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Aventuras do Murilo

Chegada

_ "Dias sim, dias não, eu vou sobrevivendo sem um arranhão, da caridade de quem me detesta" (Depois que meus pais se separaram, foi muito difícil compreender tudo que estava acontecendo, eu por muitas vezes me sentia culpado por isso, mas depois que minha mãe começou a namorar de novo, pensei que algo melhoraria em casa).

_"A tua piscina 'tá cheia de ratos, tuas ideias não correspondem aos fatos, o tempo não para" (Uma das coisas que me faz muito feliz e me enche de dopaminas, é me isolar no meu quarto e tocar meus instrumentos musicais, neles me expresso de forma glamourosa a maneira que odeio todos!).

_ "Eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades, o tempo não para, não para não, não para" (É divertido tocar, quando crescer, vou fazer minha própria banda e todos vão ser meus amigos, aí vou viver de arte de rua e cantar pra todo mundo ouvir, vou tocar meu teclado, minha escaleta melódica, vou regir uma orquestra e todos vão ouvir a voz dos meus instrumentos, eu não serei mais um "retardado").

_ Eu já mandei você vir jantar, o Augusto não está aguentando mais a sua demora com esse teclado, eu vou guardar essa porcaria barulhenta ou jogar no lixo para você me ouvir! Anda logo! (Levei um cascudo da dona Michelle).

_ Mais mãe, eu não ouvi, eu não tou com fome, eu estava imitando o Cazuza, eu quero ser igual ele, vou tocar causando o caos, vou fazer as pessoas refletirem e usarem amarras de couro na roupa, vou fazer uma legião de rebeldes e ser o líder deles, as pessoas vão me ovacionar, serei lembrado por várias pessoas durante anos, e quando eu morrer ainda lembraram do que um dia eu serei, aí muitas pessoas vão me enxergar e serei amado! (Queria impressionar a garota mais linda do mundo, a Maria Alice).

_ Murilo, coma em silêncio e para de falar besteiras! (Minha mãe brigou comigo de novo).

_ Você vai querer ser um rebelde? Pessoas rebeldes são presas por causarem o caos! Você deve ser um trabalhador de bem, com a sua experiência, talvez consiga ser um mecânico! (Eu não queria ser um mecânico).

_ Meu filho não será um mecânico, o Murilo vai fazer cursos e buscar algo melhor, não quero que ele seja...

_ Quero ser marçon e tocar nas ruas pregando a sabedoria e a paz, serei um revolucionário e com as minhas ideias, todos...(Falava tão empolgado).

_ Você não vai ser um marçon, para de falar besteiras e coma o seu jantar em silêncio! Isso é o auge do absurdo, meu filho querendo ser um vagabundo anticristo! Eu te quebro a sua cara se você falar isso de novo! E para de brincar com a comida fingindo que não está me ouvindo! (Ela odiava quando eu dizia que queria ser eremita ou marçon, minha mãe não me entendia).

Olhei o prato com aquela comida estranha, meu estômago revirou na hora e o cheiro era forte, eu não iria comer aquilo, era horrível, a cor, a textura, o cheiro, jamais comeria aquilo, cruzei os braços pensando em como aquela coisa poderia nos matar. Aquela comida poderia se levantar do meu prato e me esganar friamente até a morte, com aquela cor estranhamente verde, eu iria morrer envenenado.

_ Já falei para não brincar com a comida, como logo e vai se limpar para dormir, amanhã você tem aula, e eu quero ver os seus cadernos! Espero que não tenha bilhetes novamente! (Odeio a escola, odeio os alunos e as professoras, odiava principalmente os bilhetes que mandavam para minha mãe, eu sempre ficava de castigo quando ela lia os bilhetes, e eu tinha recebido mais três por causa de distrações em sala de aula).

_ Não tenho bilhetes não, eu fui obediente! A professora até me elogiou no exercício da aula de organismo desfalcados da cabeça! (Eu ri, era uma coisa tão extraordinária, que ela nem saberia que eu estava mentindo).

_ O que desfalca é os neurônios a menos do seu cérebro, para falar tantas mentiras! Deveria ter vergonha de mentir para a sua mãe! Coma o jantar, a sua mãe não está de bom humor! (Odiava quando Michele ficava de mau humor).

Dormi de couro quente, e de raiva. Quando apanhei corri para o quarto e me fechei lá, peguei a tesoura na força do ódio e cortei meus cabelos liso, nunca mais a minha mãe pegaria no meu cabelo e me bateria de chinelo enquanto me escapelava, sem dó nem piedade, eu queria ver ela puxar meu cabelo de novo enquanto me bate.

