𝑭𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒕𝒚 𝑺𝒎𝒐𝒌𝒆𝒚
A dor de perder, os meus pais fazem-me dedicar à dança mais do que nunca. A cada passo que dou, a cada pirueta, a cada movimento, eu lembro das risadas deles, onde eles me disseram ao me dar o último abraço que eu fosse a melhor. Mas ser a melhor bailarina na maior escola de dança de Londres é meio difícil, porque as aulas são intensas, os professores exigentes, a concorrência é grande e você precisa sempre manter o foco e não se distrair. Eu costumo dizer que a minha vida se resume em cada coreografia, em cada movimento nesse estúdio, onde há dois anos é tudo que eu faço.
Me chamo Felicity Smokey, e tenho 17 anos. Desde os 10 anos, sonho em estar aqui na academia de dança de Londres, que é uma renomada academia onde os melhores bailarinos que já vi estudaram, aqui inclusive a Sara Lincoln. Ela é espetacular e uma das professoras; as aulas dela são as melhores, na minha opinião, e eu ainda vou ser como ela.
A morte dos meus pais há três meses atrás me deixou feridas, mas nem por um momento eu penso em desistir, porque os meus pais sacrificaram muita coisa para eu estar aqui na academia de dança Royal, a melhor de Londres.
— Ótimo, Felicity, as suas piruetas estão cada dia melhores, e como sempre, você é a mais pontual. Mas não esqueça que sapatilhas novas deixam a bailarina com os pés mais firmes! Do início. — Fecho os meus olhos, recupero o meu fôlego e volto a dançar do início. Essa é a Sara Lincoln; ela nunca deixa passar nada, sempre observa cada detalhe na dança, cada passo, e se eu errar algum movimento, eu tenho que começar tudo de novo, e de novo...
— Ótimo, mas compre sapatilhas novas!
— Não se preocupe, senhorita Sara, eu irei providenciar logo!
Ela sorri sem mostrar os dentes, como sempre faz, e logo o estúdio é invadido pelos outros alunos. Somos 15 nessa turma, entre meninos e meninas. A minha colega de quarto é a Thea; ela é uma boa bailarina e sonha, como eu, em ser contratada pela academia e viver do balé. Como eu, a Thea também é bolsista, então precisamos nos dedicar ao máximo, porque qualquer erro podemos perder a nossa bolsa de estudos.
— Que horas você acordou? Eu não vi você saindo do quarto! — Essa é a Thea; ela trabalha à noite, porque eu tinha ajuda dos meus pais para comer, me vestir e só me preocupar com a dança, mas a Thea sempre esteve por conta própria, então ela trabalha à noite; ela já tem 18 anos.
— Eu preciso me esforçar, e a dança me faz esquecer por um momento que meus pais não estão mais aqui nesse mundo.
— Sabe que sinto muito e que pode contar comigo. Mas eu ouvi nos corredores que a senhora Leonor está cortando alguns bolsistas.
— Eu não sabia disso!
— Soube ontem! Mas, Felicity, você é a melhor dessa turma, ela não vai cancelar a sua bolsa.
— Se eu perder essa bolsa, tudo que meus pais fizeram será em vão! Eu não posso perder, Thea.
O meu olhar de preocupação é evidente, principalmente quando fui chamada a ir na sala da senhora Leonor, que é a diretora da Academia. Ela costuma ser atenciosa quando gosta da cara de alguém, e ainda bem que ela sempre me tratou bem.
— Sente-se, senhorita Smokey.
Com meu olhar baixo, fecho a porta e me sento de frente a ela, que está com seus cotovelos sobre a mesa segurando alguns papéis. A minha respiração está acelerada, e o nervosismo toma conta de mim.
— A academia está fazendo uma reformulação, e sinto muito, senhorita Smokey, mas com a morte dos seus pais, você não tem um responsável por você, então pensamos que...
Uma lágrima já escorre após eu fechar os olhos.
— Por favor, senhora Leonor, eu não posso perder a minha bolsa. — Suplico!
— Eu entendo, senhorita Smokey; você é uma ótima aluna, por isso quero que você procure alguém para ser responsável por você. — Limpo minhas lágrimas, pois a única família que eu tinha eram os meus pais.
— Você tem alguém responsável? — Nessa hora, eu minto!
— Sim, eu tenho uma tia, a Violeta; posso entrar em contato com ela e pedir que ela seja minha responsável agora. — Ela sorri.
— Ótimo, então vamos para o outro assunto. — Levo o meu olhar ao dela, confusa.
