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O Diretor Insaciável

Cap.01 - A entrevista

O corredor no décimo andar estava movimentado naquela manhã. Pessoas bem arrumadas se preparavam para o processo seletivo. O departamento de Recursos Humanos havia aberto vagas para diversos cargos. Era possível sentir a tensão no ar. De acordo com que Alice passava por cada candidato, dispensava com um olhar frio e um simples movimento de mão, aqueles que não aprovava. Ela sabia só de olhar para eles, quem estava apto para trabalhar na segunda maior empresa multinacional do país e não pretendia contratar quem sequer tinha autoconfiança.

Não era ela a realizar entrevistas para cargos comuns, seu trabalho era coordenar o processo seletivo enquanto sua equipe fazia o resto. Porém, havia recebido uma ordem muito específica. Entrevistaria pessoalmente os candidatos para o cargo de Diretor Financeiro. Mais do que isso, o que conquistasse a vaga teria a oportunidade de se tornar Líder do Departamento Financeiro. Se este não conseguisse mostrar seu potencial a tempo, Alice deveria escolher alguém da equipe para ocupar o cargo de liderança.

No nono andar estava o Departamento Jurídico da empresa. Os advogados tinham escritórios separados e cada um cuidava de uma área específica. Entre eles, estava a única advogada contratada por Alice. No dia em que a contratação foi feita, Bianca foi pega de surpresa, pois havia sido chamada na sala da chefe do RH, enquanto os demais candidatos esperavam pela próxima fase do processo seletivo tradicional. Porém, Bianca tinha um curriculum que chamara a atenção de Alice e a maneira como se portava lhe confirmava a impressão que tivera dela. Bianca se superou na entrevista e voltou para casa no mesmo dia com o contrato assinado. Alice costumava ser muito certeira em suas escolhas e Bianca era de confiança.

A advogada estava andando pelo corredor em direção a seu escritório quando ouviu passos apressados do que parecia ser um grupo de mulheres com saltos altos caminhando pelo andar de cima. Ela resmungou baixo pelo dia barulhento e perguntava-se quando tiveram a brilhante ideia de fazer entrevistas no andar no RH. Era possível ouvir as conversas vindas das escadas, especialmente quando os retardatários passavam por seu andar em direção ao décimo, sem tempo para esperar o elevador. Sentia o nervosismo se espalhando por todo o prédio e isso a desconcentrava. Já fazia três anos desde a sua contratação e estava aliviada por ter se destacado na empresa e sido promovida em dois anos. Agora também trabalhava como advogada particular do C.E.O, sendo a única mulher entre os três dele. Esta era uma grande honra, afinal, fora escolhida pelo próprio, pessoalmente.

Naquela mesma manhã, Alexandre havia se levantado bem cedo e se exercitado na academia de seu prédio, tomando um banho logo em seguida e feito um café da manhã reforçado, comendo enquanto se atualizava com as notícias do mercado financeiro. Checou suas ações e demais investimentos, pediu à Alexa que tocasse uma playlist com músicas clássicas enquanto vestia-se para sua entrevista. Ele não estava preocupado ou ansioso. Tinha convicção de que a vaga seria sua. Conferiu no espelho da sala se estava tão perfeito quanto sentia-se e sorriu, satisfeito. Saiu de seu apartamento com tempo suficiente para chegar com antecedência.

Quando Alice o chamou, ele estava contemplando as ruas da cidade através da parede vidro, virando-se para ela com um olhar confiante e expressão séria. Ela ficou parada na porta de seu escritório o observando aproximar-se elegantemente, com uma das mãos no bolso da calça e sem desviar seu olhar do dela. Alice tentou o seu melhor para não transparecer o quão atraída ficou instantaneamente por ele. Alexandre parou diante dela estendendo a mão em direção ao escritório dela, mostrando seu cavalheirismo ao fazê-la entrar primeiro. Ele a seguiu de prontidão, fechando a porta atrás de si.