De manhã eu fingia não ouvir o despertador, eu havia custado pegar no sono, quando fico agitado meus remédios custam a fazer efeitos, e como dormi muito tarde, era horrível levantar cedo pra ir naquele inferno acadêmico.

Escutei muito da minha mãe quando viu meus cabelos no chão, eu havia esquecido de jogar no lixo, ela ficou furiosa. Ela quase chorou quando me viu com o cabelo repicado, eu havia gostado do corte. Michelle queria de todo jeito me levar para arrumar aquilo, mas como o barbeiro só abre tarde, eu escapei do salão e me esnobei para todos da escola, que me olhavam e torciam o rostos mortos de inveja pela minha beleza peculiar e extrema.

Só não entendi porquê quando fui me inscrever no show de talentos de forma suave e escondida, por sentir muito receio de ser julgado e odiado por todos, Miquelmi viu aquilo e riu, eu não queria que ele visse eu me inscrevendo, nem queria que ninguém soubesse que eu iria tocar no palco para Maria Alice ver que eu era legal, senti tanta vergonha e receio, que peguei a minha inscrição de volta e rasguei aquilo, eu não era bom o suficiente para participar daquilo, nunca fui bom o suficiente para mostrar nada, eu deveria parar de tocar os meus instrumentos, aquilo era algo bobo que só estúpidos faziam.

Fiquei a aula toda ouvindo a professora dando normas e ensinando aquele conteúdo chato. Tentei, por Deus como tentei prestar atenção naquela coisa chata, eu anotei algumas coisas no caderno, mas a minha caneta caiu no chão e quando fui pegar, vi que a mochila da Ana estava aberta, tentei avisá-la discretamente, mas aquela imbecil olhou para mim com cara de nojo e puxou a sua mochila com o rosto franzido.

_ Não contamina a minha mochila com a sua burrice, seu retardado mental! (Fazendo uma careta pra mim, eu fiquei muito zangado).

_ Retardado? Retardada é você que deixa esse lixo aberto, me incomodando com essa porcaria cheia de lixo esfregando na minha perna, enquanto eu tento prestar atenção nessa velha chata que não cala boca! Igual você que só fica se achando, com essa maquiagem ridícula, está parecendo uma palhaça com essa bochecha vermelha parecendo uma calopsita com essa sobrancelha de graxa, está uma marmota, e nem se quisesse melhorar conseguiria, porquê você é feia e chata! (Eu falei discreto demais para ela, nisso a professora veio até mim e Ana fez cara de choro, eu fingi que não era comigo e encolhi na carteira disfarçadamente).

_ Você que é um retardado, e eu não sou feia, sou bonita e legal, você que é chato! (Só ouvi aquela idiota chorando, borrocando aquele reboco em seu rosto, eu sinceramente ri daquilo, encolhido na carteira, mas aquela mulher chata me mandou levantar e me obrigou a encará-la).

_ Vai para o canto, e se eu ouvir a sua voz de novo, vou te mandar para a diretoria! Anda logo! (Só ouvi aqueles imbecis rindo de mim, eu odiava a escola, odiava todos dali, um dia eles se arrependeriam daquilo).

Como o esperado, fiquei sem o intervalo, passei o tempo sentado vendo todos correrem de um lado para o outro, a professora havia tirado a minha dopamina novamente, eu estava tão frustrado, eu nem estava com fome, mas ela me liberou para comer e voltar para sala, eu não tinha fome, com os remédios que tomo, era difícil eu sentir vontade de comer e com represálias, tudo era pior, exceto quando a deusa da escola passava com as suas belas argolas na orelha, ela parecia uma rainha de tão linda com aqueles lábios carnudos e cabelos trançados, era muito bonita e tinha um corpo tão belo e formoso, eu a desejava em silêncio, enquanto a olhava com cantos de olhos.

Maria Alice é divina, não há garota feito ela na escola, sua beleza é esplêndida e única, até a forma bondosa que ela rir das outras garotas enquanto colava o chiclete no cabelo delas era divino, seu sorriso turvo, e suas sobrancelhas finas mostrava o quão perversa e asquerosa ela fazia com meu coração idiota e tímido, eu a desejava por anos desde a educação infantil eu a via com outros olhos e não contava os minutos para que ela me enxergasse da mesma forma.

_ Sai da frente, Marcos, não viu que o sinal tocou? Que garoto viajado! (Ela quase pisou no meu pé e quase acertou meu nome, por isso a amava, ela sempre fingia que não me notava, mas no fundo ela quase sabia meu nome).

Eu a admirava em silêncio, enquanto ela conversava com as suas amigas risonhas. Na sala eu peguei meu caderno e escrevia em uma completa bolha os meus pensamentos, na aula de literatura.

