Calor e maquiagem não combinam, ainda mais quando uma base de tom médio começa a derreter sobre a gola alta branca de um vestido de renda francesa. O verão chegou mais cedo, e ninguém estava preparado para isso. O nervosismo da atriz diante de uma cena de casamento também não ajuda.
- Todos preparados? Estarão no set em minutos! - uma voz aguda entra pela porta do trailer, deixando todos ainda mais ansiosos.
- Maquiagem pronta em cinco... - tenta amenizar a situação o maquiador, com suas paletas espalhadas sobre o camarim iluminado.
- O cabelo está ok! - confirma o cabeleireiro, enfiando o último grampo em um trançado de mechas com flores.
O ar frio, passando pela pequena brecha do ar condicionado, não é suficiente para refrigerar o pequeno espaço. Ofegante, a atriz se abana com as mãos.
- Com licença, quem já terminou, por favor, saia! - uma voz aveludada, porém firme, corta o ambiente claustrofóbico, abrindo espaço para a atriz respirar. - Deixa eu ver você, querida!
Rachel se aproxima de Lana, uma atriz popular acostumada a interpretar personagens fortes em filmes de ação, mas que agora estrelava seu primeiro romance.
- Humm... - Rachel analisa a barra do vestido de rendas, as fitas de cetim na cintura, os botões de pérola no fecho, os bordados de corações nas mangas, a leve transparência no busto, tudo isso enquanto verifica em seu fichário se está tudo conforme solicitado no script. - Isso não está certo... Algo não está certo. - Rachel se afasta para ter uma visão mais ampla. - Já sei. Foi solicitado que a noiva usasse unhas longas de tom azul claro. Por que ela está usando francesinhas curtas? Onde está a manicure? - pergunta, revistando a pasta de acessórios em busca de unhas postiças azuis até encontrá-las.
- Eu estou aqui! - entra apressadamente a manicure, que, em um único movimento, se acomoda junto às mãos da atriz e começa a aplicação das unhas postiças, que não demoram a ser colocadas.
- Terminei aqui. - o maquiador se apressa, dando os últimos toques com fixador.
Em exatos nove minutos, Lana está posicionada, pronta para a tão esperada cena.
A cena consistia exatamente em uma noiva caminhando sozinha por uma longa passarela de pedras até o altar, onde não havia ninguém à espera, ninguém assistindo e ninguém a acompanhando. Era apenas a noiva e a longa passarela de pedras.
Na lateral do set, longe das câmeras e dos microfones suspensos, Rachel caminha silenciosamente, avaliando a fluidez do vestido enquanto a atriz se movimenta. Até que...
- Mas o que é isso? - Um grito vem da cadeira do diretor, que se levanta imediatamente e caminha até o centro do cenário onde a atriz se encontra. - Quem maquiou você? - Thomas pergunta de forma rígida, deixando Lana sem reação.
Todos no set ficam em silêncio, assustados com o rompante de Thomas, que percebe ter exagerado e recua por um breve momento.
- Não foi culpa do maquiador... - Rachel toma a frente da situação. - Hoje está mais quente que o normal, é comum a maquiagem borrar um pouco.
Thomas se aproxima de Rachel.
- O que você acha que está fazendo? Vai servir de escudo para a incompetência dos outros agora? - fala com voz baixa, mas ainda firme.
- Não, não vou, mas se você me der um minuto, eu resolvo isso.
Thomas ri com desdém enquanto olha ao redor, observando que todos estão atentos.
- Você tem cinco minutos - fala baixinho, afastando-se sem olhar nos olhos dela. - Alguém me traz uma água gelada, esse lugar está parecendo o inferno hoje.
Rapidamente, o alvoroço no set começa. Rachel corre até o trailer, onde revira a arara de figurino até encontrar uma fita de renda francesa semelhante à do vestido. De volta ao set, corre até a atriz, que se posiciona sob um ventilador, tentando se refrescar. Rachel envolve a gola manchada do vestido com o pedaço de fita de renda, cobrindo completamente a mancha e finalizando com um laço discreto na nuca.
Os cinco minutos dados pelo diretor se passaram, e a situação foi resolvida, permitindo que as filmagens continuassem.
