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Doce Martíni

missão, lobo mau.

✍🏾🦊Esta história pode conter erros ortográficos e gramaticais. Além disso, quaisquer semelhanças com pessoas, eventos ou locais reais são meras coincidências.✍🏾🦊

18h45, dia 18 de outubro de 2019, Estados Unidos, Texas City.

Seguindo para o ponto de encontro, a espiã girou o volante bruscamente enquanto discutia com o diretor da agência, seu irmão. Clara estava dez minutos adiantada e dirigia lentamente para o local, um bar bem movimentado na cidade de Crystal City, no Texas.

“Clara, essa é uma missão bem simples, mas isso não quer dizer que você possa banalizá-la!”, falou Edward do outro lado da linha.

— Caramba, seu velho, é sempre a mesma coisa. Eu já estou a caminho do ponto de encontro, é só colocar o estuprador para dormir. Você sabe que eu odeio esse tipo de missão. Eu não suporto esse tipo de criminoso — Clara choramingou ao telefone.

“Eu sei, só não mate o cara. Apenas o coloque para dormir e avise pelo comunicador que a polícia já estará a caminho logo após você...”, ele advertiu.

— Ei! Não me ensine o meu trabalho. Velho irmão, você é tão mau com a sua irmãzinha!

“Ok, desligando”, disse Edward, finalizando a ligação.

“Esse idiota, as minhas férias estão bem próximas. Caribe, biquíni, bronze e vodca… eu vou ser tão feliz longe de você e do trabalho”, pensou Clara.

“Faltam quinze minutos para o encontro”, gritou Nóz no comunicador.

— Merda! Quase me deixa surda, — ela sussurrou, tocando no comunicador.

Ela nunca falhou em nenhuma missão e prometeu ao pai que nunca falharia. Vinda de uma família de espiões, seria uma vergonha falhar, especialmente considerando que seus pais morreram em uma missão, o que foi muito triste. No entanto, eles morreram tentando ajudar o país e como heróis. Quem poderia prever que as Torres Gêmeas cairiam naquele dia? Sempre que tinha uma nova missão, as lembranças vinham à sua mente. Seria medo de morrer ou de falhar? Querendo ou não, “quem tem cu tem medo”.

Bebeu um gole de vodca, Tito’s Handmade, sua preferida, que sempre lhe dava sorte nas missões. Era o que ela acreditava: cada um tem suas próprias superstições.

A missão já estava acontecendo há 3 meses, a mesma adrenalina de sempre, observar e ser vigilante a cada passo do suspeito em questão, a deixava muito excitada. Clara amava as armas, algemas e chamar o suspeito de “idiota” quando era pego. A face de horror por saber que seu disfarce fora descoberto.

O homem era um indivíduo de cerca de 50 anos e estatura mediana. Ele tinha uma predileção por meninas menores de idade, e o crime que havia cometido era repulsivo. Sendo um fugitivo no Texas, estava disfarçado, com seus cabelos loiros tingidos de preto, em busca de suas próximas vítimas. Ele estava sendo seguido e monitorado. Frequentava um bar ou uma casa noturna próxima à pousada onde alugara um chalé. Às sextas-feiras, ele sempre saía acompanhado do bar. Há menos de um mês, mudou-se da capital para o interior do Texas. Hoje seria seu último dia de liberdade, já que não prosseguia-se vigilante.

“Pronto, agora eu estou bem quente, confortável, quentinha…”, Clara pensou após beber sua dose de vodca ardente, com a cabeça deitada sobre o volante do veículo.

“Agente C, o suspeito já está no local de encontro, dê seu show!”, Nóz, seu parceiro, gritou pelo comunicador.

— Que show, o quê! Cala a porra da boca!

“Você bebeu, novamente?”, Nóz indagou em um tom de desapontamento.

— Só foi um gole, dá sorte. Vou desligar, já estou em frente ao bar.

Clara escondeu a garrafa de vodca no porta-luvas. Após descer do carro, um Cadillac DeVille de 1998, bateu a porta com força e vestiu seu casaco de moletom.

— N. Esse carro é horrível! — murmurou Clara, tocando o comunicador.

“Foi o máximo que conseguimos”, Nóz murmurou de volta.

A agência gostava de dificultar suas missões. Ela adentrou no bar e logo avistou o indivíduo dando um xaveco barato em uma das garçonetes.

— Olá, meu amor, nunca tinha visto uma lindeza assim na minha vida — disse um rapaz bêbado.

Clara assumiu seu disfarce sem dar importância ao homem e foi em direção ao balcão onde estava o indivíduo.

