A noite estava calma e tudo parecia correr como planejado, ao menos era o que Clara imaginava. Aquela era a noite do casamento de Livia, sua enteada, que criou desde que era pequena. Clara ajustou o vestido de noiva de Lívia com mãos trêmulas, sua pequena irradiava uma beleza e felicidade, enquanto ela disfarçava seus verdadeiros sentimentos, pois se sentia em um verdadeiro funeral e não no casamento que ajudou planejar.
Clara não podia deixar sua dor transparecer e não podia contar a sua enteada, que a poucos minutos do seu casamento começar, presenciou algo que a destruiu por dentro. Antes de ajudar Livia com o vestido, ela estava verificando os últimos detalhes da organização e quando passou por um determinado local, viu algo que jamais imaginou ver.
Eduardo, seu marido, o homem a quem ela dedicou grande parte de sua vida, que ajudou a crescer profissionalmente, além de ajudar a criar sua filha como se fosse sua, estava nos braços de outra mulher. Clara presenciou a cena dos beijos e caricias trocadas por ele e uma mulher mais jovem, que ela identificou como sendo sua assistente e ainda estavam fazendo isso em sua casa, antes do casamento da própria filha.
Diante da cena que viu, Clara pensou em entrar naquela sala e fazer um escândalo, mas pensou em Livia e em como ela ansiava por aquele dia; ela não podia destruir a felicidade da filha. Clara limpou as lagrimas que já haviam rolado sem sua permissão e se afastou, indo ajudar Livia com o vestido.
Clara estava perdida em pensamentos, quando Livia se virou e falou com ela.
— Obrigada, mãe. Mesmo não sendo minha mãe de sangue, quero que saiba que agradeço por tudo que fez por mim ao longo da minha vida, que considero você como minha mãe e não poderia querer outra mulher ao meu lado nesse momento, a não ser a senhora. — Livia a abraçou emocionada e Clara, tentou manter a naturalidade.
— Não me faça chorar, por favor. Sabe bem que chorar vai aumentar os meus pés de galinha. — Forçou um sorriso para a enteada.
— Que pés de galinha? Saiba que tenho orgulho da minha mãe ser uma quarentona bem conservada. A senhora é uma loira linda e deslumbrante, pode fazer inveja em várias novinhas.
As duas sorriram, mas apenas Clara sabia como estava por dentro. Ela já sofria com a insegurança de já ter seus quarenta e dois anos, não era mais a loira de olhos verdes que chamava a atenção por onde passava e com o que descobriu naquela noite, aquele sentimento apenas cresceu dentro dela.
Clara havia se casado nova com seu primeiro marido, com quem conviveu por poucos anos antes dele morrer e a deixar sozinha cuidando do filho que tiveram. Na época, ela precisou ser forte para lidar com a empresa de seu marido, mas conseguiu lidar com tudo, até conhecer Eduardo e decidir abrir o coração para um novo relacionamento.
Alguém bateu à porta e Eduardo entrou para ver se a filha está pronta. O sorriso que ele esboça pareceu tão inocente, como se não tivesse acabado de se pegar com outra mulher, o que fez com que Clara sentisse seu estomago revirar.
Ele falou com a filha e lhe deu o braço para ela segurar. Ver aquele sorriso no rosto de Livia, valia o esforço de fingir uma felicidade que infelizmente não estava sentindo naquele momento. Eduardo desceu com a filha, seguido por Clara e logo a cerimônia teve início.
A garganta de clara se fechou, quando seu marido olhou para ela e lhe deu o braço para fazerem a entrada. O que clara queria naquele momento era gritar com ele, dizer verdades que estavam entaladas em sua garganta, mas manteve a serenidade, enquanto por dentro estava um caos.
O casamento começou, entre os vários fleches das fotos que estavam sendo tiradas, os olhares atentos dos convidados e alguns murmúrios contidos, tudo parecia abafado diante do sentimento insuportável da traição.
— Você está bem? — o sussurro de Eduardo a tirou de seus pensamentos.
Clara olhou para Eduardo e o olhar dele, aquele que sempre a fez se sentir segura, agora não passava de um reflexo vazio, como se ela sempre estivesse em um sonho do qual havia acabado de acordar. Ela desviou o olhar, tentando afastar a vontade de responder à verdade.
— Estou bem, apenas o nervosismo de ver a Livia se casando — respondeu, apenas mascarando a verdade que desejava gritar naquele momento.
