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Suprema Luna

capítulo 1: A Rejeitada

Capítulo 1: A Rejeitada

A primeira luz do dia despontava no horizonte quando Emily acordou com o som áspero de batidas na porta de madeira. A senhora Alessa, a mulher que a abrigava desde que seus pais morreram, estava do outro lado.

— Levante-se, garota preguiçosa! Você acha que o pão vai se assar sozinho? — gritou Alessa.

Emily suspirou, sentindo o mesmo peso de todas as manhãs. Ela vestiu seu vestido remendado e prendeu os cabelos castanhos em um coque apressado. O frio da manhã mordia sua pele enquanto ela corria até a cozinha.

A padaria de Alessa era pequena e servia os moradores da vila. Para Emily, era mais uma obrigação diária que a deixava exausta e invisível. Aos 23 anos, ela ainda era tratada como uma criança desobediente.

— Não é à toa que ninguém quer você. Uma ômega que nem cheiro direito tem, que vergonha — Alessa murmurava enquanto amassava a massa com força desnecessária.

Emily ouviu calada. Não havia motivo para discutir. Era verdade: seu cheiro era quase imperceptível, algo que todos na vila notavam e comentavam. Para os alfas, ela era uma decepção, e para as betas, apenas uma fonte de chacota.

Mas, enquanto olhava pela janela para a floresta além da vila, Emily sentiu algo diferente naquela manhã. Um desejo inquieto de sair, de correr, de fugir.

Mais tarde, Emily foi enviada ao mercado para entregar pães. O cheiro de terra e feno preenchia o ar, misturado ao som de conversas e risadas. Ela evitava os olhares das pessoas, mas, como sempre, os comentários vinham mesmo assim.

— Lá vai a ômega sem cheiro — sussurrou uma beta para a amiga, rindo.

— Aposto que nunca vai ter um alfa. Quem a escolheria? — disse outra.

Emily apertou os pães contra o peito e caminhou mais rápido, fingindo que não ouviu. Mas as palavras sempre a atingiam.

Quando terminou suas entregas, parou à beira da floresta, como fazia em dias difíceis. As árvores altas ofereciam um refúgio silencioso. Ela não sabia por que, mas sempre sentia uma paz inexplicável ali, como se a floresta a conhecesse.

Foi então que ouviu o som.

Um uivo.

Emily congelou, seus olhos se arregalando. Era distante, mas forte, reverberando em sua alma de uma maneira que ela nunca sentira antes.

“O que foi isso?” pensou, com o coração disparado.

Antes que pudesse se mover, sentiu algo diferente em seu corpo. Uma onda de calor percorreu suas veias, fazendo suas pernas fraquejarem. Ela se apoiou em uma árvore, ofegante, tentando entender o que estava acontecendo.

De volta à vila, Emily sentiu o clima mudar. Enquanto caminhava pelas ruas de terra, percebeu olhares hostis e sussurros aumentados.

— Você ouviu? Lobos foram vistos perto da floresta. Essa garota deve ter trazido má sorte.

— Só pode ser isso. Sempre achei que ela era estranha.

Emily apressou o passo, tentando ignorar. Mas, ao dobrar a esquina, três homens alfas apareceram diante dela. Eles eram conhecidos por intimidar os mais fracos, e Emily, sendo quem era, era um alvo fácil.

— Olha só, a ômega sem cheiro. Está fugindo de novo? — disse um deles, bloqueando sua passagem.

Emily tentou contorná-los, mas outro segurou seu braço.

— Sabe, você é um desperdício. Aposto que nem um cio você já teve — ele provocou, recebendo risadas dos outros.

Ela puxou o braço, mas era inútil. Eles eram mais fortes, e ela sentia o medo crescer.

— Soltem-me — disse, a voz tremendo.

— Ou o quê? Você vai nos morder? — zombou o terceiro.

Antes que algo pior acontecesse, um uivo cortou o ar novamente, mais alto desta vez. Os alfas pararam, inquietos.

— Isso… isso foi um lobo? — um deles perguntou, olhando ao redor.

A distração deu a Emily a chance de fugir. Ela correu sem olhar para trás, com o som do uivo ecoando em seus ouvidos e uma sensação estranha no peito.