— A academia não vai mais liberar bolsas com 100% de desconto; agora vocês, bolsistas, vão ter que pagar 50% das mensalidades, ordens do conselho. Sinto muito, sei o quanto vocês, bolsistas, lutaram pelas bolsas, mas o dono da Academia Royal está de volta, e ele tem a voz maior aqui, se me entende.
Essa novidade acabou comigo,sem meus pais eu não tenho nem o que comer,as minhas sapatilhas estao se acabando,porque infelismente meus pais não possuam bens,porque eles vederam tudo que tinha para eu poder esta aqui em Lomdres vivendo o meu sonho. Alem de menti sobre ter um responsável, irei ter arrumar um emprego,mais que emprego eu irei arumar que vai me pagar bem? Sou menor de idade, e a unica coisa que sei fazer é dançar.
Saí da sala da senhora Leonor, em lágrimas, porque eu acabei de perder os meus pais, e agora eu posso perder o que mais me deixa feliz, que é o balé... Encosto nessa parede, e as lágrimas escorrem, borrando todo o meu rímel.
— O que eu irei fazer sem vocês, mãe e pai? E agora, sem o balé! — Abraço forte o retrato deles, e o meu choro nesse dormitório só faz eu implorar por socorro, por um milagre.
Christopher Royal
— Seja bem-vindo de volta, senhor Royal.
— Obrigado, Joanito, sempre pontual e o melhor motorista!
— Deixa que eu pego a sua mala, senhor. Londres sentiu sua falta!
— E pode ter certeza de que eu senti falta dela também, Joanito.
Solto um ar antes de entrar no carro; olho tudo em volta da minha linda cidade natal, onde a minha vida vai recomeçar!
Me chamo Christopher Royal, sou dono e o único herdeiro da fortuna Royal. Tenho 27 anos e muita experiência para ser o CEO da renomada Academia de Dança Royal. Criada pela minha mãe, Priscila Royal, a Academia de Dança Royal é a melhor de Londres e a única que oferece bolsas de estudos 100% gratuitas, mas isso será por pouco tempo. Depois que vivi um pesadelo há exatamente 3 anos atrás, eu só quis fugir de Londres e viajar pelo mundo, aproveitando a minha vida e gastando o meu dinheiro com o que há de melhor. Infelizmente, não posso apagar o passado e voltar para Londres pode ter sido uma má ideia, mas quando você tem pesadelos constantes, tudo o que você almeja é que eles se acabem.
Mesmo longe de Londres, eu sempre soube tudo o que se passava por aqui, principalmente quando se trata da fonte do meu dinheiro; não é porque eu tenho muito que vou deixar os outros jogarem no lixo. Estou de volta e pronto para mudanças, doa a quem doer.
— Senhor Christopher, como é bom revê-lo! O conselho aguarda o senhor.
— Senhorita Leonor, vejo que você ainda usa a mesma saia. Não estou te pagando o suficiente para comprar novas? — Solto um botão do meu paletó e tiro meus óculos escuros, olhando tudo em volta da minha grande Academia de Dança.
— Desculpe, senhor Christopher, mas até eu, como diretora, tenho que usar uniformes. Por isso, uso essa saia há 10 anos. Vejo que os lugares que visitou não mudaram o seu humor! — Sorrio, entrando na Academia. As pessoas daqui não mudaram nada!
E vejo que não mudou nada desde quando fui embora; os estúdios ainda continuam os mesmos e até os professores, porque vejo Sara Lincoln ainda dando aula. Ela não voltou para os palcos? Que surpresa!
Continuo andando até chegar à sala da diretoria, onde os acionistas me esperam.
— Direto do aeroporto para os negócios, Christopher! Vejo que não mudou nada!
— Senhor Magal, quanto tempo! E eu não costumo perder tempo! Afinal, essa Academia era o sonho da minha mãe!
Me sento na maior cadeira, a do CEO, e ver novamente esses olhares antigos me mostra o quanto eu estava certo...
— Eu já fui claro e não vou mudar de ideia. Agora os bolsistas terão apenas 50% da sua mensalidade paga; os outros 50% eles se viram e pagam! — Falo firme, não vou mudar de ideia.
— Mas Christopher, temos vários alunos ótimos que são bolsistas. — Diz um dos acionistas, e eu estou com minhas mãos juntas, só ouvindo a discussão deles.
— Christopher, sua mãe sempre apoiou a liberação das bolsas de estudo 100% gratuitas; eu pensei...
— Você pensou errado, Veronica! Infelizmente, minha mãe está morta, e ela deixou tudo isso para mim, seu único filho! E eu estou dizendo que acabou essa história de bolsas 100% gratuitas. Quero que a senhora dona Leonor revise os alunos com pendências, claro, os bolsistas, e faça um limpa o quanto antes. Eu quero ver essa Academia ir longe, não ficar parada fazendo caridade.