Ele notou que ela não poupava seu charme ao andar e gesticular. A voz dela era um tanto quanto suave, quase não sorria e usava seu olhar afiado a fim de intimidar. Alexandre precisou se controlar para não rir disso, pois notara que era um tipo de teste, pelo qual ele passaria sem grandes esforços. Mantinha seu olhar nos olhos dela, jamais descendo até seu decote ou pelas curvas de seu corpo. O cheiro dela era bom, mas não o bastante para entorpecê-lo. Ele admirava aquele ar superior de líder genuína que ela tinha, mas a expressão facial dele continuava neutra. Alice lhe fazia perguntas bem articuladas e ele respondia satisfatoriamente. Ela fingia mexer distraidamente na nuca, às vezes mordia discretamente os lábios ou colocava a canela entre os dentes enquanto esperava o candidato concluir suas respostas. Só então Alexandre entendeu o motivo de alguns homens que pareciam estar tão bem-preparados para a entrevista, terem saído com suor na testa. Ela mexia com eles. No entanto, ele sabia exatamente como lidar com tal situação. Era mestre nesses joguinhos e geralmente saía vencedor.

Alice estava impressionada, pois pela primeira vez não havia sido correspondida em seus flertes e não se decepcionara com olhares indevidos de um candidato. Ele não só se vestia bem, como tinha um perfume marcante e nada enjoativo, além de ter um curriculum excepcional com indicações de figurões de grandes indústrias. Seu jeito de se portar e a tranquilidade que tinha em responder a tudo, lhe deixava ainda mais impressionada. Achava que ele emanava autoconfiança e carisma.  Já tinha se decidido a contratá-lo desde que o viu caminhando até seu escritório, mas não se arrependia por cada minuto que o fizera permanecer ali. Por algum motivo, ele a fazia arrepiar. Talvez fosse a voz grave e levemente rouca ou mesmo seu olhar.

Alexandre saiu da empresa com seu contrato assinado. Não parecia surpreso ou emocionado. Estava feliz com sua nova conquista e, como de costume, resolveu que merecia presentear a si mesmo por isso. Entrou em seu carro e dirigiu até o shopping, onde escolhera o relógio mais caro da joalheria. Ele precisava impressionar o C.E.O da empresa com seu bom gosto, pois o curriculum já mostrava suas capacidades como diretor financeiro. Agora o alvo era conquistar a confiança dele a ponto de ser incluído em seu círculo de amizades. Sabia que isso lhe colocaria em um nível mais alto e lhe garantiria um lugar entre a alta sociedade.

Durante o horário de almoço, a área de alimentação da empresa estava repleta de burburinhos. Todos comentavam sobre os novos contratados, mas ainda não havia sido revelado quem seria o novo diretor financeiro. Não entendiam o motivo de tanto suspense, pois mesmo a equipe do RH estava desinformada a respeito. Isso criava a mais alta expectativa nos demais funcionários, pois Alice só fazia mistério quando se orgulhava muito de sua nova contratação. Geralmente ela surpreendia.

Bianca estava sentada sozinha em uma mesa no canto do grande salão. Ela tinha o costume de ser discreta e não havia feito amizades no trabalho, uma vez que em seu andar só havia homens, sendo ela a única mulher de seu departamento. Olhava suas redes sociais enquanto almoçava, quando ouviu um grupo de secretárias na mesa a seu lado conversando. Não olhou na direção delas, sequer reconhecia suas vozes, mas prestou atenção.

— Você viu os candidatos para diretor financeiro que vieram hoje?

— Sim, acho que a dona Alice deve ter sido rígida, alguns saíram pálidos de lá.

— O que eu notei foi o nível de beleza subindo. Um mais lindo que o outro!

— Sim! É verdade! Vocês viram aquele com terno caro que não sorria nunca?

— Qual? O que preferiu ficar olhando para a rua ao invés de corresponder aos flertes?

— Não sei o que há de errado com ele. Todas somos bonitas e ele não deu a mínima.

— Pois é. Que graça tem o dia de entrevistas se não pudermos flertar um pouco?

— Sem falar da possibilidade de um deles se apaixonar por uma de nós. Já pensou?

— Acho que você anda assistindo muitos filmes românticos, amiga. Isso não acontece na vida real.

— Nunca se sabe... Talvez um dia possamos nos surpreender. Não custa tentar.

