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Minha Afilhada Irresistível( 2° Versão)

1. Rio Crianças novas /(4 de janeiro)

    Moro em San Diego, Estados Unidos. A vida me ensinou desde cedo que a felicidade pode ser efêmera. Perdi meus pais aos 7 anos, e embora a dor da perda tenha se suavizado, suas memórias continuam vivas em mim. Eles adoravam viajar e me levar a todos os lugares. Eu me lembro da empolgação das partidas, mas também da tristeza das despedidas.

Hoje, vivo no orfanato Lúpus. Nunca quis ser adotada. A conexão que criei com as crianças e com a diretora Mina é mais forte do que qualquer laço sanguíneo. Mina é uma mulher de coração generoso, sempre me tratando como uma filha. Com o tempo, assumi o papel de cuidadora, cuidando dos pequenos como se fossem meus irmãos.

Apesar do salário modesto, consigo juntar um dinheirinho para comprar pequenas coisas que tornam meu dia a dia mais alegre. Um novo livro, um doce, ou até mesmo uma roupinha nova. Esses pequenos luxos são meus refúgios.

Hoje, acordei mais cedo do que o normal. Uma criança nova vai chegar ao orfanato, e as outras estão radiantes de expectativa. Para deixá-las dormir um pouco mais, aproveitei para cochilar em um canto da sala. Agora, ouço as vozes animadas das crianças enquanto se arrumam para a escola.

— Titia, não quero ir pra escola! — Milena diz, com um bico adorável nos lábios, enquanto eu penteio seus cabelos.

— Por que, Mi? — pergunto, refletindo sobre a expressão de cansaço que a pequena exibe.

— Tô cansada.

Sorrio e aperto suas bochechas, provocando um risinho.

— Quer faltar? — sussurro, como se fosse um segredo.

— Xiiim! — Ela pula de alegria, os olhos brilhando.

— Tá bom, vou falar com a diretora. — Milena assente, radiante.

Com cuidado, prendo seu cabelo em um coque bagunçado e saio do quarto. O corredor do orfanato é longo, suas paredes decoradas com quadros de crianças que já passaram por aqui. Cada imagem traz à tona memórias, algumas felizes, outras dolorosas. O ar é acolhedor, mas sinto uma pitada de nostalgia.

Chego à sala da diretora e bato na porta, aguardando a resposta.

— Bom dia, querida! — Mina me recebe com um sorriso caloroso, seu olhar cheio de bondade.

— Bom dia, senhora Mina. A Milena disse que está cansada e não quer ir à escola.

— Tudo bem. Ela não falta muito, então não tem problema. — Assinto, aliviada, mas sabendo que é importante para as crianças manterem a rotina.

— Na verdade, eu preciso que você prepare as crianças. Não é só uma que vai vir, são duas. — Levanto uma sobrancelha, confusa.

Mina me mostra uma foto das gêmeas.

— Gêmeas siamesas.

— Que lindas! — exclamo, admirando as pequenas, com rostinhos curiosos.

— O que aconteceu com elas? — pergunto, preocupada.

— Elas foram abandonadas no hospital ainda recém-nascidas. Estavam em um orfanato muito ruim, e eu não consegui ficar parada. Fiz questão de pegar a guarda delas.

— Que bom que a senhora fez isso. Elas merecem um lar amoroso. Vou explicar às crianças. — Mina assente, seu olhar orgulhoso.

Saio da sala, meu coração aquecido pela esperança que essas novas chegadas podem trazer.

— Crianças, estão prontas? — chamo.

— SIM! — gritam, pulando de excitação. Milena me pisca, cheia de energia.

— Hoje teremos duas novas crianças!

— Livia: DUAS? Que legal, cadê?

— Quando vocês voltarem da escola, elas já estarão aqui. Elas são gêmeas siamesas, e quero que saibam que nasceram assim.

— Tina: Como assim? — pergunta, intrigada.

Sorrio e pego meu celular, mostrando fotos de outras crianças que nasceram com essa condição.

— Apesar de dividirem o mesmo corpo, elas conseguem brincar, correr e pular, assim como vocês. Quero que brinquem muito com elas, está bem?

