NovelToon NovelToon

Uma Noite de Prazer

CAPÍTULO UM

KENDRA HAYES

Sempre fui uma mulher de espírito solitário. Ter ou não pessoas do meu lado, é algo que não me importa, pelo menos não mais. No fim das contas cada um acaba por seguir com a sua própria vida e mesmo sendo doloroso para mim, faço o mesmo. Até porque desde cedo tive de aprender a acostumar-me e gostar da minha própria companhia.

Hoje é a terceira noite que venho para esse bar, o famoso no fim da rua. A verdade é que o meu passado tem-me perturbado um pouco nos últimos dias, essa sombra tem-me feito refletir bastante sobre as repercussões que a minha vida tomou, e sinceramente, após a dias anteriores ter estado aqui, ao analisar o movimento das pessoas, percebi que algumas delas sempre estão a desabafar, outras lidando com as próprias companhias ou mesmo os seus fantasmas. Isso fez-me concluir que por mais que eu não seja a única solitária do lugar, não faz com que eu seja menos deprimida. Em alguns momentos é ótimo ser egoísta com os sentimentos.

— Mais um copo, por favor — empurro o copo já vazio do licor de Amarula e olho em volta.

O lugar não deixa de ser agradável mesmo estando no fundo da rua, com o ambiente um pouco escuro e com uma música de fundo, Jazz melancólico. Cada pessoa no seu canto lidando com os seus próprios problemas. É o tipo de lugar em que pelo menos uma vez na vida, alguém precisa estar.

Não me surpreende que até aos meus 26 anos eu seja ainda mais solitária. A vida avança de forma esquisita para mim. Sou sempre eu e minha própria companhia, é claro que eu gosto disso, mas tem vezes em que é tudo tão assustador. Fiz escolhas difíceis e assim me afastei de grandes amizades, nunca consegui mante-las, quando conhecia alguém e nos dávamos bem a ponto de ter grande afinidade, algo em mim despertava e eu não conseguia mais ser a mesma pessoa, me tornava distante.

Eu pareço ser o ponto final na vida das pessoas, quando estou por perto às coisas parecem tão negativas, e bom, isso deve ser pela minha essência tão pessimista. Não consigo passar o mínimo de tempo possível sem me afundar no caos que há em minha mente, há sempre algo borbulhando nela. Certeza que se hoje sou mesmo próxima de alguém, deve ser porque ela me ama demais e não tem noção do perigo, por isso continua do meu lado, irrelevando tudo.

— Aqui — recebo o copo que o bartender me estende e dou um leve gole, pensativa.

Girando lentamente o líquido de cor creme, um "branco sujo" e de cheiro agradável e tentador, mantenho meu olhar sobre o cubo de gelo que lentamente derrete. Não faço ideia do momento em que comecei a gostar de Amarula, porque até tempos atrás, eu achava enjoativa e demais para mim.

Até a dias anteriores, ainda não tinha recorrido ao álcool para aguentar a vida, mas desta vez me dei ao capricho de quebrar um princípio meu. É algo que evito principalmente pela minha natureza reprimida, quando consumo bebidas alcoólicas até que o efeito se sobressaia, todas as minhas emoções vêm à tona, exprimo tudo sem deixar de lado qualquer detalhe e isso vale em todos os casos, porque em algum momento tenho consequências que ferram com o meu psicológico, e acima de tudo com pessoas que fazem parte da minha vida.

Corro meu olhar por todo o bar e instanteamente o pouso no homem sozinho no canto. O encaro até que, rapidamente, nossos olhares se cruzam, se penetrando num olhar intenso e profundo que por segundos parecem horas. Talvez seja o efeito do álcool que esteja criando essa suposta conexão de olhares, é estranho. Num gesto extremamente sexy, ele sorri de lado me deixando um pouco constrangida.

Retribuo hesitante e ele ergue seu copo na minha direção em um brinde, faço o mesmo antes beber o líquido do meu copo. Nunca fui muito boa em flertes, portanto, todas as vezes que pudesse evitar, o fazia.