_ O Romantismo brasileiro foi marcado por...(O romantismo era tudo que eu sentia a olhando, enquanto ela conversava com as meninas sobre sua blusa nova)... Na poesia e na prosa era comum a idealização da mulher e do amor, era um ato expressivo de...(Eu também me idealizava casado com aquela mulher negra linda dos brincos de argola e cabelo trançado que ficava poucos metros de distância de mim)... Murilo! (Tão cheio de virtudes e vida, eu escrevia em meu caderno a sua beleza em linhas turvas)... Murilo! (Sonhava com ela chamando meu nome, às vezes eu a ouvia como se fosse real)... Damião! (Quase morri com a professora puxando o meu caderno me encarando).

_ Sim, senhora! (Sem graça encarei meu caderno que ela lia rigorosamente).

_ Preste atenção na aula e para de ficar escrevendo bobeiras no momento em que deve-se prestar atenção! Depois fica chorando que ficou de pendência, mas não se esforça em nenhum momento para aprender o que realmente é importante! Menino...(Eu só olhava a sua boca mexendo enquanto ela me desprezava igual a todo mundo daquela escola idiota, como eu odiava aquilo, nunca mais voltaria para escola, eu iria arranjar um emprego e tocar pelas ruas, eu não precisava viver aquele inferno todo, aquilo era uma droga!).

Em casa levei um sabão da minha mãe, novamente a professora escreveu um bilhete para ela comparecer à escola, por minha falta de respeito a chamando de velha chata. Com raiva a vendo ler aquilo, corri para meu quarto e acabei batendo a minha pélvis na coluna das paredes, aquilo doeu tanto, eu senti meu corpo inteiro remoer, entrei no quarto e me tranquei lá dentro, eu me encolhi em um canto e fiquei esfregando a minha pele vendo a marca vermelha que eu havia feito novamente.

Decepcionado fingia que aquilo era insignificante e resolvi dar um presente para a deusa do mundo, em tempo livre gosto de imaginar cenários e colocá-los no papel. Eu amo desenhar coisas e foi isso que fiz, peguei a foto da Maria Alice que estava no grupo e fiquei empenhado naquilo até sentir uma tonteira, dor no estômago e muita dor de cabeça, eu não entendia o que estava acontecendo, mas não liguei muito e fiquei sentindo fiscada no umbigo.

Só senti o meu corpo leve, a minha cabeça doendo e os meus olhos ardendo, quando não aguentei mais e vi que já estava quase dando duas horas da manhã, eu estava hiperfocado de novo, e estava empenhado nisso desde as 19h, a minha mãe havia ido trabalhar e eu estava em casa, sozinho de novo, sentindo dores estranha devido ao hiperfoco, eu não havia tomado remédio para dormir e com certeza eu não iria conseguir acordar no horário certo.

Enquanto me aliviava no banheiro, eu comi alguma coisa e continuei no meu desenho, antes das 6h30 eu já estava pronto para ir para aula, e sozinho fiz o percurso com meus devaneios insistentes, mostrando as vitrines cheias de bugigangas inúteis, e disfarçadamente comprei um cigarro, eu não fumo, mas só assim que eu lembro do meu pai, o cheiro do cigarro que ele fumava disfarçadamente no quarto e soltava quando via Hugo ou eu entrando no quarto, ele sempre disfarçava isso, nos dizendo que era errado fumar, ele nunca deu exemplo bom para gente, mas fingia que não fazia para nós não fazermos igual.

*Corrigido

Chegada pt1

Cheguei atrasado novamente, como a feira de talentos estava próximo, a escola só estava trabalhando em função daquilo, todo o ambiente estava sendo enfeitado, havia decorações nas salas, nos corredores, o palco estava sendo arrumado para os pais e alunos verem, muitas pessoas haviam se inscrito, já haviam elegido o orador, era tudo muito barulhento e a minha cabeça não aguentava tanta coisa, e entrando na sala eu via os meus colegas arrastando de um lado a outros materiais para deixar tudo bonito.

Eu coloquei um tampão nas orelhas, e me ofereci para ajudar também, era uma zona, mas era legal, peguei algumas coisas e comecei a segui-los, em um momento da organização eu vi Maria Alice levando as cadeiras para o oratório com suas amigas, apesar delas estarem levando aquelas coisas, pensei em ser gentil com as garotas e finalmente poderia ser visto por ela, admirado por todas as garotas eu seria desejado e meus defeitos seriam excluídos eternamente no vácuo vazio da minha mente inquieta.

_ Posso ajudar vocês, está pesado isso! (Dei um sorriso e mostrei meu braço para elas).

_ Você nos ajudar? Olha o seu tamanho, nem exercícios faz, é um magricelo fracote, a gente leva sozinha, Maurício! (Ela disse olhando a minha aparência de cima para baixo, meu coração foi esmagado novamente pela Maria Alice).