Bianca se levantou afastando a cadeira ruidosamente, surpreendendo-as. Ela resmungou enquanto passava por elas “Por que não conquistam sucesso com seus próprios esforços? Bando de interesseiras”. Voltou para seu escritório, irritada. Ela sabia que toda mulher tem potencial de crescimento e que nenhuma precisava disso.

Cap.02 - O estagiário

O dia seguinte também foi turbulento na empresa. Havia novos estagiários desajeitados aprendendo suas funções e no departamento financeiro todos se perguntavam quem seria o novo chefe. Alice recebeu Alexandre em sua sala e o conduziu pessoalmente pela empresa, o apresentando aos demais departamentos. Deixou que o financeiro fosse o último propositalmente, mantendo o suspense até o fim. Alexandre mantinha sua postura, esboçava um sorriso gentil e discreto, fazia questão de apertar as mãos dos demais chefes de departamentos, garantindo que podiam contar com ele no que precisassem. Foi recebido com a mesma gentileza.

Em seu próprio departamento, observou com olhar atento cada funcionário. Fez um breve discurso após ser apresentado por Alice, deixando claro que poderia ser rígido quando necessário, mas não deviam temer procurá-lo se precisassem. Ele passou confiança e segurança em poucas palavras. Os demais sorriam satisfeitos e o aplaudiram, dando-lhe boas-vindas. Alice o levou até seu escritório particular, que ficava próximo dali, ao fim do corredor. Ele caminhou elegantemente ao lado dela, já que acabara de tomar posse oficialmente de seu cargo, não via motivos para continuar apenas a seguindo. Ela ficou surpresa, mas admirou tal atitude, sorrindo. Alexandre se adiantou para abrir a porta e apontar com a mão para que ela entrasse primeiro. Alice encheu o peito, empinou o nariz e com um sorriso satisfeito, entrou.

— Bem-vindo, senhor Alexandre. Espero que goste de seu escritório. – Disse ela.

— Obrigado, senhorita Alice. Mas temos mesmo que ser tão formais?

— Acha que não deveríamos? – Perguntou ela enquanto cruzava as pernas.

— Agora somos colegas de trabalho. Acredito que possamos falar mais livremente.

— Não vejo motivos para negar este pedido. – Ela olhava para ele fixamente.

— Foi mais uma sugestão, eu diria. – Respondeu ele, enquanto andava pelo local.

— Você sempre tem uma resposta na ponta da língua? – Questionou Alice, curiosa.

— Nem sempre, às vezes elas vagueiam pela minha mente e não chegam à língua.

— Como sempre, boa resposta... Alexandre. – Provocou ela, sorrindo divertida.

Alexandre olhou para ela, sorrindo de canto. Caminhou até atrás de sua nova mesa de madeira envernizada e sentou-se, ajeitando o terno azul marinho. Quando correspondeu ao olhar fixo de Alice em silêncio e o sustentou, ela pareceu corar.

Alice desviou o olhar e pigarreou discretamente. De repente sentiu sua garganta seca e sabia que não havia água ainda no escritório. Tentou não demonstrar quão sem jeito ficou. A autoestima dele parecia estar em dia e pela primeira vez, Alice se viu tímida por um breve momento. Ela levantou-se, dizendo que precisava voltar ao trabalho. Ele também se levantou e a acompanhou até a porta, mas antes que ela desse o primeiro passo para fora dali, Alexandre sorriu de canto, posicionando-se diante dela, a fazendo encará-lo com expressão confusa.

— Alice, como sabe, sou novo aqui. Não tenho amizades ainda e temo me sentir deslocado. O que acha que almoçarmos juntos?

— Claro, por que não? Eu geralmente me sento com os demais chefes de departamentos no refeitório da empresa. Apesar de que, às vezes não temos tempo e comemos em nosso próprio escritório.

— Interessante. É bom saber os costumes dos funcionários desde já.

— Nem mesmo o C.E.O se interessa tanto por isso. Acredito que se acostumará.

— Digamos que eu sou do tipo que se importa. – Garantiu ele, olhando-a nos olhos.