Sigo perdida nos meus pensamentos por alguns minutos, até sentir alguém ocupar o banco do meu lado com um suspiro longo.

— Posso fazê-la companhia? — Viro o olhar para a voz dócil, leve e ao mesmo tempo tão grave do homem que estava do outro lado, no canto, que soa aos meus ouvidos e rapidamente um calafrio se apodera do meu corpo. É um meio termo quanto a voz.

Com indiferença, apenas dou de ombros e assim ele o faz, dando a impressão de que independente da minha resposta, ele ficaria.

— Pensando na vida nem — começa ele — Alguma decepção amorosa?

Quem dera fosse algo tão simples quanto um problema de relacionamentos amorosos, o meu fantasma decepcionante ressuscitou e odiei ouvi-lo.

Ponderei por alguns segundos antes de o encarar. Com certeza está puxando papo comigo. Típico papo.

—Nenhuma decepção amorosa — dou uma risada sarcástica, provavelmente por estar um pouco alterada devido ao álcool, já que tinha bebido umas quantas rodadas — E quanto a vida, estou mesmo refletindo sobre como vou continuar lidando com ela, é uma completa merda, pelo menos a minha.

Sussurro a última parte, porque não é de todo verdade.

— Concordo — assente bebendo o líquido castanho transparente do seu próprio copo, uísque — Só coisas como essas podem fazer uma mulher tão linda estar num bar como esse e sozinha.

— Esse é seu jeito de paquerar? — pergunto dando novamente uma risada sarcástica, enquanto cruzo as pernas devido ao repentino formigamento entre elas.

Ele é bonitinho até.

Não, sinceramente, bonitinho ou até mesmo bonito é um insulto.

Apesar do look despojado, ele é lindo. O cabelo escuro está maravilhosamente bagunçado, não parece ter muita diferença de idade comigo, apesar da iluminação consigo perceber que os lábios são um pouco rosados e as laterais se contorcem com alguns riscos quando sorri. Cheira a dinheiro, as mãos bem cuidadas, vestido de camiseta de malha branca de marca e um blazer preto por cima. Sem dúvidas, ele impressionava facilmente e eu faria parte de alguma lista imaginária que aumenta seu ego.

— Não — ri negando — só quero ter uma conversa decente. Sabe, é melhor do que ficar sozinho ali, e além disso acho que ambos precisamos de alguma companhia.

Com a cabeça aponta o canto em que antes estava sentado. Confesso que neste momento uma onda de curiosidade se move em mim, para saber o que ele estaria fazendo ali, sozinho.

— E você está aqui porquê? — me viro mais para ele, dando-o toda uma atenção e possível brecha.

— Estou aqui para pensar também. As coisas na vida não estão fáceis — dá de ombros como se não fosse nada, no entanto sua expressão parece se tornar mais séria e pensativa.

Ergo o meu copo em um brinde:

— A essa vida de merda, então.

Depois disso é só uma questão de tempo até que a conversa flua. Eu estou um pouco bêbada, isso é claro e ele também, então conversámos muita coisa. Das coisas mais bobas até as mais sérias – sem ir muito para o lado pessoal, claro – e vice-versa.

No meio desse papo, fica claro que há segundas intenções. Eu mesmo com álcool no sangue tenho noção dos meus limites e transar com alguém assim, ultrapassava se calhar até demais. Será que estou pronta para dar esse tipo de passo?

— Faz mais de um ano que não fico com alguém — falo do nada e logo sorrio parecendo pensativa — será que estou virgem de novo?

É algo idiota, mas nos faz explodir numa gargalhada como se fosse a melhor piada do mundo. Incrivelmente me sinto bem, de vez em quando é necessário rir de coisas nada a ver, e esse é o meu consolo, alguns momentos de loucura.

Os risos cessam e o silêncio se instala, com isso percebo a minha intenção também, eu quero ficar com ele.

