Capítulo 1: O Segredo das Ruínas
O vento cortante soprava através das antigas pedras da Tumba do Primeiro Rei, carregando com ele os sussurros de tempos esquecidos. Kian Sorel se agachou ao lado das ruínas, observando as intricadas inscrições gravadas nas paredes de mármore negro. Ele sabia que ali estavam escondidos segredos muito além do que qualquer saqueador comum seria capaz de entender. As tumbas não eram apenas tumbas — eram portais para um poder esquecido, e Kian estava mais do que pronto para descobrir o que a Tumba do Primeiro Rei ainda guardava.
O que ele não sabia, no entanto, era que essa descoberta o colocaria no centro de uma guerra antiga, entre deuses caídos e os poucos mortais que ainda tentavam controlar o poder das relíquias.
— Eles estão me esperando — murmurou para si mesmo, levantando-se com uma leveza surpreendente para alguém que carregava o peso de seu próprio passado.
Com os passos silenciosos de um predador, ele atravessou o pátio em ruínas, seus olhos escaneando cada detalhe. Os arbustos secos e as sombras das pedras criavam um cenário de silêncio absoluto, mas Kian sabia que aquele silêncio estava prestes a ser quebrado. Havia algo mais ali, algo que seus sentidos aguçados podiam perceber — uma energia, quase palpável, que emanava das profundezas da tumba.
Ele parou diante da grande porta de ferro enferrujado que dava acesso ao interior da construção. A inscrição acima da porta, que antes era ilegível, agora parecia brilhar com uma luz tênue:
"Aquele que despertar os mortos, despertará sua própria condenação."
Kian sorriu. Ele sabia que aquele aviso não passava de uma provocação para aqueles corajosos o suficiente para invadir a tumba. E ele, Kian Sorel, nunca foi alguém de recuar diante de uma ameaça. Ele se aproximou da porta, seus dedos deslizando ao longo dos símbolos esculpidos em seu contorno, até que encontrou o ponto exato onde a pedra parecia mais quente. Ele pressionou.
O som do ferro rangendo ao ser aberto ecoou pela vastidão da tumba, e Kian sentiu o ar pesado, como se o próprio local estivesse respirando com ele. Ao atravessar a porta, foi recebido por um corredor longo e estreito, suas paredes adornadas com representações de guerreiros antigos e deuses imortais. Ele sabia que cada imagem, cada símbolo, tinha uma história — uma história que ele estava prestes a reescrever.
— O que você está procurando, Kian? — uma voz sussurrou, vinda das profundezas da escuridão.
Kian parou por um momento, seus olhos se estreitando. Ele sabia que não estava sozinho. A voz era familiar, mas de algum modo distante. Uma voz que ele já ouvira em seus sonhos, uma voz que parecia se arrastar pelos corredores de sua memória como um sussurro de algo que ele não queria recordar.
— Eu estou procurando poder — respondeu ele, a resposta saindo mais como um rosnado do que uma afirmação. — E mais do que isso... estou procurando o que foi perdido.
Com a mesma agilidade de sempre, Kian seguiu em frente, a lâmina afiada de sua adaga refletindo a luz que mal conseguia atravessar a escuridão daquele corredor interminável. Cada passo que dava parecia aprofundar-se na própria essência da tumba. Ele estava indo em direção a algo — talvez fosse o destino, talvez fosse a destruição.
Ao chegar ao final do corredor, ele encontrou uma grande câmara, iluminada apenas por uma luz estranha que emanava do centro do salão. No meio da sala, repousava uma estátua de pedra que representava um homem, com o semblante de um rei, a mão estendida para frente como se convidasse o visitante a tomar o que era dele. Mas havia algo de peculiar naquela figura. A estátua parecia viva, seus olhos de pedra pareciam segui-lo.
Kian se aproximou da estátua, sentindo uma onda de energia começar a emanar do solo abaixo dele. Era como se a tumba estivesse despertando para a sua presença. Ele sabia o que tinha que fazer, mas uma voz em sua mente o fez hesitar.
— Você está pronto, Kian? — sussurrou a voz novamente. — Está pronto para carregar o fardo do que vai fazer?
Ele fechou os olhos por um instante, lembrando-se de tudo o que o trouxe até ali: a morte de seus pais, o vazio que sua vida se tornara, e a jornada sem fim pelas tumbas em busca de respostas. Ele não tinha escolha. Ele estava além de qualquer retorno. Quando abriu os olhos novamente, seu olhar estava mais firme do que nunca.
— Sempre estive pronto — disse ele, e com um movimento rápido, colocou sua mão na base da estátua. O chão tremeu violentamente, e as paredes começaram a se contorcer.