Eduardo segurou em sua mão, como se quisesse demonstrar algum apoio, a fim de acalmar sua esposa. Se fosse antes, Clara poderia achar aquele gesto lindo e se iludir pensando que seu marido pensava mesmo nela, mas depois do que viu, apenas tomava aquele gesto como um teatro bem montado.
Ao final da cerimônia, todos foram para o salão de festas na propriedade, Clara cumprimentou o filho que estava acompanhado da esposa e seguiu cumprimentando alguns convidados. Ao atravessar o salão em direção à sua cadeira, Clara avistou Eduardo. Ele estava sorrindo para os outros convidados, cumprimentando velhos amigos, e parecia tão feliz e ela se perguntou se aquele sorriso era apenas por causa da filha.
Clara o observou e seguiu seu olhar que se mantinha fixos no outro lado do salão e entendeu o que tanto chamava a atenção de seu marido. A amante de Eduardo estava ali, em pé conversando com alguns amigos, mas Clara percebeu como os olhos dela se fixavam em Eduardo e, de repente, tudo fez sentido.
O jeito com que ele a estava evitando, os telefonemas que Clara nunca soubera de onde vinham, o modo como ele se ausentava mais e mais. A verdade estava exposta diante de seus olhos, e ela sentiu tudo desabar em questão de segundos.
Ela sentiu o chão se abrir sob seus pés, uma dor pulsante no peito, como se fosse arrancada de dentro para fora. Seu marido, o homem em quem ela havia acreditado, que ela amava, a estava traindo e o pior foi descobrir em um dia tão importante como aquele, no dia do casamento de sua filha.
O ar parecia faltar, e Clara sentiu-se paralisada, sem saber ao certo o que fazer. Havia pessoas ao seu redor, familiares e amigos reunidos, mas tudo o que ela desejava naquele instante era desaparecer. Silenciosamente, ela se afastou, cada passo pesado, como se estivesse pisando em solo que cedia. Por um breve instante, considerou confrontá-lo ali mesmo, expor a traição diante de todos e revelar que seu marido estava com a amante no casamento da própria filha. Mas, ao pensar em Livia, imaginou o impacto devastador que isso teria na filha, que, até aquele momento, ainda vivia o encanto de seu grande dia.
Clara sentiu um peso que parecia dobrá-la por dentro; a dor da traição e a indignação retumbavam em seu peito, esmagando qualquer resquício de paz. Olhou uma última vez para o salão iluminado, observando cada rosto familiar que agora parecia estranho e distante. Nada mais fazia sentido. Ela já não conseguia se ver como parte daquela família, de uma vida construída em cima de aparências.
A respiração tornou-se ofegante, e o tumulto de emoções tornou insuportável permanecer ali. Sem se despedir, sem sequer olhar para trás, Clara saiu do salão, atravessando o caminho de pedras até o jardim. Encontrou um canto afastado, onde as luzes e as vozes se dissipavam ao longe, dando-lhe um pouco de solidão. Ela se apoiou na grade fria, tentando controlar a respiração, mas, aos poucos, as lágrimas começaram a deslizar, rompendo a resistência que ela tanto tentava manter.
Ela sabia que não podia deixar transparecer o que estava sentindo enquanto estivesse naquele salão. Mas ali, sozinha no jardim, no recanto de pouca claridade, podia finalmente permitir que toda a dor transbordasse. Os pensamentos invadiam sua mente, sem trégua. Clara se perguntava, a cada instante, o que havia sido real em seu relacionamento com Eduardo e o que não passara de uma ilusão cuidadosamente construída.
— Por que fez isso comigo, Eduardo? — murmurou, sabendo que o vento da noite de Toronto levaria suas palavras para longe, sem resposta.
Uma parte dela queria gritar, deixar que o som da sua dor reverberasse pela noite, mas sabia que nenhum grito, nenhuma palavra, seria capaz de remendar a mentira que agora via em cada pedaço do casamento desfeito. Enquanto as lágrimas fluíam silenciosamente, um som familiar quebrou o silêncio: o apito do celular. Quando olhou a tela, viu a mensagem de Livia, que perguntava onde ela estava.
Clara engoliu o choro e limpou as lágrimas que haviam encharcado seu rosto. Imaginou que sua maquiagem já estivesse borrada, mas, naquele momento, isso pouco importava. Precisava voltar; aquela era a noite de Livia, e, por mais que sua própria dor estivesse à flor da pele, ela sabia que poderia guardá-la por mais algumas horas.
