, presidenta."
Giulia soltou uma risada breve e sincera, algo raro vindo dela. "Toque justo. A verdade é que o peso desse cargo não permite descanso. Não se lidera um país sem carregar algumas cicatrizes."
"Isso eu posso imaginar. Mas, às vezes, parece que você carrega tudo sozinha," disse Vitor, com um tom mais sério. "Não acha que confiar em alguém pode aliviar parte desse fardo?"
Ela o encarou, surpresa pela franqueza. "Confiança é um luxo que poucos podem se permitir na política, Bellucci. E eu não sou uma dessas pessoas."
"Talvez esteja na hora de reconsiderar."
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Enquanto o jantar acontecia, os corredores do palácio fervilhavam com especulações. O encontro privado entre Giulia e Vitor não passara despercebido, e rumores se espalhavam como fogo. Alguns ministros viam no jantar um possível fortalecimento de alianças internas.
Clara Santini, chefe de comunicação, estava especialmente preocupada. "Isso pode sair do controle," confidenciou a um assessor de confiança. "Se algo sair errado, será usado contra ela."
De volta ao salão, o jantar estava chegando ao fim. Giulia levantou a taça de vinho, olhando para Vitor com um misto de determinação e vulnerabilidade.
"Um brinde," disse ela, sua voz mais baixa do que o habitual.
"A quê?" perguntou ele, inclinando-se levemente para frente.
"Ao que quer que nos espere. Porque tenho certeza de que não será fácil."
"Fácil nunca é o que vale a pena," respondeu Vittorio, brindando com ela.
O som dos cristais se chocando ecoou pelo salão vazio, carregado de significados não ditos. Naquele instante, ambos perceberam que o que havia entre eles ultrapassava o profissional.
Quando deixou o salão naquela noite, Giulia ficou sozinha, olhando pela janela para as luzes da cidade. O jantar fora estratégico, mas também revelador. Pela primeira vez em anos, sentiu que havia alguém ao seu lado, alguém que via além do título de "Presidenta de Ferro".
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O sol da manhã iluminava o escritório de Giulia, que já estava imersa nos relatórios do dia seguinte. A rotina presidencial não dava trégua, e ela sabia que qualquer momento de distração poderia ser fatal. No entanto, algo em seu espírito ainda estava ressoando com o jantar de ontem à noite, mas ela não permitia que isso interferisse em sua agenda.
Enquanto folheava os papéis, sua secretária entrou com uma pilha de jornais.
"Presidenta, temos um novo artigo sobre a senhora. Parece positivo, mas achei importante que visse."
Giulia pegou o jornal sem muita expectativa, mas o título da primeira página chamou sua atenção:
"Giulia Moretti: Força e Inteligência à Frente do País. A Mulher que Desafia o Poder e Derruba Expectativas."
Não havia foto acompanhando a matéria, apenas uma descrição detalhada de suas ações e do impacto de sua liderança. O artigo, escrito por um jornalista renomado, se concentrava em sua habilidade de administrar o país com maestria, enfrentando adversários e desafios sem abrir mão de sua integridade.
"É raro ver algo assim nos dias de hoje," comentou Clara Santini, que estava de passagem pela sala. "Normalmente, as matérias sobre você são mais... sensacionalistas."
"Sem foto. Nenhuma imagem escandalosa para vender a história," Giulia murmurou, olhando a página com mais atenção. "Eles devem estar tentando reformular a imagem."
"É uma tentativa de humanizá-la. Está claro que o jornalista queria mostrar seu lado mais reservado e sério. Ele mencionou a maneira como você tem equilibrado política interna e externa, e a defesa implacável da soberania nacional."
Giulia franziu a testa, absorvendo as palavras. "Nunca me importei com a imagem, Clara. Mas, se isso for uma tentativa de suavizar o impacto das especulações, deve ter sido um bom movimento."
A matéria destacava seu papel de liderança implacável, mas também mencionava a visão aguçada de Giulia, sua dedicação incansável ao trabalho e a maneira como ela desafiava as expectativas que a sociedade tinha de uma mulher no poder. Não era um artigo suave, mas, sem dúvida, era um elogio velado à sua capacidade de enfrentar adversidades.
"Gostei dessa parte aqui," Clara disse, apontando para o trecho do artigo. "'Giulia Moretti não é apenas uma presidenta; ela é a personificação da mudança que seu país tanto precisava. Inteligente, estrategista, implacável quando necessário, mas profundamente comprometida com o bem-estar da nação. Sua habilidade de desconstruir o estigma em torno das mulheres no poder é, sem dúvida, uma das maiores vitórias de sua gestão.' É bom ver que o jornal reconhece seu trabalho, mesmo sem se deixar seduzir pelas distrações externas."
