# seis anos antes
_ Mãe, não fica assim, ficarei fora só seis meses.
_ Você vai para São Paulo e não quer que eu me preocupe.
_ Estarei na casa da Tia Inês, ela vive lá há muitos anos.
_. Sim, neste ponto, estou tranquila, mas você é muito ingênua, tenho medo de você ser enganada por algum homem sem vergonha.
_ Mãe, já sou adulta e sei me cuidar.
_ Estes homens da cidade grande não querem compromisso, tenta se lembrar disso.
_ Te prometo que focarei meu curso de fotografia e nem olharei nos homens.
Sou fotógrafa, tenho um pequeno estúdio e apareceu a oportunidade de fazer um curso de aperfeiçoamento que vai me ajudar a fazer das minhas fotos obras de arte, só tem um problema nunca sai da minha cidade e o curso é na grande São Paulo, minha mãe é separada há muitos anos então somos só nós duas, e ela não está lidando bem com a distância, mas é só seis meses, passa logo, ela ficará bem, e estarei na casa de uma tia, o que pode dar errado?
_Filha, não vai, suas fotos já são ótimas, você não precisa de fazer curso nenhum.
_ Mãe, já paguei o curso, agora vou de qualquer jeito. A senhora podia me apoiar um pouco, confiar em mim.
_ Ok, me desculpa, sei que você vai se cuidar, mas tenho medo de você se machucar.
_ Não acontecerá nada, voltarei linda e mais experiente nas fotografias.
_ Espero que seja só nas fotografias que você volte experiente.
_ Nossa, mãe, até parece que estou indo viver em um bordel, e não na casa da Tia Inês.
No dia seguinte, pego minha mala e vou para São Paulo. A viagem de ônibus parece interminável, mas finalmente chego na rodoviária.
Minha tia está lá me esperando. Deci do ônibus, dei um abraço em minha tia. Me sinto em casa e acolhida, ela é irmã do meu pai, minha madrinha.
_ Tia Inês, quanto tempo!
_ Querida, que mulherão você se tornou, não parece em nada com seu pai ou com sua mãe, acho que puxou para mim.
_ Obrigada, tia, por aceitar me receber estes meses.
_ Não foi nada, sou sua madrinha e vou te apoiar.
Vamos para a casa dela e descansei o resto do dia. O curso começará na quarta-feira, mas preciso ir à faculdade, pegar a lista de materiais e assinar a matrícula.
Ela me leva e me ensina quais ônibus e metrô pegar para ir e voltar para casa. Já percebi que não será moleza, tenho que pegar dois ônibus e um metrô, mas dou conta.
Chegamos à faculdade, ela me deixou entrar sozinha e disse que tenho que aprender, me virar, estou me sentindo no primeiro ano de escola, só tem uma diferença: lá eu tinha minha mãe para resolver as coisas, aqui não. Cheguei na secretaria e tem uma pessoa na minha frente, espero e sem querer ouço o assunto dele.
_ O curso começa amanhã e você ainda não sabe quantos alunos eu terei?
Ainda não sei, seu Henrique, faltam cinco pessoas para confirmar, mas até o final do dia te informo.
Meu celular toca e virei o corpo para pegar de dentro da bolsa, não sei como, mas ele se virou também e nós trombamos. Eu desequilibrei e fui caindo, fechei os olhos e esperei a pancada no chão, mas uma força me puxa de volta. Quando abri os olhos, estou nos braços dele. E que braços.
Ele fala comigo, mas estou ainda tentando entender o que aconteceu.
_ Você está bem? Se machucou?
_ Estou bem, não se preocupe.
_ Você não me parece bem, quer que eu chame um médico?
_ Não precisa, e por favor me solta.
_ Não sei, e se eu soltar e você cair de novo, quase estraguei minha coluna te segurando.
_ Pode ficar tranquilo, não cairei de novo, já que quem me derrubou agora está me vendo, não é?
_ A culpa não foi minha, você estava muito perto e eu não consegui evitar.
Fiquei em pé, arrumei minha roupa e fui ao balcão falar com a recepcionista que está nos olhando com cara de riso.
Ele foi embora e eu assinei minha matrícula, e saí dali pensando: tomara que ele seja professor em outra turma. Que homem bonito!
Encontrei minha tia lá fora.
Quando saí, minha tia estava agitada, você demorou, te liguei, não me atendeu, achei que ia ter que entrar, te procurar. Que talvez você estivesse perdida aí dentro.