— Oi! Boa noite, poderia me servir um martíni? Tito’s Handmade — pediu ela com um sotaque britânico ao barman e logo em seguida, sentou-se em um dos bancos do balcão.

— Boa noite! O que traz uma linda britânica a este fim de mundo? — perguntou o barman.

— Bom, você acredita que eu me perdi? — indagou a espiã.

O barman sorriu com a resposta direta de Clara. Ela estava atenta ao indivíduo ao seu lado, que bebia cerveja preta.

— Então esse martíni é por conta da casa — ofereceu o barman gentilmente.

— Não, eu recuso. Não seria educado. Eu queria pedir uma informação, mas justo eu pagar o martíni — disse ela, sem jeito, jogando seus cabelos pretos ondulados para trás e ajeitando a franja falsa sobre os óculos de grau.

O homem ao seu lado a encarava sem nenhum receio, e ela sentia a luxúria exalando dos olhos dele.

— Se não for muito exagero, eu adoraria pagar o seu drink e te dar a informação — disse ele, entrando na conversa.

Clara o fitou com seus olhos verdes, seu olhar estava caído e tristonho.

“Nossa, foi mais fácil do que imaginei. Talvez eu termine a missão bem antes do previsto”, ela pensou, encarando-o.

— Ah! Muito obrigada! Mas eu ainda prefiro pagar. Porém, eu gostaria da informação, seria bem grata. — proferiu entusiasmada.

Ele pousou a garrafa de cerveja preta sobre o balcão e a observou com um olhar minucioso. Clara se vestira como uma universitária, com um casaco verde ostentando o brasão da universidade, calça de moletom cinza e um all star de cano curto. Os cabelos pretos ondulados, estavam bagunçados, como se ela viajasse há dias, embora seu corpo estivesse coberto por roupas largas. O homem notou suas curvas protuberantes.

— Tudo bem, qual seria a sua dúvida? Só estou passando uma temporada, mas conheço o estado muito bem, o nosso barman também irá nos ajudar.

"Conhece realmente o estado, passou os últimos dias fugindo, como um rato”, ela pensou bebendo um gole de martíni.

O homem sentou-se ao assento próximo dela. Clara cogitou fingir nervosismo, porém pôs-se a falar de forma esbaforida.

— Ah! Estou tentando chegar na cidade de Alice, mas ouvi dizer que a rodovia está bloqueada. Pedi algumas informações sobre rotas, alguns imigrantes na cidade me ensinaram, mas o inglês deles é um pouco ruim, eu não entendi o que eles passaram para mim.

— Senhorita, o inglês dos imigrantes é uma porcaria hahahha! — O agente disfarçado de barman sorriu alto, — você tem sorte de achar esse bar, senão estaria morta!

O servente enxugava copos recém lavados, encarando Clara.

— Os imigrantes são péssimos em da informação sobre as rotas das cidades próximas, de fato a rodoviária está bloqueada, é um problema de deslizamento. Você vai ter que procurar um hotel para se hospedar até que a rodoviária seja liberada novamente. — Indagou o Barman cabisbaixo.

A espiã olhava para o sujeito, bebericando sua bebida de forma sensual. dispôs sua taça martíni sobre o balcão e colocou as mãos por dentro dos bolsos do casaco.

— Poxa! Eu acho um pouco difícil você achar um hotel com quartos vagos — disse o homem.

— Você está hospedado em algum hotel? — Indagou Clara com seus olhos verdes cintilando.

— Não, estou numa pousada lá, também não tem quarto, mas fiz amizade com a proprietária, ela é bem solidária — nervoso, o homem jogou seus cabelos para trás — se você contar sua situação, acho que ela pode te ajudar.

— Você vai ficar muito tempo aqui? — Clara perguntou, bebendo outro gole de bebida.

— Mais ou menos, você pode me acompanhar em mais uma bebida por minha conta, que tal? — ele falou com a voz grossa.

— Ah! Tudo bem, eu estou um pouco cansada da viagem, seria ótimo dar uma relaxada. — Clara prendeu os cabelos em um coque — só mais um drink, não faz mal a ninguém.

— Barman dois martíni Tito's Handmade! — O homem disse alegremente.

Os dois já haviam feito as devidas apresentações entre taças e mais taças de martíni. Clara se apresentou com um nome de disfarce, uma universitária chamada Ashley, de 23 anos, cursando a faculdade de direito, mas atrasada há alguns anos, que estava indo para a cidade de Alice pela primeira vez sozinha. Ela pôde ver como o homem ficou excitado assim que ela disse sua idade falsa.

