Khaos, conhecido como o Monstro do Pântano, segurava em seus braços a figura delicada de Ellie, observando-a com atenção enquanto ela permanecia inconsciente. Seus olhos carmesim seguiam cada pequeno movimento involuntário dela, como se analisassem os sinais de seu despertar. Ele sabia que aquele momento seria crucial: o instante em que ela abriria os olhos e perceberia a transformação de seu corpo. Medo, pânico, desespero — tudo isso poderia explodir de uma só vez, mas Khaos estava preparado para lidar com isso. Ele não se afastou, permanecendo firme, mas cuidadoso, ocultando parcialmente seu rosto pela escuridão e pelos tentáculos que ondulavam suavemente ao redor.
A luz fraca atravessava a névoa densa do pântano, projetando sombras tremulantes ao redor deles. Para Ellie, mesmo esse brilho opaco parecia demais. Seus olhos sensíveis se estreitaram, e ela começou a se mexer. A respiração dela tornou-se curta e apressada, como se o próprio ar se recusasse a preencher seus pulmões. Khaos, sentindo sua agitação, segurou-a com firmeza, mas sem machucá-la.
— Respire... com calma. — Sua voz profunda e grave era quase hipnótica, ecoando suavemente no ambiente úmido. Ele colocou uma mão escamosa sobre o peito de Ellie, sentindo os movimentos irregulares enquanto tentava guiá-la. — Devagar... inspire fundo.
Ellie, confusa e assustada, tentou obedecer. O desconforto e a fraqueza em seu corpo dificultavam qualquer esforço, mas aos poucos sua respiração começou a estabilizar. Cada vez que puxava o ar, sentia uma leve melhora, mesmo que a dor ainda estivesse presente.
Quando finalmente conseguiu abrir os olhos completamente, sua visão se ajustou à escuridão enevoada. Ela olhou para suas próprias mãos e, então, o horror a atingiu como um golpe. Sua pele estava coberta por escamas finas que refletiam a pouca luz do pântano. Entre os dedos, membranas delicadas se estendiam, quase translúcidas, como as de uma criatura marinha.
— O que... o que está acontecendo comigo? — Sua voz saiu fraca, carregada de incredulidade e desespero. — O que é isso? Onde eu estou?
Tentando se levantar, Ellie começou a se debater, mas Khaos a impediu novamente, segurando-a com firmeza.
— Se acalme, Ellie. — Ele falou com autoridade, mas sem agressividade. — Se continuar se agitando, não conseguirá respirar.
Ela parou, ainda ofegante, e finalmente levantou os olhos para encará-lo. O que viu na penumbra fez seu coração disparar. Dois olhos vermelhos brilhavam na escuridão, penetrantes e assustadores.
— Quem... quem é você? — Sua voz mal conseguia sair, tremendo em cada palavra.
Khaos não respondeu de imediato. Seu silêncio era tão opressivo quanto sua presença. Mas, ao se mexer, parte de seu rosto entrou no feixe fraco de luz. Ellie pôde ver fragmentos de sua aparência: a pele rugosa e deformada, os tentáculos azulados com toques esverdeados que se moviam com uma elegância assustadora.
— Por favor... não me machuque. — As lágrimas já começavam a brotar nos olhos de Ellie. — Eu não sei como vim parar aqui. Eu...
Antes que pudesse terminar, Khaos ergueu um dedo escamoso e pressionou suavemente os lábios dela, silenciando-a.
— Você foi trazida para cá. — Sua voz era baixa, mas carregava um peso imenso. — Foi dada a mim. Agora, você me deve obediência. Você pertence a mim, Ellie... pertence a este lugar.
Ellie sentiu o pânico crescer dentro dela como uma onda prestes a explodir.
— Não... isso não pode ser verdade... — murmurou, sua voz quase inaudível.
Khaos inclinou-se levemente, os olhos brilhando com uma intensidade ameaçadora.
— Eu sou o único que pode te nutrir, te proteger. Você não apenas faz parte deste lugar, Ellie. — Ele fez uma pausa, sua expressão se tornando mais sombria. — Você agora faz parte de mim.
A revelação foi como um golpe na alma de Ellie. O medo e o desespero se misturaram em seu coração, deixando-a sem palavras, sem forças. Ela sabia que algo terrível havia acontecido, mas a extensão de sua realidade ainda estava além de sua compreensão.
— Não... não pode ser! — Ellie balbuciou, a voz trêmula de pânico. Sua respiração tornou-se mais pesada, cada vez mais curta, enquanto ela começava a se debater novamente. — Eu preciso voltar para casa, por favor... me deixe ir! — Ela implorava, tentando se levantar, mas logo percebeu que ainda estava nos braços da criatura.