_ Eu sou forte também, eu consigo pegar as coisas que você precisa, não precisa sentir medo que eu não consiga, eu te ajudo e protejo vocês! (Eu era forte também!).

_ Olha aqui nanico, eu já disse para você cair fora, não precisamos de um fracassado com a gente, não ouviu a Maria Alice? Você é um fracote magricela e retardado! (Bárbara riu de mim e as meninas riram de mim).

Eu era zombado por causa da minha maldita estatura minúscula, meus braços pálidos e magricelos, eu não tinha culpa, eu iria ficar forte também, Maria Alice iria me amar quando eu ficasse forte, e tentaria de tudo para crescer, e assim ela não erraria mais o meu nome, eu iria ser interessante como qualquer outro cara e nunca mais iria se desprezado pelas garotas.

Eu pensava nisso apertando os meus ouvidos em uma crise interminável de desespero, eu havia tomado todos os remédios que deveria? Porque a minha cabeça não parava de dizer o quanto idiota eu sou, por que sou tão inútil e tão pequeno? Qual era o meu problema, será que eu realmente sou retardado, ou só um cara preguiçoso e burro? Eu odiava tanto isso, que raiva que eu tinha de tudo.

_ O último jogo que você fez com a sua turma, percebi que sua desenvoltura está baixa! Mas como não posso te deixar fora do campeonato, irei te colocar em uma série mista, não vai ser divertido? Alguns garotos da sua turma irão jogar também, você vai jogar com o 5° e 6° ano...(Um absurdo isso).

_ Mais eu sou mais velho que eles, não é justo! Eles são pequenos, e não vai ter graça nenhuma jogar com uma equipe dessa! (Na verdade eles eram quase do meu tamanho).

_ Ah, Murilo, veja só, as crianças vão adorar ter um garoto mais velho com eles! Elas amam quando tem um "tio" para os auxiliar! (Talvez fosse divertido fazer isso, e ainda faria amigos, mesmo que fosse com crianças).

_ Eu não sou tão velho como você, mas vou dar o meu melhor, eu juro! (Saí um pouco desapontado por não me quererem no time da minha turma, mas pelo menos os menores iriam gostar de jogar comigo).

Foi dito e feito tudo menos o que previ, no futebol havia tanto barulho, gente gritando e xingando, aqueles pequenos seres tinham uns gritos finos que ensurdeciam. Eu olhava para um lado e para o outro, a bola corria e desesperado eu tentava chutar, mas ela ia mais rápido que eu, caí no meio daquele jogo, nem senti meu joelho indo junto com o chão. Correndo atrás daquela bola, no meio daquela loucura, ouvindo todo mundo gritando, alguns colegas rindo de mim por estar com a galera menor, e outros me xingando de idiota e filho da mãe, era algo horrível. Uma pressão enorme em mim, eu não aguentava ouvir aquilo e os meus pensamentos gritando junto com a galera, eu peguei a bola e chutei no gol e fiz um gol contra, os meninos do meu time ficaram tão irritados com a minha falha, que levei um esporo do professor de educação física, da galera que estava torcendo e do meu time, fiquei muito, mais muito mal com tudo aquilo, principalmente na reunião do time com o treinador.

_ Você está fora! A gente não quer ele, é um perna de pau, ele não corre, não pega a bola e quando pega ajuda o outro time, você é um idiota e por uma votação justa, não queremos você mais! (O capitão catarrento falava comigo e eu fiquei com vontade de mandar todo mundo tomar no orifício interno das profundezas de trás de suas cuecas).

_ Eu não queria chutar errado, eu me confundi e fiquei nervoso com aqueles gritos, prometo que farei melhor no outro jogo! (Eu queria jogar, e precisava, as minhas notas não eram boas em quase nenhuma matéria, e ninguém gostava de me dar oportunidades na educação física).

_ A gente não te quer! Você tá fora! (Eu tinha sido expulso).

_ Espera, o campeonato não acabou e ele não pode sair assim, se não o time vai ficar desfalcado! Você vai treinar para jogar melhor, e se eu ver que seu desempenho não melhorou, você está fora! O Murilo vai ficar no gol e o Josué vai ficar no lugar dele! (O treinador disse e eu sorri).

_ Mas o Josué é um goleiro bom, o Murilo vai deixar a gente ser goleado! (Eu iria ser o goleiro, eu defenderia tudo e mostraria meu empenho para a Maria Alice).

_ Eu já disse que ele vai ser o goleiro e se o Murilo não se esforçar, ele vai ser expulso do time e ficar de recuperação! (Ela iria amar quando eu pegasse a bola e a homenageasse).

