Isabela sempre acreditou que a paz só poderia ser encontrada longe da cidade. Seus dias estavam repletos de pressões, trabalho interminável, cobranças e expectativas que não conseguiam mais fazer sentido para ela. Era como se estivesse sempre correndo atrás de algo que nunca conseguiria alcançar. Quando a última semana se apresentou especialmente caótica, ela sentiu que não aguentava mais. O corpo e a mente pediam descanso, e, por mais que tentasse ignorar, sabia que não poderia mais adiar a necessidade de escapar.
Foi assim que, naquela tarde, decidiu ir até a praia. Era seu lugar de refúgio, onde conseguia encontrar um pouco de alívio e até mesmo de sentido. Caminhou pelas ruas estreitas da cidade, respirando fundo, como se cada passo fosse uma libertação. O som do tráfego, as conversas apressadas das pessoas, tudo foi ficando para trás enquanto ela se aproximava da costa. Logo, a maresia tomou conta de suas narinas e a brisa leve do oceano começou a acariciar seu rosto, trazendo com ela uma sensação de tranquilidade que ela não sentia há tempos.
A praia estava vazia, o que era um alívio. Isabela adorava aquele lugar deserto, onde ela podia andar sem ser incomodada, onde poderia ouvir seus próprios pensamentos sem o barulho do mundo lá fora. Seus pés descalços tocavam a areia fria, e ela se permitiu andar sem pressa, sentindo a paz que o mar oferecia, uma paz que parecia distante de sua vida cotidiana.
O céu começava a ficar alaranjado, com o sol se pondo lentamente no horizonte, tingindo a água de tons dourados e vermelhos. Isabela parou por um momento, admirando a paisagem. Havia algo hipnotizante na vista. Algo que a fazia esquecer por um instante o peso de sua vida. Como sempre, o mar parecia ter o poder de acalmá-la, de retirar-lhe o peso dos ombros. Ela fechou os olhos por um momento, sentindo a brisa do mar tocar sua pele, o frescor da água à distância, e se deixou levar pela serenidade do ambiente.
Quando abriu os olhos, notou algo que a fez parar abruptamente. Um homem estava à beira da água, olhando fixamente para o horizonte, como se estivesse esperando algo. Ele estava sozinho, e a maneira como parecia absorver a imensidão do mar fez com que ela se sentisse estranha, como se ele fosse parte da paisagem. Ele não se movia, apenas observava, perdido em seus próprios pensamentos. Isabela hesitou. Ela não estava acostumada a falar com estranhos, especialmente não em um lugar onde se sentia tão conectada com seus próprios sentimentos. Mas havia algo naquele homem que a atraía, algo em sua postura, na sua calma, que a fez querer entender mais sobre ele.
Ela continuou a observá-lo por alguns segundos, até que seus olhos se cruzaram. O que aconteceu a seguir foi quase mágico. Era como se o tempo tivesse desacelerado. Ela sentiu um arrepio subir pela espinha, e por um instante, o mundo ao redor deles desapareceu. Tudo ficou em silêncio. Só os dois ali, em um instante atemporal, como se o destino tivesse decidido uni-los naquele exato momento. Ele a observou com uma intensidade que a fez sentir como se ele estivesse vendo diretamente em sua alma. Algo em seu olhar parecia dizer que ele sabia exatamente quem ela era, ou, ao menos, que ele compreendia algo profundo sobre ela que ela mesma ainda não entendia.
Foi ele quem quebrou o silêncio, fazendo com que Isabela se assustasse, como se tivesse sido acordada de um sonho.
— Oi, — ele disse, com uma voz suave, mas com uma autoridade tranquila que parecia natural em seu tom. — Você vem aqui sempre?
A pergunta era simples, mas, de alguma forma, parecia ter um significado maior. Isabela sentiu uma onda de nervosismo, mas também uma curiosidade crescente. Era como se, de alguma forma, ela já o conhecesse. Como se algo no fundo de seu ser a estivesse puxando para ele, sem que ela pudesse controlar.
