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Castelli

CAPÍTULO 1#

Trilogia Castelli

Livro 1 - Legado de Uma Noite

Livro 2 - Castelli

Livro 3 - Émile Castelli

Livro 4 - Castelli: O Último Jogo

A fumaça do cigarro ainda pairava no ar do meu escritório, misturando-se ao perfume barato da mulher diante de mim. Seus cabelos estavam desalinhados, os lábios pintados em um vermelho borrado, e suas pernas nuas pendiam sobre a borda da mesa de mogno. Ainda ofegava, mas eu já havia voltado ao que realmente importava: trabalho.

A verdade é que desde que meu primo, Damián Castelli, abandonou seu trono no comando da máfia, a situação se tornou um campo minado. Alguns aliados não aceitaram bem sua renúncia, e menos ainda o fato de eu, Louis Castelli, ter assumido seu lugar. Eles testam minha paciência, minha força. Querem ver até onde estou disposto a ir para manter o poder. E vão descobrir que estou disposto a ir muito além.

A mulher me olhava, talvez esperando alguma palavra doce. Tudo o que recebeu foi meu olhar frio e impaciente. Fechei a pasta com os relatórios da boate e encarei-a.

— Veste-te, femme(mulher). Tu peux y aller maintenant(Você já pode ir agora).

Ela hesitou, como todas as outras, acreditando que havia algo mais ali. Idiot. Acham que podem encontrar um pedaço de afeto onde não existe. Eu não sou como Damián, que abandonou tudo para brincar de papá e marido perfeito. Eu? Jamais.

Ela suspirou, pegou suas roupas e saiu sem mais uma palavra. Melhor assim. Meu foco estava aqui: nos negócios, nas dívidas, no sangue. E se fosse preciso derramá-lo, que assim fosse.

A porta se abriu, e Marc entrou. Alto, com a postura rígida e olhos atentos, ele era minha sombra e o braço direito de Damián antes de ser o meu. Não precisávamos de palavras para entender o que estava por vir.

— Louis, vamos? — perguntou direto, como sempre.

— Oui(sim). — Apaguei o cigarro no cinzeiro de cristal. — Temos uma noite longa, Marc.

A cidade nunca dorme, especialmente quando você é o novo chefe e precisa provar que o nome Castelli ainda significa poder. Saímos pela porta dos fundos da minha boate, Castelli, onde o ar estava úmido e frio. Nova York era um animal selvagem, e eu sabia como domá-la.

Seguimos pelas ruas em meu carro, um sedan preto que se movia como uma sombra pela cidade. Marc dirigia, enquanto eu revisava mentalmente nossas próximas movimentações. Havia dívidas a cobrar, aliados a convencer e traidores a punir. Cada decisão precisava ser calculada. Eu não podia errar.

Foi então que algo chamou minha atenção.

Um carro parado numa rua deserta. Faróis apagados. Nenhum movimento.

— Estranho, não acha? — Marc perguntou, seus olhos atentos no retrovisor.

— Putain de merde( puta merda )... — murmurei. — Para.

Marc encostou sem discutir. Saí do carro, ajustando o paletó. O ar estava pesado, frio. Um silêncio desconfortável pairava naquela rua. Algo estava errado, e meu instinto nunca falha.

Aproximei-me devagar. Os vidros estavam embaçados, mas dava para ver uma figura imóvel no banco do motorista. Uma jovem.

— Merde... ela tá sozinha. — Minha voz saiu seca.

Bati no vidro, nada. Nem um movimento. Olhei para Marc.

— ce n'est pas bien (Isso não tá certo).

— Concordo. — Ele já tinha a mão na cintura, preparado para o pior.

Puxei minha Glock e bati forte com o cabo no vidro, quebrando-o em estilhaços que caíram no asfalto. Foi então que vi o sangue.

Muito sangue.

Ela estava caída sobre o volante, os pulsos cortados, com lâminas ensanguentadas ao lado. O cheiro metálico impregnava o ar, misturado ao doce perfume que ela usava.