Alice esqueceu de respirar por alguns segundos e quase teve que balançar a cabeça para sair do “transe” e se recompor. Ele saiu de sua frente, afastando-se para o lado e garantiu que a encontraria na entrada do elevador de seu andar, para que fossem juntos ao refeitório. O escritório de Alexandre era no décimo quarto andar e ele se daria ao trabalho de parar no meio do caminho para a acompanhar? Ela culpava-se por estar o admirando tanto logo no primeiro dia e mais ainda por não se tratar de motivos relacionados à empresa. Havia muito tempo que não era atraída dessa maneira por um homem. Talvez porque fosse a primeira vez que conhecia alguém tão atencioso e cavalheiro. Era bom saber que ele não era mais um interesseiro, pois como ele havia lhe dito, agora eram colegas de trabalho, ele seria chefe de um departamento assim como ela e não precisava dela para o manter.

Alexandre havia sido informado que precisaria contratar uma secretária o quanto antes, mas até não contratar poderia escolher uma das estagiárias para o ajudar no que fosse preciso. Ele passeou novamente por seu escritório duas ou três vezes e gravou mentalmente os detalhes que gostaria de modificar, também imaginou o que desejava acrescentar para que se sentisse confortável naquele lugar. Abriu as persianas, deixando as janelas livres para que visse o movimento das ruas. Parou diante de uma delas, a abriu e respirou o ar fresco que inundou o ambiente. De volta à sua mesa, analisou os documentos deixados para o antigo diretor. Notou que pela forma que tudo estava (bagunçado e inacabado), seu antecessor fora demitido.

Ele percebeu que tinha muito trabalho a fazer para organizar tudo e de fato, era necessário escolher alguém da equipe para o auxiliar. Não se demorou, gostava de ser objetivo e ágil. Saiu de seu escritório e foi até onde estavam os demais. Todos pareciam ocupados com papeladas e as estagiárias andavam de um lado a outro, colaborando como podiam, atendendo a pedidos para cópias de documentos e até mesmo para buscar cafés. Viu que havia um único estagiário que parecia perdido entre as jovens que já sabiam suas funções. O rapaz estava levando uma bronca por ter entregado um capuccino para quem havia pedido café descafeinado e ele não estava revidando, pedia perdão de cabeça baixa. Alexandre notara seus punhos cerrados ao lado de seu corpo, como se fosse o único jeito de enfrentar quieto.

Alexandre foi até o funcionário que falava com voz alterada, reclamando. Ele não precisou dizer nada, apenas o observou com olhar questionador e foi o suficiente para que o homem se calasse e pedisse perdão pelo escândalo. O funcionário sabia que não adiantava argumentar, pois ele também estava errado por exagerar. Ficou constrangido por ver que o Diretor Financeiro tinha fixado os olhos em seu crachá. Agora sabia quem ele era e talvez o mal-entendido fosse motivo de demissão. Mas o diretor apenas virou-se para o estagiário e após ver o nome no crachá, disse “Hey, levante a cabeça. Agora você será meu secretário, Gabriel. Leve seus pertences para meu escritório e ocupe sua nova mesa. Após o almoço teremos muito trabalho.” Não esperou o rapaz responder, mas viu de relance o olhar assustado que o fez ter que conter um riso, apressando-se em voltar para o escritório. Tinha certeza de que fizera a escolha certa. Se Gabriel não fosse ágil o suficiente, ele o ensinaria a ser.

O novo Diretor Financeiro estava no topo dos temas de fofocas daquele dia. O que houve no departamento dele já havia se espalhado entre outros funcionários e as secretárias se juntavam causando grande burburinho pelos corredores. Ele sabia o que diziam e não se importava, pois tinha segurança em suas atitudes. Assim como muitos o elogiavam, outros o criticavam dizendo que era muito arrogante até mesmo em seu andar. No entanto, ele tinha consciência da inveja que provocava em alguns homens, que por falta de autoconfiança ou de ousadia, não alcançavam seus objetivos e transpareciam suas inseguranças na forma de se vestir, andar e até mesmo ao falar. Este não era um de seus problemas e gabava-se disso abertamente. Apesar dos invejosos acharem que ele flertava com todas as mulheres em seu caminho e que por isso elas falavam tão bem dele, Alexandre provou o contrário.