Eu voltei para fazer melhorias; acho incrível que a última vez em que essa Academia esteve em um mundial de dança foi quando fui selecionado como o melhor bailarino, e isso foi há cinco anos. Vejo que as coisas por aqui não estão evoluindo. Espero que tenha sido claro! Se me dão licença, preciso ver como anda minha Academia.
Me levanto arrumando meu paletó e olho para trás; vejo que eles ainda discutem. Eu voltei para fazer essa Academia voar porque ela parou no tempo e não anda para nenhum lado.
Quando eu tinha 10 anos, minha mãe fundava essa Academia com a ajuda do meu pai. Eu me apaixonei pelo balé, e ter sua mãe como a melhor bailarina que Londres já teve fazia a diferença. Ela me dizia que eu deveria voar, que a cada salto eu tinha que ser o melhor. Com 12 anos, ganhei o primeiro prêmio como melhor, e depois só aumentou a cada competição. A escola Royal foi crescendo e crescendo até se tornar a maior de Londres. Eu não quero deixar o legado da minha mãe morrer; mas não estou afim de dar esmolas o resto da vida.
Sigo até um estúdio e vejo ela...
— Sara Lincoln! Me diga, você não consegue viver sem mim, por isso resolveu dar aulas na minha Academia?
— Olha só, se não é o Christopher Royal, o grande bailarino que abandonou a esposa há três anos atrás e mandou o divórcio pelos correios. Fico feliz em revê-lo, ex-marido! — Sorrio, segurando na barra, enquanto ela guarda suas coisas.
— Eu precisava sumir e você deveria me agradecer por ter fugido, depois de tudo o que aconteceu. Ou você queria um marido amargo ao seu lado? — Toco no queixo dela, fazendo nossos olhares se encontrarem. Um silêncio flui e eu vejo o quanto Sara Lincoln não deixou o passado de lado, como eu. Aproximo meu rosto do dela, que está imóvel, e na verdade, que saudades desses lábios; estou pronto para matar a saudade deles, até...
— Senhorita Sara, eu não sei se vou poder representar a Academia nem fazer sua coreografia, porque um cara dono da Academia, um riquinho idiota, medido à besta, insolente, dos fundos dos infernos, voltou e está cancelando as bolsas. Eu já odeio esse homem antes mesmo de conhecê-lo. — Grita uma sem-educação, que não cala a boca após atrapalhar minha chance de beijar minha tão incrível ex-esposa.
— Felicity, sinto muito! — Fala a Sara, me deixando no vácuo e indo em direção à mal-educada que chora rios de lágrimas.
— Desculpa, eu não queria atrapalhar, eu só estou nervosa, meus pais morreram, a senhora sabe, e o balé é a única coisa que eu tenho. — Nossa, quanto drama! Está vendo porque odeio bolsistas.
Sara consola ela; vejo que não mudou nada e ainda continua com sua doçura que acolhe todos.
— Não atrapalhou nada, querida; eu vou falar com a senhora Leonor, você é uma das minhas melhores alunas. — Ela olha para mim furiosa, e a chorona, toda borrada, também me encara.
— Sei que o dono, o riquinho besta idiota, não pode aparecer do nada e pensar que pode ter tudo de volta. Ele não vai tirar nem você e nem outros alunos que sonham em estar aqui!
— Em minha defesa, eu só estou exigindo 50% e nada mais. — Passo por elas e, antes de ser baleado só pelo olhar da menina mal-educada, digo, olhando nos olhos das duas.
— Quando trabalhamos, ganhamos dinheiro; manter essa Academia não é fácil! Não vou mudar de ideia, Sara, e eu não voltei para ter o passado de volta, eu voltei para fazer essa Academia crescer. Menina, quer um conselho? Estude e me pague os 50%.
Me retiro e coloco meus óculos escuros porque eu só quero ir para casa agora.
Felicity Smokey
Levanto desse chão frio e guardo o retrato dos meus pais, olhando através dessa janela. Daqui dos dormitórios, é possível ver toda a academia. Lembro-me da primeira vez que cheguei aqui; eu só me imaginava sendo a melhor bailarina. A emoção dessa lembrança traz um misto de alegria e tristeza, pois neste lugar, sonho e realidade se entrelaçam de maneiras inesperadas. Me intristeço só de imaginar tudo que poderia ser, e sigo até a senhorita Sara, pois a competição regional será em breve e ela estava me ensaiando com sua coreografia, a mesma que a consagrou campeã, anos atrás, quando tinha a minha idade.