— Sempre que preciso de um pouco de paz, — respondeu ela, tentando soar calma, embora sentisse seu coração bater mais rápido. Ela se deu conta de que estava sendo mais aberta com ele do que com qualquer outra pessoa nos últimos tempos. Algo em sua presença parecia permitir que ela fosse mais verdadeira consigo mesma.
Ele não sorriu de forma exuberante, mas seus lábios se curvaram suavemente, como se ele tivesse reconhecido algo nela. Não um sorriso de simpatia, mas algo mais profundo, mais sincero. Ele voltou a olhar para o mar, mas dessa vez, seu olhar não estava perdido. Ele parecia contemplar a vista com uma nova perspectiva, como se estivesse compartilhando aquele momento com ela, mesmo que não houvesse palavras entre os dois.
— Eu também venho aqui para encontrar respostas, — disse ele, sua voz calma, como se estivesse falando consigo mesmo. — O mar tem essa... forma de clarear as coisas.
Isabela observou-o atentamente, sentindo uma necessidade de entender o que ele queria dizer. O mar, de fato, sempre teve esse poder sobre ela. Mas ouvir alguém falar sobre isso de forma tão introspectiva a fez perceber que havia algo mais naquele homem do que ela inicialmente imaginara. Ele parecia estar ali com um propósito, como se a paz do mar fosse um caminho para ele encontrar algo perdido, ou algo que ele ainda estava buscando. E, de certa forma, ela sentiu que também estava ali por uma razão. Talvez não soubesse o que exatamente, mas algo dentro dela dizia que aquele encontro não era aleatório.
O silêncio voltou a se instalar entre eles, mas, de alguma forma, parecia confortável. Eles não precisavam de palavras para entender o que se passava no coração de cada um. Ambos estavam ali por razões pessoais, buscando algo que o mundo exterior não conseguia oferecer. Talvez um sentido, talvez a resposta para algo que ainda não estava claro em suas vidas.
Ela sentou-se na areia, mais perto dele agora, mas ainda mantendo uma distância respeitosa. O olhar dele não a incomodava; ao contrário, ela se sentia em paz com sua presença. Como se o mundo, por um breve momento, tivesse desacelerado, dando-lhes a oportunidade de estarem juntos em silêncio. Os minutos se passaram sem que ela percebesse, e o sol continuava seu caminho para o horizonte. Isabela sentia a suavidade da areia sob suas mãos, o frescor da brisa do mar, e a presença dele ao seu lado, que parecia calmante e reconfortante.
Finalmente, ela quebrou o silêncio.
— Meu nome é Isabela, — disse ela, não porque sentisse que fosse necessário, mas porque, de alguma forma, parecia a coisa certa a fazer. Ele olhou para ela, seus olhos profundos refletindo a luz do sol, e novamente, aquele sorriso discreto apareceu.
— Ricardo, — respondeu ele, sua voz tão tranquila quanto antes. Não era um nome comum, mas ela não se surpreendeu. Parecia se encaixar com ele de uma forma misteriosa, como se fosse um nome que estivesse guardado em algum lugar dentro de seu ser.
Eles ficaram em silêncio por mais alguns minutos, simplesmente compartilhando o espaço, as ondas e a calma que ambos buscavam. O céu começava a escurecer, e a temperatura da noite começava a cair, mas a sensação entre eles permanecia quente, como uma chama suave. Eles sabiam que aquele momento estava prestes a se encerrar, mas de uma forma que, mesmo assim, seria inesquecível.
Isabela levantou-se lentamente, sentindo a areia fria em seus pés. Ela não sabia o que aconteceria depois daquele encontro, mas algo dentro dela disse que aquilo era só o começo. Ela olhou para Ricardo uma última vez antes de seguir seu caminho, com a sensação de que algo havia mudado. Algo que ela ainda não entendia totalmente, mas sabia que aquele primeiro encontro não seria facilmente esquecido.
Os dias seguintes àquele encontro na praia ficaram gravados na mente de Isabela como uma marca indelével. Era como se sua vida tivesse entrado em um novo ciclo, um que ela não conseguia controlar, mas que de alguma forma a atraía. Ela sabia que algo havia mudado, e embora não soubesse exatamente o que, sentia que o universo estava lhe apresentando um caminho diferente do que ela havia seguido até então.