— Merde! — Meu coração acelerou, mas meu rosto continuava impassível. Eu já tinha visto muita coisa. Mas uma garota assim, tão jovem, decidindo acabar com a própria vida? Essa porra era diferente.

— Louis? — Marc perguntou, a voz tensa.

— Ela ainda tá respirando. — Eu a puxei para fora, o sangue escorrendo pelos meus braços. Sua pele estava fria, mas havia vida nela. Por pouco tempo, se eu não fizesse algo.

Ajoelhei-me no chão, segurando seus pulsos. O corte era profundo, mas não fatal... ainda. Tirei meu cinto, improvisando um torniquete. Ela precisava reagir. Dei leves tapas no rosto dela.

— Acorda! Putain (porra)! Não vai morrer aqui, entendeu? Não na porra da minha noite!

Seus olhos abriram devagar, azuis como gelo derretido. Ela piscou, confusa, mas estava consciente. Fraca, mas viva.

— Por que fez isso, hm?

Ela não respondeu, só deixou escapar um gemido baixo. Não havia tempo para perguntas.

— Marc, hospital. Maintenant (Agora).

Ele assentiu e correu para o carro. Eu a carreguei, pressionando os pulsos para conter o sangramento. No banco de trás, minha camisa já estava encharcada de sangue.

— Que droga! Que stupide(estúpida)... Você vai viver, tá ouvindo?!

Chegamos ao hospital em minutos. Entrei carregando-a, ignorando os olhares chocados dos atendentes.

— Pulsos cortados. Está perdendo muito sangue. Salvem ela. Agora!

Não esperei resposta. Eles levaram a garota, e eu fiquei ali, parado no corredor, minhas mãos cobertas de sangue, a respiração pesada.

Marc se aproximou, olhando para mim com aquela expressão que dizia tudo sem precisar de palavras.

— E agora?

— Agora, esperamos. — Respondi, o olhar de furia. — Merde(merda).

O tempo parecia se arrastar. Cada segundo era um teste de paciência. Eu odiava hospitais. O cheiro de antisséptico, o silêncio interrompido apenas por passos apressados e vozes abafadas... tudo me irritava profundamente. Eu não devia estar ali. Aquela situação não era minha responsabilidade.

— Louis, quer que eu traga um café? — Marc perguntou, talvez tentando aliviar a tensão.

— No. — Meu tom foi cortante. Eu não precisava de café, precisava sair dali.

Finalmente, um médico se aproximou. Seu jaleco estava amassado, os olhos cansados, mas havia um traço de alívio em sua expressão.

— A garota vai sobreviver. Foi por pouco, mas conseguimos conter o sangramento e estabilizá-la. Disse o médico, aliviado.

Assenti, friamente.

— Ela está consciente?— Perguntei.

— Ainda não, mas deve acordar em breve.

Ele parecia esperar alguma reação, talvez um agradecimento. Mas tudo o que recebeu foi o silêncio.

— Você fez a diferença ao trazê-la rápido, senhor... — Ele começou e eu interrompi.

— Castelli. — Minha voz saiu seca. — Mas isso não importa.

O médico franziu o cenho, claramente confuso. Eu não estava ali para ser herói, nem para receber elogios. Apenas fiz o necessário, nada mais.

— Marc, allons-y(vamos). — Virei-me sem olhar para trás, já decidido.

— Tem certeza? Quer mesmo deixar assim? — Marc perguntou enquanto caminhávamos para fora.

— O que eu deveria fazer, Marc? Ficar ao lado da cama dela, segurar a mão e esperar um merci?

Marc ficou em silêncio, mas eu sabia o que ele pensava. Ele sempre sabia. Mas não havia espaço para sentimentalismos no meu mundo, e ele entendia isso.

Já na calçada, puxei um cigarro e o acendi, tragando profundamente. O frio da noite parecia mais suportável do que o calor sufocante daquele hospital.

— Ela sobreviveu. Isso é o suficiente.

Subi no carro, soltando a fumaça pela janela aberta.

— Vamos para meu apartamento.

E com isso, deixei a noite e aquela garota para trás. Ou pelo menos tentei.