Ele quer, eu quero, nós queremos, então porque não?

Abrindo a porta do meu apartamento, e apoiando meus pés um no outro, tiro os saltos sem me afastar dele ou soltar os seus lábios que parecem querer me sugar de tanta ferocidade.

Ainda agarrados o guio para o meu quarto, enquanto desesperadamente nos despimos um ao outro. Retiro minha saia para ficar só com roupa íntima e rapidamente ele me carrega para seu colo enquanto caminha até a cama me deitando nela logo em seguida.

Meu jardim estava florescendo. Eu estava completamente excitada e tinha certeza de que minha expressão exalava isso. Ele por outro lado, também me olhava com o desejo ardente nos seus olhos, e então num acto sagaz me beijou novamente.

Sua língua se completa com a minha numa perfeita dança e seus lábios colados aos meus são tão quentes, que quando ele os separa, gemo inconformada. No entanto um tremor se apodera de mim ao sentir leves mordidas na lateral do meu rosto, aos poucos ele deixa leves e castos beijos sobre ele, até descer para o meu pescoço.

Sinto a respiração quente e ofegante dele, e num gesto inconsciente me esfrego mais nele, sentindo minha intimidade formigar.

Ele aproveita a deixa para retirar meu sutiã que contém o fecho na parte de frente, facilitando assim o processo. Com uma mão ele apalpa um seio meu carinhosamente, enquanto abocanha de forma sexy o outro.

Lentamente passa a língua sobre o mamilo fazendo alguns círculos no mesmo.

Sedenta de prazer enlaço com minhas pernas a cintura dele, passando minhas mãos por suas costas até ao seu cabelo, onde despejo algum carinho.

Posteriormente, ele faz o mesmo com o outro seio, começando a distribuir beijos e algumas mordidas sobre minha barriga, enquanto desce até meu baixo ventre.

Minha intimidade pulsa querendo mais.

Num movimento rápido começo a retirar minha calcinha e ele termina esse trabalho, por fim me olhando com malícia, enquanto retira sua própria calça e cueca boxer.

A intimidade dele está erecta e se eu não quisesse mais ou soubesse o quanto poderia caber em um pequeno órgão, ficaria um pouco assustada. Às vezes era difícil de acreditar que um órgão se metia entre as minhas pernas e era bom.

Percebendo a nudez de nós dois, me aproximo logo atacando os lábios dele que me recebem de bom grado. Minhas mãos passeiam por seu corpo, como se estivessem trilhando um caminho.

Também sinto suas mãos acariciando cada pedaço de mim, como se precisasse me conhecer de todo.

Seus lábios novamente escapam de mim, trilhando meu corpo enquanto marcas são deixadas para trás. Ele me deita na cama e se encaixa entre as minhas pernas e logo sinto sua intimidade entrando lentamente em mim.

Ele olha-me como se pedisse a minha permissão e apenas aceno, relaxando um pouco sobre o travesseiro.

Ele começa devagar e já sinto o vaivém.

Uma estocada, duas estocadas, três estocadas…

Sinto um pequeno ardor, mas tudo se torna apenas uma miragem, quando o prazer toma conta de cada pedaço de mim.

Minhas pernas se encaixam ao redor dele e suas mãos seguram minha cintura firmemente, tomando controle do acto.

Sem pudor, gemo alto e arqueio as costas segurando o travesseiro com força. Após longos minutos e numa sincronia perfeita, chegamos ao orgasmo e gozamos juntos.

Talvez seja o álcool, poucas pessoas conseguem atingir o clímax em simultâneo.

Com a respiração ofegante, ele deita-se ao meu lado e ficamos em silêncio por alguns segundos, recuperando o fôlego.

O cansaço toma conta de mim após alguns minutos, meus olhos sonolentos imploram por uma boa noite de sono, então me entrego a ele. Mal fecho os olhos, sinto-o se acomodando enquanto se aproxima de mim e abraça minha cintura, me puxando para mais perto.