— Crianças: SIM! — respondem em uníssono, cheias de entusiasmo.

— Certo, agora vamos à escola. — Ando até a porta de saída e a abro.

As crianças formam uma fila animada enquanto as acompanho até a van. Ajeito todas no banco e coloco o cinto de segurança, certificando-me de que estão confortáveis. Fecho a porta e dou a volta, entrando no banco do motorista. Coloco o cinto e ligo o carro, sentindo a energia das crianças atrás de mim.

— QUE MÚSICA VAMOS COLOCAR HOJE? — grito, tentando animar o clima.

— CRIANÇAS: BABY SHARK DURURURURU! — gritam, contagiadas pela empolgação.

Não consigo evitar uma risada, mesmo revirando os olhos por dentro, exausta da mesma canção. Mas, já que elas adoram, coloco a música e seguimos o caminho inteiro, deixando a melodia ecoar pelo ar.

2.

Rio•

Após chegar da escola, vou ao meu quarto. Pego uma toalha e uma troca de roupa, e entro no banheiro, aproveitando alguns minutos de tranquilidade. O som da água caindo parece um alívio para a mente agitada.

Quando me olho no espelho, é como se visse minha mãe ali, refletida em meu rosto. Sou incrivelmente parecida com ela, e isso é bom, mas também doloroso. Sinto falta do calor do seu abraço e da sabedoria em sua voz.

De repente, ouço meu celular tocar no quarto, interrompendo meu devaneio. Visto minha blusa e saio do banheiro, olhando para o celular na cama. É uma ligação da Keneka.

Keneka: Oi, boa tarde, raposinha!

-Boa tarde, neném!

Respondo, sorrindo e sento no banquinho da penteadeira.

Keneka: Tenho uma notícia, mas estou esperando a Kel entrar na ligação.

Rio: Humm, tá. Como foi seu dia?

Keneka: Foi ótimo! Dormi o dia inteiro de ressaca.

Ela ri, e eu nego com a cabeça, rindo junto.

Rio: Tomou remédio?

Keneka: Uur, odeio remédio! Tomei um chá...

Sua voz fica maliciosa.

Fico em silêncio racionando.

Keneka: É isso que você pensou!- Ela ri

- Você levou um estranho aí?

Pergunto, fazendo careta.

Keneka: Lógico que não, né? É estranha. E que estranha maravilhosa...

  eu a interrompo,antes que ela de detalhes do que aconteceu.

Rio: Tá, já entendi.

Falo, ainda rindo enquanto penteio meu cabelo.

Keneka: E a criança nova?

-Acho que a diretora vai pegar elas a qualquer momento.

Termino de me arrumar e levanto.

Keneka: Já almoçou?

- Não, vou agora ver o que tenho pra comer.

Sorrio e vou para a cozinha.

Apoio o celular em um armário enquanto me movo pela cozinha.

Keneka: Vou cozinhar nada, quero delivery!

-Vou fazer lasanha!

Falo, mostrando a caixa da lasanha congelada.

Keneka: Humm, vou pedir lasanha também!

Ela ri, enquanto coloco a comida no microondas.

Passo a tarde conversando com Keneka, tentando distrair a ansiedade que sinto para ver as gêmeas. O tempo parece passar lentamente, enquanto a expectativa cresce.

▪Kel▪

Saio da escola mais cedo, cansada da rotina. Odeio estudar à noite. Pego meu celular e vejo uma solicitação para entrar na chamada de vídeo. Clico em "PARTICIPAR".

- Oi, migs!

Digo, caminhando pela rua da escola.

Keneka: Oi, nega! Demorou pra atender.

Rio: Não era pra estar no recreio?

Rio, lembrando do tempo que passei.

- Decidi sair mais cedo. Vou trabalhar em uma loja aqui perto.

Rio: Ah, tá. Cuidado, depois te ligamos.

Keneka: Tá bom, beijos.

Rio: Beijos!

Digo, desligando e guardando o celular.

Chego à loja, que fica a nove quarteirões da escola. Ao entrar, encontro uma funcionária saindo.

Funcionária: Aí, finalmente! Você está atrasada!

Ela me entrega o avental e sai apressada, sem me deixar responder.