_ Trombei em um homem, quase caí, mas ele me segurou, aí demorou um pouco até eu voltar aos eixos.
_ E ele era bonito? Gostoso? Saradão? Aluno ou professor?
_ Nossa, tia, quanta pergunta?
_ Ué, você continua corada, deve ter um motivo.
Não é nada disso, tia, é que nunca na vida estive tão perto de um homem.
_ Menina, você vai me dizer que, com 25 anos, você nunca namorou?
_ Não, nunca me fez falta.
_ Terei trabalho com você, aqui é uma selva e se eles descobrirem isso, você será uma presa que eles vão querer conquistar.
_ Ninguém vai saber.
_ Tomara que você consiga esconder, porque bonita desse jeito é virgem, será o prato do dia para quem conseguir te conquistar.
# # Que mulher
Estou na sala dos professores esperando ela entrar a qualquer momento. Que mulher linda, não pode ser aluna, eu não me envolvo com alunas, aqueles olhos negros, ainda sinto as curvas dela nas minhas mãos.
E o perfume, se eu fechar os olhos, sinto o cheiro dela, alguma coisa floral.
_ Henrique, você está bem?
Matheus, meu melhor amigo e também professor, me encara.
_ Acho que vi uma sereia, e continuo sobre o efeito do encanto.
_ Ela deve ser bonita, nunca vi você falar assim de mulher nenhuma.
_ Acho que foi devido ao jeito que nos encontramos, que me impressionou.
_ Que jeito foi esse?
_ Trombei nela e quase fomos ao chão.
_ E quem é ela?
_ Não sei, ela estava na secretaria, achei que era professora, mas até agora não entrou aqui.
_ Se for aluna, o que você fará?
_ Nada, você sabe que não me envolvo com alunas.
_ O curso promete,” ele sorri”
_ Para de gozação
_ Quero ver você se contorcer entre sua ética e esta mulher.
_ Se ela for aluna, nunca arriscarei minha profissão e minha reputação por ninguém.
# primeiro dia de curso
Cheguei na faculdade faltando 10 minutos para começar a primeira aula, interajo com o pessoal da sala e eles me apelidaram de Índia, porque estou com meus cabelos soltos e eles associam meu cabelo negro e comprido com o das Índias.
_ Você tem tudo de Índia, os olhos negros, os cabelos, só falta falar Tupy.
_ Ryck te garanto que não sou Índia.
_ Na primeira oportunidade quero te fotografar, você permite?
_ Sou fotógrafa e não modelo. E minha mãe vive me dizendo que, dependendo de quem faz a foto, nossa alma é roubada.
O sinal toca marcando o início da aula, ficamos onde estamos esperando o professor chegar. Na hora que ele entra, quase perco o chão, é o homem que quase me derrubou.
Ele entra todo sorridente, parece que me esqueceu, também um homem deste deve ter mulheres o dia todo atrás dele.
Ele se apresenta como Henrique Constantino, professor de fotografia em preto e branco.
_Quero conhecer cada um de vocês, podem começar.
A sala começa um por um, os alunos vão se levantando e falando o nome.
Chega minha vez:
_Ester Mendonça, tenho 25 anos e adoro minha profissão.
A sala acaba de se apresentar, ele pede uma foto que cada um valoriza para ele avaliar o estilo e o sinal toca avisando que a aula acabou.
Passo na mesa para deixar a foto de uma noiva que tirei recentemente.
Vou saindo ele me chama:
_ Ester, posso falar com você?
_ Claro, professor.
Ele espera todo mundo sair, vai lá e fecha a porta.
_ Ester, espero que o que aconteceu outro dia não atrapalhe o andamento da aula.
_ O que aconteceu outro dia?
_ O esbarrão e o quase tombo
_ HA… Isso eu nem me lembrava mais!
Éster está nervosa, não sei por que a chamei para conversar, mas ela, falando que não se lembra do que aconteceu, me tira do sério e este cabelo solto dá vontade de enfiar os dedos nele para ver se é tão macio quanto parece. E os meninos da sala chamando-a de Índia, estou ficando fora de controle,” lembra Henrique, ela é uma aluna”.
Mas continuo insistindo.
_ Então não há motivo para preocupação Ester?
_Claro que não, professor, posso ir agora? Meus amigos estão me esperando.
_ Pode ir, Índia.
Não resisto e chamo-a pelo apelido.