Khaos manteve-a firme, mas sem machucá-la. Sua mão escamosa voltou a repousar sobre o peito de Ellie, pressionando-a suavemente para acalmá-la.
— Acalme-se, Ellie. — Sua voz era firme, mas quase um sussurro, carregada de uma calma hipnótica.
Ellie tentou resistir, mas a falta de ar crescente a obrigou a obedecer. Ela fechou os olhos por um momento, concentrando-se nas instruções implícitas na voz de Khaos. Lentamente, sua respiração se estabilizou, embora o medo ainda pairasse como um peso em seu peito.
Khaos observou-a atentamente antes de falar novamente, sua voz grave cortando o silêncio denso do pântano.
— Seu corpo já não é mais humano, Ellie. Tudo o que você é agora... veio de mim.
Ele acompanhou sua respiração com cuidado, e, quando percebeu que ela estava mais calma, ergueu-a gentilmente e a colocou sentada na margem do pântano. Ellie sentiu a umidade fria das pedras e a água negra tocar suas pernas, cobertas por escamas finas e brilhantes.
— Olhe para o reflexo. — Khaos murmurou, movendo-se levemente para que Ellie pudesse ver a superfície do pântano. — Veja como seu corpo combina com este lugar. É lindo... e veja como se parece comigo.
Ellie hesitou antes de encarar seu reflexo. Quando finalmente olhou, lágrimas silenciosas começaram a escorrer por seu rosto. A visão de si mesma era devastadora. As escamas cobriam não apenas suas pernas, mas também partes de seus braços. As membranas entre seus dedos brilhavam sob a luz difusa. Sua imagem parecia algo saído de um pesadelo.
— Por quê...? — Sua voz saiu em um sussurro frágil, repleta de dor e confusão. — O que você fez comigo?
Khaos inclinou-se lentamente, aproximando-se do ouvido de Ellie. Sua voz grave era quase uma carícia sombria, o calor de sua presença a fazendo estremecer.
— Eu fiz o que era necessário para que você sobrevivesse. — Ele pausou, deixando as palavras penetrarem como uma lâmina. — Você não seria capaz de viver aqui como era antes. Agora, você faz parte deste lugar... como eu.
Ellie manteve os olhos fixos no reflexo por um longo momento, tentando processar as palavras de Khaos. Lágrimas ainda escorriam, mas ela mal as notava. Sua mente foi puxada para memórias recentes, momentos que agora pareciam de outra vida.
O baile no reino de Édena. O salão iluminado por candelabros dourados. O pedido de casamento do rei Dylan, o som de sua própria recusa ecoando em sua mente. A fuga para a casa de Raquel, buscando refúgio... Então, veio a última lembrança clara: ela estava na banheira, imersa na água morna. E então tudo ficou turvo. Algo, ou alguém, a puxara para baixo, mergulhando-a em uma escuridão sufocante.
Ellie abriu os olhos de repente, um calafrio percorrendo seu corpo ao perceber que aquilo não era um pesadelo. Sua nova realidade era assustadoramente real.
— Por quê... eu? — Ellie murmurou, sua voz mal saindo, como um sussurro abafado pela confusão e pela dor que crescia em seu peito. Ela ergueu os olhos com dificuldade, encarando a silhueta sombria à sua frente. — Como... eu vim parar aqui?
A figura imponente inclinou levemente a cabeça, seus olhos vermelhos brilhando na penumbra. O cabelo preto e longo de Khaos caía como uma cortina, obscurecendo parte de seu rosto, mas Ellie sabia exatamente quem ele era. Os tentáculos azuis cintilantes com um brilho verde interno denunciavam sua identidade: o Monstro do Pântano, a lenda temida que vivia nas ilhas de Brumalga.
— Você foi prometida a mim, Ellie. — A voz de Khaos era grave, carregada de uma certeza fria. — Foi dada como parte de uma promessa.
Ellie sacudiu a cabeça em negação, lágrimas surgindo em seus olhos. O medo crescia em seu peito, misturado com incredulidade.
— Isso não pode ser verdade... — sua voz quebrou, quase engasgando com as palavras. — Eu estava prestes a me casar com outra pessoa.
Os olhos vermelhos de Khaos pareceram brilhar ainda mais intensamente, como se absorvessem a angústia dela. Ele não respondeu imediatamente, mas estendeu a mão lentamente, revelando algo pequeno na palma.
— Essa pedra não lhe parece familiar? — perguntou ele, sua voz carregada de uma malícia sutil.