Ele havia se apresentado como Edgar, um empresário que viajava pelo país explorando cada estado dos Estados Unidos e esbanjando sua fortuna. A espiã fingiu interesse por cada palavra entoada pelo sujeito robusto, de pele enrugada, cujos olhos pretos eram da cor das trevas. Mesmo beirando os 50 anos, ele não aparentava velhice, o que a espiã julgava ser por causa dos cabelos tingidos. Ela sentia repulsa a cada vez que ele lhe tocava: seu disfarce era impecável.

— Senhor Edgar, posso te ajudar pagando meus martínis! — Falou Ashley, em tom de embriaguez.

— Não, eu disse que era por minha conta, você já está bêbada? — proferiu Edgar, lambendo os lábios.

— Ah! Eu sou um pouco, sou franca para bebida — ela retirou os óculos e esfregou os olhos com força — não deveria ter bebido tanto.

No entanto, tratava-se de uma grande falácia. Clara nunca fora fraca para bebida; ela e seu irmão, Edward, passavam dias consumindo álcool sem que ficassem embriagados. Presumiam ser irmãos biológicos devido a essa peculiaridade, até que se submeteram a um teste de DNA em Las Vegas.

Seria um desatino convidar os irmãos para uma aposta.

Após agradecerem ao barman pelos coquetéis servidos, despediram-se.

À porta do estabelecimento, a espiã fingia não conseguir destrancar a fechadura do Cadillac.

— Você quer que eu dirija? — Disse Edgar, observando ela remexer a bunda de um lado para o outro.

— Se não for incomodá-lo, também tenho medo de pegar o volante, bêbada, — Clara sorriu, nervosa — estou muito bêbada. — Ela disse, entregando as chaves para ele e dando a volta no carro.

O homem abriu a porta e se acomodou no banco do motorista de forma apressada.

— Quando somos jovens, tendemos a viver a vida loucamente, veja, você saiu da Inglaterra para o Texas, isso é viver loucamente.

— Eu vim de avião, não tem nada de louco. — Ela disse, sem jeito, colocando o cinto de segurança. — Então, você viveu loucamente quando jovem?

— Ah! Sim, eu já fiz muitas loucuras enquanto servia no exército americano.

Era veracidade, ele era um militar aposentado devido a fraturas na coluna, o que se mostrava paradoxal, considerando a força que usava para cometer seus crimes. Qualquer esforço físico poderia ser fatal para sua condição.

A missão de Clara era sedá-lo.

Enquanto o homem divagava sobre seu passado, Clara Se lembrava do arquivo criminal dele. A autópsia das vítimas revelava que haviam sido sedadas antes de suas mortes. Se atentou a essa informação, consciente de que confiar no lobo em pele de cordeiro seria um erro premeditado.

— Chegamos, vamos indo, vou te apresentar a Abby — falou gentilmente. Edgar abriu a porta do carro e aguardou Clara sair para lhe entregar as chaves.

Eles adentraram o casaram antigo, as portas estavam abertas, o hall de entrada era extenso, as luzes amarelas deixavam o ambiente calmo. Com a arquitetura italiana, as paredes de madeira rústica, haviam sofás de couro na ala de espera e a decoração passávamos a impressão de estarem no ano de 1980.

— Boa noite, Ed. Você tem uma convidada! — A senhora de cabelos grisalhos falou por trás do balcão da pousada, sem tom de surpresa.

A senhora idosa, com aproximadamente 60 anos, possuía cabelos alvos e pele negra. Sua estatura, de cerca de um metro e cinquenta e seis centímetros, aliada ao volume de seus seios, conferia-lhe uma postura corcunda. Afrodescendente e dotada de uma simpatia contagiante, o retrato da avó perfeita.

— Hum, boa noite, ah! É... eu me chamo Ashley, desculpe, eu estou um pouco nervosa! — A espiã fingiu um tom meigo para que a senhora se comparecesse.

“Merda, que velha fofa”. Clara pensou, apertando a mão gelada da senhora.

— Por que, querida, eu não mordo e, se mordesse, a dentadura só iria atrapalhar hahahahah. — Indagou Abigail com a voz trêmula.

— Senhora abby, vou deixar vocês a sós, Ashley se precisa e algo, meu chalé é o 33 — Edgar disse, saindo do hall de entrada.

Clara observou Edgar sumir pela grande porta de vidro, sentido a um jardim, Logo deduziu que os chalés ficavam naquela direção.

Ao contar toda sua história, Abigail se compadeceu e cedeu-lhe o quarto de sua neta, já que não tinham quartos e chalés disponíveis.