Ao meio-dia, viu Gabriel levando uma caixa com seus pertences até seu escritório e deixou com ele sua chave, fazendo com que o rapaz repetisse aquela expressão engraçada de susto. Fez questão de pedir que após almoçar, o rapaz providenciasse uma cópia da chave para si e devolvesse a dele. Deixou claro que aquela era a sala de ambos e por isso deveria cuidar bem dela e da segurança de tudo ali dentro. Foi emocionante ver os olhos marejados de Gabriel, por receber tal responsabilidade.

Cap.03 - O almoço

Alice foi ao banheiro feminino antes do horário de almoço, não queria ser vista por ele saindo de lá. Retocou a maquiagem, colocou perfume nos pulsos e atrás das orelhas, penteou o cabelo e analisou-se diante do espelho novamente. Respirou fundo e disse para si mesma para manter a calma e a compostura. Afinal, ele não era nada além de um novo funcionário da empresa. Precisava convencer-se disso. Foi até o próprio escritório, deixando sua necessaire e pegando uma pequena bolsa. Trancou a porta assim que saiu, guardando a chave e caminhando até o elevador.

Lá estava ele, parado despreocupadamente, com as mãos nos bolsos da calça, olhando o movimento das ruas através da parede de vidro. Ela não apressou seus passos, queria poder admirá-lo por mais tempo. Mas quando estava a poucos passos de Alexandre, ele virou a cabeça em sua direção, parecia a despir com os olhos. Ele permanecia imóvel, permitindo-se observar o movimento do corpo de Alice a cada passo. As curvas dela perfeitamente delineadas pelo vestido, o decote provocante, o batom vermelho e os cabelos loiros caindo sobre os ombros. De fato, era uma mulher incrivelmente atraente. Aquela postura autoritária e confiante lhe chamava a atenção, deixava-o com desejo de testá-la para saber seus limites.  Ele finalmente sorriu. Aquele sorrindo de canto, cheio de arrogância e prepotência. Ela precisou desviar o olhar, para não entrar em transe novamente.

Chegando até o elevador, só então o viu apertar o botão. Perguntava-se o motivo de não ter feito isso antes. Será que queria um tempo a sós com ela? Mas Alice se conteve, obrigando os pensamentos a pararem de criar fanfic com Alexandre. Não tinha notado, mas ficara muito tempo calada, com ele a observando. Resolveu puxar assunto, antes que ficasse constrangida.

— Como está sendo seu primeiro dia aqui? Está gostando da empresa?

— Sim, estou encantado com ela. – Respondeu ele, com olhar fixo em Alice.

— Você já escolheu alguma estagiária para ser tua secretária temporária?

— Escolhi o estagiário. – Disse Alexandre de imediato.

— Sério? Logo o estagiário? Ele não está aqui a muito tempo, é inexperiente ainda.

— Bem, estágio é para isso mesmo. Comigo ele aprenderá mais rápido. – Garantiu.

— Surpreendente, confesso. Os homens tendem a contratar mulheres. – Disse Alice.

— Você é mulher. Contratou algum homem para ser teu secretário?

— Não. Mas eu...

— Não tinha homens disponíveis para a vaga? – Insistiu Alexandre.

— Alguns, mas...

— Então acho que não são apenas os homens com essa preferência.

— Eu só quis dizer que geralmente as mulheres levam mais jeito para o secretariado.

— Quero um auxiliar, na verdade. Uma secretária não seria muito útil. E mais uma vez está provando que não são só eles a contratarem mulheres para isso. – Retrucou Alexandre, observando o elevador se abrir com poucas pessoas dentro. Todos o encaravam, mas ele continuava com os olhos fixos nela. Apontou para o elevador, esperando que ela entrasse primeiro e a seguiu.

— Não me entenda mal, Alexandre. Meu comentário foi generalizado.

— Acho que este foi o problema. Mas não se preocupe, não sou qualquer um.

— Sim, percebi. Foi querendo provar isso, que escolheu um homem para secretário?

— Acredita mesmo que preciso provar alguma coisa, além da minha competência como diretor financeiro? – Ele a questionou, cruzando os braços e virando-se para ela, dentro do elevador. As pessoas à sua volta se entreolhavam. Não criam na cena que viam. O novo contratado estava ousando questionar a chefe do RH em público?