Com um estrondo, a estátua se moveu, seus olhos agora brilhando com uma luz dourada. A terra abaixo de Kian se abriu, revelando um fosso profundo. Lá embaixo, os esqueletos de antigos guerreiros começaram a emergir da escuridão, seus ossos rangendo enquanto tomavam forma, como se estivessem sendo trazidos de volta à vida.
Kian sentiu o poder fluir através dele, mas não da maneira que imaginara. Ele não estava controlando aqueles mortos, como antes. Eles estavam controlando-o.
— O que está acontecendo? — Kian gritou, tentando manter o controle sobre seu poder. Mas as vozes dentro de sua mente começaram a se multiplicar, todas falando ao mesmo tempo, dizendo-lhe que ele não estava em controle. Ele era, na verdade, um peão em um jogo muito maior.
De repente, uma figura apareceu à sua frente, encapuzada, com os olhos ocultos por sombras. O ser se aproximou com uma calma perturbadora e, ao falar, sua voz era como o som do vento passando por cavernas profundas.
— Kian Sorel, você despertou o que não deveria ser despertado. Você agora pertence a algo além do que pode compreender.
Kian tentou recuar, mas o poder que ele liberara parecia prendê-lo. O ser à sua frente sorriu.
— Você está no coração das tumbas agora. E a única saída... será por meio do que você destruir.
Com essas palavras, o mundo de Kian virou de cabeça para baixo, e ele foi arrastado para um novo jogo, onde as regras eram feitas por aqueles que há muito perderam a humanidade. O rei não era mais uma figura em pedra. Ele estava muito mais vivo do que Kian jamais imaginou.
E agora, Kian não estava mais apenas atrás de relíquias. Ele estava atrás de respostas — respostas que poderiam não apenas mudar sua vida, mas todo o curso da história. E ele sabia, no fundo, que não havia mais como voltar atrás.
Capítulo 2: Ecos do Passado
Kian avançava pelo corredor escuro da tumba, a tocha tremeluzindo em sua mão. As sombras dançavam nas paredes gravadas com símbolos antigos, e ele podia sentir o peso da história pairando no ar. Cada passo ecoava como se ele estivesse despertando algo muito mais antigo e perigoso do que qualquer artefato que já encontrara.
— Está muito quieto aqui... — murmurou para si mesmo, seu tom mais um aviso do que uma observação.
O silêncio não era um bom sinal. Tumbas como aquela eram protegidas por armadilhas ou criaturas guardiãs, e Kian sabia que nada que valesse a pena era deixado desprotegido.
Ele parou em frente a uma porta de pedra esculpida, suas mãos instintivamente buscando as alavancas escondidas nos relevos. As inscrições na porta contavam uma história, mas ele só conseguiu decifrar fragmentos: "Somente o verdadeiro herdeiro..." e "Aquele que carrega a marca...".
— Sempre tem que ter uma marca, não é? — zombou, tocando o medalhão em seu pescoço. Ele não sabia o que era mais irritante: o fato de que as tumbas pareciam reconhecê-lo, ou que ele nunca entendera o motivo.
Com um estalo seco, a porta começou a se abrir. Um vento frio escapou da câmara, trazendo consigo o cheiro de terra e algo mais metálico — sangue seco.
Kian puxou uma adaga da cintura e entrou devagar, mantendo a tocha erguida. O interior da sala era vasto, com colunas que se erguiam até um teto perdido na escuridão. No centro, havia um pedestal, e sobre ele repousava uma relíquia brilhante: uma coroa de prata com pedras vermelhas cintilando como fogo.
— Bem, olá, minha preciosa... — sussurrou Kian, seus olhos fixos na coroa.
Ele deu um passo em direção ao pedestal, mas parou abruptamente quando sentiu o chão tremer. Das sombras, uma figura enorme emergiu. Era um guerreiro esquelético, com uma armadura corroída pelo tempo, mas ainda imponente. Em uma mão, segurava uma espada cuja lâmina parecia pulsar com uma luz espectral.
— Claro que tem que ter um guardião... — Kian revirou os olhos, ajustando a empunhadura de sua adaga. — Vamos fazer isso rápido, ok?
O guardião não respondeu. Em vez disso, avançou com uma velocidade surpreendente, a espada descendo em um arco que quase arrancou a tocha das mãos de Kian. Ele rolou para o lado, sua adaga raspando contra a armadura do inimigo, mas sem causar dano.
— Isso vai ser complicado.
O combate se intensificou. Kian saltava entre as colunas, usando o terreno para evitar os golpes do guardião. Ele sabia que sua força física não seria suficiente; precisaria de algo mais... instintivo.
— Está na hora de brincar com fogo — murmurou, fechando os olhos por um momento enquanto segurava o medalhão.