Apesar de Clara preferir dormir no estacionamento, ela odiava colocar pessoas em risco durante suas missões. teve afeição pela senhora italiana...

O quarto tinha aroma de desinfetante de flores, havia sido limpo recentemente. Clara fitou uma foto de Abigail e sua neta Rose, elas aparentavam semelhança. A espiã ficou por um leve momento olhando a expressão de amor da senhora para com sua neta. Clara se sentiu mal por está enganado-a, no entanto, precisava de estadia por algumas horas. A missão iria possivelmente fazer com que a pousada estivesse nos noticiários no dia seguinte, o coração dela se apertou no mesmo instante.

Tomou banho, colocou um short jeans exibindo suas pernas bronzeadas,fixou a Colt pela parte de trás do cós do short e vestiu uma blusa de moletom cinza.

Particularmente, ela adorou essa missão, pois poderia usar suas roupas preferidas, nada de farda e balaclava.

Examinou a franja falsa no espelho, a prótese que deixava suas maçãs do rosto mais elevadas e apertou o comunicador.

— Agente C em contato!

“Hoooi, hum, como anda a missão”. Nóz falou de boca cheia.

— Seu puto! Você está bem relaxado aí, enquanto eu vou ter que entrar na toca do lobo! — Clara murmurou, revirando os olhos.

“Foi por isso que priorizei ser hacker e não Agente espião, parece que o lobo não saiu do quarto, algo a relatar”, Indagou Nóz.

Pode-se ouvir estalar de dedos do outro lado da comunicação.

— Bom, a missão já vai acabar, ele me convidou para o chalé dele, eu vou lá agradecer pelo incrível "homem" que ele é — Clara jogou o espelho de mão em cima da cama.

“Ele foi bem rápido, o Rod nem precisou te dar uma ajuda, ele está bem puto, também foi demitido no primeiro dia de barman”, Nóz deu uma risada alta.

Rodryg estava disfarçado de barman, outro espião, meio “esquentadinho”, um péssimo preparador de martíni e irmão caçula de Clara.

— Não acredito o martíni dele era péssimo, foi bem justo o proprietário demiti-lo — Clara disse em tom soberbo.

“Escuta aqui, eu estou ouvindo vocês dois”, Rodryg falou.

“Não fique chateado, garoto, só foi o seu primeiro trabalho de espião”, ainda sorrindo, Nóz tentava consolar o espião em treinamento.

— Bom! Estou indo lá, pessoal, a comemoração é por minha conta —Clara disse, otimista — Não tem como a pousada ser abafada nos noticiários? Eu não quero que aqui fique sem cliente futuramente.

“Você nunca se importa com os estabelecimentos nas missões, o que aconteceu?"

— Não é da sua conta! Só faz esse serviço.

“Não se preocupe quando souberem que o agente C pegou um serial killer, aí vai chover cliente. Show time, baby!”, Gritou Nóz em tom de otimismo.

— Seu viadinho — Clara disse em tom brincalhão — todos pensam que eu sou homem, odeio isso.

...

Ela foi em direção ao chalé; fazia frio, embora suas pernas expostas e sentissem o vento gelado, era suportável. Mesmo que Clara odiasse o frio, não sentia incômodo.

As missões demoravam dias, meses, até anos de espera para a conclusão, essa já durava três meses e esses eram os últimos minutos.

lobo algemado

23h23 PM, “Texas City”

— Você veio? — Edgar não escondeu o seu contentamento.

Clara poderia vomitar se não fosse treinada para encenar o semblante envergonhado. A feição que o homem trazia no rosto lhe embrulha o seu estômago.

— Eu vim agradecer a você. Abby me deu o quarto da neta dela, irei pernoitar lá. Ah, um casal vai embora pela manhã e eu já reservei o quarto.

— Fico feliz — Edgar se encostou no portal da porta do chalé.

— Eu já vou indo, obrigado de novo, Edgar! — ela disse, virando e caminhando sentido à casa da dona da pousada.

O homem a seguiu e a segurou pelo braço. Clara se estremeceu de caso pensado, ele deu um passo atrás e coçou a cabeça, pretendendo acalmá-la.

— É... Tenho cerveja, gostaria de me fazer companhia? — ele olhava nervosamente.

Clara revirou os olhos enquanto sentia o olhar faminto do homem sobre suas costas.

— Eu e você sozinhos no seu chalé — ela se virou, encarando Edgar — não seria muito apropriado. — exibiu um olhar meio desnorteado.