CAPÍTULO DOIS

KENDRA HAYES

Após uma tentativa falha, forço novamente meus olhos a abrirem e pisco um pouco frenética devido aos raios solares que adentram pela janela. As cortinas do meu quarto são escuras e pesadas, quando fechadas mal nota-se o ambiente externo, porém, no dia anterior por algum motivo não as fechei.

Estou deitada de costas, então viro para o lado ao sentir um aperto firme no meu quadril. Eu bebi, obviamente, e fiquei um pouco mais bebâda que de costume, mas lembro que este é o homem com quem conversei ontem no bar. Eu fiquei com ele, ele ficou comigo, nós ficámos juntos.

Nós transamos. Constato notando nossa total nudez, além do cobertor sobre os nossos corpos.

Franzo a testa e rapidamente arregalo os olhos.

Eu transei com um homem totalmente desconhecido, pela primeira vez. Tenho só 24 anos e é agora que se torna oficial como será minha vida daqui para frente.

Solidão.

Trabalho.

Bebidas.

Sexo.

E mais um pouco de solidão.

Sou tirada do meu devaneio, ao sentir o homem se remexer enquanto murmurra alguma coisa inaudível. Aproveito o momento e coço a garganta exageradamente, como forma de fazê-lo acordar.

Ele pisca algumas vezes e retira a mão de cima de mim, para esfregar os próprios olhos. Finalmente me encara, e não consigo evitar me sentir constrangida por esse momento.

― Bom dia ― profere com o tom de voz rouco, que por momentos parece tirar todo o meu foco. Pisco, com a testa franzida, como forma de espantar quaisquer pensamentos inconvenientes.

― Bom dia ― digo rapidamente e arrasto o cobertor para mim e me levanto da cama, enquanto me enrolo nele. Volto minha atenção para ele e sinto minhas bochechas corarem mesmo a sério. Ele sequer se moveu e por eu ter tirado o cobertor para mim, seu corpo está todo exposto. Fico alguns segundos extasiada com a visão, mas logo fico de costas para ele. ― Mil desculpas por isso.

E assim sigo apressada em direcção ao banheiro, mas antes que chegue sequer a porta, tropeço no imenso cobertor e solto um grito agudo e alto.

― Oh, merda ― ao longe o oiço xingar.

Merda. Era só o que me faltava.

Os braços do homem seguram minhas mãos e ele me ajuda a levantar. Já de pé sinto uma leve dor no braço direito.

― Você está bem? ― O tom de voz soa preocupado e em resposta eu gemo com uma carreta de dor, seguido de um sorriso forçado.

Gemo pelo roxo no meu braço e sorrio de vergonha.

― Sim, não é nada demais. ― digo por fim. ― Depois coloco gelo, obrigada.

Ele segura o braço dolorido em silêncio, o observa calmamente e eu apenas o encaro, como se essa não fosse uma situação estranha. Como se não fossêmos completos desconhecidos, totalmente nus.

O som de um celular, no caso meu, corta o silêncio fazendo com que em sintonia nos viremos para a origem.

―Hm ―desta vez ele é quem coça a garganta e com cuidado solta o meu braço, passa a mão no cabelo um pouco avoado e se afasta. ― eu vou me arrumar para ir embora, você pode tomar seu banho.

Aceno com a cabeça enquanto vou até a bolsa jogada no chão, próximo a porta do quarto, já que o som de chamada se mantém insistente.

― Alô! ― Atendo sem sequer olhar o nome.

― Srta. Kendra, bom dia! ― oiço do outro lado da linha a voz de Jane, minha assistente. ― tenho más notícias.

Franzo a testa e me prontifico a ouvir.

― Pode falar, Jane. ― Olho para o homem do canto dos olhos, e este já está ao menos de cuecas boxer. Amém.

― A reunião com a direção foi remarcada para às oito e meia. ― Explica e retiro o celular da orelha para verificar a hora. São seis e quarenta e um minutos, a reunião seria ás oito em ponto. — O novo acionista estará presente.