Giulia olhou mais uma vez para o texto e sentiu, pela primeira vez em muito tempo, que talvez estivesse começando a ser vista de maneira mais justa. Sem os holofotes, sem os julgamentos precipitados, apenas ela e o que realmente fazia como líder.
"Posso não gostar de ter minha vida pessoal exposta, mas o trabalho está falando por si só", murmurou ela, mais para si mesma. "E enquanto isso acontecer, estou fazendo meu trabalho da melhor forma possível."
"É assim que a maioria vê você, presidente," Clara respondeu, sorrindo ligeiramente. "Só precisam enxergar mais claramente."
O restante do dia seguiu com a mesma intensidade de sempre, mas o artigo no jornal foi como uma pausa rara em meio ao caos. Giulia não sabia se aquilo representava um ponto de virada ou se era apenas uma breve interrupção no fluxo constante de críticas e desafios. Mas, no fundo, ela sentiu que a história estava mudando. As peças estavam começando a se encaixar de uma maneira diferente.
Enquanto isso, em outro canto da cidade, Vitor Bellucci também lia o jornal. Ele havia sido informado do artigo, mas não pôde deixar de notar o foco quase reverencial nas palavras do jornalista. Algo sobre aquele texto mexeu com ele, como se Giulia estivesse, aos poucos, conquistando um espaço não apenas no cenário político, mas também no imaginário de seu povo.
E embora fosse impossível para ele ignorar a crescente tensão entre eles, algo no fundo de sua mente o fazia pensar que esse cenário – onde as linhas entre o profissional e o pessoal estavam se tornando cada vez mais tênues – talvez não fosse tão ruim assim.
Giulia Moretti ajustou a lapela do blazer enquanto caminhava pelo amplo corredor que levava ao escritório de Vitor Bellucci. Ela precisava ser direta e incisiva na conversa que teria com ele. O Ministério da Defesa exigia uma decisão estratégica, e ela não podia deixar margens para dúvidas. Mas, ao empurrar a porta de madeira maciça, deparou-se com uma cena que não esperava.
Ele estava de pé junto à janela, com uma taça de rum em mãos. A luz amarelada do abajur iluminava parcialmente seu rosto, realçando seus traços marcantes.Parecia absorto, mas ao ouvir o som da porta, virou-se com um sorriso que mesclava confiança e algo mais... quase uma provocação.
— Presidente — ele disse, em um tom levemente arrastado, levantando a taça em um brinde informal. — Que honra a sua visita ao meu modesto escritório.
Giulia manteve a postura rígida, ignorando o calor inesperado que subiu por sua nuca. Não era momento para distrações.
— Vitor, precisamos discutir o relatório sobre os gastos do ministério. Há detalhes que exigem ajustes imediatos — ela começou, caminhando até a mesa dele e depositando uma pasta volumosa com firmeza.
Ele deu um passo em sua direção, deixando a taça sobre a mesa. Seus olhos, intensos como sempre, estavam fixos nela.
— Sempre tão objetiva, Giulia — disse ele, com um sorriso leve. — Mas sabe que pode me chamar apenas de Vittorio. Afinal, passamos tantas horas juntos que formalidades são quase desnecessárias.
Ela arqueou uma sobrancelha, tentando ignorar o tom casual e a proximidade repentina.
— O que é necessário é que tenhamos clareza nos próximos passos. Qualquer deslize pode ser explorado pelos nossos inimigos. Não posso permitir que o ministério seja alvo de críticas.
Vittorio inclinou a cabeça, estudando-a por um instante, como se tentasse decifrar os pensamentos por trás de sua expressão séria.
— Você carrega o peso do mundo nos ombros, Giulia — disse ele, mais baixo desta vez. — Mas me pergunto: quem carrega você?
A pergunta pairou no ar como um desafio. Giulia sentiu o coração acelerar por um breve momento, mas sua resposta veio tão afiada quanto uma lâmina.
— Não sou o tipo de pessoa que precisa ser carregada, ministro. Prefiro liderar.
O sorriso dele se ampliou, um misto de admiração e provocação.
— É exatamente isso que admiro em você.
Ela desviou o olhar rapidamente, retomando o foco na pasta sobre a mesa.
— Sobre o relatório, preciso que sua equipe reavalie os contratos de fornecedores externos. Há inconsistências que podem ser exploradas pela oposição. Quero tudo revisado até o fim da semana.
assentiu, mas não sem antes soltar uma última provocação.
— Considerarei isso uma missão. E, para missões importantes, sempre me empenho ao máximo.
Giulia fechou a pasta e deu meia-volta, evitando prolongar a conversa.
— Espero que cumpra. A segurança nacional depende disso.