— Oras vamos, prometo que não irá acontecer nada que não queira — enfatizou o homem segurou as mãos dela gentilmente.

“Promete é? Há há”, a voz de Rodryg ressoou no comunicador, depois um barulho de lata de refrigerante sendo aberto foi ouvido.

“Senhor, proteja esse homem”, Nóz choramingou.

— Senhor Edgar, conto com a sua palavra — pronunciou Clara, segurando firme a mão do homem.

Ele a arrastou para dentro do chalé, observando as costas largas do homem com uma expressão de tédio. logo sua mão foi solta, e Clara pôde vislumbrar o quarto, estava limpo e arrumado, o que a surpreendeu. Havia deduzido que encontraria uma tremenda bagunça, com bitucas de cigarros pelo chão e um cheiro forte de bebida alcoólica, mas, para sua surpresa, o ambiente cheirava muito bem. O criminoso semeava o caos após fugir das cenas dos crimes, o que não condizia com o que Clara encarava agora. Edgar pegou as garrafas no frigobar e estendeu uma a ela.

— Você bebe cerveja preta? — O suspeito iniciou uma conversa amigável. — Já saí com muitas jovens, não que eu queira me gabar, mas a maioria gostava de cerveja. Você, no entanto, não parece gostar. — Ele deu um sorriso torto.

— Eu não sou muito fã, já tomei cerveja na época do ensino médio, mas bebidas quentes são mais interessantes para mim. — Ela afirmou.

A espiã abriu a cerveja pressionando a manga da blusa sobre a tampa.

Rapidamente, ele se aproximou dela, puxou uma cadeira e a convidou para sentar-se. Em seguida, se acomodou e começou a falar sobre a bebida, que teria um sabor adocicado ao se acrescentar limão. Ela prestava atenção e demonstrava interesse com suas expressões; sorria ocasionalmente com sedução e ajeitava o cabelo.

Quando a cerveja terminou. Clara solicitou para usar o banheiro prontamente, ele se antecipou e a guiou até o lavabo em seu dormitório.

O ambiente estava impecavelmente arrumado. Edgar passou bem perto dela, ao lado da porta do lavabo, como se a farejasse. Clara tocou o colarinho de sua camisa, insinuando um beijo. Edgar, por sua vez, percorreu com as mãos os braços da mulher, que retribuía com um olhar envolvente e deu uma piscadela sutil.

Em seguida, relaxou o aperto no colarinho e deslizou as mãos pelo antebraço dele. Desvencilhando-se do firme aperto em seu próprio braço, ela rodopiou ao redor dele, acariciando as costas robustas de Edgar.

A dama, com pressa, agarrou ambas as mãos do cavalheiro, trazendo-as para trás.

— Você é masoquista? — Disse ele, girando a cabeça para encará-la.

— Há!

— Não combina com você — Edgar murmurou.

Ele sentiu algo envolver seu pulso, logo em seguida o clique das algemas foi percebido, Edgar remexeu os braços sem entender o que ocorreu.

— Senhor Edgar, ou devo dizer Oliver Ston? — ela falou e um tom de fúria. — Parece que o lobo está algemado.

— Sua Vadia, como me achou…

Clara chutou o homem ao chão, o virou e lhe desferiu um soco rápido, que resultou em um nariz quebrado. Ele sacudiu a cabeça zonzo, a espiã elevou seu dorso e o arrastou com dificuldade até a cadeira. O sentou, envolveu outra correia no pé dele, o prendendo na medeira do assento, puxou um celular do bolso e começou a citar os crimes como uma professora que dita um texto.

— Oliver Ston, você receberá voz de prisão dos meus amigos policiais sobre os crimes de estelionato, homicídio qualificado e estupro de vulnerável. — Clara disse.

— Eu não fiz nada disso. — Ele indagou com o semblante triste.

— Então, por que você não se apresentou na delegacia, você fugiu? Você fez, olha bem aqui. — Ela lhe mostrou vídeos de câmeras de segurança.

Em uma das filmagens, ele entrava na residência de uma família norte-americana de quatro pessoas, dois adultos, um adolescente e uma criança. Na outra gravação, Oliver aparece carregando a criança no colo e leva para região de mata próxima à casa das vítimas.

— Você é um monstro! Eu não interrogo, os suspeitos, que eu sou paga para captura, mas fiquei curiosa, senhor Oliver… O quê uma criança de 6 anos despertou em você? Você matou a mãe, o pai e o irmão mais velho dela, mas antes disso você a observava pelas redondezas da escola, como mostra nessa câmera de vigilância. Como um predador infantil, essa foi sua última vítima, eu tenho investigado você há três meses depois desse crime…

— Sua vadia… eu não fiz nada disso — o tom de voz do homem era hostil — Tenho o direito de não te responder se não quiser.