_ Tomara que você saiba o que está fazendo! Não quero que a gente perca de novo, então presta atenção no lance! (Seria bom ter um lance com ela, e fazer amigos mesmos que sejam mais novos, e alguns mais altos que eu).

Eu joguei mais alguns jogos e infelizmente minhas distrações quase nos faziam perder, foi um custo eu ter foco, não queria ser taxado de preguiçoso, eu consegui por um estresse enorme ficar naquilo. Minha cabeça doía tanto e todos os dias, por causa dos meus remédios, quando o efeito queria terminar meu corpo pesava tão forte, nada me dava controle, eu só parava e ficava quieto por um longo tempo, me sentia muito desconfortável e mal, na maioria das vezes só estava eu e minha mente descontrolada em casa, eu dormia sozinho em casa, minha mãe quando folgava ficava às vezes comigo e outras com seu namorado, eu não ligava muito, mas às vezes me sentia muito pressionado com meus pensamentos dizendo que eu era uma péssima pessoa, por isso não conseguia me relacionar com ninguém, e sofria por ser um preguiçoso desajeitado.

Vendo meus braços pálidos e finos, resolvi que o meu problema é que sou fraco, eu iria fazer exercícios e ficar forte para impressionar todo mundo, e aí sim, eu seria notado por Maria Alice e ela finalmente sentiria segurança em mim e me desejaria.

Eu comecei a fazer exercícios, eu não dormia mesmo, então me exercitar não seria um problema, isso durou incríveis três minutos, meus braços não aguentavam mais o meu peso, eu caí no chão e fiquei estável, me deprimi naquela noite e acabei ficando no chão até o amanhecer, minha cabeça doía e eu me odiava.

_ O que está fazendo no chão? (Eu só a olhei e dei de ombros).

_ Vai se atrasar para aula, levanta daí e vai se arrumar! (Minha mãe não entendia que eu queria faltar de aula, eu odiava a escola).

_ Eu tou com dor de cabeça e não vou na aula! (Me levantando, fechei o rosto e me encolhi entre as pernas).

_ Toma o remédio e vai, você não vai ficar mais esperto ficando jogando videogame em casa! (Aff, odiava tanto isso).

Eu não me levantei por pura teimosia, e por teimosia a minha mãe tirou meu videogame e me tirou do quarto com uma bela chinelada para eu aprender a virar homem.

Fui para a escola chorando de raiva, chutei tudo que tinha no caminho e só parei de espumar quando vi a escola, todo lá iriam rir de mim novamente se me vissem chorando, eu desesperadamente enxuguei o rosto e me distrai com os carros que passavam na via, pois do outro lado tinha uma venda nova de sorvete. Era cedo demais para pedir um, então só fiquei olhando a loja fechada com as fotos e placas de sorvete, eu levaria Maria Alice pra tomar sorvete comigo, caso ela quisesse.

Entrei na escola e fiquei quieto a aula toda, não desenhei nem nada, minha cabeça brincava comigo o tempo todo, então fiquei cabisbaixo coçando meu braço para ver se eu me animasse um pouco, cocei tanto que aquilo começou a sangrar, minha pele pálida ficou vermelha e sangrando, mesmo assim eu continuava cutucando desesperadamente em busca de dopamina.

_ Dissem que ele é estrangeiro, vai entrar na nossa sala! (O recreio era um tédio, eu comi feito um troglodita, estava em busca de algo interessante para fazer).

_ Será que ele é bonito? Se for ele já é meu! (As meninas riram muito, e eu encarava meu braço que coçava muito, tentando não coçar eu o coçava como se não houvesse o amanhã).

_ Você que pensa, se ele for bonito a Maria Alice vai ficar com ele, você não vê que ela é uma piranha! (A Maria Alice tinha uma piranha bonita mesmo).

_ Ela que pensa que vai ficar com ele, eu arrebento ela! (Jussara parecia um Tonhão, eu ri e ela viu).

_ Do quê tá rindo, imbecil? Quer levar um mu... que nojo, olha isso, vai se lavar! (Fiquei sem graça, ela olhou meu braço vermelho pingando sangue na minha calça e minhas unhas cheias de pele e sangue).

Eu saí de lá e fui para o banheiro, lavei a minha calça e parecia que eu havia mijado nela, ficou horrível, eu tentei tirar a sujeira das minhas unhas, só que o atrito entre uma unha e outra me deixava nervoso, eu não conseguia limpar aquilo sem sentir repuxo.

Na sala eu olhava as unhas, era tão chato não ser normal, meu braço tava com um papel grudado no machucado, eu não queria ser estranho, mas parecia que quanto mais tentava me enturmar, pior a minha situação ficava, eu dei um riso para a Maria Alice e ela me mostrou o dedo me chamando de nojento, fiquei triste e olhei para frente, talvez ela não gostava de risos eu deveria ter ficado sério, ela gostaria de mim.