Quando se virou para sair do jardim, avistou a figura de um homem parado próximo a uma luminária. A luz suave iluminava seu rosto sereno e destacava a câmera que ele segurava nas mãos, embora seu olhar estivesse fixo nela. O desconhecido começou a caminhar em sua direção, e, embora Clara estivesse sozinha ali, sentiu uma estranha tranquilidade; algo nela sabia que ele não era uma ameaça.
— Você está bem? — perguntou ele, a voz suave, seus olhos permanecendo fixos em Clara.
O olhar dele era intenso, profundo, como se compreendesse a carga que Clara carregava. De alguma forma, aquelas poucas palavras, ditas com gentileza, trouxeram um sopro de humanidade em meio ao caos que ela vivia.
— Estou bem, apenas precisei de um pouco de ar — mentiu, tentando mascarar o turbilhão de sentimentos.
Pela câmera que ele segurava, Clara presumiu que o homem fosse apenas um fotógrafo do casamento. No entanto, seu olhar calmo e atento transmitia algo além de profissionalismo, como se ele estivesse verdadeiramente presente para ela, sem julgamento, apenas com uma compaixão silenciosa que Clara não experimentava havia muito tempo.
— Algumas pessoas não merecem nossa dor, nem mesmo uma lágrima — disse ele, esboçando um leve sorriso, um gesto suave que parecia oferecer a Clara uma rara sensação de acolhimento.
Ela observou o sorriso dele, a gentileza nos olhos e o tom terno de sua voz. Pela primeira vez, desde a descoberta da traição, Clara se sentiu levemente aliviada, como se a angústia houvesse sido temporariamente suspensa.
— Obrigada por suas palavras. Acho que você está certo. Vou entrar agora, estão me procurando — respondeu ela, com gratidão sincera.
Clara deu um último olhar ao homem antes de se virar e deixar o jardim.
Assim que voltou ao salão, Clara percebeu que não havia perguntado o nome do homem. Pensou em retornar ao jardim, mas seu olhar se deteve no fim do salão, onde viu seu marido conversando com a amante. A tristeza em seu peito se transformou em raiva, e ela começou a caminhar a passos firmes, decidida a acabar com o descaramento dos dois.
No entanto, antes que pudesse chegar até eles, Livia se aproximou, desviando-a de seu objetivo.
— Vamos tirar as fotos! Estava procurando a senhora. Vamos? — disse Livia, estendendo a mão para Clara, com um sorriso radiante no rosto.
O sorriso de Livia fez o coração de Clara se suavizar, e, mais uma vez, ela reprimiu a raiva. Ela acompanhou a enteada, desviando o olhar do marido, que logo se juntou a elas. A posição de cada um foi organizada, e, quando o fotógrafo se aproximou, Clara percebeu, com surpresa, que era o mesmo homem que encontrara no jardim.
O fotógrafo organizou a posição de cada um e, antes de começar, olhou diretamente para Clara. Apenas então iniciou as fotos. Clara tentava esconder o desconforto enquanto era posicionada bem próxima ao marido, focando-se no bem-estar de Livia para suportar o momento.
Quando aquela parte das fotos terminou, Clara novamente percebeu o olhar do fotógrafo em sua direção. Embora achasse curiosos os olhares constantes, não se sentiu incomodada; pelo contrário, havia algo reconfortante naquela atenção discreta. Notou então seu filho conversando com o fotógrafo, e a familiaridade entre os dois chamou sua atenção. Assim que ele se aproximou, Clara aproveitou a oportunidade para perguntar.
— Maxwell, o fotógrafo é algum amigo seu?
— Sim, nos conhecemos na faculdade. O Miguel já fez alguns trabalhos para nossa empresa, e, como a Livia queria um bom profissional, eu o indiquei.
— Então o nome dele é Miguel? — perguntou Clara, confirmando a informação que antes estava curiosa por saber.
— Sim. Ele é uma pessoa muito boa, tem uma história de vida incrível — respondeu Maxwell, com um sorriso leve.
As palavras do filho ecoaram na mente de Clara, e ela se perguntou se Miguel realmente havia percebido sua dor, se era por isso que a olhara daquele jeito. Não era um olhar de pena, mas de uma empatia que ela raramente experimentara. Perdida nesses pensamentos, Clara foi surpreendida ao sentir o braço de Eduardo envolver sua cintura. Ao se virar, viu que, além do gesto indesejado, ele ainda tivera a audácia de levar a amante para perto deles.
A irritação fervia sob sua pele, e, por mais que tentasse manter o controle, sentia que Eduardo estava passando dos limites.
