Capítulo 1 - Choque de Mundos
O clima na sala de reuniões estava carregado de expectativa. Eu sentia todos os olhares voltados para mim, esperando alguma reação que eu ainda não sabia qual deveria ser. O projeto de revitalização do bairro histórico era o tipo de desafio que fazia meu sangue correr mais rápido, e eu estava pronta para assumir as rédeas. Afinal, essa era minha especialidade: detalhes precisos e soluções práticas.
A porta se abriu, e meus pensamentos se interromperam. Ele entrou. Alto, loiro, com ombros largos que mal cabiam na camisa social. Cada passo parecia calculado para impressionar, e, pelo silêncio que tomou conta da sala, funcionava. Para os outros, pelo menos. Para mim, ele não era mais que uma distração inconveniente.
Quando seus olhos claros pousaram nos meus, senti um frio breve na espinha, mas não me permiti desviar o olhar. Era ele quem deveria desviar.
— Você deve ser a arquiteta — ele disse, com um sorriso que parecia mais um desafio do que um cumprimento.
— E você é o engenheiro? — rebati, cruzando os braços. Ele não respondeu de imediato, apenas se sentou como se já tivesse conquistado o espaço.
— Damian. — Ele estendeu a mão para mim, mas eu apenas ergui uma sobrancelha.
— Ana. — Respondi seca, ignorando a mão dele. Não estava ali para simpatias.
Ele riu baixo, como se achasse graça da minha atitude.
— Então, Ana, ouvi dizer que você é conhecida por ser... meticulosa.
— Prefiro "profissional" — corrigi, sem alterar meu tom. — E você? Qual é o seu truque? Ousadia sem limites?
O sorriso dele aumentou. Claro que aumentou. Ele estava gostando disso.
— Bom saber que você já reconhece minha ousadia. Vamos ver como ela complementa sua precisão.
Revirei os olhos. Ele era o típico homem que confundia arrogância com charme, e eu não tinha tempo para isso. Antes que eu pudesse responder, nosso chefe interrompeu.
— Muito bem, Ana, Damian, vocês serão os líderes deste projeto. Preciso que combinem suas habilidades para entregar algo grandioso. Este bairro precisa de um futuro que respeite seu passado.
Troquei um olhar com Damian. Seus olhos brilhavam com uma mistura de desafio e diversão.
— Espero que esteja pronta para acompanhar meu ritmo, Ana.
— Espero que você esteja pronto para lidar com a realidade, Damian.
A tensão entre nós era quase tangível. O que ele não sabia era que, quando se tratava de trabalho, eu não recuava. Mas, enquanto saía da sala, percebi algo inesperado: por trás de toda aquela arrogância, havia uma faísca que me incomodava... e intrigava.
Quando entrei na sala de projetos naquela manhã, ele já estava lá. Damian ocupava a mesa no canto, analisando as plantas que haviam sido entregues no dia anterior. Ele parecia relaxado, inclinado para trás na cadeira, mas seus olhos focados na tela mostravam que ele estava completamente imerso no trabalho.
Respirei fundo antes de me aproximar. Ainda não tinha decidido se a confiança dele era irritante ou fascinante, mas sabia que precisava manter o controle. Não podia deixá-lo pensar que estava no comando.
— Bom dia, Ana — ele disse sem desviar os olhos da tela, como se soubesse que eu estava ali antes mesmo de entrar.
— Já começou sem mim? — perguntei, largando meus materiais sobre a mesa ao lado dele.
— Achei que você preferia precisão a pressa — ele respondeu com um sorriso irônico, finalmente levantando o olhar para me encarar.
Sentei-me e puxei as plantas para mim, ignorando o comentário. Damian não seria um problema se eu o tratasse como qualquer outro colega de trabalho. Eu só precisava focar no projeto.
— Precisei refazer as bases das plantas. A escala estava errada — ele comentou, deslizando uma folha na minha direção.
Peguei o papel e analisei. Ele estava certo, mas admitir isso não fazia parte dos meus planos.
— Pelo menos percebeu a tempo — murmurei, devolvendo a folha sem olhar para ele.
Damian riu, aquele som grave que eu começava a achar tão irritante quanto atraente.
