Está chegando a época do ano que passei a odiar: o Natal. Mas houve um tempo em que essa data era especial para mim. Na verdade, foi durante uma semana de véspera de Natal que vivi um dos momentos mais marcantes da minha vida. Foi quando conheci Nick Evans.
Nick Evans
Era 20 de dezembro de 2004, em Boston, no bairro de Pill Hill, Brookline. As temperaturas estavam baixas, o chão coberto de neve, e todas as casas ao redor exibiam as luzes e enfeites típicos de Natal. Eu tinha apenas dez anos naquela época e estava deitada sob um pinheiro, movendo braços e pernas para formar anjos na neve. Foi então que um caminhão de mudanças chamou minha atenção ao estacionar em frente à casa ao lado, que estava à venda havia tanto tempo. Fiquei surpresa e animada ao perceber que finalmente teríamos novos vizinhos.
Corri para dentro e contei a novidade à minha mãe. Juntas, nos aproximamos da janela e observamos enquanto os homens descarregavam os móveis e os levavam para dentro da casa. Logo depois, um carro preto parou ao lado do caminhão. Dele saíram uma senhora elegante e um senhor com a mesma distinção. A porta de trás do carro se abriu, e um garoto, aparentando ter a mesma idade que eu, desceu.
Ao perceber que estava sendo observado, ele olhou na nossa direção. Eu sorri e acenei para ele — mas, para minha surpresa, ele respondeu com uma careta.
Eu, como uma boa garota atrevida, mostrei a língua para ele. Assim surgiu o primeiro sentimento entre nós dois: o ódio. Eu odiava ele e contei para todos os meus colegas da vizinhança como o novo vizinho era idiota.
Mais tarde, minha mãe havia feito um bolo de nata; o cheiro estava maravilhoso e exalava por toda a casa.
— Mamãe, o cheiro desse bolo está maravilhoso! — disse eu, pegando um prato para colocar um pedaço, mas ela pegou o bolo imediatamente, e eu a olhei surpresa.
— Para onde vai levar esse bolo? — perguntei, frustrada.
— Esse bolo é para dar boas-vindas aos novos vizinhos. O nosso está no forno assando — ela disse, e isso foi mais um motivo para eu detestar aquele garoto idiota. — Vem, vamos até lá dar boas-vindas aos nossos vizinhos — ela me chamou, com um sorriso super animado.
— Eu não quero — respondi.
No final, acabei indo com minha mãe. A senhora, toda elegante, nos atendeu com um sorriso muito simpático no rosto. Nos convidou para entrar, e minha mãe, que adorava fazer novas amizades, aceitou. Dali em diante, ela e a senhora Evans se tornaram melhores amigas, ao contrário de mim e Nick, que mal conseguíamos ficar juntos sem brigar.
Os Evans tinham acabado de se mudar por motivos difíceis: o verdadeiro pai de Nick havia morrido, e assim a mãe dele pôde se mudar para Boston com o novo marido, pois eles eram separados e compartilhavam a guarda dele. Nick estava arrasado, e a mudança repentina o deixou ainda pior. Me senti muito mal quando descobri que todo aquele jeito mal-humorado dele tinha um motivo. A partir daquele momento, comecei a tratá-lo melhor; na verdade, eu o “constrangia” com amor. Ele fazia careta, e eu retribuía com sorrisos. Ele ficava sem entender o que estava acontecendo comigo, por que eu havia mudado com ele.
Um certo dia, ele estava brincando de bicicleta, e foi nesse dia que começamos a ser amigos. Na manhã de Natal, corri, peguei minha bicicleta e me juntei a ele.
— Quero andar de bicicleta sozinho — ele disse, todo marrento.
— Você não quer estar sozinho, tem que se acostumar. Essa é a sua nova vida, e você vai precisar de novos amigos. Eu serei a primeira da lista — disse firme para ele. Ele cruzou os braços e ficou me encarando. Então, me aproximei e dei um beijo na bochecha dele; ele ficou todo vermelho.
— Tudo bem, mas sem essa de ficar me beijando — ele disse, limpando a bochecha.