— Você me interrompeu, eu não quero mais saber — ela deu dois tapinhas no ombro de desse homem, sorriu, caminhou para a mesa e se sentou segurando o celular em frente ao rosto. — Digno de cinema, você estuprou e matou seis crianças, mais de vinte pessoas. Um assassino em série fodido.

Entrelaçou as pernas em uma pose majestosa. Clara começou a pronunciar os nomes de cada vítima, o homem ficava aos berros a insultando e era calado com socos no rosto. Instantes depois ele estava com o maxilar quebrado, gotejando sangue pela boca, e a espiã apontava uma Colt para o centro do rosto do criminoso.

— Eu queria matá-lo com minhas próprias mãos! — ela pronunciou. — Já estou muito suja com seu sangue.

“Agente, você não pode matar o cara”, Nóz cochichou no comunicador.

— Ele vai morrer de qualquer forma — Clara reclamou em voz alta. — Por que eu não termino logo com isso? — ela engatilhou a Colt e encostou no rosto de Oliver — se você se arrepender desses pecados e ir para o céu, eu não quero estar no mesmo lugar que você!

Clara ouviu passos atrás de si, logo pôs o capuz do moletom cobrindo a cabeça.

— Agente! Coloque a arma no chão e saia de perto do criminoso — uma policial gritou em direção sua direção — o trabalho já foi entregue, o estado quer o depoimento dele. AFASTE-SE!

Clara olhou para o policial e fez um beicinho com os lábios, como uma criança repreendida pela mãe.

Logo em seguida, sorriu para a policial, jogou as chaves das algemas no chão próximas a Oliver e saiu do chalé sem dizer uma palavra.

— Esses agentes da URNOS são pessoas grosseiras e violentas, me deu calafrio. — Outro policial falou ao entrar no chalé, após ser examinado friamente pela espiã— esse é o homicida? ele tá diferente da foto.

O policial observou minuciosamente o rosto de Oliver que encontrava-se desmaiado.

— É, ele só pintou o cabelo, acho que vai precisar de uma cirurgia no rosto — disse a policial, balançando a cabeça negativamente — oh, porra!

— Aquela mulher fez isso? — O policial perguntou, apontando para o rosto do homem — acha que ele távivo?

— Anda logo! — A policial gritou.

— O que te deu mulher.

— Não aconteceu nada aqui, precisamos levar o suspeito sem que os repórteres lá fora vejam! — falou a policial, pegando as chaves do chão e jogando para o seu parceiro.

O outro policial concordou, tirando as algemas do pé do suspeito e o levando para a saída dos fundos da pousada.

(...)

gatilhos

Após o fim da missão, clara se dirigiu para casa da senhora dona da pousada, tomou banho, pôs um conjunto de moletom preto; arrumou os cabelos pretos ondulados, os deixando lisos, seus olhos verdes ficaram pretos com ajuda das lentes de contato e suas maçãs do rosto estavam saltadas por prótese de silicone muito realista.

Ela fez uma última chamada no comunicador, pegou a mala de viagem e saiu do quarto sem deixar rastros para trás.

Queria ver Abigail uma última vez, passando pelo jardim onde se via todos os chalés, pode ouvir a gritaria na entrada da pousada, passou correndo pela grande porta de vidro, logo avistou os repórteres com microfone, câmera e celulares apontados para pobre Abigail que gritava em italiano “vão embora daqui”.

Os repórteres enlouquecidos pela notícia perguntavam “você é a proprietária?”, “Há quanto tempo o Serial killer estava hospedado aqui?”.

A senhora e um homem, negro alto, tentavam fechar as portas da bolsada. Clara olhou para o tornozelo, lembrando-se da pistola, seria conveniente usá-la para afastar os repórteres, pensou em mostrar o distintivo como aviso.

“Não, se eu usar a arma, vou assustar Abigail”. Concretizou.

No fundo, era isso que queria, mas ter sua identidade exposta não era uma opção. O (Agente C) que a Internet amava era um homem impetuoso e heroico, sua identidade foi exposta em 2001, expô-lo novamente seria uma tragédia já que agora ele encontrava-se possuindo outra identidade e gênero.

Clara expeliu o ar dos pulmões e lembrou-se dos treinamentos sobre pressão, abandonou sua mala, caminhou até o alvoroço e encarou os repórteres com olhar sério.

