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Cidade de Lagoas Vol. 1: Sombras & Luz

Palavra do Autor

Seja bem-vindo(a) a,

A Sombras & Luz, uma obra que mergulha nas profundezas da política, da corrupção e do sacrifício pessoal. Meu objetivo ao escrever esta história foi criar um universo fictício que, embora imaginário, ecoa as contradições, os dilemas e as sombras do mundo real.

Mais do que um simples thriller de ação e suspense, Sombras & Luz é uma reflexão sobre os sistemas de poder que moldam nossas sociedades.

Em Zamunda, uma nação fictícia, a Ordem das Sombras exerce um controle invisível, mas absoluto, manipulando decisões políticas, econômicas e judiciais. Embora Zamunda não exista, as dinâmicas de opressão e subjugação presentes na história são universais e atemporais, convidando o leitor a refletir sobre o impacto da corrupção, da desigualdade e da manipulação política em qualquer lugar e época.

No centro dessa trama está Ana Costa, uma protagonista movida por uma paixão inabalável por justiça e pelo sonho de um mundo melhor.

Porém, sua jornada revela os limites impostos por um sistema que fará de tudo para sobreviver. Ana é uma mulher disposta a sacrificar tudo – até mesmo sua própria vida – para expor a verdade e restaurar a paz.

Contudo, ao longo do caminho, tanto ela quanto o leitor descobrirão que a luta pela justiça é traiçoeira, cheia de armadilhas e escolhas difíceis, onde até mesmo a noção de vitória pode ser distorcida.

A narrativa, que começa com a Parte 1 da história, convida você a explorar temas como amor, lealdade e sacrifício, entrelaçados em uma trama cheia de reviravoltas e momentos de profunda introspecção.

Cada capítulo é um convite a mergulhar em um mistério onde ação e suspense convivem com dilemas morais e emocionais. Em Sombras & Luz, ninguém é exatamente quem aparenta ser.

Personagens complexos, como Deputado Filipe Almeida, desafiam a percepção do leitor sobre o bem e o mal, lealdade e traição. Ana, que inicialmente se apresenta como um braço direito confiável, surpreende ao se revelar uma agente infiltrada da Polícia Federal, desencadeando reviravoltas que colocam em questão tudo o que parecia certo.

Por tratar de questões profundas, é importante destacar que esta história aborda temas fortes como corrupção institucional, violência e os impactos psicológicos do poder – tanto para aqueles que o exercem quanto para os que ousam enfrentá-lo. Nada em Sombras & Luz é simples ou gratuito; cada decisão traz consequências, cada escolha carrega um peso. A jornada de Ana é marcada por perdas irreparáveis e dilemas éticos que refletem o custo de enfrentar um sistema corrupto e desafiador.

Essa não é uma história que entrega respostas fáceis. Pelo contrário, cada capítulo confronta o leitor com as ambiguidades da natureza humana, com as nuances entre certo e errado e com os sacrifícios necessários para alcançar a justiça. Ana Costa e seus aliados encarnam a luta por liberdade e equidade, mas também expõem os perigos de confiar cegamente no poder e nas intenções alheias.

Espero que esta história seja para você mais do que apenas uma leitura emocionante. Que as Sombras & Luzes o convide a refletir sobre os desafios da lealdade, do sacrifício e da eterna batalha entre o bem e o mal. Obrigado por embarcar nessa jornada comigo. Que a cidade de Lagoas – com suas luzes brilhantes e sombras implacáveis – o transporte para um mundo que, embora fictício, ressoa profundamente com as complexidades e os desafios de nossa realidade.

Prólogo

A mansão de vidro e mármore erguia-se no topo da colina, brilhando sob a luz da lua como um monumento de poder e arrogância. De lá, era possível ver as luzes frenéticas da cidade abaixo – um mar de ambição, segredos e pecados que respiravam em uníssono sob o manto da noite quente de verão.

No salão principal, a festa seguia como uma coreografia ensaiada: homens de ternos impecáveis e mulheres adornadas em luxo desfilavam entre taças de champanhe e promessas sussurradas. Uma música suave preenchia o ar, um murmúrio sedutor e perigoso que anunciava mudanças irreversíveis antes do amanhecer.