A pressão do ambiente de filmagem, somada ao calor excessivo, testou a habilidade e o equilíbrio de todos os envolvidos na produção. No entanto, a rapidez e a calma de Rachel, aliadas à sua experiência, garantiram que o problema fosse solucionado de maneira eficaz e discreta. A cena, que poderia ter sido comprometida por um erro simples, prosseguiu sem maiores contratempos.
Após as filmagens, a equipe se reuniu animadamente para um jantar comemorativo, celebrando o sucesso da gravação e aproveitando para relaxar após um dia exaustivo. O ambiente estava repleto de risadas e conversas, e todos estavam surpresos com o quanto uma simples cena poderia se transformar em uma tarefa tão desgastante.
Rachel, porém, permaneceu afastada, recusando o convite mais uma vez, como fizera nas outras ocasiões. Seus olhos não acompanhavam a animação dos outros, e seu silêncio parecia destoar do clima festivo ao redor.
Ao chegar em casa, Rachel percebe que seu enteado não está sozinho. O par de sapatos masculino na porta a faz concluir que há uma visita. Decidida a ignorar a situação, ela sobe diretamente para seu quarto, onde planeja passar as próximas horas relaxando em sua solitude. No entanto, o som de conversas animadas vindo do andar de baixo a interrompe.
"Será que Thomas já chegou? E trouxe o pessoal do set para casa? Não, ele não é tão sociável assim... Mas então, quem será?" pensou Rachel, confusa.
Curiosa, ela sai de seu quarto com cautela, quase como se estivesse cometendo um crime. Ao se apoiar suavemente no mezanino, observa três figuras masculinas reunidas na sala.
Thiago, seu enteado, com os cabelos bagunçados como sempre. Ao seu lado, Thomas, seu marido e pai de Thiago, com a roupa amassada e aparentando cansaço. E, por último, um rapaz alto, de cabelos negros e igualmente desalinhados, mas cujas feições eram desconhecidas por Rachel.
Os três conversavam e riam alto, enquanto ela observava, tentando entender o que era aquela reunião inesperada. Mas, em um movimento sutil, o jovem desconhecido virou a cabeça, e seus olhos se encontraram com os de Rachel, que estava espiando debruçada sobre o mezanino. No susto, ela correu de volta para o quarto. O gesto foi tão discreto que, ao que parecia, ninguém mais havia percebido o breve contato visual – apenas ela e o rapaz.
O pequeno relógio na mesinha de cabeceira marcava 04:30, e Rachel ainda não conseguia pegar no sono. Ela se recusava a depender de remédios, por isso os soníferos estavam fora de questão. Já Thomas, por outro lado, havia tomado dois comprimidos e dormia profundamente ao seu lado, imóvel como uma pedra.
Os quinze anos de casamento haviam deixado seus ouvidos calejados aos roncos incessantes do marido, mas nem mesmo os sons mais agudos conseguiam calar sua mente naquela noite. Tudo indicava que a visita havia ficado para dormir, pois Thomas não demorou muito para subir depois que ela se fechou no quarto, e Thiago logo se recolheu também, porém não se ouviu barulho na porta da frente e nenhum alarde de despedida foi feito, logo Rachel deduziu que a visita ainda permanecia na casa. Porém ela não havia saído do quarto desde que fora pega de guarda baixa pelo desconhecido, espionando no mezanino. Uma vergonha repentina a dominara, algo que ela não costumava sentir.
"Deve ser algum amigo do Thiago. Afinal, ele tem tantos amigos que mal lembro dos rostos deles… Sim, deve ser só um amigo de passagem", pensava Rachel, tentando afastar os pensamentos e se convencer de que conseguiria ter uma noite tranquila de sono.
Mas a tentativa foi um fracasso. O relógio despertou às 06:00, acordando apenas quem realmente conseguira dormir. Rachel já estava no banheiro, se preparando para sair para o trabalho, pois tinha uma reunião marcada com a equipe às 07:30.
— Por que eu tenho a sensação de que esse maldito relógio está tocando cada vez mais cedo? — resmungava Thomas, arrastando-se do quarto para o banheiro, com o cabelo bagunçado, o rosto amassado e o pijama todo torcido. Enquanto isso, Rachel, em silêncio, escolhia as roupas para o trabalho de seu marido.
— É sério! Daqui a pouco, o tempo vai passar tão rápido que não vamos nem perceber quando é hora de dormir — falava ele, já em baixo do chuveiro.