Grupo de Leitores: ⚜️Amantes de Literatura⚜️

CAPÍTULO 2#

Meu nome é Chloe Salazar. Tenho 18 anos e, até um mês atrás, antes do meu aniversário, eu era feliz. Não uma felicidade perfeita ou constante, mas suficiente para acreditar que o mundo ainda podia ser bonito. Que eu ainda podia ser inteira.

 Tudo isso acabou numa noite. Desde então, meu mundo se transformou em cinzas. O que aconteceu naquela noite é uma sombra que me persegue, sufocando cada resquício de quem eu era. Não vou entrar em detalhes. Não consigo. Só sei que algo dentro de mim se quebrou, algo que jamais poderá ser consertado.

E foi ele quem fez isso.

Meu próprio irmão.

Não Gabriel, o único que me estendeu a mão quando eu estava à beira do abismo. Estou falando de Matías, Matias Salazar, meu meio irmão. Ele destruiu mais do que minha confiança. Ele tirou minha vontade de viver.

Ontem à noite, tentei encerrar tudo. Pensei que a dor da lâmina cortando meus pulsos seria a última coisa que eu sentiria. Pensei que o frio do metal contra minha pele seria meu último toque. Eu queria o silêncio. A paz que a morte prometia.

Mas acordei.

O cheiro do hospital me atingiu primeiro, aquele ar estéril e sufocante. Abri os olhos devagar, piscando contra a luz fluorescente acima de mim. Minhas veias queimavam com o soro que escorria lentamente pelo meu braço. E então ouvi vozes.

— Ela está acordando.

A mão da minha mãe estava na minha, quente, trêmula. Valentina Salazar, sempre tão controlada, agora parecia prestes a desmoronar. Seus olhos castanhos estavam vermelhos, mas ela não chorava. Minha mãe nunca chorava. Não na frente de ninguém.

— Chloe, meu amor... você está aqui. Graças a Deus... — Sua voz estava carregada de alívio, mas também havia algo mais. Medo.

Tentei responder, mas minha garganta estava seca, como se eu tivesse engolido areia. Antes que pudesse tentar novamente, a porta se abriu.

Paulo Salazar entrou. Meu pai.

Ele não demonstrava emoção. Nunca. Era como encarar uma parede de granito: frio, inabalável, indestrutível. Ele era o homem que comandava um dos maiores cartéis americano, temido por muitos, mas para mim, ele sempre foi apenas o peso constante de expectativas impossíveis.

— Chloe... — Sua voz era grave, quase uma sentença. — O que aconteceu?

Eu não conseguia responder. Meu corpo tremia sob seu olhar, não de medo dele, mas pelo que eu sabia que viria a seguir.

E então, ele entrou.

Matías.

Meu coração disparou. Ele estava encostado na porta, os braços cruzados, o rosto sereno. Mas seus olhos... aqueles olhos que eu conhecia tão bem, eram como facas. Penetrantes, frios, cruéis.

— Bem-vinda de volta, Chloe. — Sua voz era suave, mas carregada de cinismo.

Meu estômago revirou. O quarto ficou menor, o ar mais denso. Eu queria gritar, mas minha garganta parecia fechada, meus pulsos doíam e eu me sentia completamente sem forças.

Gabriel, meu irmão mais velho, se aproximou e segurou minha outra mão. Sua presença era a única coisa que me mantinha sã naquele momento. Seus olhos azuis, tão diferentes dos de Matías, estavam cheios de preocupação.

— Irmã, você está segura agora. Estou aqui. — Sua voz era calma, mas firme. Ele sabia. Talvez não tudo, mas sabia que algo estava errado.

Olhei para ele, tentando encontrar algum vestígio de força. Eu precisava acreditar nisso. Que estava segura.

— Quem me trouxe aqui? — minha voz saiu rouca, quase inaudível.

Minha mãe trocou um olhar rápido com meu pai, mas ele permaneceu imóvel.

— Não sabemos. — Gabriel respondeu. — Encontraram você numa rua deserta, sangrando. Foi alguém... mas não deixou nome.

Um estranho. Um mistério.