Camila segurava uma taça de vinho, o rubor do líquido refletindo o brilho dos lustres de cristal. Advogada criminalista, estava ali não por escolha, mas por obrigação. Felipe Almeida, seu cliente e anfitrião, era um deputado em ascensão.

Sua reeleição dependia da habilidade de Camila em soterrar uma investigação explosiva sobre desvio de verbas públicas. Enquanto sorria mecanicamente para outros convidados, ela sentia o peso esmagador do conflito interno – sua ética contra a sobrevivência no mundo implacável da política. Cada conversa parecia um duelo, uma troca onde as palavras eram armas carregadas.

Do outro lado do salão, Felipe Almeida circulava com a confiança de um predador entre empresários e políticos. Com um copo de uísque em uma mão e o sorriso meticulosamente ensaiado no rosto, ele era a imagem do poder. O casamento com Sofia era uma aliança conveniente, uma fachada perfeita para a estabilidade que ele precisava projetar.

Mas, ao encontrar os olhos de Camila na multidão, sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Desde que ela assumira seu caso, havia algo nela que o desconcertava – uma força irresistível e perigosa que ameaçava desmoronar o controle que ele tanto prezava.

Na varanda, Sofia Almeida observava a festa com um olhar distante e uma postura altiva. O riso falso, os olhares furtivos entre seu marido e Camila, tudo era uma humilhação silenciosa. Anos vivendo como peça em um jogo de xadrez político haviam sugado o brilho de seus olhos.

Cansada, acendeu um cigarro – um hábito que escondia como um segredo vergonhoso. Enquanto a fumaça subia em espirais, uma figura emergiu das sombras: Lucas, um policial corrupto, deslizou ao seu lado com a familiaridade de quem conhece os mesmos becos escuros.

— Precisa de companhia? — ele perguntou, um sorriso torto nos lábios.

Sofia deu uma tragada profunda antes de responder, soltando a fumaça devagar.

— Talvez.

Do outro lado da festa, Miguel, um jornalista investigativo, sentia o peso do celular em sua mão. Para ele, o aparelho era tanto uma arma quanto uma bússola, guiando-o em sua busca por provas contra Felipe. Mas, enquanto sua mente gritava para se concentrar, seus olhos estavam presos em Clara, uma enigmática empresária que acabara de entrar.

Dona de uma rede de boates e conhecida por sua frieza, Clara parecia carregar uma melancolia cuidadosamente escondida sob sua elegância.

Quando seus olhares se cruzaram, algo pulsou entre eles – uma conexão que ambos sabiam ser perigosa.

Clara, por sua vez, mantinha a postura de gelo. Ela atravessava o salão com um vestido preto que parecia moldado à sua silhueta, cada passo calculado, cada gesto refletindo controle. Mas o olhar de Miguel a desarmava de uma forma que não podia permitir. Não agora, quando seus próprios segredos estavam à beira de serem revelados.

Então, como uma sombra que subitamente invade a luz, Rafael, o líder de uma das gangs mais temidas da zona norte, entrou no salão. O contraste entre o terno preto e as tatuagens que subiam pelo pescoço anunciava sua presença como uma ameaça silenciosa. Ele não pertencia àquele mundo de luxo e hipocrisia, mas estava ali por Ana. Ana, a mulher que amava – e que ele não sabia ser uma policial infiltrada em sua organização.

Ana observava Rafael de longe, o coração apertado pelo peso de sua missão. Sabia que se apaixonar por seu alvo era o maior erro que podia cometer. Agora, estava dividida entre a lealdade ao trabalho e os sentimentos que não conseguia controlar. Sabia que, se sua verdadeira identidade fosse descoberta, o preço seria a morte – para ambos.

Perto da entrada, Letícia, uma psicóloga experiente, mantinha um olhar analítico sobre os convidados. Muitos daqueles rostos eram conhecidos de suas sessões – políticos corruptos, homens torturados por seus próprios crimes.

Mas a presença de Henrique, um paciente problemático, fazia sua pele arrepiar. Ele havia prometido manter distância, mas agora estava ali, encarando-a do outro lado do salão. E o que mais a assustava era perceber que parte dela gostava daquela atenção.