― Certo, Jane. ― confirmo porque eu avisei a ela que chegaria um pouco mais cedo para rever alguns projectos. ― em breve estarei aí.

Troco mais algumas palavras com ela, e por fim encerro a chamada. Passo pelo homem, que já está quase que totalmente vestido, em direcção ao banheiro e desta vez com mais sutileza para evitar outra queda.

Assim que fecho a porta me apresso a entrar na box, tomo banho evitando molhar o cabelo e forçar o braço que me magoei. Quando termino me enrolo na toalha e saio do banheiro enquanto me seco com a outra. O quarto está vazio, então suspiro de alívio enquanto me apresso para estar pronta. Não tenho muito trabalho para escolher a roupa, então pego um conjunto preto de calça e blazer, uma blusa simples como de costume, eu me vestia assim basicamente todos os dias, de maneira formal e estruturada.

Saio do quarto com a bolsa pendurada no ombro enquanto prendo o cabelo num rabo de cavalo. Me assusto ao ver o homem na cozinha e me seguro para não dar um grito, novamente.

― Ainda aqui? ― pergunto de forma retórica, enquanto passo a mão no peito, para acalmar os batimentos acelerados do meu coração.

― Eu sei, eu sei ― se explica, erguendo aos mãos rendido. ― é estranho, mas você me pareceu apressada demais para fazer seu café da manhã, fiz essa simpatia. ― Aponta com as duas mãos as torradas recheadas num prato, o suco e café. Semicerro os olhos desconfiada e antes que eu possa proferir qualquer palavra, ele continua. ― Eu prometo que não te envenenei.

Ainda estranhando me aproximo mais da bancada da cozinha. Não sabia que casos de uma noite poderiam preparar refeições no dia seguinte.

― Então você costuma fazer essa simpatia com todas as mulheres com quem dorme? ― questiono o encarando melhor. Realmente, bonitinho é um insulto.

― Aqui, achei que iria precisar para a ressaca ― me estende um comprimido e copo de suco. Notando minhas suspeitas, se explica ― Achei na sua mini farmácia. E respondendo a sua questão, não, eu não faço isso para todas as mulheres, até porque não são muitas como você insinuou.

Pouso o copo após tomar o comprimido e espreito o relógio no meu pulso, sete e nove minutos.

― Não acredito muito nisso, mas não posso te contrariar. ― Ainda de pé, dou uma mordida na torrada e tenho de admitir que precisava mesmo comer alguma coisa. ― Não te conheço.

― Eu sou Lewis Luttrell ― se apresenta, como isso fosse me fazer saber tudo a seu respeito. Oh, posso mesmo saber, uma investigação básica poderia me permitir conhecer pelo menos a parte superficial. ― Posso saber para quem fiz café da manhã?

Fala com um sorriso aberto, perante esse acto me foco nos seus olhos, são castanhos e claros, a pele é um pouco bronzeada, como se por muito tivesse sido exposto ao sol de verão. Seattle, não tem muito do verão, na maior parte das vezes, o ambiente é frio, então, talvez ele tenha tido umas belas e longas férias, ou na maior das hipóteses, não é natural daqui.

― Kendra Hayes ― respondo e tomo um último gole do suco. ― Adoraria continuar esta conversa, mas preciso ir trabalhar.

O homem, que agora sei que é Lewis, dá a volta pelo balcão.

― É mesmo, eu também preciso ir. ― Pega o blazer no banco e aponta para a saída enquanto espreme os lábios numa linha recta, enquanto seu rosto forma uma carreta. Pego minha bolsa novamente e sigo até a porta, a abro e permito que ele saia primeiro para que eu a possa trancar.

Incrível que não tenha perguntado sobre trabalhar aos sábados. Bom, pelo menos não é tão curioso.