_ Esse apelido é só para os amigos, por favor, não me chame assim.
Fico magoado, mas é isso aí, ela está te dando a oportunidade de se afastar. Aceite que doe menos.
_Ok, me desculpe, não acontecerá de novo.
Começa o segundo turno e darei aula para a outra turma e meu amigo assume a sala. Eu não consigo me concentrar na aula, começo a pensar no meu amigo que é um conquistador dando em cima dela. Não vejo a hora da aula acabar para saber se meu amigo conseguiu se aproximar.
Dá o sinal do final do dia e eu, como sempre, vou para a sala dos professores rever minhas aulas antes de ir embora. Meu amigo entra todo animado.
_ Precisamos conversar.
_ Pode falar, o que aconteceu?
_ Conheci sua sereia, ela está mais para Índia, mas tudo bem.
Fico tenso e não gosto do jeito que ele está falando dela.
_ E daí?
_ Você tem certeza de que não vai se envolver com ela?
_ Você sabe que não vou, ela é minha aluna.
_ Então vou, ela é maravilhosa, linda, inteligente, é tudo de bom. E você sabe que adoro uma mulher baixinha. Elas são quentes na cama, e aquela ali deve ser um vulcão.
Grito por dentro, não ela é minha, mas por fora:
_ Fica à vontade, eu não tenho nada com isso, não sei nem, porque você está falando comigo deste assunto
_ Por ver o tanto que ela te afetou, e não quero briga com você, ainda mais devido a uma mulher.
Depois deste dia, vi meu amigo tentando de todas as formas se aproximar, e vi também ela recusando todas as tentativas dele e de qualquer outro.
Estava tudo indo bem, eu conseguindo me manter distante o suficiente para não me envolver com ela.
Mas todo curso que dou, quando chegamos ao meio do curso, levo os alunos para conhecerem meu estúdio e este dia chegou.
Sei que os meninos da sala estão armando alguma coisa, mas ainda não sei o que é.
Preciso ficar alerta para não cair em tentação.
#o ensaio fotográfico.
Um pouco antes do ônibus que leva a turma sair, o Ryck, “um dos alunos” que ela considera amigo, vem falar comigo.
_ Professor, tenho um favor para te pedir.
_ Fala, Ryck!
_ Sei que todo ano o senhor escolhe uma das alunas para posar para o senhor e nós, homens da turma, pedimos encarecidamente que o senhor escolha a Índia.
_Você sabe que a Ester não gostará?
_. Mas queremos ver ela posar para o senhor.
_ Vou pensar, é só o que posso prometer.
Fiquei propenso a fazer o que os alunos pediram, mas será que consigo fazer sem me envolver?
“Ester”
Chegamos ao estúdio dele, é tudo de ponta, estou curiosíssima para ver ele trabalhando.
Henrique entra, nos cumprimenta e começa a aula, nos mostrando os equipamentos e como funciona. Não consigo tirar os olhos dele, ele é vigoroso e tem uma energia que me atrai. Estou tão distraída olhando para ele que não escuto as últimas frases até que olho e estão todos olhando para mim, parece que esperando uma resposta.
Meu amigo grita:
_ Professor, diz de novo que a Índia estava no mundo da lua.
“Henrique fala de novo”
_ Então, o que você diz?
_ Desculpa, estava distraída e não escutei.
_ Eu todo ano, escolho uma aluna da turma para posar para mim, e esta vez escolhi você.
Começo a tremer e fico sem fala, balanço a cabeça, me negando. Meu amigo Ryck me dá um cutucão.
_ Ester, você não fará a desfeita de recusar, fará?
_ Você sabe que não gosto de ser fotografada.
_ Porque o fotógrafo roubará sua alma?
Olho para ele e vejo que não terá jeito, balanço a cabeça aceitando, mas por dentro estou gritando nãooo.
Henrique fala:
_ Vamos lá, então, vem comigo.
Acompanho meio em transe. Tento falar para Henrique.
_ Não sei fazer isso.
_ Fica calma, vou te ajudar.
_ Não conseguirei, sou fotógrafa, não modelo. E se você roubar minha alma?
Ele se aproxima de mim, ergue meu queixo, me olha no olho:
_ Você conseguirá, esquece quem está em volta, foca só em mim e na minha voz. E te prometo que não sei roubar almas.
_ Não sei se isso funcionará ou será pior.
E dou uma risada nervosa.
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