O fio de tensão que pairava no ar finalmente se rompeu quando uma discussão explodiu no centro do salão. Miguel avançou um passo em direção a Felipe, a voz carregada de indignação.

— Você acha que pode continuar enganando todo mundo, Almeida? A verdade sempre aparece.

Felipe respondeu com um sorriso cínico, a máscara que usava para esmagar seus oponentes.

— A verdade é o que eu digo que é, meu caro. E você deveria tomar cuidado com isso.

Antes que mais palavras fossem ditas, um grito cortou o ambiente. Todos se viraram para ver Sofia tropeçar e cair na piscina, enquanto Lucas a puxava de volta à superfície.

— Alguém se empolgou demais! — ele brincou, provocando risadas nervosas.

Sofia emergiu da água, o vestido molhado colado ao corpo e os olhos brilhando com uma mistura de raiva e determinação.

— Está tudo bem, querida? — perguntou Felipe, com o falso cuidado de quem jogava para a plateia.

— Nunca estive melhor — respondeu Sofia, com um sorriso afiado como uma lâmina.

A festa continuou, mas cada pessoa naquele salão sabia que a noite era um divisor de águas. Os olhares furtivos, as palavras não ditas, as traições silenciosas – tudo indicava que a tempestade se aproximava. Na manhã seguinte, Lagoas acordaria diferente. Para alguns, aquele seria o último amanhecer.

Parte 1: Capítulo 1 – Camila

É impressionante como um vestido caro pode virar uma armadura. Hoje escolhi o meu com cuidado: preto, justo, sem um centímetro fora do lugar. Ao me olhar no espelho antes de sair, a imagem refletida era de uma mulher impecável. Mas a voz dentro da minha cabeça dizia outra coisa: “Você está perfeita. E está ferrada, Camila Rezende Vasconcelos.”

Mais um evento social, mais uma noite de sorrisos falsos, trocando palavras que soam como moedas em mãos gananciosas. Estar ali não era escolha, mas necessidade. A mansão de Felipe Almeida brilhava no topo da colina como um monumento de poder – e de hipocrisia. No salão, tudo reluzia. Luzes douradas iluminavam o mármore branco, enquanto o som suave de jazz parecia flutuar no ar, como uma névoa anestesiante.

Assim que atravessei a entrada, senti os olhos dele em mim. Felipe Almeida era um homem que raramente disfarçava suas intenções. O sorriso dele era como um selo de vitória antecipada. Não consegui evitar desviar o olhar. Não seria tão fácil assim.

Felipe era o tipo de homem que controlava o próprio caos. Casado com Sofia, uma mulher de revista, rodeado por aliados perigosos e imerso em escândalos. Eu, em teoria, era apenas sua advogada. Mas, na prática, a linha entre profissionalismo e abismo era muito mais tênue. O caso que assumira – um emaranhado de lavagem de dinheiro e tráfico de influência – já era um desafio, mas o que realmente me perturbava era o que acontecia fora do escritório.

E ele sabia disso.

— Camila, que bom que veio.

A voz dele era tranquila, quase íntima. Felipe estava a poucos passos de mim, um copo de uísque na mão, cada movimento calculado.

Levantei os olhos devagar, mantendo meu rosto neutro.

— Claro, Felipe. Como poderia recusar um convite tão… necessário?

Sorri, mas apenas com os lábios. Mantive o olhar frio, como uma muralha invisível.

Ele deu um passo para mais perto. O perfume dele era amadeirado, penetrante, uma marca registrada.

— Precisamos conversar. Em particular.

A firmeza na voz dele me fez respirar fundo. Já esperava por isso. Felipe era mestre em empurrar limites, em testar até onde podia ir.

— Estou à disposição. Depois do evento.

Minha resposta saiu controlada, quase indiferente. Mas meu coração estava em um ritmo acelerado que me traía.

Felipe segurou meu braço com uma firmeza que não machucava, mas exigia atenção.

— Não depois. Agora.

Antes que eu pudesse reagir, uma risada alta ecoou pela varanda. Olhei na direção do som e vi Sofia Almeida apoiada no parapeito. O sorriso dela era uma mistura de sarcasmo e desespero, como alguém prestes a perder tudo, mas ainda decidido a se divertir no processo.