— Relaxa, Ana. Não precisa agir como se eu fosse seu inimigo. Estamos no mesmo time, lembra?
— Difícil esquecer, considerando que você parece se divertir me provocando a cada cinco minutos.
Ele se inclinou ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos na mesa, e seus olhos azuis encontraram os meus.
— Não é provocação. É só... química.
Eu congelei por um segundo. A maneira como ele disse aquilo, tão casual e confiante, fez meu coração acelerar. Mas rapidamente recuperei o controle e levantei uma sobrancelha.
— É mesmo? Então, talvez seja melhor focarmos no que importa: o projeto.
Ele sorriu novamente, mas dessa vez era diferente. Menos desafiador, mais... sincero.
— Concordo. Vamos começar do início, então. Quero ouvir suas ideias.
Aquilo me pegou de surpresa. Eu esperava mais comentários sarcásticos, não um pedido genuíno de colaboração.
Passei os minutos seguintes explicando minha visão: como o projeto poderia respeitar a história do bairro ao mesmo tempo em que trazia modernidade e funcionalidade. Enquanto eu falava, percebi que ele estava realmente prestando atenção, fazendo perguntas e anotando pontos importantes.
Por um momento, me permiti pensar que talvez, apenas talvez, trabalhar com Damian não fosse tão ruim. Até que ele abriu a boca novamente.
— Gosto da sua ideia, mas acho que está um pouco... conservadora demais.
E lá vamos nós.
— Conservadora? — perguntei, apertando os lábios. — Eu prefiro chamar de realista.
— Realista é ótimo, mas às vezes precisamos de um pouco de ousadia para criar algo que realmente marque as pessoas.
Respirei fundo e olhei para ele, tentando manter a calma.
— Certo. Mostre sua ideia, então.
Ele girou a tela do laptop em minha direção, mostrando uma maquete digital que havia criado. Era ousado, sim. Linhas arrojadas, materiais inovadores, uma abordagem quase futurista. Admito, era impressionante.
— É... interessante — respondi, medindo as palavras.
— Interessante? — Ele inclinou a cabeça, como se estivesse me desafiando a ser mais honesta.
— Funcionalidade importa tanto quanto estética, Damian. Não adianta algo ser bonito se não funcionar na prática.
Ele sorriu, dessa vez sem ironia.
— É por isso que somos uma boa equipe, Ana. Eu trago o impacto, você traz o equilíbrio.
Eu deveria ficar irritada, mas, pela primeira vez, senti algo diferente. Talvez ele estivesse certo. Talvez, juntos, pudéssemos criar algo realmente especial.
Capítulo 2 - Tolerância Forçada
Passaram-se duas semanas desde que Damian entrou na Visión+, e a cada dia minha paciência era testada. Ele tinha o talento irritante de estar sempre no limite entre ser útil e insuportável.
Naquela manhã, cheguei mais cedo do que o normal. Queria aproveitar algumas horas de silêncio para revisar as ideias que havíamos apresentado na última reunião. Para minha surpresa, Damian já estava lá, em pé ao lado da mesa, analisando a maquete física que montamos.
— Você não dorme? — perguntei, colocando minha bolsa sobre a cadeira.
Ele se virou com aquele sorriso familiar, como se esperasse minha provocação.
— Só não gosto de perder tempo. Diferente de você, que parece viver para reclamar.
Suspirei, ignorando o comentário.
— O que está fazendo?
— Revisando a estrutura do centro cultural que sugerimos. Acho que podemos melhorar o design da fachada. Está muito... previsível.
Revirei os olhos e me aproximei, cruzando os braços enquanto olhava para a maquete.
— O bairro é histórico, Damian. Não podemos transformar isso em algo futurista e alienado.
Ele deu de ombros, como se minhas palavras não significassem nada.
— Só porque é histórico não significa que precisa ser entediante.
— E só porque você gosta de "ousadia" não significa que pode ignorar a essência do lugar.
— Toque pessoal não é ignorar a essência. É evolução.
Fechei os olhos por um momento, tentando não perder a paciência. Ele era impossível.
— Certo, Damian. Por que não me mostra exatamente o que você tem em mente?