—  Tem razão, não tem que provar nada, senhor Alexandre. – Alfinetou Alice e deu graças aos céus por terem chegado no andar da área de alimentação. Ela saiu do elevador rapidamente, como se marchasse batendo seus saltos no chão com força.

Alexandre não precisou fazer muito esforço para alcançá-la, suas pernas eram mais longas e cada passo dele eram dois ou três dela. Em poucos segundos estava caminhando ao lado dela, com as mãos nos bolsos e olhando em volta, distraído. Os olhares curiosos de outros funcionários o acompanham por onde ia, mas ele não se importava. Alice estava furiosa com a tranquilidade dele. Era como se não tivessem discutido. Como ele ousava falar daquele jeito com ela? O que tinha dito de tão terrível para ele se irritar com ela? Talvez ele fosse só mais um homem defendendo todos os outros. Nada novo sob o sol.

Alexandre acompanhou de perto Alice, em silêncio, mesmo enquanto escolhiam o que iriam comer e colocavam em seus respectivos pratos. Ele sabia que estava sendo ignorado, mas tinha certeza de que não duraria muito tempo. Percebeu que ela colocava muita salada no prato, um pouco de carne e nada mais. Observou que também havia frutas em um prato menor, que devia ser para sobremesas.

Eles foram até uma mesa no centro da área de alimentação, onde estavam os demais chefes de departamentos, para quem Alexandre já havia sido apresentado.

— Olá senhores, trouxe o novato para o almoço. – Disse Alice para seus colegas de trabalho, enquanto sentava-se ao lado de um deles, quase na ponta da mesa. Alexandre foi recebido com alegria por eles, todos o cumprimentavam de seus lugares. Ele acenou com a cabeça e sorriu gentilmente. Sentou-se do outro lado da mesa, em frente a ela.

— O que está achando da empresa, senhor Alexandre? – Perguntou Jefferson.

— Gostou do seu escritório? – Perguntou Orlando.

— Imagino que terá muito trabalho nesse departamento. – Disse Rodrigo.

— Não é de hoje que admiro a empresa e até agora, nada me decepcionou. Fiquei satisfeito com meu escritório. Sem dúvidas terei muito trabalho, por isso já escolhi alguém para me auxiliar.

— Qual delas foi a sortuda escolhida? – Perguntou Helena, curiosa. Ela não era chefe de nenhum departamento, mas a secretária de um deles. Ainda assim, agia com liberdade entre eles. Alexandre ainda não sabia disso.

— Ele escolheu o único estagiário homem para isso. – Respondeu Alice.

— Sério? O garoto desastrado? Por quê? – Questionou Helena, surpresa.

— Vi que ele tinha potencial, mas muitos desacreditam. Talvez só precisasse de alguém que lhe desse um voto de confiança. – Respondeu Alexandre.

— Mas ele não se inscreveu para ser secretário, certo? Não vai se sentir ofendido? É uma posição abaixo da que ele tinha. – Comentou Jefferson, com curiosidade.

— Ele também precisará me dar um voto de confiança. Este pode ser o primeiro passo para uma carreira promissora. – Respondeu Alexandre, despreocupado.

— Uma carreira promissora de secretário? – Retrucou Jefferson, sarcástico.

— Ele será auxiliar de escritório na diretoria do departamento financeiro. Não acho que seja uma posição abaixo de estagiário. E sim, terá uma carreira promissora depois de aprender o que tenho para ensinar. – Afirmou Alexandre, confiante.

— Relaxa Jefferson, é só provisoriamente. Tenho certeza de que o senhor Alexandre encontrará uma secretária à altura dele em breve. Há pessoas mais qualificadas e sabemos que mulheres são mais competentes para este cargo. A propósito... se o senhor quiser, eu conheço algumas disponíveis. – Tagarelava Helena.

— Obrigado, mas não preciso. Não contrato ninguém provisoriamente. Depois que eu escolho, sigo em frente. A menos que ele peça demissão, não será temporário.

Todos se entreolharam, alguns aprovando com a cabeça, outros não. Alice olhava para ele com um misto de curiosidade e admiração. Orlando mudou de assunto e Alexandre pôde desfrutar de seu almoço em paz.

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