O trabalho, que sempre foi seu porto seguro, agora parecia distante. As horas se arrastavam e ela se sentia desconectada, como se estivesse vivendo em um mundo paralelo, onde nada parecia fazer sentido. Cada reunião, cada e-mail, cada tarefa parecia se distanciar mais daquilo que ela realmente queria ou precisava. O vazio dentro dela parecia crescer, como se ela estivesse cada vez mais afastada de quem realmente era.
Era um sábado quando ela decidiu retornar à praia. Havia algo naquela paisagem que a chamava, como se o mar tivesse o poder de limpar a mente e restaurar o equilíbrio. O som das ondas quebrando na areia, o cheiro da maresia no ar, a brisa suave que acariciava seu rosto – tudo parecia em perfeita harmonia. Talvez fosse ali, naquele espaço de tranquilidade, que ela pudesse encontrar as respostas para as questões que surgiam em sua mente.
Quando chegou, percebeu que a praia estava relativamente tranquila. O sol estava começando a se pôr, tingindo o céu de tons dourados e alaranjados, e as ondas se quebravam suavemente na areia. Isabela caminhou pela orla, os pés descalços tocando a areia fria, enquanto seus pensamentos flutuavam, tentando encontrar sentido naquilo tudo. Ela ainda pensava em Ricardo, no olhar penetrante que ele tinha, nas palavras que trocaram, na presença dele que parecia ter um magnetismo inexplicável.
Não sabia exatamente o que procurava, mas sentia que o mar, com sua imensidão, era o único lugar onde ela podia se conectar com algo mais profundo dentro de si. O encontro com Ricardo a havia tocado de maneiras que ela não conseguia explicar, e mesmo com a presença de Sofia naquele momento, algo nele ainda a atraía, algo que ela não conseguia controlar ou entender.
Ela parou em frente ao mar, fechando os olhos por um momento, permitindo que a brisa do oceano a envolvesse. A sensação de liberdade e paz que ela experimentava ali era inebriante. Porém, quando abriu os olhos, notou uma figura familiar à distância. Era ele, Ricardo. Estava de costas, olhando para o horizonte, como se estivesse perdido em seus próprios pensamentos. A simples visão dele fez seu coração acelerar. Era como se o destino a tivesse levado de volta a esse momento, e algo dentro dela sabia que ele era uma parte de algo maior.
Isabela hesitou por um momento, sem saber o que fazer. Mas a força que a puxava em direção a ele foi maior que sua dúvida. Ela deu um passo à frente, depois mais outro, até que, finalmente, se aproximou. Quando ele a percebeu, virou-se lentamente, e seus olhos se encontraram. Não havia surpresa em seu olhar, apenas uma calma profunda, como se ele já soubesse que ela viria. Havia algo sobre ele que parecia transcender a razão, algo que fazia com que ela se sentisse atraída, mas ao mesmo tempo com medo de se entregar a essa sensação.
— Oi, — disse ele, com uma voz suave, mas firme. — Fico feliz que tenha voltado.
Isabela sentiu um nó no estômago, mas ao mesmo tempo, algo a fez sorrir. Ela sentiu que precisava estar ali, como se aquele fosse o lugar certo para ela naquele momento.
— Eu também, — respondeu ela, com a voz baixa, mas sincera. — Eu… precisava voltar.
Ricardo assentiu com a cabeça, como se entendesse perfeitamente o que ela queria dizer. Ele caminhou em direção a ela, e a distância entre os dois foi se fechando, até que estavam próximos o suficiente para sentir a presença um do outro, mas ainda sem tocar-se. O olhar dele era penetrante, mas ao mesmo tempo acolhedor. Isabela sentia uma mistura de nervosismo e curiosidade, como se estivesse prestes a descobrir algo importante.
— Você sabia que voltaria? — perguntou ele, quebrando o silêncio com uma pergunta aparentemente simples, mas carregada de significado.
Isabela pensou por um momento. Ela não sabia exatamente o que a havia trazido de volta, mas sentia que havia algo de inevitável nisso, como se o destino tivesse de alguma forma interligado suas vidas.