Clara lançou um olhar intrigado para o marido antes de encarar a amante, que agora estava bem à sua frente. Eduardo, com um gesto casual e nada inocente, fez questão de apresentá-la.
— Clara, acredito que se lembre da Marisa. Ela é minha assistente.
Sabendo de tudo, Clara percebeu o jeito como ele olhava para Marisa e se perguntou como nunca notara esse olhar antes. Controlando-se, decidiu reagir à altura.
— Como vai, Marisa? — perguntou, com um leve sorriso. — Não sabia que os funcionários da empresa estavam na lista de convidados. Não vi mais ninguém por aqui — disse, olhando ao redor como se procurasse outra pessoa.
Marisa não hesitou e respondeu com um tom firme:
— Não sei se outros foram convidados, mas, como o senhor Eduardo me convidou, fiz questão de prestigiar a noiva.
— Apenas a noiva? — Clara rebateu, a provocação contida em cada palavra.
Marisa o lançou um olhar frio antes de se virar para Eduardo.
— Quem mais seria? — respondeu ela, em um tom afrontoso.
A tensão entre as três figuras era nítida, e Clara sentiu que, por mais que tentasse se conter, Eduardo estava desafiando cada limite que ela ainda tentava manter.
— Ninguém. Se me derem licença, preciso cumprimentar algumas pessoas. Fique à vontade, Marisa. Acredito que já se sinta parte da família. — Clara respondeu, sua voz calma, mas carregada de sarcasmo.
Ela não conseguiu mais suportar aquele fingimento. Dentro dela, a vontade de dar um tapa em Marisa e expulsá-la dali pulsava forte, mas sabia que seria rotulada como irracional ou causadora de confusão. Engoliu mais essa afronta, decidida a não dar a eles a satisfação de vê-la perder o controle. Levar Marisa para o casamento e apresentá-la daquela maneira era uma tentativa clara de humilhá-la, mas Clara, por mais que estivesse ferida, não se deixaria esmagar.
Sem olhar para trás, começou a se afastar. No entanto, sentiu o braço ser segurado. Eduardo a puxou, fazendo-a virar de frente para ele.
— O que foi aquilo? Como pôde ser tão rude com a Marisa? — ele perguntou, a expressão séria, mas com um leve tom de reprovação.
Clara conteve a amargura, fitando-o com uma frieza recém-descoberta.
— Rude? — ela murmurou, quase incrédula. — Está se doendo por sua assistente? — Clara rebateu, a voz baixa, mas carregada de ironia. — Não sabia que eram tão próximos. Não disse nada de mais, apenas percebi o quanto ela está à vontade. Então, não fará diferença se ela tiver a minha atenção ou não... já que claramente tem a sua.
— O que está insinuando? — Eduardo apertou o braço de Clara com mais força, o tom de sua voz endurecendo.
Clara manteve o olhar fixo nele, imperturbável.
— Depois conversamos. Ao contrário de você, me importo com os sentimentos da Livia. Não farei nada para estragar esse momento único para ela.
Eduardo franziu a testa, surpreso e confuso, como se não reconhecesse a mulher que tinha diante de si.
— O que deu em você? Há poucas horas você estava sorrindo, agindo de maneira totalmente diferente. O que mudou? Sabe que não gosto de rodeios, então me diga logo o que está acontecendo.
O aperto de Eduardo se intensificou, e Clara sentiu a dor crescente no braço, mas antes que pudesse protestar, uma presença inesperada interveio.
— Licença. Senhora Clara, temos mais algumas fotos para tirar, e sua filha está procurando por você — disse Miguel, com uma calma assertiva, interrompendo o momento.
Clara voltou-se para ele, e um breve alívio atravessou seu rosto. A presença de Miguel era um respiro bem-vindo, uma oportunidade de escapar da pressão sufocante daquele confronto com Eduardo.
Eduardo soltou o braço da esposa, lançando um último olhar para o fotógrafo, que mantinha uma expressão calma. Ele encarou Clara com intensidade, deixando claro que aquilo não terminaria ali.
— Essa conversa ainda não terminou — afirmou, antes de se afastar e voltar para perto de Marisa.
Clara soltou um suspiro, tentando afastar o desconforto, e voltou-se para Miguel, que ainda exibia a mesma expressão serena de quando o encontrara no jardim.
— Vamos fazer as fotos? — Clara sugeriu, em um tom que tentava mascarar o clima tenso.
Miguel hesitou por um instante, um leve sorriso tranquilizador surgindo em seus lábios.