A cada amanhecer, Thomas parecia ser invadido por reflexões inesperadas. Alguns dias, se perdia nos mistérios do universo e de sua imensidão; outros, estava tomado por uma raiva inexplicável, como se algo ou alguém o provocasse. E, em dias mais aleatórios, surgiam em sua mente ideias para um café da manhã totalmente fora do comum. Sua cabeça acordava sempre agitada, e suas palavras saíam sem filtro.
Às 6h30, Rachel descia as escadas em direção à cozinha, onde Sarah, a responsável por manter a casa em ordem, já a esperava com a mesa posta para o café da manhã.
Ao lado da cozinha ficava a sala de jantar com móveis finos e elegantes e uma mesa de refeição gigante, porém, Rachel sempre achou aquilo tudo um exagero e preferia que as refeições fossem feitas na pequena mesa da cozinha.
— Torradas ou panquecas, senhora? — perguntava Sarah, servindo uma xícara de café com leite.
— Torradas, por favor! — respondia Rachel com um sorriso gentil. — E para o Thomas, café preto com panquecas, por favor.
— Claro, senhora!
— Eu também quero o mesmo, Sarah! — exclamava Thiago, entrando na cozinha em dois passos largos. — Bom dia, tia! — dizia, abraçando Rachel por trás da cadeira onde ela estava sentada.
— O que é isso? Que animação toda é essa logo pela manhã? — perguntava Rachel, surpresa.
— Você não sabe? — Thiago a olhava, confuso. — Meu amigo de infância, aquele que foi morar no exterior, voltou ontem. Vai ficar aqui uns dias até o apartamento dele ficar pronto. — Ele se acomodava à mesa, ainda empolgado. — Você não viu ele ontem aqui?
— Não, não vi. — Rachel respondia rapidamente, sem nem perceber que estava mentindo.
— Ah, quanto tempo você está aí parado? — Thiago disse, se virando para alguém que estava parado logo atrás de Rachel. — Vem tomar café com a gente! — gesticulava com a mão, chamando.
— Bom dia! — uma voz grave ressoava ao lado de Rachel.
— Bom dia! Fique à vontade, sente-se e sirva-se! — respondeu Rachel baixinho, tentando parecer distraída, enquanto mexia nas torradas com a faca, sem olhar diretamente para o rapaz.
Ela tinha certeza que era o mesmo da noite passada, e por algum motivo temia cometer algum tipo de erro que ela não compreendia, se ambos trocassem algum tipo de olhar. Por isso a escolha mais sábia no momento era fingir-se de distraída.
— Esse aqui é o amigo de que falei, o nome dele é... — Thiago começara, mas foi interrompido.
— Lohan, já está acordado? — Thomas entrou na cozinha interrompendo Thiago. — Como você consegue estar tão disposto a essas horas da manhã?
Lohan sorriu timidamente, observando todos à mesa, brincando com as pontas dos dedos, enquanto notava que Rachel já havia tomado toda a sua xícara de café, sem tocar nas torradas. Ainda em pé, ele agradeceu com um leve aceno de cabeça:
— Fico grato, mas não quero incomodar. — agradeceu olhando de canto de olho para Rachel que por sua vez percebeu.
“O que esse garoto tá fazendo?” pensava ela confusa tentando ler as intenções de Lohan e tomando uma atitude.
— Imagina! Você é amigo do Thiago desde criança, não é? — Rachel puxou a cadeira ao lado da sua e finalmente o olhou nos olhos. — Venha, sente-se e tome café conosco.
Lohan parou de brincar com os dedos, colocou as mãos ao lado do corpo com mais naturalidade e abriu um sorriso largo como o sol, sem dizer uma palavra, mas se sentando ao lado de Rachel, como se já fizesse parte daquele cotidiano.
Thomas se acomodou na cabeceira, como sempre, e antes que conseguisse terminar seu café, Rachel já estava de pé, pronta para partir.
— Eu vou na frente, tenho uma reunião com a equipe. Você não precisa me acompanhar, Thomas, pode ir direto para o set. Nos encontramos lá. — disse ela, cheia de energia.
Ela se virou então para Lohan, sorrindo de forma descontraída e estendendo a mão em um gesto cordial.