Ele se animou, pegando um lápis e papel para esboçar sua ideia. A cada traço, explicava com entusiasmo sua visão, falando sobre o impacto que o projeto poderia ter nos moradores e nos visitantes. Havia paixão no que ele dizia, e, por mais que eu não quisesse admitir, algumas de suas ideias faziam sentido.
— O que acha? — perguntou, segurando o esboço em minha direção.
— Acho... que você tem boas intenções, mas isso não vai funcionar — respondi, entregando o papel de volta.
Ele soltou um riso curto, balançando a cabeça.
— Você é sempre assim tão difícil, Ana?
— Só quando as pessoas insistem em ser teimosas.
Ele deu um passo mais perto, me forçando a olhar para ele. Eu odiava o quanto ele era imponente, mesmo sem tentar.
— E você insiste em ser sempre tão defensiva.
O jeito como ele me olhava me incomodava, não porque era invasivo, mas porque parecia ver mais do que eu queria mostrar.
— Só porque eu sou direta, não significa que estou errada.
— E só porque eu sou confiante, não significa que estou errado.
Nossos olhares se mantiveram fixos, como se nenhum de nós quisesse ceder. Finalmente, suspirei e me afastei, voltando para minha mesa.
— Vamos focar no que importa. Temos uma reunião com o chefe em uma hora.
Ele sorriu novamente, aquele sorriso irritante que eu já começava a reconhecer.
— Como quiser, Ana.
E lá estava ele, agindo como se tudo fosse um jogo. Talvez fosse, para ele. Mas, para mim, era trabalho, e eu não ia deixar que sua arrogância ou charme confuso atrapalhassem meus planos.
O que eu não sabia era que essa convivência diária iria, pouco a pouco, mexer comigo de formas que eu ainda não estava disposta a admitir.
A reunião com o chefe passou, e como esperado, Damian não poupou esforços para apresentar suas ideias. Eu, por outro lado, fiz o meu melhor para suavizar o impacto do que ele sugeria sem perder o foco no que realmente importava. Não demorou muito para que o ambiente no escritório voltasse ao que era, com Damian e eu em um impasse constante, como duas forças opostas que não conseguiam se afastar, mas tampouco se uniam.
Naquela tarde, ele apareceu na minha mesa novamente, mais uma vez com aquele sorriso desafiador que me fazia questionar até que ponto ele estava se aproveitando da minha paciência. Ele não entendia que eu não estava ali para jogar, mas para trabalhar.
— Então, Ana... — disse ele, parando ao meu lado, com a leveza de quem não se importa. — Quando vamos sair da teoria e colocar isso em prática?
Olhei para ele, tentando não demonstrar o quanto sua presença me afetava.
— O que você quer dizer com isso? — perguntei, sem desviar o olhar de minha tela.
Damian cruzou os braços, se encostando no balcão da minha mesa.
— Quero dizer que passamos tempo demais discutindo ideias. Eu estou pronto para avançar, e você... bem, você parece estar presa em algum lugar do passado.
Soltei um riso curto, quase sem humor.
— Não estamos aqui para fazer experimentos. O que estamos criando precisa ser funcional e respeitar a realidade. Você pode ter visão, Damian, mas também precisa entender os limites.
Ele arqueou uma sobrancelha.
— Limites? Então você acha que estou sendo irrealista?
Fui firme em minha resposta, mais do que gostaria.
— Às vezes, sim. A realidade é bem mais complexa do que desenhar paredes brilhantes e chamativas.
Ele se aproximou ainda mais, o olhar fixo no meu.
— E por que não podemos tentar algo novo? Você tem medo de arriscar, Ana?
Aquilo me fez dar um passo atrás, a tensão entre nós crescendo. Era sempre assim, não era? Ele tentava me provocar, me empurrar para fora da minha zona de conforto, e eu… eu me defendia com a única coisa que sabia fazer bem: ser racional.
— Não se trata de medo, Damian — comecei, tentando controlar o tom da minha voz, mas sentindo a irritação me consumir. — Trata-se de entender que a inovação não pode ser uma imposição.
Ele não respondeu imediatamente, como se estivesse processando minhas palavras. Por um momento, pensei que ele fosse finalmente perceber a seriedade da situação, mas, como sempre, Damian parecia encontrar prazer em ir além dos limites.