A encarei novamente com o rosto sério, e ela me encarou novamente e virou para frente cochichando algo, ela me encarou novamente e eu franzi o rosto, mostrando que posso protegê-la sempre, mas por algum motivo ela trocou de lugar e eu não podia mais ver o seu rosto me encarando.

Em casa me despi com aquela maldita mania de bater em tudo, meu corpo estava todo marcado, algumas lesões leves, outros arranhados e machucados estranhos, que não me lembrava onde havia feito. Respirei fundo e tomei um banho, porquê meu celular não parava de tocar escrito banho, era alguns alarmes programados para eu não esquecer de fazer nada, e nem me distrair com qualquer besteira.

Tomar banho foi difícil, estava machucado, eu parei de cocar o meu braço e cocei em outras partes do corpo, eu estava cheio de feridas. Depois que me limpei vi o post-its escrito para eu escovar os dentes ou comer, eu não havia comido ainda, saí do banheiro e me troquei e fui fazer alguma coisa, esquentei a comida e sentei no sofá olhando TV.

Era tudo tão distante da realidade, filmes falsos e sem graças, contam histórias irreais, pessoas não sabem amar ninguém, eu sou desprezado por não fazer nada, como que podiam dizer que tudo é um mar encantado, se na realidade só sofremos muito por não ser igual o padrão?

Chegada pt3

Eu havia feito 14 anos há 3 meses atrás. Por nascer no fim do ano era comum eu ser o mais velho da turma por causa da faixa etária escolar. Mesmo assim eu era o menor de todos praticamente as pessoas pensavam que eu tinha 11 ou 12 anos de idade.

Eu ficava chateado pois eu era uns dos mais velhos, mas todos me tratavam feito uma criança ainda, não me chamavam para as festas, para clubes e nem nada, por ter rosto de criança e um corpo pequeno! Eu tinha alguns amigos de umas turmas de séries anteriores a minha, mas não éramos tão próximos. Éramos só conhecidos, pois só ficávamos juntos em times de futebol com pessoas do mesmo tamanho ou faixa etária, e como eu era ruim em tudo, me colocaram só para pegar a bola quando ela saía da quadra, já que fui excluído de ser goleiro.

Eu nunca foi o destaque na turma, e já tava acostumado com isso. As garotas começaram a arranjar algumas paqueras, e eu fiquei animado, as garotas maiores não me queriam, mas as menores eu ainda tinha chances, porquê os garotos mais velhos não gostavam de sair com garotas muito pequenas por parecerem crianças apesar de seus 13 e 14 anos.

E como eu era mais velho, era provável alguém me querer, por causa da minha idade, já que garotas gostam de homens altos ou mais velhos, eu era a segunda opção!

E animado com isso eu jogava meu charme irresistível em todas as garotas da turma e das outras também. Eu sorria para todas, quem me quisesse eu queria também, mas eu tinha preferência na Maria Alice, se eu tivesse namorando outra e Maria Alice me quisesse, infelizmente eu a trocaria pela minha deusa Maria Alice! Secretamente eu a amava desde o 2°ano, e ninguém sabia disso!

E com todo mundo se envolvendo com alguém na sala, e as únicas que sobravam eram as baixinhas que não me queriam também. Eu não entendia o porquê elas não me queriam! Eu sou irresistível e só era um pouco distraído, isso não era motivos de todos me evitarem. Então bolando esquemas para ser mais notado de um jeito bom, veio na escola o concurso de talentos, anualmente havia aquilo e era meu momento de aparecer, eu não me inscrevi, mas iria mostrar a minha peça preciosa somente para Maria Alice.

Era nele que eu ia mostrar ser tão bom quanto os outros, apesar de não ser bom em nada na escola, eu sabia riscar muito bem, eu desenhava com meu pai quando ele vivia comigo. Ele sempre me dizia que eu era bom e seria um artista famoso quando crescer, eu ia ser isso aí que ele disse, queria impressioná-lo.

Era o que eu pensava ser, mas ninguém gostava muito do que eu fazia e acabei ficando chateado, principalmente quando meu pai foi embora e minha mãe não gostava que eu o via, dizendo que não queria que eu fosse idêntico a ele. Ela o odiava sem motivo algum, e eu a escutava, então parei de riscar pra não deixá-la triste, ela odiava meu pai e eu era idêntico a ele fisicamente imagina ela vendo eu fazer as mesmas coisas que ele!

