Aurora acordou com o som estridente do despertador, que parecia mais insuportável do que nunca. Ela esfregou os olhos, tentando afastar o sono, mas não havia tempo a perder. O último ano do ensino médio começava hoje, e ela não podia deixar de sentir uma mistura de ansiedade e expectativa. Era o ano em que tudo precisava acontecer, o ano em que ela provaria que poderia alcançar todos os seus objetivos. Afinal, seu futuro dependia disso.
Ao se olhar no espelho, Aurora ajustou o cabelo castanho, fazendo um coque desajeitado, e vestiu a primeira roupa que encontrou. Queria estar confortável, mas sem perder o controle. Ela sabia que hoje seria um dia crucial. O que a incomodava, no entanto, era que esse dia começaria com algo que ela menos queria: a convivência com Davi.
Davi, o garoto tranquilo e despreocupado, sempre foi o oposto dela. Se Aurora era focada, disciplinada e perfeccionista, ele era improvisado, cheio de um charme relaxado que ela nunca conseguira entender. Sempre com um sorriso fácil, Davi parecia viver em um mundo onde as coisas aconteciam sem muito esforço. Para Aurora, isso era irritante. Como alguém podia ser tão… sem noção?
Na escola, o primeiro dia foi uma confusão de rostos e cumprimentos. A turma estava cheia de novidades, mas Aurora só queria saber de encontrar um lugar tranquilo. Quando entrou na sala, viu que todos os assentos estavam ocupados, exceto o que ficava ao lado de Davi. O destino, aparentemente, queria que ela o suportasse ainda mais. Ela sentou-se rapidamente, sem dizer uma palavra, e tentou se concentrar na aula, mas não conseguia deixar de notar o modo como ele se acomodava, sem pressa, tirando os fones de ouvido.
O professor entrou com um sorriso acolhedor e anunciou o primeiro grande desafio do ano: um projeto interdisciplinar que seria feito em dupla. Aurora quase não acreditou quando ouviu os nomes sendo chamados.
— Aurora e Davi.
Ela olhou para ele, que a encarava com um sorriso irônico. “Não pode ser sério”, pensou ela. “Por que ele, justo ele?” Aurora sabia que isso seria um desastre. Enquanto o professor falava sobre o projeto, Aurora fez uma lista mental de tudo que poderia dar errado. Eles tinham estilos de trabalho completamente diferentes, e ela não confiava nele.
Quando a aula terminou, Aurora se aproximou de Davi, com a expressão séria.
— Olha, Davi, se você acha que vai sair por aí sem contribuir com nada, já vou te avisando: isso não vai funcionar.
Davi a olhou por um momento, a expressão descontraída como sempre.
— Relaxa, garota. Vai ser tranquilo. Confia em mim.
Aurora não sabia se se irritava mais com a sua atitude ou com o fato de que ele parecia tão seguro de si. Mas, no fundo, algo dentro dela reconheceu que talvez esse ano fosse mais desafiador do que ela imaginava. Não só pelo projeto, mas porque talvez tivesse algo ali, na sua convivência forçada com Davi, que ela não esperava
I
I
I
I
I
O segundo dia de aula chegou, e Aurora não conseguia tirar Davi da cabeça. Ela estava acostumada a ter tudo sob controle, mas com ele, as coisas pareciam ser diferentes. O que mais a incomodava era a sensação de que ele não dava importância para o que ela levava tão a sério. Ao chegar na escola, ela se esforçou para não pensar na dupla que tinham formado, mas a ideia do trabalho a atormentava. O que ela mais temia era que o projeto fosse um fracasso completo, e ela seria responsável por isso.
A aula começou e o professor voltou a falar sobre o projeto. “Temos que planejar bem, dividir as tarefas e definir prazos”, pensou Aurora, com a caneta pronta para anotar tudo. Mas, logo no início, Davi se recostou na cadeira, pegou seu celular e começou a mexer nele distraidamente. Aurora sentiu um calor subir pelo rosto. Como ele podia ser tão despreocupado? Ele parecia estar em um universo paralelo, enquanto ela estava totalmente focada no que precisava fazer.
Ela tentou respirar fundo e se concentrar. Não podia deixar que a atitude de Davi afetasse seu desempenho. Aurora se forçou a prestar atenção na aula, mas a imagem de Davi mexendo em seu celular não saía de sua mente. Ele parecia não se importar nem um pouco. Durante a explicação do professor, Aurora tomou notas detalhadas e fez anotações para o projeto, enquanto Davi parecia mais interessado em fazer piadas com os amigos ao redor. Aquilo era irritante, mas, ao mesmo tempo, intrigante. Como ele podia ser tão despreocupado?
No intervalo, ela decidiu que não poderia mais adiar a conversa. Precisava ser direta, caso contrário, o projeto seria um desastre. Procurou Davi no pátio e, ao encontrá-lo, foi firme:
— Precisamos conversar sobre o trabalho. Eu não posso fazer tudo sozinha. Você precisa participar.
Ele a olhou, sem mostrar sinais de irritação, apenas com aquele sorriso tranquilo de sempre. Aquele sorriso que fazia Aurora se perguntar como ele conseguia ser tão calmo em uma situação tão importante.
— Relaxa, Aurora. Eu vou te ajudar, não se preocupa.
Aurora franziu o cenho. Ele falava como se fosse simples, como se o trabalho não fosse um desafio. Ela sabia que ele dizia isso de boca para fora, sem ter ideia da seriedade que o projeto exigia. A maneira como ele falava era vinda de alguém que nunca se preocupou em dar o máximo de si. Ela o observou por um momento e suspirou, tentando manter a calma.