Nesse dia, brincamos apostando corrida de bicicleta, depois tivemos guerra de bola de neve, e logo as outras crianças se enturmaram. Ele ficou amigo de todos, e éramos inseparáveis. Todos os dias brincávamos juntos, estudávamos na mesma escola, e fomos crescendo. Na adolescência, tivemos a nossa primeira briga depois de muito tempo. Fiquei com ciúmes porque uma garota da escola o beijou e fiquei muito irritada. Passei dias sem falar com ele e sem querer vê-lo, até que minha mãe me disse que, se eu estava tão triste, era porque meu amor por Nick ia além da amizade. Foi só então que percebi que eu o amava e que queria ser muito mais do que amiga dele. Naquela época, tínhamos quinze anos de idade, e, quando ele me procurou naquela tarde, resolvi atendê-lo.
— Não entendo, por que você está me evitando? — ele perguntou, me encarando.
— Eu só estava a fim de ficar sozinha, Nick — respondi, omitindo a verdade.
— Mentirosa! Eu te conheço, e sei quando está mentindo; você coça o nariz — ele disse. — A Brenda disse que você gosta de mim e que ficou irritada porque aquela garota me beijou. É por isso que você estava me evitando todos esses dias — ele falou tão diretamente que fiquei sem reação.
— Não sei por que ela disse isso — murmurei, evitando encará-lo.
— Ela disse porque é verdade. E fico feliz que seja, porque eu também gosto de você, Júlia. Com o passar dos anos, meu sentimento por você se tornou mais que amizade. Você é meu primeiro pensamento ao acordar e o último antes de dormir. E, durante meu sono, você está sempre nos meus sonhos.
Era difícil acreditar. Será que Nick estava mesmo se declarando para mim? Ele também gostava de mim?
Por um instante, o silêncio tomou conta da sala, e então ele se aproximou, ficando a poucos centímetros de mim.
— Não vai dizer nada? — ele perguntou.
— Você me deixou sem palavras — respondi com um sorriso tímido. Pela primeira vez, eu, que sempre fui tão tagarela, estava sem palavras.
— Sem palavras de um jeito ruim ou bom? — ele perguntou.
— De um jeito bom — respondi.
Ele se aproximou ainda mais, tão perto que eu podia sentir sua respiração quente. Suas mãos seguraram meu rosto, e seus lábios chegaram bem perto dos meus, mas ele não me beijou — parecia esperar que eu desse o próximo passo. Com o coração acelerado e borboletas no estômago, eu me aproximei e dei esse passo. Pela primeira vez, fui beijada. No início, meio sem jeito, mas logo peguei o jeito. E assim, em uma véspera de Natal, eu dei meu primeiro beijo.
Sem dúvida, foi a melhor véspera de Natal que passei com Nick. Era o nosso quinto Natal juntos, e essa época do ano se tornou muito especial para nós dois. Mais tarde, durante a ceia, ele me pediu em namoro, e eu aceitei, com o coração transbordando de alegria.
Assim começou nossa história: no Natal de 2009, começamos a namorar; e no Natal de 2012, fizemos amor pela primeira vez. Foi mágico; ele foi gentil e carinhoso. Até então, eu amava o Natal. Mas no ano seguinte, essa data começou a perder sua magia. No Natal de 2013, recebi a carta de uma das melhores faculdades da França: havia ganhado uma bolsa de estudos para cursar Medicina, minha outra paixão.
Naquele mesmo dia, senti-me entre a cruz e a espada: o amor da minha vida ou a faculdade dos meus sonhos. De imediato, não disse nada. Mas, na manhã do dia 25 de dezembro de 2013, ao contar a notícia para Nick, vi a tristeza tomar conta do seu olhar. Ele ficou profundamente abalado, e assim, naquele Natal, nossa linda história de amor chegou ao fim.
15 de janeiro de 2014…
Minhas malas estavam todas prontas, exceto meu coração, que parecia despedaçado. As palavras de Nick ecoavam na minha mente: "E os nossos planos? Você pode fazer Medicina aqui! Namoro à distância não vai dar certo, só vamos nos machucar. Eu não quero que você vá, mas também sei que não posso te pedir para escolher. Então, para evitar essa escolha, vou te ajudar… nosso namoro acaba aqui."
Quando saí pela porta, minha mãe me abraçou com força. Eu sabia que para ela também não estava sendo fácil. Mas sabe quando você tem um sonho desde criança e, de repente, ele está ali, ao seu alcance, pronto para se tornar realidade? Era assim que eu me sentia. Meu sonho de ser médica, como meu pai, estava se concretizando — e na mesma faculdade onde ele se formou. Para mim, isso significava muito mais do que apenas seguir uma carreira; era uma forma de manter meu pai próximo, de honrar sua memória, seguindo seus passos e fazendo o que ele tanto amava.