Mesmo assim eu ia fazer isso escondido dela de novo, queria ser alguém naquela escola e impressionar a Maria Alice, eu ia fazer de tudo para ser mais que um cara estranho com transtorno naquela escola! Então comprei os materiais de desenho e um pacote de canson, havia tanto tempo que não sentia aquilo em minhas mãos, aquele cheiro de material. Era uma delícia cheira-los e tocá-los, e animado eu coloquei o lápis no papel, mas não conseguia fazer nada, eu não conseguia nem fazer um boneco palito na folha, peguei referências e vi que eu era ruim nisso também.

Então joguei as coisas para lá e chateado fui pra minha cama, sonhar acordado com minha deusa novamente, eu a namorava todos os dias, mas ela não sabia, e quando souber eu irei pedi-la em casamento, para que não fuja de mim.

Então me empolguei de novo, risquei como se o mundo fosse explodir num imenso arco-íris e saísse ursinhos carinhosos de dentro dele devorando as pessoas e cantando aquela sua música "Não tenha medo se algo te ameaçar, os ursinhos surgem de algum lugar", quem diabos canta essa coisa? Imagina um urso sair de lugar algum cantando isso! Isso é um pesadelo para todos, principalmente quando soube que eles saem de algum lugar dos céus! Argh que medo!

E riscando empolgado, senti fome e corri para cozinha, fui fazer o alimento extremamente saudável, rápido e prático de fazer, sem contar meus dotes na cozinha que são perfeitos! Eu coloquei a água para ferver, e com o tempero simples de galinha caipira e um pouco de sazon, e aquela massa pré cozida e chamativa, só pedia para ser finalizada com um toque de amor e tempero, principalmente mais sazon para ficar gostoso!

E isso foi minha janta, miojo de galinha caipira, um produto alimentício saudável e gostoso, principalmente em excesso que não causa danos colaterais algum para um adolescente em fase de crescimento, ainda mais com o gostoso sabor de sazon onde eu lambia os beiços e depois bebi bicarbonato por sentir uma queimação inexplicável depois do jantar, com certeza era mal olhado de alguém invejoso que não queria eu próximo da Maria Alice.

No outro dia na escola encarei Maria Alice de longe, pois ela conversava com suas amigas e um garoto chegou atrás dela e a abraçou a beijando, novamente ela estava namorando, já era o terceiro em menos de 6 meses. Eu a enxergava como minha musa e queria ter um momento com Maria Alice só pra mostrar que ela não precisava de mais ninguém além de mim para satisfazê-la, estava louco para entrar em sua fila de amantes e ser amado por ela. Nem que se fosse por alguns segundos eu já me satisfazia em tê-la, e faria de tudo para ela me enxergar como a enxergava.

Como eu amava loucamente essa garota, de cabelos cacheados e seu olhar que penetrava diretamente em minha alma e me fazia desejá-la dia após dia incansavelmente, e seu cheiro que me deixava petrificado e espatifado quando ouvia sua voz sussurando algo a alguém, pois comigo não falava nada, exceto expressões de desgosto incentivado por suas amigas, mesmo a conhecendo desde o 2°ano, sem direcionar uma palavra a ela eu a amava, pois não precisava de um toque para saber o que eu sentia, e iria mostrar isso para Maria quando estivesse pronto. Eu iria fazer isso no show de talentos, ela tinha que me notar para eu despejar meu amor sobre sua perfeição de pessoa.

Entristecido a vendo com outra pessoa, meu coração se partia em dois, e meus devaneios torturantes não me faziam ver a algazarra que acontecia na escola. E só acordei quando alguém esbarrou em mim correndo e me jogou diretamente no chão, me fazendo bater a cabeça e alguém pisou em meu desenho o estragando, vi que todos riam e falavam sem parar me encarando com sacarsmo, e pra piorar vi Maria Alice sorrindo sutilmente de mim, com certeza ela fazia aquilo por estar perto daquele seu namorado idiota!

Então me levantei do chão e fui pro meu banco, encolhido segurando meu desenho, eu meio que me deprimia vendo aquilo tudo, queria ser normal que nem todo mundo, talvez assim eu não seria chacota de ninguém.

Aí vi um embolo de gente, parecia uma briga no meio daquelas pessoas idiotas, foi aí que vi um ser magricela e esquisito tentando andar, mas as pessoas o cercavam como se não houvesse espaço naquele lugar, o impedindo de andar entre eles, era um garoto diferente.

Era um garoto magro, alto, cabelos cortados e ondulados penteados formalmente da cor castanha escura, mas seus cabelos eram bem mais claros que o meu, os meus são negros e lisos, o dele era ondulados penteados formalmente e castanhos escuros.

Suas roupas eram diferentes também, eram uma camiseta cinza com um corte estranho e uma calça jeans, eu nunca havia visto na escola, provavelmente era um garoto novo. Talvez fosse aquele que todo mundo falava que ia chegar e que morava em outro país, eu não ligava, mas sabia que ia ser da minha sala. Iria ser só mais um que iria me chacotar também, e tiraria atenção da Maria Alice de mim, pois o que mais tem são concorrentes para namorar ela!