Ellie olhou para o objeto, e seu coração afundou ao reconhecê-lo. Era a pedra perfumada que Raquel havia lhe dado, um presente que, até aquele momento, parecia inocente, um simples gesto de amizade. Mas agora, nas mãos de Khaos, a pedra adquiria um significado terrivelmente sombrio.
— Foi com essa pedra que dei a Raquel o poder de abrir um portal entre o meu mundo e o seu. — continuou Khaos, seus lábios se curvando em um sorriso sombrio. — E assim, Ellie, eu trouxe você para cá.
Ellie arregalou os olhos, incapaz de desviar o olhar da pedra. A revelação era como um golpe devastador, esmagando seu coração.
— Por quê...? — A voz dela saiu frágil, cada palavra carregada de uma dor quase insuportável. — Por que ela faria isso comigo?
Khaos inclinou-se ligeiramente, aproximando-se mais dela, sua presença imponente tornando o ar ao redor ainda mais opressivo.
— Porque você era um obstáculo, Ellie. — Sua voz carregava um tom de satisfação sombria, quase cruel. — Você tinha o que ela queria. Raquel sempre desejou ser a única ao lado do rei. Você não era uma amiga para ela... era apenas uma peça no caminho dela.
As palavras de Khaos foram como facas cortando fundo no coração de Ellie. Ela começou a soluçar, a dor e a traição transbordando em lágrimas silenciosas. Seu mundo inteiro estava desmoronando. A pessoa em quem confiava, a quem chamava de amiga, havia orquestrado sua queda, entregando-a a essa criatura.
Ellie sentiu um frio percorrer seu corpo, não apenas pela umidade do pântano, mas pela compreensão esmagadora de que estava completamente sozinha. Traída, transformada em algo que mal podia compreender, e agora, nas garras de Khaos, que reivindicava sua posse sobre ela.
— Você pertence a este lugar agora, Ellie. — A voz de Khaos era inescapável, cada palavra ecoando em sua mente como um lembrete cruel. — E pertence a mim. — O tom dele era carregado de sarcasmo, como se se divertisse ao ver o desespero crescer nos olhos dela.
Ellie fechou os olhos, desejando que tudo fosse apenas um pesadelo, mas no fundo sabia que era real. Um mundo sombrio e traiçoeiro se revelava diante dela, e ela era uma prisioneira dele.
— Você não tem escolha, Ellie. — Sua voz era calma, mas havia uma intensidade implacável. — Este é o seu destino agora.
Ellie sabia que enfrentar diretamente uma criatura como Khaos seria suicídio. Ele era colossal, poderoso e claramente perigoso. Sua única chance de sobrevivência parecia estar em apelar à razão. Reunindo toda a coragem que ainda tinha, apesar do medo e da dor de sua recente transformação, Ellie respirou fundo e virou-se lentamente para encará-lo.
As sombras do pântano escondiam parte do rosto de Khaos, mas seus olhos vermelhos brilhavam na penumbra como duas brasas vivas. Seu cabelo negro e longo caía desordenadamente, obscurecendo detalhes de suas feições. Ainda assim, ela conseguia ver os tentáculos cintilantes que eram sua marca registrada — um brilho azul e verde que parecia pulsar com vida própria.
— Senhor... monstro do pântano... — começou Ellie, hesitante, sua voz falhando de leve.
Khaos ergueu uma sobrancelha antes de interrompê-la com um tom severo e grave.
— Me chame de Mestre Khaos, Ellie. — Sua voz cortou o ar, carregada de irritação controlada. Era evidente que ser chamado de "monstro" o irritava profundamente, mas ele se conteve, observando-a com paciência sombria.
Ellie engoliu em seco e abaixou a cabeça brevemente, tentando conter o tremor em suas mãos.
— Perdão... Mestre Khaos. — Ela corrigiu rapidamente, sua voz tímida. — Eu... gostaria de fazer um pedido. Melhor dizendo, propor um acordo.
Por um breve momento, a curiosidade lampejou no olhar de Khaos. Ele inclinou a cabeça, seus olhos estreitando-se enquanto avaliava as intenções de Ellie.
— Fale, Ellie. — A expectativa em sua voz era quase sufocante.
Ellie respirou fundo antes de continuar, cada palavra sendo uma luta contra a opressão ao seu redor.
— Eu sei que faço parte de um acordo, que fui entregue ao mestre por alguém... — As palavras saíram lentamente, como se pesassem em sua língua. — Mas eu gostaria de saber se existe alguma forma de... comprar minha liberdade. — Ela pausou, os olhos marejados. — Por favor, Mestre Khaos...