— Por favor, senhores, sejam decentes! Vocês estão invadindo uma propriedade privada e isso é crime! — Indagou com um olhar autoritário.

Os repórteres invadiram o hall de entrada empurrando Abigail e o homem, com suas câmaras e microfones empunhados como armas, na direção da mulher.

A testa começou a suar e os braços pareciam pesados ao lado do corpo, recuou na esperança de fugir, a máscara hospitalar preta que cobria parte do seu rosto, estavam sufocando e logo foi arrancada em desespero; as câmeras ficaram enormes a cada vez que as pessoas se aproximava. A espiã escorregou sobre o tapete caindo por cima da mala, seus olhos estavam prestes a enchesse de lágrimas.

Havia só um medo em sua mente, apesar das missões perigosas que experienciou: seu medo de câmeras era um trauma do passado.

A lembrança do passado apareceu em sua mente enquanto ofegava em busca de ar.

O dia era frio e tenebroso, a despedida dos pais ao partirem para a missão havia sido muito calorosa, ela sempre odiou o frio, Thomas sempre a abraçava apertado, os seus olhos eram azuis piscina, o corpo robusto que poderia a proteger de qualquer impacto. Desde que havia sido adotada, achava que o pai era um gigante, mas sua mãe brincava dizendo ser um príncipe encantado, pois os seus cabelos eram loiros.

A pequena viu os seus pais partirem e sem retorno. Um dia depois, a notícia no noticiário, o ataque terrorista da Al-Qaeda, que deixou mais de 6 mil mortos e os seus pais estavam entre eles. A agência organizou a retirada dos dois irmãos antes que os repórteres chegassem, no entanto, o país estava em alvoroço, demorou mais que o previsto, os agentes chegaram tardiamente. A entrada da casa havia sido interditada por todas as emissoras de notícia.

— Liam, coloca um casaco com capuz na Evellyn, vamos evitar a exposição — indagou uma agente que usava balaclava.

Os seus olhos eram verdes como os de Clara, caminhou até a janela olhando para fora.

— O papai e a mamãe morreram — a pequena disse olhando para a agente.

— Querida, depois falamos disso, precisamos tirar vocês daqui.

— Evellyn, eles se foram, pare de perguntar. — Liam gritou estressado, jogando o moletom azul de seu pai para a irmã, que começou a chorar — para de chorar, você sabe que o chorão sou eu.

— Mas você não vai mais ser meu irmão.

— Por que você está falando isso? — a questionou, segurando em seus braços.

Ela só tinha sete anos, seus olhos eram tão inseguros, Evellyn apertou o moletom com as mãos minúsculas encarando o irmão. Liam estava com onze anos, o que acarretou em um dúvida. Eles não poderiam se virar sozinhos e o pensamento da pequena era de ser entregue para o orfanato novamente.

— Eu sei o que você está pensando, para de pensar nisso, OK! Você, minha irmãzinha, foda-se. — Liam gritou.

Ela concordou com a cabeça, a agente abriu a porta segurando na mão de Liam, quatro grandalhões com roupas militares se mostraram segurando armas AK-47. Assim que o portão da casa abriu, as câmeras começaram com os flashes consecutivos. O irmão abaixou a cabeça de Evellyn, a protegendo dos disparos. Enquanto eles passavam entre a multidão, os homens grandalhões observavam cada pessoa minuciosamente.

— Aqui exclusivamente para o canal BBC, esses são os filhos do Agente C, Thomas Evans e da Agente A, Mia Evans. Eles eram membros da organização secreta URNOS, AQUI, FILME-OS! — a repórter gritou para o operador de câmera.

— Saiam do meio, seus abutres — a agente de olhos verdes gritou.

A mulher robusta empurrava a multidão enfurecida enquanto os homens protegiam as crianças. A Van estava a poucos metros, os repórteres e curiosos não davam passagem, com suas perguntas eloquentes e enfurecidas. Um dos grandalhões introduziu o cano do fuzil nas costelas de um dos repórteres que apontou o microfone na direção de Liam.

— Ele é maluco, quer matar a gente — um outro preferiu.

a multidão ficou ainda mais histéricas. Evellyn ergueu a cabeça, olhando em direção aos repórteres.

— Não para, garota, continue! — o grandalhão que estava atrás deu a ordem.