De volta à segurança da floresta, Emily caiu de joelhos, lutando para respirar. Lágrimas escorriam por seu rosto, e ela sentia uma mistura de medo e algo novo – algo que ela não conseguia entender.

“Por que isso está acontecendo comigo?” pensou, olhando para o céu.

A lua, mesmo em sua forma crescente, parecia maior e mais brilhante do que o normal. Emily sentiu uma conexão inexplicável, como se algo dentro dela estivesse despertando.

“Você não está sozinha.”

A voz parecia sussurrar dentro de sua mente. Emily olhou ao redor, mas não havia ninguém. Apenas a floresta, o vento e a lua.

Ela fechou os olhos e deixou o sussurro acalmá-la, mesmo sem entender o que aquilo significava.

capítulo 2: O Chamado da Lua

Capítulo 2: O Chamado da Lua

A manhã seguinte trouxe a Emily um desconforto que parecia grudado à pele. Enquanto ajudava Alessa a organizar os pães, não conseguia esquecer o som dos uivos da noite anterior. Era como se algo tivesse se acendido dentro dela, uma centelha desconhecida que se recusava a apagar.

— O que você tem hoje? Está ainda mais inútil que o normal! — reclamou Alessa, observando Emily derrubar um saco de farinha no chão.

Emily pediu desculpas apressadamente e começou a limpar. Mas sua mente estava longe dali, presa à floresta. O uivo, a sensação de calor, a voz sussurrada... tudo a perturbava. Ela precisava entender o que estava acontecendo.

Ao fim do dia, quando o trabalho na padaria terminou, Emily não voltou para o pequeno quarto onde dormia. Em vez disso, caminhou em direção à floresta.

Cada passo a levava mais fundo no labirinto de árvores. O ar estava fresco, e a luz do entardecer criava sombras que dançavam ao seu redor. Ela não sabia exatamente o que estava procurando, mas seu coração dizia que era ali que encontraria respostas.

De repente, parou. O silêncio era absoluto, quebrado apenas pelo som de folhas sob seus pés. Então, como se o universo respondesse ao seu chamado, um uivo ecoou novamente, mais próximo desta vez.

Emily engoliu em seco. Sentiu aquele calor familiar percorrer seu corpo, mais forte do que na noite anterior. Sua respiração acelerou enquanto seus sentidos pareciam aguçar, captando o cheiro da terra úmida, o som de galhos quebrando ao longe.

— Quem está aí? — ela chamou, a voz tremendo.

Nenhuma resposta.

Por um momento, pensou em voltar para a vila. Mas algo dentro dela a empurrou para frente, guiando-a por uma trilha invisível até chegar a uma clareira iluminada pela luz pálida da lua crescente.

No centro da clareira, duas figuras estavam de pé.

Eram mulheres – altas, imponentes, com ares de força e autoridade. Seus cabelos brilhavam à luz da lua, e seus olhos, um par dourado e outro prateado, cravaram-se em Emily. Elas não se pareciam com ninguém que Emily já tivesse visto na vila ou em qualquer lugar.

— Finalmente — disse uma delas, a de olhos dourados, com um leve sorriso. Sua voz era firme, mas carregava um toque de suavidade.

Emily ficou imóvel, sentindo a presença esmagadora daquelas mulheres.

— Quem... quem são vocês? — conseguiu perguntar, a garganta seca.

A mulher de olhos prateados deu um passo à frente. Seus movimentos eram fluidos, como se dançasse.

— Eu sou Sofia. Esta é Layla. — Sua voz era fria, mas cativante. — E você, Emily, é a razão de estarmos aqui.

Emily deu um passo para trás, confusa e assustada.

— Como sabem meu nome? O que querem comigo?

Layla, a de olhos dourados, se aproximou com calma, sem tirar os olhos de Emily.

— Você sente, não sente? Essa conexão... essa força que pulsa em você. Você ouviu nosso chamado.

Emily balançou a cabeça, tentando negar, mas era inútil.

— Não sei do que estão falando. Sou só uma ômega... Não tenho nada de especial.

Sofia arqueou uma sobrancelha, e um sorriso breve tocou seus lábios.