— Não sei. Mas… parece que o mar me chama, e você também, — respondeu ela, suas palavras fluindo de maneira natural, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
Ricardo sorriu levemente, e esse sorriso fez com que algo dentro de Isabela se aquecesse. Ele parecia ser alguém capaz de entender as complexidades da vida de uma maneira que ela não conseguia. Alguém que talvez tivesse respostas para as perguntas que surgiam dentro dela. Mas, ao mesmo tempo, havia uma sensação de que ele guardava algo, algo profundo e misterioso.
— O mar tem esse efeito sobre as pessoas, — disse ele, olhando para o horizonte. — Ele nos leva a lugares que a gente nem sabia que existiam dentro da gente. Às vezes, ele nos revela coisas, outras vezes, apenas nos deixa com mais perguntas.
Isabela observou-o, sentindo que suas palavras tocavam uma verdade que ela mesma não sabia explicar. Era como se ele entendesse a profundidade daquilo que ela estava vivendo, a busca que ela não sabia que estava fazendo até aquele momento. Ela não sabia o que ele queria dizer, mas sentia que o que ele falava fazia sentido para ela, como se o mar fosse, de fato, um reflexo de suas próprias dúvidas e desejos.
— E o que você acha que o mar está tentando te revelar? — perguntou ela, mais curiosa do que nunca.
Ricardo olhou para ela, e seus olhos brilharam com algo misterioso, como se ele estivesse compartilhando uma parte muito íntima de si mesmo.
— Eu acho que o mar me está mostrando quem eu realmente sou. Mas ainda não sei se estou pronto para aceitar isso.
Isabela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. O que ele queria dizer com aquilo? Quem ele realmente era? Por que suas palavras a tocavam de forma tão intensa, como se fossem destinadas a ela? Ela não sabia, mas sabia que precisava entender.
— Você tem medo de se ver? — perguntou ela, não planejando que a pergunta saísse de seus lábios, mas, assim que disse, percebeu que havia algo nela que a impelia a perguntar. Algo que a conectava com Ricardo de uma maneira que não conseguia controlar.
Ricardo sorriu, mas havia uma sombra nos seus olhos, como se ele estivesse escondendo algo. Ele deu um passo mais próximo, e agora, os dois estavam tão perto que Isabela podia sentir a tensão no ar. A proximidade dele a fazia sentir algo que ela não sabia como interpretar. Havia algo de inusitado nesse momento, algo de inevitável.
— Todos nós temos medos, Isabela. Mas talvez o medo seja apenas o começo de algo muito maior. Algo que podemos encontrar, se tivermos coragem de enfrentar o que vem com ele.
As palavras dele ressoaram em sua mente. O medo. A coragem. Era como se ele estivesse falando diretamente com ela, tocando em algo profundo que ela ainda não sabia que estava lá. Ela sentia que havia algo em jogo, algo que iria mudar sua vida para sempre.
Por mais que quisesse entender o que estava acontecendo entre eles, Isabela sentia que as respostas não estavam ali, naquele momento. Elas estavam se formando, lentamente, como as ondas que se quebravam na praia. Algo maior estava acontecendo, e ela sabia que não podia controlar isso. Mas, de alguma forma, isso não a assustava. Pelo contrário, fazia com que ela se sentisse viva.
O vento aumentou um pouco, e as ondas pareciam mais intensas, quebrando com força contra as pedras na costa. Era como se o próprio mar estivesse respondendo ao que estava acontecendo entre eles, como se as ondas do destino estivessem se alinhando, levando-os a um caminho que ambos estavam, de alguma forma, destinados a seguir.
Isabela olhou para Ricardo, e ele olhou de volta para ela, seus olhos mais profundos do que nunca. Ela sabia que este era o começo de algo maior, algo que mudaria tudo, mas que ela não poderia prever. E, no entanto, estava disposta a seguir, com coragem e curiosidade, sem saber para onde as ondas a levariam.