Eu deveria me sentir grata, mas tudo o que conseguia sentir era vazio. Quem quer que fosse, ele salvou uma garota que não queria ser salva.

E agora, eu teria que encarar os monstros outra vez. E o maior deles estava alí, parado na porta, com aquele sorriso que eu odiava.

Família Salazar

Ele não tirava os olhos de mim.

— Descansa, Chloe. Vamos precisar de você forte. — Ele se afastou, mas sua presença ficou. Ele sempre estava lá.

A dor no meu peito aumentou. Eu sabia que essa batalha estava longe de acabar. E, pior, sabia que estava sozinha.

No dia seguinte...

A luz do sol atravessava as cortinas, ferindo meus olhos. Eu estava viva. Um peso estranho no peito me lembrava disso a cada segundo. Não consegui. A vida me puxou de volta, mesmo quando eu implorava silenciosamente pelo fim.

— Você está bem? — A voz suave da minha mãe quebrou o silêncio.

Bem? Eu nem sabia o que isso significava mais. Seus olhos estavam vermelhos, mas sua postura era firme. Ela sempre mantinha as aparências, mesmo quando tudo dentro dela desmoronava.

Ao lado dela, Gabriel me observava em silêncio, a preocupação estampada em cada linha do rosto. Meu irmão, meu porto seguro. O único que me fazia sentir que talvez houvesse algo pelo qual lutar.

— Podemos ir? — Sua voz era suave, mas firme.

Assenti lentamente. Não havia para onde fugir. A casa me esperava, com todas as suas sombras.

Quando nos levantamos, ouvi passos firmes e controlados atrás de nós. Meu corpo gelou. Matías.

Ele entrou no quarto sem dizer nada, como geralmente fazia. Seus olhos escuros passaram por mim de maneira fria, quase impessoal, mas eu sabia a verdade. Sabia o que se escondia por trás daquele silêncio. Não eram só olhos; eram facas, afiadas e prontas para cortar.

Gabriel soltou um suspiro pesado.

— Vamos.

Seguimos para o carro, cada um carregando seu próprio fardo. Minha mãe entrou no banco da frente, e eu e Matías ficamos atrás. O silêncio era opressor, mas eu sabia que seria assim.

— Você precisa descansar quando chegarmos. — Gabriel quebrou o silêncio, sua voz carregada de preocupação.

— Ela vai. — Foi tudo o que minha mãe disse.

Olhei para frente, tentando evitar olhar para Matías. Ele estava calado, mas eu podia sentir sua presença dominando o espaço. Seu controle não precisava de palavras. Era algo muito mais profundo, muito mais sombrio.

Quando a mansão surgiu no horizonte, meu estômago revirou. As grades altas, os muros imponentes... Aquele lugar nunca foi um lar. Era uma jaula dourada.

Gabriel estacionou e saiu do carro, abrindo minha porta com cuidado.

— Vai ficar tudo bem, chiquita(ele sempre me chama assim). Eu prometo.

Assenti, sem responder. Eu queria acreditar nele, mas sabia que promessas não podiam me proteger de tudo.

Grupo de Leitores: ⚜️Amantes de Literatura⚜️

CAPÍTULO 3#

Dois dias haviam se passado desde a noite em que arranquei aquela garota ensanguentada de seu carro. Dois dias em que tentei ignorar a lembrança dos olhos quase apagados dela. Agora, eu estava diante de outro desafio: Paulo Salazar.

Estávamos no salão privado de um restaurante italiano em Manhattan. Um lugar discreto, porém luxuoso, escolhido cuidadosamente por ele. Salazar sempre gostou de ostentar poder, mesmo quando tentava parecer humilde.

Ele era um homem de presença, com um olhar calculista e palavras afiadas. Um velho aliado de Damián que, desde a saída dele, não escondia sua insatisfação comigo. Claro, eu sabia lidar com tipos como ele. Aliados que viravam obstáculos precisavam ser... convencidos.

O garçom nos serviu vinho tinto, e Salazar ergueu a taça, seus olhos fixos em mim.

— Aos novos tempos, Castelli. — Sua voz soava amistosa, mas havia veneno nas palavras.