Quando os abriu, suas pupilas brilhavam em um tom dourado. Uma energia sombria percorreu seu corpo, e ele ergueu a mão livre. Das sombras, figuras translúcidas começaram a se formar. Espíritos. Almas que Kian podia controlar.
— Vamos ver como você lida com isso.
Os espíritos atacaram o guardião, retardando seus movimentos enquanto Kian se aproximava do pedestal. Ele sabia que não tinha muito tempo; controlar tantas almas ao mesmo tempo drenava sua energia rapidamente.
Com um salto ágil, ele agarrou a coroa, sentindo uma onda de poder percorrer seu corpo. O guardião soltou um grito inumano e se desfez em poeira, como se sua existência estivesse ligada à relíquia.
— Sempre o drama — murmurou Kian, ofegante.
Ele colocou a coroa em sua bolsa e se virou para sair, mas algo o fez parar. Uma voz ecoou pela câmara, baixa e sussurrante, mas clara:
— Você é o herdeiro... ou o usurpador?
Kian olhou ao redor, mas não viu ninguém. O tom da voz era familiar, como se viesse de dentro de sua própria mente.
— Quem está aí? — perguntou, a mão indo instintivamente para sua adaga.
A voz não respondeu, mas ele sentiu um calafrio. Algo estava diferente; ele não estava sozinho na tumba, e isso era pior do que qualquer guardião ou armadilha que enfrentara antes.
Com passos rápidos, ele saiu da câmara, a sensação de ser observado o acompanhando até o exterior. Quando finalmente emergiu na luz do dia, soltou um suspiro de alívio, mas sabia que aquilo era apenas o começo.
Ele olhou para a coroa em sua bolsa, seus dedos traçando as pedras vermelhas.
— O que você é, exatamente? — sussurrou para o artefato, mas, claro, não recebeu resposta.
De volta ao acampamento, Kian tentou descansar, mas os sonhos o atormentaram. Ele viu imagens de um trono vazio, de uma guerra devastadora, e de si mesmo usando a coroa. Mas o mais perturbador foi o som da voz novamente:
— Escolha sabiamente, ou será consumido.
Quando acordou, o sol já estava alto, e ele sabia que não podia ignorar aquelas palavras. A coroa não era apenas uma relíquia; era algo muito mais perigoso. Algo que o conectava diretamente ao destino que ele passara a vida tentando evitar.
E agora, ele tinha que descobrir se era o herdeiro legítimo... ou apenas mais um tolo destinado a cair diante do verdadeiro poder das tumbas
Capítulo 3: As Sombras da Primeira Tumba
A luz da tocha oscilava nas paredes da tumba, revelando gravuras esculpidas com precisão inquietante. Kian caminhava lentamente, atento a cada detalhe. Era sua primeira incursão em uma tumba da era dos Primeiros Reis, e sabia que qualquer passo em falso poderia ser seu último.
— Isso não está certo... — murmurou ele, enquanto passava os dedos sobre uma inscrição.
A seu lado, Lian, uma jovem cartógrafa que ele contratara na última cidade, observava nervosa.
— O que não está certo? — perguntou ela, com a voz trêmula.
Kian parou, olhando para ela com um sorriso enviesado.
— Tudo. Estas tumbas sempre têm armadilhas. Mas até agora, tudo parece... calmo demais.
Lian engoliu em seco, segurando firme o mapa que desenhara durante as últimas semanas.
— Talvez ninguém tenha conseguido chegar aqui antes.
— Ninguém, exceto eles. — Kian apontou para o chão, onde marcas de arranhões indicavam que algo pesado fora arrastado por ali. O padrão era inconfundível. Garras.
— Ah, ótimo... monstros. — Lian deu um passo para trás. — Eu sabia que isso era loucura.
Kian riu.
— Você aceitou o contrato. Então, bem-vinda à loucura.
Eles avançaram mais profundamente na tumba, o ar ficando cada vez mais pesado. A cada curva, novas inscrições surgiam nas paredes, mas nenhuma parecia familiar para Lian.
— Essas runas... — ela começou, inclinando-se para observar mais de perto. — Não consigo traduzir.
Kian parou ao lado dela, seus olhos se estreitando enquanto examinava os símbolos.
— Nem precisa. — Ele apontou para um padrão específico. — Isso é um aviso. E sabe o que significa um aviso, Lian?
Ela sacudiu a cabeça, confusa.
— Significa que estamos exatamente onde deveríamos estar.
Ele avançou com determinação, mas algo nos olhos de Lian demonstrava que ela não compartilhava sua confiança.
O Portão do Guardião
Quando chegaram à câmara principal, a visão os deixou sem palavras. No centro do salão, uma estátua colossal dominava o ambiente. Era um homem com o rosto coberto por um elmo de guerra, empunhando uma espada tão grande quanto o próprio Kian. À sua frente, uma porta de metal negro bloqueava a passagem, ornamentada com runas que pareciam brilhar fracamente.