— E quanto a você, meu rapaz… — disse com simpatia. — Foi um prazer conhecê-lo. Espero que sua estadia seja confortável, e como você é amigo de infância do Thiago, pode me chamar de tia.
“Vamos colocar esse garoto em seu lugar”, pensou ela, mantendo o sorriso gentil, mas com um toque de diversão nos olhos.
Lohan sorriu, primeiro com os olhos, depois deixando o sorriso se alargar até revelar todos os dentes, antes de se levantar e, com um gesto elegante, posicionar-se diante dela.
— O prazer foi todo meu… — disse ele, segurando com suavidade a mão estendida de Rachel. — ... tia! — completou, sussurrando ao mesmo tempo que se curvava e beijava sua mão, com um toque de ousadia no gesto.
Rachel ficou surpresa por um momento, mas logo Thomas riu, quebrando o clima tenso.
— Vai com calma, garoto. Eu sei que você cresceu em outro país, mas cuidado para as pessoas não confundirem seus modos, hein? — disse Thomas, rindo com a expressão de espanto de Rachel. — Vá para a sua reunião, querida, e não repreenda o menino. Tenho certeza de que ele só estava tentando ser gentil, não é, Lohan?
— Claro, Senhor, foi apenas uma gentileza. — Lohan respondeu, mas seu sorriso desapareceu instantaneamente. Agora, ele a olhava com uma seriedade inquietante, que parecia prender Rachel de forma hipnótica.
"Era isso que eu estava tentando evitar. Esse garoto tem esse olhar. O mesmo olhar de ontem à noite. Um olhar que faz meu estômago borbulhar", pensou Rachel, se forçando a se desprender do olhar de Lohan.
Sem conseguir forçar um sorriso apenas virou-se apanhou a bolsa no aparador na sala e bateu a porta da entrada atrás de si.
Na cozinha, restavam apenas Thomas, terminando seu café em silêncio acompanhando as notícias online do dia em set tablet, Lohan, parado, com o olhar perdido olhando fixamente para o espaço vazio onde Rachel estivera, e Thiago, que acabara de se posicionar diante de Lohan, com o semblante completamente alterado em relação ao momento em que Rachel ainda estava presente.
— Ei, Lohan... — exclamou Thiago, sua voz carregada de uma intensidade que não estava ali momentos antes. — O que foi isso?
Lohan, como se fosse alheio ao que acontecera, desviou o olhar e se sentou novamente, sem pressa para terminar o café.
— Isso o quê? — questionou indiferente, tentando disfarçar o peso da situação.
Thiago não hesitou. Aproximou-se, e suas palavras cortaram o ar.
— Não faça isso novamente! — disse com firmeza, o tom grave, quase desesperado, como se fosse um ultimato.
Sem esperar resposta, ele se virou, indo em direção à porta. Sem nem se dar conta no olhar atento de seu pai, que agora o observava fixamente, o tablet largado sobre a mesa e um ar de curiosidade em seu rosto. E, já no limiar da saída, murmurou, sem olhar para trás:
— Estou indo pro trabalho.
***
O escritório da produtora é um ambiente vibrante e dinâmico, com mesas cobertas de esboços, amostras de tecidos e referências históricas espalhadas por toda parte. A luz suave das lâmpadas de design moderno ilumina o espaço, enquanto grandes janelas oferecem uma vista panorâmica da cidade, ainda tranquila antes do movimento frenético do dia. No centro desse cenário criativo, está Rachel, uma profissional experiente e apaixonada pelo que faz. Ela escuta atentamente as ideias da sua equipe sobre o figurino para o mais novo projeto da produtora: um épico filme de ação histórico que conta a origem de um herói renascido.
O filme exige precisão, pois o figurino será crucial para transmitir a autenticidade e a grandiosidade da época retratada. Rachel sabe que, para esse tipo de filme, o figurino conta a história por si só. Cada detalhe, desde um simples broche até uma capa imponente, precisa ser meticulosamente pensado, garantindo que o trabalho seja impecável e fiel à narrativa histórica.