Ergui minha taça lentamente, mantendo o olhar.

— Aux alliances nécessaires, Salazar(A alianças necessárias, Salazar) — Respondi com um leve sorriso, mas sem calor.

Tomamos um gole em silêncio antes de começar a verdadeira conversa.

— Você sabe que a saída de Damián deixou muitos... descontentes. — Ele começou, cortando o ar com sua faca ao partir o pão. — Homens como eu precisam de garantias.

Cruzei os braços, encostando-me na cadeira.

— Garantias? Mon ami(meu amigo), você está sugerindo que eu não sou capaz de manter esta mesa em ordem?

Ele riu, mas seus olhos permaneceram frios.

— Estou sugerindo que o peso do nome Castelli não é o mesmo nas suas mãos. Damián nos respeitava. Você usa o medo para tentar nos convencer.

Meu maxilar ficou tenso, mas não deixei transparecer. Eu já esperava esse ataque.

— Medo é uma ferramenta, Salazar. Respeito vem com o tempo.

Ele inclinou-se para frente.

— Ou com o sangue.

Houve um momento de silêncio tenso. A ameaça estava ali, pairando entre nós. Salazar não era um homem fácil de lidar, mas eu não estava aqui para agradá-lo.

— E o que você quer, hein? — Inclinei-me para frente, as palavras afiadas. — Se veio apenas para me insultar, estamos perdendo tempo.

Salazar colocou a faca de lado e limpou a boca com o guardanapo. Seus olhos encontraram os meus, sérios.

— Vim para fazer uma proposta. Algo que beneficiará nós dois.

Meu interesse foi despertado, mas mantive a postura fria.

— Estou ouvindo.

Ele respirou fundo antes de falar.

— Casamento.

Franzi o cenho, rindo baixinho.

— Mariage(Casamento)? Você perdeu a cabeça?

— Não estou brincando. — Ele apoiou os cotovelos na mesa. — Minha filha, Olívia, está voltando da Alemanha. Um casamento entre ela e você consolidaria sua posição, traria o apoio das famílias que ainda estão... relutantes.

Olhei para ele, avaliando cada palavra, tentando encontrar a armadilha.

— Você quer me prender a sua família? Amarrar meu nome ao seu?

— Quero garantir estabilidade. — Ele respondeu, impassível. — Para você, para mim, para todos nós.

Bebi mais um gole de vinho, sentindo o sabor amargo na língua.

— E o que sua filha pensa disso?

— Olívia não será um problema.

Ri novamente, mas desta vez sem humor.

— Putain de merde(puta merda). Isso soa mais como uma aliança forçada do que uma proposta.

— Chame como quiser, Castelli. — Ele se inclinou ainda mais. — Mas você sabe que precisa disso. Sem apoio, seu reinado será curto.

Eu odiava admitir, mas ele tinha razão. Consolidar meu poder era necessário, e essa aliança poderia ser útil. Porém, casar por conveniência? Parecia uma prisão disfarçada de coroa.

— Vou pensar. — Disse finalmente, levantando-me. — Mas não me subestime, Salazar. Nem pense que pode me manipular.

Ele sorriu, levantando a taça novamente.

— Não é manipulação. É sobrevivência.

Deixei o restaurante com Marc ao meu lado, o gosto amargo ainda na boca. Casamento? Isso não fazia parte dos meus planos. Mas talvez fosse o preço a pagar pelo controle absoluto.

...---------------...

A noite

A música pulsava nas paredes da boate, um ritmo vibrante que mascarava a podridão que se escondia nos bastidores. As luzes estroboscópicas transformavam o espaço em um teatro de decadência, mas eu não estava ali para me divertir. Minha atenção estava voltada para meu escritório, onde o verdadeiro espetáculo acontecia.

Marc entrou primeiro, mantendo sua postura rígida, seguido de perto por dois dos meus homens, levando um terceiro pelo colarinho. Raul Vargas, um dos muitos que pensaram que poderiam brincar com o nome Castelli. Ele estava acabado, com o rosto suado e as mãos tremendo.