O silêncio que se seguiu foi palpável, pesado como a neblina ao redor. Khaos ergueu por completo, sua altura monumental fez Ellie se encolher involuntariamente. Ela era uma figura pequena e frágil diante da presença esmagadora dele.
— Não, Ellie. — A voz de Khaos ecoou com frieza. — Você é especial. Mesmo que tivesse algo em que eu me interessasse, não faria tal acordo.
Ellie sentiu o coração afundar. Aquele parecia ser o fim de qualquer esperança.
— Por favor, Mestre Khaos... deve haver algo que eu possa fazer! Eu... — A voz dela tremia, e lágrimas escorriam por seu rosto.
— Eu já disse que não. — Khaos cortou com firmeza, sua paciência claramente esgotando-se. Ele deu um passo à frente, o vento do pântano afastando os cabelos que cobriam parte de seu rosto.
Ellie engoliu em seco quando viu claramente suas feições. Ela prendeu a respiração, os olhos arregalados em choque.
— O que tanto você olha? — Khaos perguntou, sua voz profunda tingida de irritação.
— V-você... — Ellie balbuciou, os lábios trêmulos. — Dylan...?
O nome escapou de seus lábios como um sussurro incrédulo. As semelhanças eram inegáveis, e Ellie mal podia processar o que via.
A expressão de Khaos mudou instantaneamente. Uma fúria latente brilhou em seus olhos, e sua mandíbula se contraiu.
— Nunca mais repita esse nome aqui. — Sua voz transbordava raiva, cada palavra sendo uma ameaça velada.
Ellie se encolheu instintivamente, aterrorizada pela súbita explosão de emoção.
— P-por que o mestre se parece tanto com ele? — A pergunta saiu como um sussurro trêmulo, mas era impossível para ela ignorar a conexão.
Khaos respirou fundo, tentando conter a raiva, antes de finalmente responder.
— Dylan é meu irmão gêmeo. — Ele revelou com um tom de amargura profundo, cada palavra carregada de ressentimento. — Fomos separados há muito tempo, quando uma maldição me transformou nisso que você vê agora.
Ellie ficou paralisada, incapaz de compreender completamente a magnitude daquela revelação.
— E quem lançou essa maldição sobre mim... foi o próprio Dylan.
— Não... isso não pode ser verdade. — Ellie sussurrou, sua voz cheia de descrença.
Khaos continuou, agora deixando transbordar toda a sua mágoa.
— Ele queria se livrar de mim. — A voz de Khaos tornou-se mais grave e carregada de ressentimento. — Sabia que eu herdaria os segredos e o poder de nossa família, e não ele. Então, me amaldiçoou e apagou minha existência da memória de todos.
Ellie sentiu um nó apertar sua garganta. Dylan, o homem que ela acreditava ser justo e bondoso, o homem em que lhe pedirá em casamento, que sempre esteve presente em sua vida e cuidando da ilha em que viverá, agora parecia alguém a qual ela mal conhecia.
— Eu aceitei o acordo que me trouxe você porque sabia de seu casamento. — Khaos se aproximou lentamente, abaixando-se para que seus olhos ficassem ao nível dos dela. — Tirar a mulher prometida ao meu irmão é minha vingança.
Ellie fechou os olhos, desejando escapar daquela verdade cruel, mas Khaos não lhe deu trégua.
— É por isso que não farei acordo nenhum com você, Ellie. — Sua voz carregava um tom de satisfação amarga. — Não haverá escapatória.
Khaos estava resoluto: Ellie seria sua prisioneira, e nada mudaria isso. Enquanto ele a observava com seu olhar penetrante, Ellie tentava processar a história que ele havia contado. A ideia de que Dylan, poderia ter amaldiçoado seu próprio irmão gêmeo era difícil de aceitar. Por mais que o tom de Khaos carregasse mágoa e convicção, Ellie permanecia cética.
Ainda assim, a semelhança entre os dois era inegável. Cada detalhe de suas feições — os olhos marcantes, o formato do rosto, até mesmo a linha do queixo — gritava uma conexão que não podia ser ignorada. Essa semelhança, porém, não lhe trazia conforto; ao contrário, deixava sua mente em constante dúvida.
"Se Khaos está dizendo a verdade, então Dylan não é o homem que eu pensei que fosse," Ellie refletia, sentindo um nó apertar seu estômago. "Mas se ele está mentindo, qual é o verdadeiro propósito de me manter aqui?"
Sua desconfiança crescia para ambos os lados. Por um lado, Khaos parecia cruel e manipulador, usando a suposta traição de Dylan como justificativa para mantê-la cativa. Por outro, havia coisas que Dylan nunca lhe contou, segredos que agora pareciam cada vez mais importantes.
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