Corro até o estúdio, onde ela já estava se arrumando para ir embora. Entro no estúdio e, aos prantos, começo a falar sobre o responsável, que está causando toda essa confusão em minha vida. Mas sou uma tola, pois só pelo olhar da senhorita Sara percebo que aquele "riquinho idiota", como eu o chamava, estava quase sendo beijado por ela antes de eu invadir o estúdio, porque os dois estavam muito juntinhos.
O encaro com sangue nos olhos, e mesmo assim, não consigo acreditar que ele é quem eu penso. Não, isso não pode ser verdade! Ele não pode ser o meu bailarino preferido, o bailarino dos meus sonhos: o incrível "Christopher Royal". Passei a vida sonhando com ele e, sempre que imaginava dançando com um parceiro, ele era o primeiro a surgir em minha mente. E agora, ali ele estava, e todos os meus sonhos começaram a desfilar pela mente, principalmente aqueles momentos em que ele dizia que me amava durante o prêmio que ganhamos juntos. Ele é lindo, incrível, o melhor bailarino que já vi. Mas sou despertada das minhas ilusões ao ouvir suas palavras, e o encanto se desfaz ao lembrar que ele é também a razão do meu desespero.
— Felicity, não quero que fique assim. Olha, essas mudanças nem vão acontecer agora. Quero que você foque na competição regional. Querida, sei que o Christopher quer fazer essas mudanças, mas não será a partir de amanhã. Vamos pensar em algo, eu prometo — fala a senhorita Sara, me abraçando e oferecendo conforto.
Depois de me sentir um pouco mais tranquila, volto para os dormitórios, onde Thea se prepara para ir trabalhar.
— Já está indo? — pergunto, observando-a passar lápis nos olhos. Ela sempre se arruma toda linda com belos vestidos. O emprego dela exige muito mesmo, e, para ser honesta, nem sequer sei o que ela realmente faz.
— Falta uma hora ainda, mas eu queria saber como você está? — O tom de sua voz é sempre gentil, mesmo em meio a correria.
— A Senhora Leonor disse que preciso de um responsável, e claro, eu disse que tinha um, mesmo sem ter. Sou menor de idade e não tenho ninguém.
Thea me abraça com força.
— Você tem a mim! Posso ser quem você quiser e posso assinar por você — diz, sorrindo.
— Se fosse só isso... Não sei como vou pagar os outros 50% — digo, desânimada.
— Eu sabia que isso poderia acontecer um dia, por isso sempre guardei dinheiro. Se eu pudesse te ajudar, mas o que eu guardei só dá para pagar dois meses adiantados, e eu ainda vou ter que trabalhar duro para pagar os outros meses. Não posso jogar tudo isso fora — fala Thea, arrumando sua bolsa com firmeza. Enquanto a observo, uma ideia ousada surge na minha mente.
— Thea, nesse seu emprego, eles não estão contratando? — pergunto, esperançosa, sem nem mesmo saber do que se trata esse emprego.
Thea olha para mim, seu semblante demonstrando uma tristeza profunda.
— Felicity, eles sempre contratam, mas esse emprego não é para você — diz ela, a tristeza em sua voz fazendo meu coração apertar ainda mais.
— Você também acha que eu não sei fazer nada? — deixo escapar, a frustração subindo.
— Não é isso, Felicity! Eu só não quero que você passe pelo que eu passei. Eu não tive escolhas.
— E eu tenho? — choro, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. — Meus pais estão mortos e eu não tenho ninguém a não ser você, Thea. Eu preciso do balé, porque sem ele eu não aguento. Tudo que sempre sonhei está aqui nesta academia de dança.
Ela segura minha mão com ternura.
— Eu posso falar com a Madame Morone e ver se consigo uma vaga para você — diz, iluminando meu rosto com um sorriso. Mas então, uma sombra passa pelo olhar dela, e seu tom se torna sério.
— Mas Felicity, você precisa saber com o que eu trabalho. Eu nunca te contei porque não queria que você pensasse que eu não era digna de ser sua amiga. Eu nunca quis que me olhasse com outros olhos...
Fico confusa, sem entender o que ela realmente quer dizer. Já vi Thea com esse olhar uma vez, e foi no segundo dia que nos conhecemos, quando ela passou a noite chorando. Na época, não perguntei o motivo, mas agora, ao vê-la naquela postura, sinto que preciso entender.
— Thea, por favor, me diz o que está acontecendo. Por que você está tão preocupada em me contar sobre isso? — imploro, a sinceridade da minha pergunta pairando no ar pesado entre nós.
Ela suspira, hesitante, e por um momento, sinto que a verdade sobre seu passado e seu trabalho é muito mais complicada do que eu poderia imaginar.
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