— Se cuida, minha menina — disse minha mãe, enquanto me envolvia em um abraço que desmoronava todas as minhas forças.
— Vou sentir saudades... muita, muita mesmo — murmurei, tentando conter as lágrimas.
— Não chore, tudo vai ficar bem. Sei que está assim por causa do Nick. Acho que deveria procurá-lo antes de partir — aconselhou, com ternura.
— Não, mamãe. Ele sempre disse que não gosta de despedidas — respondi, beijando sua testa.
Com passos pesados, me dirigi ao táxi que já me esperava. Coloquei minha mala no porta-malas e, antes de entrar, fiz uma pausa. Meu olhar se voltou automaticamente para a casa dos Evans, e foi então que o vi. Nick estava à janela, o semblante abatido.
— Eu te amo, Nick! — gritei, mas ele apenas saiu de vista, sem uma palavra, sem um gesto. Aquilo me quebrou ainda mais.
Acenei para minha mãe, joguei um beijo no ar e entrei no táxi. Assim que a porta se fechou, as lágrimas vieram com força, acompanhadas pelas lembranças. Imagens da minha infância, dos momentos especiais com meu pai, dos natais perfeitos na casa dos Evans... E, principalmente, de todos os instantes com Nick. Nosso amor foi único, tão marcante que jamais seria esquecido, mesmo que agora estivesse apenas no passado.
24 de dezembro de 2014...
Era véspera de Natal, e pela primeira vez eu passava a data sozinha. Só eu e uma pilha de livros. Minha mãe havia ligado, implorando que eu fosse passar o Natal em casa. Por um breve instante, considerei. Talvez, ao ver Nick, houvesse uma chance para nós dois. Mas qualquer esperança foi enterrada uma semana antes, quando Brennda, minha "melhor amiga", postou uma foto sentada no colo dele. Marcou-me ainda por cima! Falsa. Safada.
Nick já estava em outra. E eu? Aqui, chorando como uma idiota por alguém que me deixou no esquecimento. Mas prometi a mim mesma que não seria por muito tempo. Eu também o esqueceria.
Adormeci sobre os livros, em um sono tão profundo que, ao acordar, percebi que tinha babado. Que horror! Era minha mãe, me ligando antes da meia-noite.
— Nosso primeiro Natal longe uma da outra... Estou com tanta saudade — disse ela, com a voz embargada.
— Também estou com saudade, mamãe. Como estão todos aí? — perguntei, esperando, na verdade, notícias de Nick.
— Estão bem, meu amor. E o Nick... bom, ele parece estar melhor. Está cursando advocacia. Verônica Evans está orgulhosa dele, fechou o semestre como o melhor aluno da turma.
Não era a notícia que eu esperava ouvir, mas, ao menos, ele estava bem.
— Que bom... — respondi, segurando as lágrimas.
— Filha, só liguei para te desejar um Feliz Natal. Te amo muito.
— Feliz Natal, mamãe. Também te amo muito — despedi-me, com a voz trêmula.
Quando o relógio marcou meia-noite, olhei ao redor. Pela primeira vez, meu Natal não tinha uma mesa farta, nem o Nick me enchendo de beijos. Era só eu, sozinha em um quarto, com uma fatia de pizza fria e uma Coca-Cola sem gás.
— Que merda de Natal — murmurei, deixando uma lágrima escorrer.
Os anos foram passando, e embora o Nick não fizesse mais parte da minha vida, ele também nunca foi completamente esquecido. Pensar nele já não doía, mas sua lembrança permanecia como um eco do passado. Agora, estou no meu décimo segundo semestre na faculdade de medicina aqui na França. Durante todos esses anos, só passei dois natais com minha mãe, ambos quando ela veio me visitar. Desde que me mudei para cá, só voltei a Boston uma vez por ano, sempre em datas em que tinha certeza de que o Nick não estaria por lá. Afinal, ele se mudou para Nova York logo após concluir a faculdade.