— Tá, mas me diga: como vai contribuir? Quero ver suas ideias. Não dá para ficar só com a sua “boa vontade”.
Davi olhou para ela e, de repente, pareceu mais sério. Ele fez uma pausa antes de falar, como se estivesse refletindo de verdade sobre o que ela dizia.
— Olha, eu tenho algumas ideias. Talvez não sejam como as suas, mas… a gente pode tentar algo diferente.
Aurora ficou surpresa. A resposta dele não era a que ela esperava. Ela pensou por um momento, ponderando. “Talvez ele não seja tão sem noção assim”, refletiu, embora ainda estivesse desconfiada. No fundo, ela ainda estava cética, mas, ao menos, ela sentiu que ele estava começando a tomar o projeto mais a sério.
— Ok, me conte. O que você tem em mente?
Davi começou a explicar uma ideia simples, mas criativa. Era algo fora da caixa, algo que Aurora nunca teria considerado, mas que, de alguma forma, parecia funcionar. Era arriscada, mas tinha potencial. Uma abordagem mais inovadora, sem as amarras de um planejamento rígido. Aurora ficou em silêncio, tentando absorver a proposta dele. Ela sabia que esse tipo de risco poderia ser a chave para um trabalho diferente, que se destacasse.
— Isso pode funcionar. Mas… precisamos dividir bem as tarefas e ser rápidos. Não podemos deixar para última hora.
Ele deu de ombros.
— Eu me viro, pode confiar.
Aurora não estava totalmente convencida, mas, ao menos, ela tinha um começo. Eles decidiram marcar uma nova reunião para discutir os detalhes. A partir daquele momento, Aurora sabia que não seria fácil, mas quem sabe o projeto poderia ser mais do que apenas uma obrigação. Ela olhou para Davi, que estava sorrindo sem se preocupar com nada. E, por um instante, ela percebeu que talvez tivesse algo nele que ela ainda não havia descoberto.
O dia seguinte chegou rápido, e Aurora já sentia a pressão começar a aumentar. O trabalho era importante, e o fato de estar em dupla com Davi ainda a deixava inquieta. Ela não conseguia entender como ele conseguia ser tão despreocupado, como se o tempo não fosse precioso. Aurora sabia que ela precisava organizar tudo para que o projeto não virasse um pesadelo. Precisava convencer Davi a se comprometer. Ela sabia que ele tinha boas ideias, mas precisava mostrar que o trabalho em equipe exigia mais do que criatividade: exigia comprometimento.
Eles se encontraram no começo da manhã para discutir o projeto. Aurora chegou primeiro, com as anotações em mãos, pronta para começar. Davi apareceu logo depois, com aquele sorriso descontraído, sem pressa, e parecia completamente à vontade. Isso a irritava mais do que ela gostaria de admitir. Mas, por algum motivo, ela também sentia que havia algo diferente no ar. Ele não estava fazendo apenas o mínimo, como ela pensava. Ele realmente queria fazer a coisa acontecer, de uma forma única.
— Então, qual a ideia que você tinha em mente? — perguntou Aurora, tentando manter a calma.
Davi se recostou na cadeira, cruzando os braços. Ele olhou para ela, um pouco mais sério do que de costume, e começou a explicar melhor o plano. Ele queria um trabalho prático, algo que saísse do convencional, algo que mostrasse não apenas o conteúdo acadêmico, mas a aplicação do que estavam aprendendo. Uma ideia simples, mas impactante, que envolvia a participação de outras pessoas fora da sala de aula. Aurora ficou surpresa com a clareza e a objetividade dele. Não era o que ela esperava. Ele parecia ter pensado em algo que tinha um grande potencial.
— Ok, isso é interessante — disse Aurora, observando as anotações. — Mas como vamos organizar isso? Precisamos de mais detalhes, dividir as responsabilidades e ser realistas.
Davi assentiu, sem pressa. Ele parecia estar tomando tudo mais a sério agora. Ele sugeriu que começassem a pesquisar as fontes para embasar a ideia, já que a aplicação prática exigiria dados e pesquisas externas. Aurora concordou, sentindo um alívio ao perceber que ele estava começando a colaborar mais. Era claro que ele não era desinteressado, apenas tinha uma abordagem diferente da dela.
Eles dividiram as tarefas: Aurora ficaria responsável pela parte teórica, que envolvia o levantamento de dados e a pesquisa acadêmica. Davi, por outro lado, ficaria com a parte mais prática — a implementação e as entrevistas externas. Aurora não tinha certeza de como ele faria isso, mas ele parecia seguro. Decidiram então que se reuniriam todos os dias no intervalo para discutir o progresso e ajustar o planejamento.
Durante os dias seguintes, a dinâmica entre eles começou a mudar. Aurora estava mais relaxada ao perceber que Davi estava realmente se empenhando. Ele começou a trazer novas ideias, soluções criativas para os problemas que surgiam, e Aurora, por sua vez, começou a confiar mais nele. Havia algo nela que ainda a impedia de se deixar levar completamente, mas ela não podia negar que, aos poucos, Davi estava mostrando um lado dela que ela não imaginava.
Na segunda-feira seguinte, eles apresentaram os primeiros resultados para o professor. Aurora estava nervosa, mas Davi parecia calmo. Quando o professor deu os primeiros comentários, ela percebeu que o trabalho estava indo muito bem. O que ela não imaginava era que esse projeto, que inicialmente parecia um fardo, estava se tornando uma das melhores experiências do seu último ano. E, talvez, fosse algo mais do que apenas um trabalho escolar. Talvez fosse o começo de algo muito maior entre ela e Davi.
Para mais, baixe o APP de MangaToon!