— E você acha que eu impus alguma coisa? — perguntou, seu tom mais calmo, mas com um toque de provocação.
— Sim, você impõe sua visão como se fosse a única válida — respondi, sem hesitar. — Eu sou a pessoa que tem que garantir que isso seja executável. E você... você só sonha.
Ele deu um sorriso de canto de boca, aquele sorriso que me fazia questionar por que, apesar de tudo, eu ainda me sentia atraída pela sua maneira confiante de ser.
— Você se convence de que sou só um sonhador, mas está errada. Um sonhador também é capaz de criar, Ana.
Eu quase deixei escapar um suspiro de frustração, mas segurei firme.
— E você acha que isso vai mudar alguma coisa?
Damian deu um passo atrás, olhando-me com mais intensidade agora.
— Eu só queria que você visse o que eu vejo. Que não temos que jogar dentro das regras do passado para sermos bem-sucedidos no futuro. Talvez, um dia, você entenda isso.
As palavras dele ficaram ecoando na minha cabeça enquanto ele se afastava. Algo nele parecia estar sempre um passo à frente de mim, desafiando minha lógica e me forçando a questionar se o que eu acreditava ser certo era, de fato, o melhor caminho. Mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que eu detestava profundamente: sua confiança inabalável.
Eu me vi parando por um momento, olhando para a mesa com uma sensação de impotência. Ele estava certo, em certo sentido. Eu me agarrava às regras antigas, e ele queria quebrá-las. Mas… e se quebrar as regras fosse o que eu realmente precisava fazer? Eu não sabia. Não ainda.
A tensão entre nós nunca pareceu tão palpável como naquele momento. E, mesmo sem querer, senti o peso da dúvida se instalar em meu peito.
Damian tinha, de algum modo, feito mais do que apenas desafiar minhas ideias. Ele estava me forçando a reavaliar tudo o que eu acreditava sobre o trabalho, sobre ele e, talvez, sobre mim mesma.
Capítulo 5 - Segredos do Passado
A semana parecia se arrastar como um interminável teste de paciência. Cada dia ao lado de Damian me deixava mais exausta, e ao mesmo tempo, mais curiosa. A tensão entre nós estava se tornando um jogo de forças, e eu não sabia por quanto tempo conseguiria mantê-la sob controle.
Naquela manhã, quando entrei no escritório, encontrei Damian mais cedo do que o normal. Ele estava novamente analisando os esboços do projeto na mesa, como se as horas de trabalho não tivessem fim para ele. Como sempre, ele estava em seu próprio mundo, distante de qualquer um que não fosse ele mesmo.
Quando ele percebeu minha presença, não fez questão de esconder o sorriso.
— Olá, Ana — disse ele, a voz carregada de uma provocação velada. — Vejo que você não conseguiu me ignorar por muito tempo.
Ignorei seu tom de brincadeira e me aproximei da mesa, tentando manter a compostura.
— Damian, precisamos discutir os novos ajustes no projeto — comecei, tentando focar. Mas, como sempre, ele não estava disposto a seguir a linha de raciocínio que eu queria.
— Eu sei — respondeu ele, com um sorriso. — Mas antes, tenho algo mais importante para te mostrar.
Ele pegou um arquivo e o colocou sobre a mesa, dando um empurrão na minha direção. Eu o olhei com desconfiança, mas não pude evitar a curiosidade. Abri o arquivo e encontrei mais esboços — os mesmos do projeto —, mas agora com um toque ainda mais ousado. Ele havia alterado a estrutura de maneira radical, criando um design que poderia ser considerado, no mínimo, polêmico.
— Isso não vai funcionar — disse, sem hesitar. — Você está deixando a funcionalidade de lado, Damian.
Ele sorriu, mas a expressão dele logo mudou, como se fosse atingido por algo mais profundo.
— Sempre tão cética — ele murmurou, a voz carregada de uma frustração que eu não costumava ouvir. — Você realmente acha que as pessoas vão querer um prédio sem personalidade? Um projeto que não as faça sentir nada?
Não respondi de imediato. Ele sabia como provocar minhas emoções e, por algum motivo, isso me fazia questionar se havia mais por trás daquela fachada arrogante.