Desde o fim com Nick, tive apenas dois relacionamentos. O primeiro foi com Francisco, um italiano gentil e divertido. Namoramos por um ano, mas, quando ele começou a falar sobre casamento, percebi que não era isso que eu queria e decidi terminar. Agora, estou com Deven, um médico cardiologista que conheci no hospital onde faço residência. Estamos juntos há quatro meses. Ele é simpático, carinhoso e apaixonado pela medicina, assim como eu. Por enquanto, mantemos nosso relacionamento em segredo, o que acaba sendo mais fácil com a rotina intensa da residência.
Escolhi me especializar em pediatria, algo que sempre esteve no meu coração. Trabalhar com crianças tem sido um desafio, mas é também onde me sinto mais realizada. Meu dia a dia na residência é exaustivo, entre plantões, consultas e estudos. Passo boa parte do tempo no hospital, entre alas de neonatologia e pediatria geral, acompanhando pequenos pacientes em suas lutas diárias. Embora cansativo, é gratificante ver o sorriso das crianças e o alívio nos olhos dos pais quando conseguimos ajudar.
A pediatria é minha paixão, mas confesso que manter equilíbrio entre a residência e minha vida pessoal é um desafio constante. Apesar disso, Deven tem sido um apoio silencioso e valioso. No entanto, às vezes me pergunto se estou pronta para abrir meu coração completamente novamente.
Júlia
Nova York, Novembro de 2025...
Aqui estou, acabando de desempacotar minhas coisas. Estou tão animada para começar a trabalhar! Me mudei para Nova York após receber uma proposta incrível no NewYork-Presbyterian Hospital. Um sonho de todo médico que termina a residência. Entre organizar a bagunça da mudança e responder as mensagens do grupo de amigas da faculdade na França, recebi a ligação da minha mãe.
— Oi, mamãe, como está? — perguntei, sentindo o coração aquecer ao ouvir sua voz.
— Morrendo de saudades! Como está a organização da mudança? — ela perguntou, com aquele tom carinhoso que sempre me acalma.
— Um verdadeiro caos. Já se passaram sete dias desde que me mudei e só consegui arrumar o quarto e a sala. Os outros cômodos estão uma bagunça — respondi, soltando uma risada nervosa. Ela também riu.
— Imagino o caos! E quando começa a trabalhar? — perguntou, curiosa.
— Em dois dias — respondi, o tom de empolgação evidente na minha voz. Eu estava tão ansiosa que mal conseguia me concentrar na arrumação.
— Que maravilha! Sei o quanto você lutou para chegar até aí. E como está a cidade? Nova York deve ser um sonho para quem é médico, né? — disse minha mãe, sempre positiva, como se já soubesse o quanto isso significava para mim.
— É maravilhoso, mamãe! A cidade é linda, vibrante, e o hospital, então, nem se fala... é surreal, de uma excelência impressionante — respondo empolgada, com o coração transbordando de felicidade e realização. — Mas tudo seria perfeito se a senhora viesse morar aqui comigo, mamãe — digo, fazendo drama. Já estou insistindo há um ano para que ela venha morar comigo.
— Não insista, já disse que não. E muito menos agora... — ela diz, com um tom misterioso.
— Como assim "agora"? — pergunto, curiosa.
— Queria te contar pessoalmente, mas vou adiantar por aqui. O irmão da Verônica se mudou para o bairro há dois meses, e digamos que começamos a nos conhecer — ela diz, a voz meio hesitante. Mal sabe ela que fico feliz por ela estar se permitindo dar essa chance. Desde que papai morreu, ela sempre se manteve sozinha, dedicando-se a cuidar de mim.
— Mamãe, você está feliz? — pergunto, sentindo uma pontada de preocupação, mas também de alegria por ela estar se abrindo para novas possibilidades.
— Sim, estou muito feliz. Ele é um bom homem, viúvo como eu. Começamos a dividir nossas lutas e dores, e então... nos apaixonamos — ela explica, com a voz suave, mas sincera.
— Se você está feliz, eu também estou. Fico tranquila em saber que não está tão sozinha — digo, com um sorriso. Ouço ela soltar um longo suspiro, e não consigo deixar de achar graça. É engraçado saber que ela se importa tanto com a minha opinião assim.
— Mudando de assunto, você acha que conseguiriam vir neste Natal? — ela pergunta, com a voz doce.
— Tenho que ver as escalas do hospital, e sabe que tem aquele detalhe... Se o Nick for, eu não vou — respondo, tentando disfarçar o desconforto. Mesmo depois de tantos anos, falar o nome do Nick ainda mexe muito comigo.