— É aqui que está o Coração? — perguntou Lian, sua voz baixa.
Kian assentiu, mas sua atenção estava fixa na estátua. Ele sabia que aquilo não era apenas uma peça decorativa.
— O Guardião... — sussurrou ele, mais para si mesmo do que para Lian.
— O quê? —
— Cada tumba desta magnitude tem um Guardião. E se eu estivesse apostando, diria que é ele. — Ele apontou para a estátua, que parecia prestes a ganhar vida a qualquer momento.
Lian deu um passo atrás, seu rosto ficando pálido.
— Você está dizendo que essa coisa vai nos atacar?
— Não “se”. — Kian sorriu, ajustando as lâminas nas costas. — É “quando”.
Ele deu alguns passos cuidadosos em direção à porta, mantendo os olhos fixos na estátua. Nada aconteceu.
— Talvez esteja desativado. — Lian sugeriu, com uma ponta de esperança.
Mas assim que Kian tocou a porta, o som de pedra rangendo preencheu a sala. A estátua começou a se mover.
— Por que você sempre tem que estar certo?! — gritou Lian, recuando enquanto Kian sacava suas lâminas.
O Guardião desceu do pedestal com um impacto que fez o chão tremer. Seus olhos, antes apagados, agora brilhavam com um vermelho intenso, como brasas.
— Fique atrás de mim! — ordenou Kian, colocando-se entre Lian e a criatura.
O Guardião atacou com sua espada, um golpe que teria partido Kian ao meio se ele não tivesse saltado para o lado. Ele rolou no chão e se levantou em um movimento fluido, seus olhos avaliando a criatura em busca de pontos fracos.
— Alguma ideia brilhante? — gritou Lian, tentando não entrar em pânico.
— Ainda pensando! — respondeu Kian, desviando de outro golpe.
Ele sabia que força bruta não era uma opção. Precisava encontrar um modo de desativar a criatura antes que ela os esmagasse. Foi então que ele notou algo. As runas na porta estavam conectadas à estátua por pequenos sulcos que brilhavam com a mesma luz fraca.
— Lian! As runas na porta! Veja se consegue fazer algo com elas!
— O quê?! Eu não sei como lidar com magia antiga!
— Então aprenda rápido!
Enquanto Kian mantinha o Guardião ocupado, Lian correu até a porta, examinando as runas com mãos trêmulas. Ela puxou um pedaço de carvão e começou a traçar os padrões em seu mapa, tentando decifrar o significado.
Kian, por sua vez, estava ficando sem fôlego. Cada golpe da criatura era mais feroz que o anterior, e ele sabia que não poderia continuar assim por muito tempo.
— Lian, eu preciso que você seja rápida!
— Estou tentando! — Ela rabiscou furiosamente. — Essas runas falam sobre equilíbrio...
— E o que isso significa?!
— Significa que talvez você não deva lutar contra ele diretamente!
Kian estreitou os olhos, desviando de mais um ataque. Se não deveria lutar contra o Guardião, o que deveria fazer? Foi então que ele percebeu. O equilíbrio. As runas. A sala.
Ele olhou ao redor, notando que o salão não era apenas um campo de batalha; era um quebra-cabeça.
— Lian, há algo mais sobre as runas? Algo sobre a sala?
Ela parou por um momento, estudando o mapa.
— Os sulcos... Eles formam um padrão circular! Acho que você precisa ativar algo no chão!
Kian olhou para o piso e viu símbolos semelhantes aos da porta espalhados pelo chão. Com um salto rápido, ele se posicionou sobre um dos símbolos. Nada aconteceu.
— Preciso ativar mais de um! Me diga onde estão os outros!
Lian apontou freneticamente, e Kian começou a se mover, esquivando-se do Guardião enquanto pisava em cada símbolo que Lian indicava.
Quando o último símbolo foi ativado, um som profundo reverberou pela sala. O Guardião parou abruptamente, sua espada caindo com um estrondo.
— Funcionou? — perguntou Lian, ainda segurando o mapa como se sua vida dependesse disso.
Antes que Kian pudesse responder, a porta negra começou a se abrir lentamente, revelando um corredor iluminado por uma luz dourada.
Ele sorriu para Lian.
— Parece que você acabou de salvar nossas vidas.
Ela suspirou, exausta, mas aliviada.
— Espero que você pague bem por isso.
Kian riu, mas seu sorriso desapareceu ao olhar para o corredor. Sabia que o verdadeiro desafio ainda estava por vir.
Este capítulo mistura ação intensa, diálogos rápidos e o desenvolvimento do enredo ao introduzir um dos primeiros grandes desafios de Kian e sua aliada.
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