CAPÍTULO TRÊS

KENDRA HAYES

Sim, posso até ser solitária, mas há que admitir que a minha vida até que deu certo. Para a minha idade, estou um tanto realizada. Aos 26 anos tenho um grande cargo na empresa DELCOUR, Directora de projectos de uma das empresas de arquitectura e imobiliária mais renomadas de Seattle, é o sonho de muitas pessoas com o mínimo de ambição. Porquê? Isso pode ser totalmente por amor a carreira, mas de todo, garante uma vida privilegiada e muito luxo, bem, isso até ser despedida para que haja alguém melhor no seu lugar, o consolo é que dá para garantir uma boa reforma se for um bom gerente.

Caminho pelo longo piso do hall de entrada de DELCOUR, um edifício de 20 andares que alberga diversos escritórios para responder a necessidade de todos os trabalhadores. Todo preto e com acessórios prateados na parte externa, se mostrando assim uma linda obra de arte inclusive com o seu interior igualmente luxuoso. Oiço os meus saltos batendo contra o chão e a cada passo me perco um pouco mais em meus próprios pensamentos, foi uma manhã um pouco estranha e não tenho tanta certeza se aquilo devia ter acontecido, não é de meu feitio.

Eu prefiro e torço para jamais cruzar meu caminho com o de aquele homem, cujo o nome é Lewis, não saberia como lidar. Uma vozinha no meu subconsciente contraria essas afirmações com gritinhos, porque o homem é mesmo uma tentação.

Entro no elevador espelhado, quando as portas se fecham após eu colocar décimo nono andar, encaro meu reflexo e me foco em ajustar qualquer irregularidade no meu traje e cabelo, que para reuniões opto por dividi-lo na parte frontal exatamente pelo meio e prender, realça a minha expressão de seriedade e todo mundo sabe que as mulheres são por vezes mais respeitadas pela forma como se vestem e a postura.

As portas do elevador se abrem e mal saio, Jane, minha secretária, vem até mim com um triplo mocha latte com canela.

Em algum momento da vida me tornei dependente e desta então não me sinto como um ser humano normal se não tomar a minha dose básica de leite e café, ainda mais pela manhã.

— Obrigada. – Agradeço me dirigindo ao meu escritório, tenho pelo menos trinta minutos antes da reunião, tempo mais do que suficiente para me preparar para lidar com o novo acionista e CEO.

Odeio mudanças, ainda mais quando o chefe é que muda, os riscos são maiores pois ele se foca em adaptar as coisas para o seu próprio estilo.

Faltando 5 minutos para a reunião, Jane bate a porta e me informa que o novo acionista já se encontra na empresa, então pego meu material e me dirijo ao andar acima do meu.

Como em todo o prédio o chão é feito de mármore preto e é brilhante, paredes brancas com alguns detalhes adornados de cor prata e em partes estratégicas, este andar contém apenas um escritório espaçoso e deslumbrante e uma sala de reuniões. Ao adentrar na sala, a imensa mesa está preenchida pelos funcionários de alto cargo, saúdo a todos e me sento no lugar de sempre, restando apenas dois lugares para serem ocupados, o novo CEO, basicamente o dono da empresa uma vez que este possui a maior parte das acções, e talvez outra pessoa.

Burburinhos se escutam entre os presentes e eu estou igualmente trocando palavras, quando as portas se abrem e eu, tal como todos os outros nos viramos.

— Bom dia meus Senhores — uma voz grave e que ao mesmo tempo soa dócil se faz sentir na sala repentinamente silenciosa. Eu franzo a testa familiarizada com o tom e quando encaro a entidade que a emitiu, não reprimo o choque. Ele está acompanhado por uma mulher vestida elegantemente num conjunto vermelho chamativo, com detalhes brilhantes, os acessórios que a adornam são igualmente chamativos e dão realce ao seu rosto esculpido para a perfeição e ao tom de pele, levemente bronzeado, tal como de Lewis.

Será coincidência?