— Ah, querida, você é muito mais do que uma ômega comum.

Antes que Emily pudesse responder, Layla ergueu a mão, apontando para a lua.

— Você é a Suprema Luna. Destinada a liderar ao nosso lado.

O mundo de Emily pareceu girar. Ela deu mais um passo para trás, sentindo o coração bater tão forte que parecia querer sair do peito.

— Isso é um engano. Não posso ser o que vocês acham. Eu... eu nem consigo sentir meu próprio cheiro!

Sofia e Layla trocaram um olhar rápido antes de Sofia suspirar, cruzando os braços.

— É normal que você não entenda agora. Tudo isso foi escondido de você, mas sua verdadeira natureza está despertando. Por isso você sente esse calor. Por isso ouviu nossos uivos.

— Vocês estão erradas! — Emily gritou, sentindo as lágrimas queimarem em seus olhos.

Layla deu mais um passo, diminuindo ainda mais a distância entre elas. Sua presença era quase avassaladora, mas seu tom, quando falou, era gentil.

— Emily, escute-me. Nós duas somos as Supremas Alfas. Juntas, governamos as alcateias de todo este território. Mas sem você, nossa aliança está incompleta. Você é a peça central desse elo.

Emily olhou para as duas, sentindo-se ainda mais perdida. Como aquilo poderia ser verdade? Ela, que era rejeitada por todos, que não tinha valor algum?

— Não posso... Não posso ser quem vocês querem que eu seja.

Sofia inclinou a cabeça, estudando Emily com curiosidade.

— Você não precisa decidir agora. Mas saiba que sua vida nunca mais será a mesma. Negar quem você é só trará mais dor.

Emily quis responder, mas as palavras não vieram. Sentia-se sufocada pela intensidade daquelas mulheres, pela impossibilidade do que diziam.

Quando finalmente conseguiu se mover, virou-se e correu.

Ela correu pela floresta, tropeçando em raízes e galhos, até chegar de volta à vila. Seu peito doía, e sua mente estava um caos.

Enquanto fechava a porta do quarto e se jogava na cama, uma única pergunta ecoava em sua mente:

“E se elas estiverem certas?”

capítulo 3: O Instinto Desperto

Capítulo 3: O Instinto Desperto

Emily acordou com o coração acelerado. O cheiro da padaria já invadia o ar, mas ela não tinha forças para enfrentar o dia. A noite anterior parecia um borrão, mas a lembrança de Sofia e Layla permanecia tão vívida quanto o calor que ainda percorria seu corpo.

Ela tentou afastar os pensamentos, convencendo-se de que tudo não passava de um sonho. Talvez estivesse exausta, e sua mente pregara uma peça. No entanto, a clareira, os uivos e o olhar penetrante das duas mulheres eram impossíveis de ignorar.

— Emily! Vai ficar aí o dia todo? — Alessa gritou do outro lado da porta.

Engolindo a angústia, Emily levantou-se e se arrumou rapidamente. Ela sabia que precisava agir normalmente, mas algo dentro dela estava diferente.

Quando entrou na cozinha, Alessa a encarou com uma expressão azeda.

— Você parece pior do que o normal. Alguma coisa aconteceu?

— Não — respondeu Emily, desviando o olhar.

Alessa bufou, voltando sua atenção para o forno. Emily começou a trabalhar mecanicamente, amassando pães e arrumando os ingredientes, mas sua mente estava longe dali. O calor que sentira na floresta agora parecia pulsar em suas veias.

Conforme o dia avançava, pequenos detalhes começaram a chamá-la a atenção. O cheiro de cada ingrediente parecia mais intenso, o som das conversas na rua estava mais alto do que o normal, e até mesmo a textura da massa parecia diferente sob seus dedos.

“Isso é loucura”, pensou, tentando ignorar as mudanças.

Quando Alessa mandou que ela fosse até o mercado buscar farinha, Emily obedeceu, aliviada por sair dali. No caminho, tentou respirar fundo e se acalmar, mas o caos em sua mente não cessava.

Foi então que sentiu.

O cheiro.

Era algo tão distinto que a fez parar no meio do caminho. Doce e ao mesmo tempo selvagem, como madeira queimada misturada ao perfume de flores frescas. Emily olhou ao redor, mas não havia ninguém próximo.