Ele soltou meu braço, mas o olhar permaneceu cravado em mim.

— A gente ainda vai conversar, Camila.

Felipe se afastou, mergulhando de volta na multidão de políticos e empresários.

Respirei fundo, sentindo um nó no estômago. Eu sabia que cada minuto naquela festa era uma armadilha.

Meus pés me levaram até a varanda, onde Sofia permanecia. Ela tragava um cigarro como se estivesse absorvendo forças dele. Não se virou quando me aproximei.

— Ele está grudado em você hoje.

A voz dela era baixa, mas carregada de um sarcasmo afiado.

— É um cliente – respondi, tentando soar casual.

Sofia soltou uma risada seca, o som de alguém que já ouviu muitas desculpas antes.

— Claro. E eu sou a esposa perfeita.

Fiquei em silêncio. Não havia o que dizer. Ela parecia cansada, exausta de interpretar o papel que lhe foi imposto.

— Você tem sorte – continuou, sem me encarar. – Ele ainda te quer. Eu? Já virei uma peça velha nesse tabuleiro.

— Ele quer poder, não pessoas – soltei, antes de perceber que tinha falado alto demais.

Dessa vez, ela me olhou. Seus olhos estavam brilhantes, não de raiva, mas de algo muito mais profundo: resignação misturada com desprezo.

— Isso não é novidade para mim, Camila. A única pergunta é: quanto tempo vai levar para você perceber?

Antes que eu pudesse responder, Lucas Ferreira apareceu na porta da varanda. Ele era um homem difícil de ignorar, com sua jaqueta de couro e um sorriso que oscilava entre charme e perigo.

— Precisando de um cigarro extra? – perguntou, puxando um do bolso.

Sofia finalmente sorriu, mas o sorriso era quase sincero dessa vez.

— Você sempre me salva, Lucas.

— E sempre me meto em confusão por sua causa.

Ele piscou, mas havia uma tensão entre eles que parecia muito mais antiga. Lucas então me olhou, como se tentasse medir minha presença ali.

Voltei para o salão, tentando afastar os pensamentos que cresciam em minha mente. Precisava de controle, mas Lagoas tinha o hábito de derrubar quem se achava no controle.

Do outro lado da sala, um rosto familiar me chamou atenção. Miguel. Meu ex-namorado. Jornalista investigativo, o tipo de pessoa que sempre parecia estar onde não devia. Ele estava encostado no balcão do bar, com aquele sorriso meio cínico que sempre me desarmou.

— Não esperava te encontrar aqui, Camila.

— E você, Miguel? Investigando ou apenas jogando charme?

Ele riu, mas o brilho em seus olhos era sombrio.

— Um pouco dos dois. Mas você também está jogando, não está?

— Cuidado com o que você insinua.

Miguel inclinou-se, a voz baixa, mas cheia de intenção.

— Cuidado você. Felipe não é o tipo de homem que perde. E ele não joga limpo.

Antes que eu pudesse reagir, algo mudou no ambiente. Um silêncio carregado de tensão se espalhou pelo salão.

Rafael Souza tinha chegado.

Ele não precisava de apresentação. O líder da gangue mais temida da zona norte usava um terno preto que contrastava com as tatuagens subindo por seu pescoço. Mas o que mais chamava atenção era o olhar predatório, que não escondia nada.

Felipe foi até ele, cumprimentando-o com um aperto de mão que parecia forçado. Mas Rafael não estava ali por Felipe. Ele procurava outra pessoa.

Ana.

Eu a vi no canto da sala, tentando se misturar aos convidados. Ana tinha uma elegância reservada, mas seus olhos revelavam algo muito mais profundo. Rafael não tirava os olhos dela, e algo no ar mudou.

Meu instinto me dizia que Ana era mais do que parecia. Muito mais.

De repente, as peças começaram a se alinhar. Eu sabia que aquela festa era um ponto de ruptura. O tipo de evento onde alianças seriam formadas ou destruídas. Mas havia algo mais. Algo maior.

E enquanto os sorrisos e brindes continuavam, eu sabia que, para alguém ali, aquela seria a última noite.

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