A manhã seguinte foi marcada por uma calma inquietante. Isabela acordou cedo, como se algo a estivesse chamando. O sol ainda estava tímido no horizonte, mas o mar, sempre presente, chamava-a de volta, como se soubesse que ela ainda tinha perguntas a serem respondidas. Ela não conseguia mais ignorar a sensação crescente de que havia algo além de simples coincidências em seu encontro com Ricardo. Algo que estava além da razão, além do que os olhos podiam ver.
Ela se levantou, vestiu-se sem hesitar e se dirigiu à praia, como se aquela fosse a única opção possível, a única maneira de encontrar o que procurava. O vento estava suave, e a brisa fresca do mar acariciava sua pele, trazendo um leve alívio à tensão que ela sentia. O cenário era o mesmo de sempre: o vasto horizonte, a imensidão das ondas, a areia fria que se estendia até onde os olhos podiam alcançar. Mas, para Isabela, tudo parecia diferente agora. O mar, que antes era apenas uma paisagem, agora parecia ser o palco de algo muito maior, algo que ela ainda não compreendia.
Ao chegar à beira da água, Isabela não o viu de imediato. O som das ondas e o cheiro salgado do oceano preenchiam seus sentidos, mas ela não conseguia afastar a sensação de que Ricardo estava ali, de alguma forma, esperando por ela. Ela andou lentamente pela orla, seus pensamentos agitados e sua mente cheia de incertezas. O que estava acontecendo entre eles? Por que ela não conseguia se livrar da ideia de que havia algo profundo ali, algo que precisava ser desvendado?
Foi então que ela o viu. Ricardo estava sentado sobre uma pedra, com os pés descalços na areia, olhando para o horizonte. Seus cabelos estavam desarrumados pelo vento, e seu rosto, sempre imerso em uma expressão serena, parecia mais distante do que da última vez. Quando ele a viu, levantou-se lentamente e caminhou até ela, seu olhar ainda tão penetrante quanto antes.
— Oi, Isabela. — Ele falou, e sua voz parecia mais suave, como se ele estivesse tentando medir as palavras. — Não esperava te ver tão cedo.
Isabela sentiu uma pontada de ansiedade, mas não sabia o motivo exato. A proximidade dele sempre causava essa sensação, como se ele fosse um mistério que ela não podia resolver. Ela tentou sorrir, mas seu sorriso estava carregado de perguntas não respondidas.
— Eu também não esperava, mas o mar… — Ela pausou, tentando encontrar as palavras certas. — O mar tem essa capacidade de nos chamar, não é?
Ricardo assentiu, seu olhar fixo nela, como se estivesse vendo algo além de suas palavras.
— O mar é, de fato, um lugar especial. Ele tem um jeito de nos puxar para dentro de nós mesmos, como se nos mostrasse o que precisamos ver, mesmo que não queiramos. — Ele falou com uma calma que parecia carregar um peso que Isabela não sabia de onde vinha.
Eles ficaram em silêncio por um momento, os olhos de Ricardo fixos em Isabela, como se ele estivesse esperando que ela falasse mais, que se abrisse para algo que ambos sabiam estar ali, mas que ainda não haviam tocado. Isabela sentiu o peso daquelas palavras, como se tivesse de algum modo adentrado um território desconhecido, um lugar onde seus próprios medos e desejos se misturavam ao som das ondas.
— Eu sei que há algo entre nós, Ricardo, — disse ela, por fim, a voz trêmula. — Algo que não consigo entender. Não é só o mar, não é só o destino. É… mais. Mas o que é? O que estamos fazendo aqui?
Ricardo a observou com atenção, e um sorriso quase imperceptível surgiu em seus lábios. Havia uma sabedoria silenciosa em sua expressão, como se ele soubesse o que ela estava tentando entender, mas não queria apressar as coisas. Como se estivesse aguardando que ela mesma chegasse à conclusão, que ela mesma descobrisse as respostas que ele já parecia ter.
— O que estamos fazendo aqui, Isabela? — Ele repetiu a pergunta dela, como se fosse uma chave para algo maior. — Talvez o mais importante seja perguntar o que você está procurando. O que você quer encontrar, não no mar, mas em você mesma.