Seu coração disparou.

— Não pode ser...

O aroma parecia atraí-la, puxando-a para uma rua lateral que dava em direção à floresta. Ela hesitou, mas seus pés começaram a se mover sozinhos. Cada passo parecia guiado por algo que ela não conseguia controlar.

Quando finalmente chegou à entrada da floresta, viu uma figura de pé entre as árvores. Era Layla.

— Eu sabia que você viria — disse a alfa, sua voz baixa, mas firme.

Emily sentiu as pernas tremerem.

— O que você está fazendo aqui? Por que está me seguindo?

Layla deu um passo à frente, mas manteve a distância.

— Não estou te seguindo. Você sentiu o nosso vínculo, não sentiu? Foi ele que a trouxe aqui.

Emily recuou, balançando a cabeça.

— Isso não faz sentido! Eu... eu não pertenço a nada disso!

Layla suspirou, cruzando os braços.

— Emily, você pode continuar negando, mas não pode fugir do que é. A cada dia, sua verdadeira natureza ficará mais forte. Logo, não será capaz de escondê-la de ninguém.

Emily abriu a boca para responder, mas antes que pudesse dizer algo, o som de passos atrás dela a fez congelar. Ela se virou rapidamente, vendo Sofia sair da sombra das árvores.

— Layla, você está assustando a garota. Dê um tempo — disse Sofia, sorrindo levemente.

Emily se sentiu cercada, e o calor em seu corpo ficou mais intenso, quase insuportável.

— O que vocês querem de mim? — gritou, as palavras escapando antes que pudesse contê-las.

Layla e Sofia trocaram olhares antes de Sofia dar um passo à frente, sua expressão mais suave.

— Queremos protegê-la, Emily. Você está em perigo, mesmo que ainda não perceba.

— Em perigo? Por quê?

Layla foi quem respondeu desta vez.

— Porque sua presença aqui não passou despercebida. Outras alcateias já sabem que a Suprema Luna está despertando, e não são todos que aceitarão isso de braços abertos.

Emily sentiu o mundo girar. Suprema Luna. Aquelas palavras ecoavam na sua mente, mas ela ainda não conseguia acreditar.

— Eu sou só... eu. Ninguém se importa comigo. Não posso ser essa pessoa que vocês acham que sou.

Sofia se aproximou mais, parando a poucos passos de Emily.

— Você acha que é insignificante porque é isso que te fizeram acreditar. Mas olhe ao seu redor. Sinta o que está acontecendo com você. Isso é o despertar, Emily. E, quando o despertar começa, não há como voltar atrás.

O calor que percorria seu corpo agora parecia tomar conta de tudo. Emily caiu de joelhos, ofegante.

— O que está acontecendo comigo? — ela sussurrou, assustada.

Layla se ajoelhou ao seu lado, colocando a mão no ombro dela. O toque era firme, mas reconfortante.

— Sua essência está se revelando. Está sentindo o chamado, o vínculo que nos une. É a sua conexão com nós duas e com a lua.

Emily ergueu os olhos para Layla, lágrimas escorrendo por seu rosto.

— E se eu não quiser?

Sofia se ajoelhou do outro lado, tocando delicadamente a outra mão de Emily.

— Não se trata de querer ou não. Você nasceu para isso. Mas saiba que estaremos com você, não importa o que aconteça.

Emily sentiu uma onda de energia percorrer seu corpo, como se algo dentro dela estivesse se libertando. Sua mente, mesmo confusa, foi tomada por uma sensação de pertencimento que ela nunca havia experimentado antes.

Mesmo assim, o medo ainda dominava seu coração.

— Eu... preciso de tempo — ela murmurou, sua voz quase inaudível.

Sofia e Layla assentiram, afastando-se um pouco.

— Teremos paciência — disse Layla. — Mas não demore, Emily. O mundo está se movendo, e precisamos de você.

Antes que Emily pudesse dizer mais alguma coisa, elas desapareceram entre as árvores, deixando-a sozinha novamente.

Ela voltou para a vila em silêncio, mas, desta vez, algo dentro dela havia mudado.

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