Respiro fundo e entro na loja. Espera, estou sozinha? Pego meu celular e ligo para a mulher que me contratou.

- Oi, é... vai chegar mais algum funcionário pra ficar comigo?

Funcionária: Não consegui achar alguém. Você não se importa de ficar sozinha, né? Tem câmeras de segurança, fica tranquila.

- Tá, vou tentar.

Desligo e visto o avental.

A loja é pequena, com prateleiras cheias de produtos variados, desde lanches rápidos até bebidas. O aroma de café fresco permeia o ambiente, enquanto a luz amarelada cria uma atmosfera aconchegante. Há uma música suave tocando ao fundo, ajudando a aliviar a tensão.

Começo a organizar as coisas deixadas pelos clientes. Assim que termino de limpar, pego uma lista dos produtos que estão perto de vencer:

Refrigerante Jaboti

Bolacha Niki

Leite de soja

Pego uma caixa maior, tiro primeiro os refrigerantes e coloco na mesa lá fora, para quem quiser pegar. Temos esse costume quando faltam quatro semanas para o vencimento.

Coloco as bolachas que irei levar pra casa e deixo o leite de soja na mesa também.

Ouvindo a campainha, vou para trás do balcão. Um grupo de meninos entra, e meu coração acelera.

"Calma, respira, não vai acontecer nada," penso, tentando me tranquilizar.

Logo eles se aproximam do caixa.

Rio: Boa noite! Vai ser só isso?

Pergunto, passando os produtos.

Menino: Sim.

Olho o total.

Rio: Deu 7 dólares.

Coloco os produtos na sacola.

Menino: Vou pagar no cartão.

Assinto e pego a máquina; ele aproxima o cartão.

Entrego as sacolas.

Menino: Boa noite, bom trabalho!

Ele diz, e eu sorrio.

Rio: Obrigada, volte sempre!

Vejo o grupo sair e respiro fundo, aliviada.

"Viu? É só coisa da minha cabeça."

Volto a organizar os produtos nas prateleiras. De repente, um cliente se aproxima, com uma expressão séria.

Cliente: Com licença, você poderia me ajudar? O leite de soja que comprei ontem está vencido.

Fico um pouco nervosa, mas tento manter a calma.

Rio: Desculpe! Vou pegar outro para você.

Entro no armazenamento e volto com a caixa.

Cliente: Vou querer mais dois.

Ela diz, sorrindo, e eu pego mais dois e passo no caixa.

Rio: 2 dólares.

Ela me entrega o dinheiro, e eu devolvo o troco junto com a sacola.

Cliente: Obrigada!

Ela sai e eu continuo arrumando os produtos, checando se mais algum está perto da validade.

°Keneka°

Keneka: Aff, até agora ela não me mandou mensagem.

Digo, olhando as mensagens no WhatsApp.

- Quem?

Pergunta, comendo lasanha.

Keneka: A mulher com quem fiquei ontem.

Bufo e dou de ombros.

Keneka: Ainda bem que tenho várias.

Falo, rindo.

Rio:Você não presta, Kene!

Diz, rindo.

Keneka: Presto sim, tá? Só não achei ninguém que me fizesse mostrar esse meu lado.

Jogo meu cabelo para trás, e ela ri.

Rio: Claro, claro.

Responde, cortando um pedaço da lasanha e apreciando o sabor do molho de tomate com carne moída e queijo.

Rio:Não vai contar a novidade?

- Vou! Eu encontrei uma mulher que está alugando quartos para pessoas que querem fazer intercâmbio na Tailândia!

Digo,animada.

Rio: Isso seria maravilhoso. Mas vamos ver com a Kel depois.

Ela assente, entusiasmada.

Ouço passos de alguém entrando na cozinha.

Diretora Mina: Rio, você quer vir comigo buscar as meninas?

Rio: Vou sim!

Responde, olhando rapidamente para ela.

Rio: Vou desligar, a gente conversa por mensagem.

- Tá bom, cuidado. Eu amo você.

Rio: Eu também amo você!

Ela manda beijos e eu também, desligando.

Envio uma mensagem para Kel.