A reunião segue animada, com a equipe apresentando sugestões entusiásticas. Rachel, com o olhar atento de quem entende os desafios de um projeto como esse, faz anotações enquanto absorve cada proposta. Sua assistente pessoal, Laura, sentada ao seu lado, observa tudo de perto, pronta para intervir quando necessário. Laura, com sua postura calma e organizada, é o braço direito de Rachel. Ela tem uma habilidade ímpar para gerenciar o caos que cerca esses grandes projetos, mantendo tudo nos trilhos.
— Rachel, o material sobre o figurino para o herói já está pronto. Podemos começar a análise assim que a reunião terminar — diz Laura, com um sorriso seguro, entregando um caderno repleto de anotações detalhadas.
Rachel olha para ela, agradecida, e acena com a cabeça.
— Ótimo, Laura, obrigada. Vamos dar uma olhada assim que encerrarmos. E já separe os modelos para a reunião com o elenco, por favor — responde Rachel, com a mesma atenção dedicada que ela tem com a equipe.
Enquanto isso, a equipe discute as últimas sugestões. Os membros estão animados, e Rachel sente a energia positiva no ar. Ela se inclina para a frente, marcando o fim da reunião.
— Pessoal, vocês fizeram um trabalho incrível reunindo todo esse material! — diz Rachel, um sorriso satisfeito no rosto. — Agora, nossa próxima reunião será para apresentar os figurinos ao elenco principal. Preparem-se para arrasar!
A sala se enche de murmúrios de aprovação e empolgação. Todos sabem que estão prestes a criar algo grandioso.
Ao final da reunião, os membros da equipe são divididos em dois grupos de três pessoas: o primeiro grupo liderado por Laura que está pronta para garantir que nenhum detalhe seja esquecido fica encarregado de preparar a apresentação para o elenco do filme histórico e o outro, liderado por Rachel, vai ao set de filmagem para concluir o último capítulo da série em que estão trabalhando.
— Certifique-se de que tudo esteja pronto até o fim de semana, Laura. Quero que o elenco selecionado se agrade do figurino escolhido, é muito importante que todos fiquem à vontade com suas vestes — ordena Rachel, com a confiança de quem sabe que está em boas mãos.
Laura sorri e faz um gesto afirmativo, já organizando tudo para que a transição seja suave.
— Pode deixar, Rachel. Eu cuido disso — responde ela, com a tranquilidade de quem já antecipou cada necessidade.
A reunião terminou pouco antes do almoço, e, assim que Rachel pegou o celular, uma mensagem de Thomas apareceu na tela.
"Já terminou? Vamos almoçar juntos!"
Era típico dele, sempre com alguma intenção por trás. Nos quinze anos de casados, as vezes em que almoçaram juntos apenas por prazer eram raras. Quase sempre, o encontro tinha uma agenda oculta – negócios ou alguma obrigação com a família de Thomas. Rachel respirou fundo, refletiu por um segundo e respondeu:
"Adiante o assunto. Eu planejava almoçar com a minha equipe."
Na verdade, o que ela planejava era almoçar sozinha, depois de dispensar todos para o intervalo, com o combinado de se encontrar mais tarde no set. Mas não havia necessidade de contar isso a Thomas.
"Desmarque seu almoço e venha me encontrar no restaurante de sempre!"
Era intransigente como sempre, sem concessões, sem espaço para negociação. Thomas queria as coisas do seu jeito, e Rachel detestava isso. Mas, por uma questão de paz e para não complicar sua carreira, ela evitava entrar em discussões.
"Ok."
Organizando distraidamente a pequena bagunça sobre a mesa, Rachel se perdeu em seus próprios pensamentos, tentando adivinhar o que Thomas queria desta vez. "Dinheiro? Isso seria a última coisa que ele me pediria. Ajuda com o trabalho? Não, ele é orgulhoso demais para isso. Mas... espera aí..." Ela pausou, deixando de lado uma pilha de recortes de revista e pegando a bolsa que estava no cabide no canto da sala. "Da última vez que almoçamos juntos, ele me pediu para convencer Lana a participar da sua série. E teve aquele outro almoço em que trouxe três atores para eu escolher quem ficaria melhor de médico cirurgião, porque não conseguia decidir entre eles qual seria o melhor protagonista da sua série hospitalar. Então, quem sabe ele não precise de ajuda novamente?"
Já no elevador, Rachel sorriu com satisfação ao imaginar que, apesar de tanto subestimá-la, Thomas poderia estar prestes a pedir sua ajuda mais uma vez.
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