Quando ele se senta na ponta da mesa, de costas para uma imensa vista, e a mulher no seu lado esquerdo, nossos olhares se chocam inevitavelmente quando ele avalia rapidamente todos os rostos presentes, ele volta seu olhar para mim, surpresa expressa no seu rosto, entretanto a máscara demonstrando apenas um olhar sério e profissional.

Ótimo! Agora tenho mesmo de saber como lidar com ele. E olha que isso parece alguma brincadeira para me sacanear, o universo está usando as palavras do meu subconsciente para me castigar. Como engolir que quando eu me deixei levar pelas emoções do momento e transei com um homem totalmente desconhecido, acabei descobrindo que ele é meu novo chefe?

A reunião prossegue e em alguns momentos nossos olhares se cruzam, mas foco em manter a postura e a calma.

Sim, algo em mim sonhou em encontrar ele novamente por aí, mas isso acontecer no meu ambiente de trabalho e como meu chefe é o cúmulo.

Quando a reunião, que durou cerca de duas horas, chega ao fim, não reprimo a indignação e bufo enquanto arrumo a minha pasta.

— Srta. Hayes — Ele me chama e levanto o olhar.

Vestido formalmente, um terno preto sob medida, entretanto sem gravata, mas isso o fazia exalar charme e autoconfiança. Seu olhar se desvia para a mulher que agora sei se chamar Margot Collins — Directora dos serviços de design de interiores, um novo catálogo da empresa. — E acena, ela acaba por nos lançar um olhar perfurante e se retira.

— Sr. Luttrell — faço uma careta meio desgostosa — Meu chefe, uau.

Ele sorri envergonhado, embora ache que isso não vai de acordo com a postura.

— Nunca supus essa possibilidade — fala — que pudéssemos nos reencontrar no nosso local de trabalho, preferia que fosse em outras circunstâncias.

Não reprimo a surpresa por suas palavras. Então quer dizer que ele quis que tivéssemos outra interação, mas em outro local? Ok, já prevejo problemas.

— Eu preferia que nada acontecesse — Recupero a postura e fico séria, preciso esclarecer limites — Há encontros que devem ser apenas uma vez na vida, coisas que devem acontecer e ser esquecidas.

Lewis franze a testa e sinto seu corpo enrijecer, mas mantenho minhas palavras firmes:

— Se eu pudesse ter evitado o que aconteceu entre nós, o faria. Agradecia que o senhor enterrasse esse incidente e mantivéssemos as coisas extremamente profissionais.

Concluo na defensiva e me retiro da sala sem esperar uma resposta. Assim que estou no elevador sozinha, me permito respirar.

Ele devia ser o primeiro a ignorar esse assunto, pois é o meu chefe. De qualquer forma, eu não quero distracções no meu trabalho, é uma das coisas mais valiosas que tenho, me faz esperar algo do dia e me mantém viva.

Respiro fundo meio irritada e ao sair do elevador, Jane da sua mesa de secretaria percebe a minha aura e se mantém em silêncio, então em passos apressados entro no escritório, jogo a pasta na mesa e pego o celular logo me permitindo desabar no sofá do canto.

— Onde você está? — Pergunto assim que ela atende.

— Olá para você também. Estou bem, obrigada pela preocupação — responde irónica e continua — Estou em casa e sozinha, pode vir.

— Tem vinho aí?

— Tem sim. O que se passa? — seu tom rapidamente soa preocupado e até me sinto culpada por isso.

— É só um péssimo dia, mas estou bem. — Garanto e quase rio da minha afirmação, ainda são dez da manhã, como é possível tudo já estar errado? — Te vejo logo.

Me despeço e pego meus pertences para sair. É sábado, viemos apenas para a reunião que estava a dias sendo adiada, e hoje é um bom dia para passar com a minha garota e um pouco de vinho, porque afinal de contas não sou tão solitária como disse.

Para mais, baixe o APP de MangaToon!

novel PDF download
NovelToon
Um passo para um novo mundo!
Para mais, baixe o APP de MangaToon!