Neguinha 🐻: Está tudo bem aí? Pega um táxi pra ir embora, não vai a pé, é perigoso. Me liga assim que chegar. A Kene tem novidades!

Envio a mensagem e pego meu netbook ao lado da cama para conferir os e-mails.

3. kel

•Kel•

Mesmo sendo de madrugada, a loja estava bem movimentada. Tentei me distrair ao máximo, na intenção de que as horas passassem rápido.

- Não tem leite normal? - perguntou uma cliente, com um olhar impaciente.

- Não, só de soja e banana mesmo. - respondi, mantendo a simpatia.

- Tá bom. - Ela colocou as compras na esteira e eu passei tudo no caixa.

- Dez dólares. - Ela me entregou a nota, e eu peguei o troco, passando os dedos pelo papel amassado.

- Obrigada. - disse ela, enquanto guardava as compras na bolsa.

- De nada, volte sempre. - Bocejei e saí de trás do balcão. Aproveitei que não havia mais clientes e virei a placa para "Fechado". Era hora de dar uma pausa.

Pego um pacote de bolachas, o aroma doce e amanteigado chamando minha atenção, e um suco de laranja, que passei no caixa e paguei. A embalagem era vibrante, prometendo refresco.

Sentei na mesa de costas para a porta de entrada, um hábito que me fazia sentir mais confortável. Peguei meu celular no bolso e olhei as mensagens de Keneka.

Kene🐿

"Pode deixar, meu amor."

Enviei a resposta e entrei no Instagram, começando a ver reels. Alguns vídeos eram hilários, outros apenas distrações.

De repente, escutei uma batida no vidro. Olhei, mas não vi ninguém. "Deve ser só impressão", pensei, tentando afastar a inquietação.

Bebi um gole do suco de laranja, sentindo o frescor, mas a sensação estranha persistia, como se alguém estivesse me observando. Olhei novamente para a porta. Desta vez, algo me fez levantar.

Caminhei até lá, ajustando a luz da loja, que parecia mais fraca a cada momento. Quando cheguei, vi uma sombra se afastando rapidamente, desaparecendo na escuridão da rua. Meu coração disparou. "Quem seria a essa hora?"

Voltei rapidamente para o balcão, fechando a placa de "Fechado" novamente. A adrenalina pulsava em mim. Minha mente corria: "Devo chamar alguém?" Peguei meu celular e chamei um Uber.

Enquanto esperava, arrumei tudo para sair. Liguei para minha mãe, mas ela não atendeu. Minha segunda opção era Keneka.

- Oi, tá tudo bem? - atendeu Keneka, sua voz soando preocupada.

- Estou me sentindo como se alguém estivesse me vigiando. - Tranquei a porta, sentindo um frio na barriga.

- Chama a polícia! - ela exclamou.

- Eu chamei o Uber. Acho que é só impressão, não sei.

- Tá, então vou te distrair enquanto isso.

- Por favor. - Sentei na cadeira, tentando me acalmar.

Keneka começou a contar sobre a pessoa com quem ficou na noite anterior, mas logo mudou de assunto, falando sobre irmos à Tailândia.

- Não sei se vou conseguir comprar o ingresso.

- A gente te ajuda com o dinheiro.

- Tá bom, combinado então. - Sorrir aliviada e olhei a notificação do Uber, informando que o carro havia chegado.

Olhei para fora da loja pelo vidro e não vi nenhum carro.

- O Uber chegou, vou desligar.

- Tá bom, quando chegar, me avisa.

- Certo. - Levantei.

Peguei minha bolsa e a caixa de bolachas, apagando a luz da loja. Destranquei a porta, abri e fechei em seguida, trancando-a.

Olhei o carro parando em frente à loja e conferi a placa. Me aproximei do veículo.

- Kel? - perguntou o motorista, um homem de aparência tranquila.

- Isso. - Entrei e fechei a porta logo em seguida. Coloquei o cinto de segurança e compartilhei a localização com keneka.

Abro a janela do carro que vira a esquina e lá eu vejo um homen estranho, de capuz branco me encarando. Não da pra ver muito seu rosto por conta da mal iluminação.Sinto meu corpo arrepiar então fecho novamente.

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