Isabela ficou em silêncio. Não sabia como responder. A verdade era que ela estava perdida. Seu trabalho, suas relações, sua vida em geral, estavam em um ponto de interrogação. Ela se via em um vazio, em um lugar onde não sabia para onde ir, nem o que fazer com as emoções que surgiam dentro dela. Ricardo parecia ser a única pessoa capaz de entender o turbilhão que se passava em sua mente. Ele tinha uma maneira de falar que fazia com que tudo se fizesse sentido, mas ao mesmo tempo, fazia com que ela se sentisse mais confusa do que antes.
— Eu não sei o que estou procurando, Ricardo, — disse ela, com sinceridade. — Eu… eu acho que estou tentando me encontrar. Mas, ao mesmo tempo, tenho medo do que posso descobrir.
Ricardo deu um passo à frente, e agora estavam mais próximos, a energia entre eles quase palpável. Ele a observava como se estivesse vendo além das palavras, além daquilo que ela dizia. Como se estivesse percebendo uma verdade que ela ainda não sabia, mas que logo seria revelada.
— O medo é natural, Isabela. Todos nós temos medo de nos ver como realmente somos. Porque, muitas vezes, o que vemos não é o que esperamos. — Ele fez uma pausa, como se ponderasse as palavras. — Mas é preciso enfrentá-lo, caso contrário, continuaremos presos a uma versão de nós mesmos que nunca existiu de verdade.
Isabela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. As palavras de Ricardo ressoavam dentro dela, como se ele estivesse tocando em algo profundo, algo que ela nunca soubera como nomear. O que ele dizia tinha uma verdade inquietante, uma verdade que ela não podia ignorar. O medo que ela sentia era real, e a sensação de que ela estava se perdendo era ainda mais real. Mas ele também falava de algo que ela não conseguia compreender completamente: a necessidade de se encarar, de enfrentar seus próprios demônios.
— E você, Ricardo? — perguntou ela, finalmente, sua voz agora firme, como se finalmente tivesse encontrado a coragem de se lançar naquela conversa. — O que você está procurando?
Ricardo olhou para ela, e por um momento, seus olhos brilharam com uma intensidade que a fez estremecer. Ele não respondeu imediatamente, mas seu silêncio carregava um peso que fazia o coração de Isabela bater mais rápido. Ela sentiu que estava prestes a ouvir algo que mudaria tudo, algo que ela não estava certa de querer saber.
Ele respirou fundo, olhando para o mar, como se estivesse reunindo forças para falar.
— Eu estou tentando entender o que o destino realmente quer de mim. — Ele falou, sua voz mais baixa agora, como se estivesse se abrindo de uma maneira que raramente fazia. — Às vezes, parece que estamos seguindo um caminho que já foi traçado, mas não conseguimos ver o final. Não sei se estou pronto para enfrentar o que o destino tem reservado para mim, mas sei que estou aqui, com você, e que isso não é acidental.
Isabela sentiu a tensão aumentar entre eles. Ela não sabia o que as palavras de Ricardo significavam, mas sentia que elas tinham um peso imenso, algo que ela não podia ignorar. Havia algo entre eles, algo muito mais profundo do que simples coincidência ou acaso. Era como se o destino estivesse agindo ali, tecendo uma história que ainda estava por ser revelada.
— Então, o que fazemos agora? — Perguntou ela, seu olhar fixo no dele, tentando entender o que estava acontecendo.
Ricardo sorriu, mas havia algo mais sombro no sorriso. Como se ele soubesse que o caminho deles ainda estava apenas começando, e que muitas respostas ainda estavam por vir. Respostas que talvez nem ele mesmo estivesse pronto para aceitar.
— Agora, Isabela, — ele disse, com uma suavidade no tom, — agora, seguimos o que o mar nos disser. Porque é o mar que sabe. O destino, ele… ele já começou a se mover.
E assim, com essas palavras, Isabela soube que a jornada deles estava apenas começando. Que os segredos à beira-mar eram apenas o início de algo muito maior, algo que ela ainda não podia compreender, mas que estava destinada a enfrentar, de uma forma ou de outra.
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