— Senta. — Minha voz saiu firme, com o sotaque francês marcando cada sílaba.

Raul foi jogado na cadeira de frente para minha mesa. Ele tentou manter a compostura, mas o medo era visível em seus olhos.

— Louis, eu... eu posso explicar... — começou, a voz vacilante.

Levantei a mão, interrompendo-o.

— Não quero explicações, imbécile. Quero dinheiro.

A tensão no ar era palpável. Raul limpou o suor da testa com a manga da camisa, respirando fundo.

— Eu preciso de mais tempo. Só isso... mais algumas semanas e...

Antes que pudesse terminar, minha mão se fechou ao redor do copo de vidro na mesa, atirando-o contra a parede. O estilhaçar foi como um tiro, silenciando qualquer tentativa de negociação.

— Tempo? Você acha que eu sou um banqueiro de merda? — Levantei-me lentamente, caminhando até ele. — Quando você pega dinheiro comigo, você paga. Não há espaço para desculpas.

Marc se aproximou, encostando-se na parede, observando tudo com um olhar indiferente. Ele sabia que eu estava prestes a mandar uma mensagem.

— Por favor, Louis... Minha família... — Raul tentou apelar, mas eu não tinha paciência para isso.

Segurei seu queixo com força, forçando-o a me encarar.

— Você pensa que eu me importo com sua família? Com seus filhos? — Apertei mais forte. — Eu não me importo. Só vejo um homem que tentou me enganar.

Soltei-o com um empurrão, fazendo-o cair para trás na cadeira. Ele ofegava, mas não se atreveu a se levantar.

— Marc, você sabe o que fazer.

Marc se aproximou sem hesitar, puxando Raul pelo cabelo e o arrastando até o centro da sala. O som dos gritos abafados por socos ecoou enquanto Marc fazia seu trabalho. Eu permaneci impassível, observando sem desviar o olhar. Isso não era apenas punição; era uma lição para qualquer outro idiota que pensasse em testar minha paciência.

Depois de alguns minutos, Raul estava ensanguentado no chão, gemendo de dor. Eu me ajoelhei ao lado dele, segurando seu rosto.

— Isso foi uma advertência. Você tem 48 horas para me pagar. E se falhar... — inclinei-me, sussurrando no ouvido dele — não vou ser tão misericordioso da próxima vez.

Levantei-me, ajustando meu paletó.

— Limpem essa sujeira.

Saí do escritório, descendo de volta para o salão principal da boate. A música ainda pulsava, e o cheiro de álcool misturado ao suor preenchia o ar. Mas para mim, era apenas mais uma noite de negócios.

Enquanto acendia um cigarro, minha mente vagou para a proposta de Paulo Salazar. Casamento. Que piada. Não sou um homem de alianças, nem de promessas. Mas isso não era sobre sentimentos. Era poder. Salazar não confiava em mim, e eu confiava ainda menos nele, mas uma aliança estratégica poderia consolidar minha posição e afastar qualquer dúvida sobre quem controla essa cidade.

Tirei o telefone do bolso e disquei. Paulo atendeu no terceiro toque.

— Castelli. — Sua voz era firme, mas carregava uma ponta de surpresa.

— Salazar, eu pensei sobre sua proposta. — Traguei o cigarro e soltei a fumaça lentamente. — Casamento. Com Olívia.

Silêncio do outro lado da linha. Então ele respondeu:

— Interessante... Achei que você recusaria.

— Não sou um homem de recusas, Salazar. Eu vejo oportunidades onde outros veem problemas. Vamos fechar isso.

— Bom. Vou preparar um jantar no Domingo à noite. Você pode conhecê-la, discutir detalhes.

— Não preciso conhecer ninguém. — Minha voz era fria. — Basta que seja feito.

Salazar riu baixinho.

— Ah, Castelli... Você é realmente implacável.

— J'ai toujours été(Sempre fui). — Encerrei a ligação sem despedidas.

Eu não estava interessado em quem era Olívia ou no que ela pensava. Para mim, ela era apenas uma peça no tabuleiro. Mais um movimento em direção ao controle absoluto.

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