O descuido foi iminente. Um dos operadores de câmera se lançou sobre a agente, que soltou a mão de Liam. Os repórteres começaram a puxar os casacos das duas crianças. Nenhum dos agentes podia atirar, pois, as armas eram apenas para intimida-lo. Os jornalistas, no entanto, não se intimidaram e continuaram a assediar as crianças. Liam tentava proteger o rosto da irmã, mas os flashes eram incessantes. Ela estava paralisada de medo, com o rosto pálido e os olhos arregalados. A agente se livrou do peso do operador de câmera, avançou contra os jornalistas com chutes e empurrões.

Um dos grandalhões começou a atirar, dispersando os jornalistas. A van pôde se aproximar imediatamente e, minutos depois, todos estavam seguros no interior do veículo.

— Porra! — berrou a agente de olhos verdes, observou por alguns segundos as crianças se abraçando. — Vocês terão que trocar de nome.

Clara deslizou a mão sobre a coxa direita para alcançar a Colt presa ao tornozelo. Abigail gritou em italiano, logo ela pôde recobrar os sentidos, se pôs de pé e encarou os repórteres mais uma vez.

— O quê vocês querem da minha Nona — sem pensar, ela proferiu as palavras com seu italiano mediano.

Abigail se pôs ao lado de Clara, lhe dando auxílio na mentira. Os repórteres tiraram fotos enquanto iniciavam suas perguntas frenéticas. A dona da pousada passou mal após ouvir que o assassino em série havia matado mais de vinte pessoas. Seu neto, um homem negro de porte alto e cabeça raspada, lhe afastou dos noticiaristas.

— Diga-nos de modo claro. O que sabe sobre o ocorrido — ordenou uma repórter com o microfone apontado para o rosto de Clara.

Que sorriu gentilmente. Era da BBC, ela odiava repórteres: queria agredi-los por algumas horas.

— Ele só era um hóspede igual a todos os outros que estão aqui, como a minha avó iria adivinhar que era um assassino — respondeu indiferente, tomando o microfone da repórter — agora deem o fora daqui.

— Temos fontes que dizem que o (Agente C) estava hospedado aqui, você pode nos dizer as características dele? — disse outro repórter, segurando um bloco de notas.

— Eu lá sei disso! — Clara respondeu, remexeu as mãos com desdém.

— Como Oliver estava disfarçado? — outro gritou.

— Ele estava de cabelos tingidos de preto, responde todas as perguntas — indagou ela sorrindo. — Está ao vivo? — ela perguntou para a repórter da BBC, que logo em seguida balançou a cabeça. — Eu te amo, Ed. — Clara jogou o microfone para a mulher — vão embora! — Seu tom era de ameaça.

Logo os jornalistas saíram da pousada. Clara caminhou até a sala de espera, o homem agitava uma revista em frente ao rosto de Abigail.

— De onde tiraram que isso ajuda alguém a respirar melhor — Abigail resmungou, se encostando no encosto do sofá de couro. — Anthony, não consigo respirar.

— Vovó, você está mais branca, igual às páginas da revista — falou Anthony.

— Me desculpe por dizer ser sua neta, eu só queria ajudar — Clara disse.

— Obrigado, querida, não sei o que faria, eles iriam destruir a minha pousada — Abigail disse gentilmente — você entrou pelos fundos da pousada?

— Oh! Sim, eu vi as portas abertos — ela falou sem encarar Abigail — ah! Eu preciso ir — Clara correu e agarrou sua mala.

— Desistiu de pernoitar, desculpe por ser uma péssima anfitriã.

— Tudo bem, tenham uma boa noite! — Clara proferiu sem olhar para trás e saiu da pousada arrastando a mala.

— Volte outra vez, ficarei muito agradecida — Abigail gritou empurrando o neto que ainda sacudia a revista em frente ao seu rosto.

A Clara sentiu o rosto arder ao dizer adeus. E, à medida que se afastava, imaginava que nunca mais veria a senhora de cabelos alvos.

O Cadillac “morreu” dois quarteirões antes do hotel onde seus parceiros estavam hospedados. Clara desceu enfurecida, bateu a porta do carro e deu dois chutes na lataria. Com a mala ao seu lado, pensou em atear fogo no carro, uma ideia sugerida pelo “diabinho” em seu ombro.

Afastou os pensamentos intrusivos e caminhou por alguns minutos até chegar ao hotel. De baixa categoria, se tivesse uma estrela já seria uma honra para os proprietários. A fachada decadente, com a pintura verde-menta desbotada pelo tempo e vidraças rachadas, dava um ar de abandono, não fosse pelas luzes acesas.

Uma mulher de cabelos pretos a observava passar pelo hall de entrada com um olhar curioso. Sem dar importância. Clara, cobriu o rosto coberto pelo capuz do moletom, imaginava estar solitária no mundo.

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