— Você está errado — comecei, tentando manter a calma. — Não é sobre fazer as pessoas sentirem algo momentâneo, mas sobre criar algo que resista ao tempo, que se encaixe no contexto.
Damian cruzou os braços e me encarou com um olhar desafiador.
— Você é como uma pedra, Ana. Você não vê o potencial, apenas as limitações.
Eu respirei fundo, tentando não ceder à provocação. Mas antes que eu pudesse falar algo mais, a porta do escritório se abriu, e alguém entrou, chamando a atenção de ambos.
Era um dos seguranças da empresa, com uma expressão séria.
— Damian, você tem uma ligação — disse o homem, com um tom de urgência. Damian olhou para ele, seu sorriso de confiança desaparecendo por um breve momento. Ele se levantou, pegou o celular e foi para a área externa do escritório.
Eu fiquei ali, sozinha com os esboços, sentindo o peso da situação em minhas mãos. Não sabia o que estava acontecendo, mas algo me dizia que o sorriso de Damian escondia muito mais do que ele estava disposto a revelar.
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Naquela noite, após o expediente, decidi ficar um pouco mais para trabalhar. A sala estava quase vazia, exceto por mim e por Damian, que ainda não tinha saído. Ele parecia perdido em seus pensamentos, e a distância entre nós se ampliava cada vez mais.
Foi quando vi algo no canto da mesa dele, um pedaço de papel parcialmente coberto. Curiosa, me aproximei e peguei. Era um documento, e logo percebi que era uma carta. A primeira coisa que me chamou atenção foi o nome: Sr. Victor Montel, um nome que eu reconhecia, mas que não associava imediatamente a nada.
A medida que li, o conteúdo da carta me atingiu como um choque. A carta falava sobre um homem chamado Victor Montel, um criminoso preso, condenado por tirar a vida de sua esposa em um ataque violento. O nome Victor Montel era familiar para mim, mas o que me chocou foi a associação com Damian. O nome Damian Montel estava ali, claramente escrito no documento, como filho do homem condenado. Eu fiquei paralisada por um momento, tentando processar a informação. O pai de Damian era o responsável pela morte de sua própria mãe.
Com o coração acelerado, olhei para a porta, onde Damian estava. Ele ainda não sabia que eu havia encontrado o que estava escondido. Mas, ao mesmo tempo, uma onda de raiva e compaixão invadiu meu peito. Como ele poderia esconder isso? Como ele lidava com isso, sabendo o que seu pai havia feito? E por que ele nunca me contou?
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Damian voltou para a sala poucos minutos depois, e quando me viu com o papel nas mãos, seu semblante mudou imediatamente. Ele andou em direção a mim, e eu senti o peso de sua presença antes mesmo que ele abrisse a boca.
— O que você está fazendo com isso? — ele perguntou, a voz grave.
Fui direta, sem medo.
— Eu sei quem é seu pai, Damian. Eu sei o que ele fez.
Ele parou de repente, os músculos tensos, como se estivesse tentando processar o fato de que eu sabia. Não havia mais espaço para jogos ou provocação.
— Você não deveria saber disso — ele disse, os olhos escurecendo. Eu podia sentir a raiva e a dor na sua voz, mas também o medo. Ele não queria que ninguém soubesse.
— Por que esconder isso? — perguntei, mais por impulso do que por curiosidade. — Isso muda tudo, Damian.
Ele se aproximou, e eu não pude evitar dar um passo para trás. A raiva em seus olhos era visível, mas também havia algo mais ali. Algo que ele nunca havia deixado transparecer antes.
— Não toque nesse assunto, Ana. — A ameaça estava clara na sua voz, mas havia uma vulnerabilidade escondida em seu olhar que me fez questionar o quanto ele estava tentando esconder de si mesmo.
— Você não pode me impedir de saber a verdade. Seu segredo não vai desaparecer só porque você decide ignorá-lo.
Ele olhou para mim com um semblante endurecido.
— Isso é o que você acha? — perguntou ele, os olhos fixos nos meus. — Acredite, Ana, você não tem ideia do que está falando.
Eu não sabia se o que me afastava de Damian agora era a raiva ou a compaixão. Mas o que eu sabia era que a partir daquele momento, a guerra entre nós tomaria uma direção completamente diferente.
E ele sabia disso também.
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