— Eu menti.
Clara o encarou, confusa, e Miguel prontamente explicou, o sorriso discreto permanecendo enquanto sua voz baixa trazia uma estranha sensação de conforto.
— Percebi que as coisas estavam tensas entre você e seu marido, então inventei uma desculpa para tirá-la de lá. Sinto muito pela mentira.
Clara balançou a cabeça, um alívio sincero surgindo em seu rosto.
— Eu é que agradeço a mentira. Se não tivesse me tirado de lá, talvez eu tivesse chamado atenção desnecessária, e quero que esse dia seja perfeito para Livia.
— Acredito que tudo esteja perfeito para Livia. Ela está radiante, a decoração e a festa estão impecáveis... do que ela poderia reclamar? — Miguel disse, com um sorriso tranquilo, mas seu olhar atento recaía mais uma vez sobre Clara. — Pelo que vi até agora, parece que para você a noite não está tão interessante assim.
Clara o encarou por alguns segundos, surpresa pela precisão com que ele percebia suas emoções. Era como se, entre todos ali, ele fosse o único que enxergava o que ela realmente sentia.
— Você parece ser alguém que presta bastante atenção — comentou, intrigada. — Conseguiu ler minhas emoções com bastante precisão.
Um sorriso discreto iluminou o rosto de Miguel.
— Sou um homem observador, faz parte do meu trabalho. — Ele deu uma pausa breve, mantendo o olhar sobre Clara. — E alguns detalhes… chamam mais atenção do que outros.
A resposta deixou Clara momentaneamente sem palavras, e ela se sentiu curiosamente acolhida naquela conversa, como se com Miguel ela pudesse deixar transparecer como estava por dentro, ainda que por um breve instante naquela noite tumultuada.
Após a resposta de Miguel, um breve silêncio se instalou entre eles, interrompido apenas pelo chamado animado de Livia.
— Vou jogar o buquê e quero você presente. — Ela segurou a mão de Clara, sorrindo, antes de se voltar para Miguel. — E quanto a você, Miguel, quero fotos maravilhosas.
Miguel fez uma continência brincalhona, afastando-se para registrar o momento, e deixou mãe e filha sozinhas. Assim que ele se afastou, Livia olhou atentamente para Clara, a expressão cheia de preocupação.
— Está tudo bem? Achei que você e meu pai estavam discutindo mais cedo. Você não parece muito feliz.
Clara suspirou, ocultando sua dor por trás de um sorriso tranquilizador.
— Não foi nada de mais, querida. — A mentira escapou suavemente; ela não queria que a verdade arruinasse o dia especial de Livia. — Hoje é o seu dia, e nada pode estragar isso. Vamos lá! Quero ver quem será a sortuda que vai pegar o buquê.
Com um sorriso para disfarçar, Clara seguiu Livia até o local onde ela jogaria o buquê. As convidadas começaram a se agrupar, rindo e cochichando enquanto se posicionavam, todas com a intenção de pegar o tão desejado buquê. Por um momento, Clara conseguiu se distrair, deixando-se envolver pela descontração da cena... até o instante em que Livia lançou o buquê.
O sorriso de Clara desfez-se instantaneamente ao ver o buquê nas mãos de Marisa, que exibia uma expressão de triunfo. Marisa o lançou um olhar carregado de provocação antes de desviar os olhos na direção de Eduardo. Clara acompanhou o movimento, e a visão do leve sorriso de seu marido confirmou o que ela já sabia. A dor se transformou em um sentimento gelado de certeza sobre a decisão que precisava tomar.
Aquela noite, que deveria ser marcada pelo orgulho e pela alegria por Livia, tornara-se uma mistura amarga de humilhação e desilusão. Eduardo não apenas a traíra; ele ousara trazer a amante e transar com ela no casamento da filha, uma afronta que ultrapassava qualquer limite de respeito e dignidade. A lembrança de saber que ele fora capaz de estar com Marisa, com tanta indiferença, enquanto a mantinha ao seu lado, intensificava o peso da traição.
Clara inspirou fundo, fortalecendo-se internamente. Sabia que não poderia deixar aquela humilhação passar em branco, mas também não permitiria que Eduardo e Marisa vissem o impacto de suas ações. Não, ela encontraria uma maneira de devolver a eles toda a dor, mas faria isso com calma, calculadamente, no momento certo e da sua maneira. Afinal, Clara ainda tinha sua dignidade e isso, Eduardo jamais poderia tirar dela.
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