Ela saiu do escritório com passos firmes, mas assim que a porta se fechou atrás dela, permitiu-se soltar um longo suspiro. Bellucci era, sem dúvida, um aliado valioso. Porém, a forma como ele a fazia sentir – e o modo como parecia ver através de sua armadura – poderia se tornar uma distração perigosa.
Do outro lado da porta, Vittorio observou o lugar onde ela estivera, sorrindo de forma quase imperceptível. Ele sabia que por trás daquela fachada rígida havia mais do que uma presidente determinada. E estava decidido a descobrir.
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Na manhã seguinte, Giulia revisava documentos na sala de reuniões do palácio presidencial. A agenda do dia era intensa, mas o encontro com Bellucci era prioritário. A reunião seria crucial para alinhar estratégias envolvendo a segurança nacional, especialmente após rumores de movimentações suspeitas nos bastidores políticos.
Quando a porta se abriu, Vitor entrou com a confiança de quem sabia exatamente o impacto que causava. Vestia um terno impecável, mas era o brilho nos olhos que o destacava. Ele carregava uma pasta de couro em uma mão e, na outra, uma caneta que girava entre os dedos, como se cada detalhe fosse parte de um espetáculo calculado.
— Presidente Moretti — ele cumprimentou, inclinando levemente a cabeça, antes de ocupar a cadeira ao lado dela. — Sempre tão pontual. É algo que admiro.
Giulia ergueu os olhos por um instante, sem permitir que o comentário a desconcentrasse.
— Pontualidade é o mínimo que se espera de um líder, ministro — respondeu, já apontando para os documentos à sua frente. — Vamos direto ao ponto. Recebi relatórios da inteligência indicando vulnerabilidades nas bases militares ao norte. Quero saber qual é o seu plano para resolver isso.
Vittorio abriu sua pasta com calma quase provocativa. Enquanto tirava os papéis, deixou escapar um comentário casual:
— Sempre direta, como uma tempestade de inverno. Admiro isso também, sabia?
Ela o encarou de soslaio, franzindo levemente a testa, mas decidiu ignorar. O trabalho vinha antes de qualquer tentativa de desconcertá-la.
— Foco, ministro. Não temos tempo a perder. O que planejou? — disse, cruzando os braços e recostando-se na cadeira, esperando uma resposta concreta.
Vitor pousou os papéis na mesa, mas não imediatamente respondeu. Em vez disso, inclinou-se ligeiramente em direção a Giulia, mantendo a voz baixa, como se compartilhasse um segredo.
— Sabe, presidente, a questão não é apenas proteger as bases militares. É garantir que você, o coração dessa nação, esteja sempre segura. E, honestamente, acho que ninguém se preocupa mais com isso do que eu.
Giulia permaneceu imóvel por um segundo, os olhos fixos nos dele. A insinuação era clara, mas ela recusava-se a ceder àquele jogo.
— Se está tentando me convencer de algo, Vittorio, sugiro que use argumentos mais sólidos. Palavras vazias não blindam uma nação — respondeu, com a frieza calculada que se tornara sua marca registrada.
Ele sorriu, inclinando-se para trás na cadeira e cruzando os braços, claramente se divertindo com o embate.
— Palavras vazias? Ah, presidente, não me subestime. Cada palavra que digo tem peso, especialmente quando se trata de você.
O silêncio que se seguiu foi tenso, mas não desconfortável. Vitor sabia que tinha ultrapassado os limites, mas também sabia que a linha tênue entre profissionalismo e provocação era parte do que tornava suas interações tão... vivas.
Giulia respirou fundo, recobrando o controle.
— Muito bem. Voltemos ao plano. Como pretende reforçar a segurança das bases?
Ele finalmente retomou o tom sério, explicando detalhadamente suas estratégias. Mas, mesmo enquanto falava de números, tropas e logística, havia algo em sua postura, um brilho em seus olhos, que fazia Giulia sentir que ele estava sempre um passo à frente.
Quando terminaram, Vitor recolheu seus documentos, mas não antes de fazer um último comentário.
— Presidente, se precisar de algo, qualquer coisa, sabe que pode contar comigo. Afinal, proteger você é, de longe, a parte mais interessante do meu trabalho.
Giulia fechou os olhos por um breve momento, como se buscasse paciência, antes de responder com firmeza:
— Agradeço, ministro. Espero que sua dedicação seja proporcional às suas palavras. Boa tarde.
Ao sair, Vitor lançou um último olhar para ela, um sorriso quase imperceptível nos lábios.
Giulia observou a porta se fechar e soltou um suspiro. Ele era eficiente, carismático e estrategista, mas também... irritantemente encantador. Concentrar-se no trabalho estava se tornando mais difícil do que ela imaginava.
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