E o vendo, percebi que ele me olhou também, seus olhos dourados chamavam atenção, então levantei do meu lugar e peguei meu desenho que tinha feito, eu tinha desenhado Maria Alice, mas agora aquele rabisco não fazia sentido nenhum para mim naquela hora, aí peguei e o rasguei no meio e depois fui pra sala.

Junto com os outros da turma que haviam chegado e estavam conversando entre si, peguei meu desenho rasgado e o joguei no lixo e sentei em meu lugar pensativo e cabisbaixo. Na aula aquele garoto estranho sentou do meu lado, as pessoas haviam dado um pouco de paz para ele, mas parecia que aquele estranho não tirava os olhos de mim, então o olhei um pouco deprimido.

Então ele sorriu para mim e pegou o meu desenho rasgado e passou uma fita adesiva nele, e desesperadamente o olhei assustado com aquilo, por que diabos ele pegou o meu lixo? Com certeza estava me zombando, pois ele tentava dizer algo.

_ Cé chomh álainn! Cén fáth ar chaith tú an líníocht ar shiúl? _Que lindo! Por que você jogou o desenho fora? (Ele falava sorrindo e confuso para mim, articulando muito suas mãos no papel, parecia que ele dizia que queria um papel).

_ Oi! Meu nome é Murilo! (Eu não sabia o que dizer, eu nem sabia de onde ele veio nem o que falava).

_ Sorry! Ní thuigim tú! _Desculpe! Não entendo você! (Ele me olhava confuso).

_ Quer papel? (Eu mostrei um papel para ele já que havia passado a mão no meu desenho rasgado).

_ An bhfuil tú chun líníocht a dhéanamh? _Você vai desenhar? (Ele sorriu para mim simpaticamente).

Então peguei o papel e o entreguei e me encolhi novamente na cadeira, estava de saco cheio vendo a professora tagarelando lá na frente e chamando meu nome várias vezes por me dispersar da aula.

_ Aird! _Atenção! (Ele falava olhando para mim e sorrindo).

_ Cai fora, seu estranho! (Aí o olhei com raiva, não tava com paciência pra falar com ninguém).

_ Gangnow, Díoman! Díoman is ainm dom! Gangnow, Díoman! Díoman! (Ele falava empolgado para mim e apontando para si mesmo).

_ Seu nome é Tiamã? Diaman? O quê? (Eu o encarei confuso, não havia entendido o seu nome).

_ Díoman! Díoman, Díoman is ainm dom! Díoman!(Ele dizia sério e apontando para ele e pra mim).

_ Mu-ri-lo! Murilo! Não é Tiamã! É, Mu-ri-lo! (Ele tentava falar meu nome, só que dizia errado, assim como eu falava seu nome errado).

_ Mu-i-lo! Mur- i- lo! Gangnow, Díoman! Dío-man! (Ele falava empolgado e sorrindo pra mim).

_ Thiomã? (Aí sorri para ele).

Ele encarava com os olhos bem brilhantes para mim e escreveu seu nome no papel que eu havia lhe dado e me entregou, nele havia o seu nome e depois ficou me apontando pedindo para eu escrever meu nome para ele também, eu fiz aquilo pra ele. Depois ele ficou pronunciando o meu nome a aula inteira e pedindo pra eu ensiná-lo a falar português, e me mostrava seu celular com o tradutor para eu escrever para ele e vice-versa, foi aí que tudo deu errado.

As garotas começaram a cochicar e me olhar com cara feia, na hora do intervalo o estrangeiro havia sumido e me dado um tempo. Com certeza eu iria fazer um amigo e ele era estrangeiro, estava incomodado no início, mas eu comecei a gostar de sua conversa comigo, até no momento que ele chegou perto de mim com algumas garotas e me olhando sorridente pronunciou uma palavra a mim.

_ Você retadado! (Ele dizia sorrindo alegremente pra mim, e as pessoas do seu lado começaram a rir de mim).

Eu o olhei completamente chateado, então me levantei de lá e fui embora deixando eles sorrirem e ficarem emboladas naquele murundu. Todo mundo me odiava na escola, eu odiava todo mundo daquele lugar, principalmente aquele estrangeiro maldito, fingiu ser meu amigo e me xingou junto com os outros. Eu estava cansado de tentar fazer amizade e as pessoas zombarem de mim, eu queria ficar com meu pai junto de Hugo, eles me entendiam, as outras pessoas não! Eu sentia muita a falta dele e queria vê-lo e ia fazer de tudo para encontrar meu pai e sair dali!

*Corrigido

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