— Vocês deveriam parar com essa bobagem. Ele disse a mesma coisa para a Verônica. Já pensou que, agora morando aí em Nova York, vocês possam se encontrar? — ela questiona, e só de pensar meu coração dispara.
— Não acho que isso possa acontecer, e sabe que não me importo mais com o Natal. Já deixei de comemorar essa data há um bom tempo — digo, tentando esconder o peso da saudade que essa época traz.
— Não fale assim, querida. Você amava o Natal. Não pode deixar que situações tristes que aconteceram nessa data a tornem uma data ruim. Lembre das coisas boas que viveu nessa época do ano. E foram muitas — ela diz, com uma voz cheia de carinho e compreensão.
— Tem razão... Mas vamos fazer o seguinte: se eu tiver folga, passarei o Natal com você. Mas avise ao Nick, assim evitamos o desconforto de nos encontrarmos — digo, com um leve sorriso, tentando aliviar o clima tenso.
Ela ri, e posso sentir o alívio na risada dela.
— Tudo bem, pode deixar. Mas tenho quase certeza de que ele não virá esse ano. Parece que vai passar o Natal com a família da nova namorada — ela diz, e uma raiva sutil começa a crescer dentro de mim.
— Então ele saiu de pegador para namorado sério, é? — pergunto, com a voz um pouco mais ácida.
— Parece que sim. Deve ter se cansado dessa vida de garanhão — minha mãe responde, e nesse momento a campainha toca. Fico surpresa. Não tenho nenhuma encomenda e nem amigos aqui.
— Mamãe, a campainha está tocando. Já te ligo de volta, beijos. Te amo — digo apressada, tentando esconder a curiosidade.
— Te ligo mais tarde. Agora vou sair com o Júlio Evans — ela diz, empolgada.
— Tudo bem então — respondo enquanto caminho até a porta.
Me despeço dela e, ainda com o celular na orelha, olho pelo olho mágico da porta. Fico surpresa ao ver o Deven lá. Abro a porta rapidamente, e ele está segurando um enorme buquê de rosas.
Deven
— Boa noite — ele diz, com um sorriso largo, que ilumina o ambiente.
— Boa noite... Entra — digo, dando espaço para ele passar, mas ele para na minha frente e, antes que eu possa reagir, me rouba um beijo.
— Deven… — digo seu nome em um tom sério, mas ele ri. É sempre difícil fazê-lo levar algo a sério.
— Desculpa, não resisti a essa sua boca linda — ele diz com aquele sorriso descarado, me entregando um buquê de rosas.
Reviro os olhos e cruzo os braços.
— Sei… Dr. Deven, o senhor é muito esperto.
Pego o buquê das mãos dele, sentindo o perfume suave das flores, mas sem me deixar impressionar.
— E aí, o que te trouxe a Nova York? — pergunto, sem esconder a curiosidade.
— Você — ele responde, fechando a porta atrás de si.
Eu coloco as mãos na cintura e o encaro.
— Vamos lá, me poupe dessas frases ensaiadas.
— Estou falando sério, não acredita? — ele diz, ainda com aquele sorriso largo no rosto.
— Vou fingir que acredito — respondo, colocando o buquê sobre a mesa de centro. Caminho até a cozinha para pegar um vaso, sentindo o olhar dele em mim.
— Por que você sempre duvida de mim? — ele pergunta, me seguindo até a cozinha.
— Porque você é um ótimo sedutor, Deven. Lábia é o que não te falta — respondo, pegando o vaso e colocando água.
Ele ri, como se soubesse que eu nunca cairia completamente em seu charme. Pegamos as rosas e as arrumamos juntos no vaso, sem qualquer clima de romantismo, apenas aquela tensão habitual.
— Na verdade, vim dar uma palestra e, como sabia que você tinha alugado o apartamento do Dr. Anthony, achei que seria divertido fazer uma surpresa e matar a saudade.
Eu o encaro com um sorriso de canto.
— Eu sabia. Você é terrível.
Ele dá de ombros, satisfeito consigo mesmo.
— Terrível, mas irresistível, não é?
Eu rio, balançando a cabeça.
— Você e seu ego inflado... Isso nunca vai mudar.
— E você e essa mania de me evitar — ele rebate, mas sem parecer realmente afetado.
Não respondo. Porque é isso que fazemos: um jogo de palavras, sem promessas, sem complicações. Eu sabia onde estava meu coração, e não era com Deven.
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