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Tinha que Ser Você

Cap. 1

Valentina acordou cedo para mais um dia de trabalho, e como sempre, a sua mente estava repleta de pensamentos sobre o futuro. Enquanto se arrumava, fitou seu reflexo no espelho e sorriu.

 "Um passo de cada vez," pensou terminando de se arrumar. Ela estava determinada a construir uma carreira sólida, terminar a faculdade de administração e, quem sabe, um dia retribuir tudo o que os avós haviam feito por ela, apesar de toda a rigidez e críticas que enfrentava diariamente em casa.

Os avós não eram as pessoas mais carinhosas do mundo, mas era a família que ela conhecia desde que a mãe a abandonou com eles quando ela tinha apenas dois anos de idade, desaparecendo sem deixar rastros. E quanto ao seu pai, ninguém sabia sua identidade, e era como se ele nunca tivesse existido. Apesar disso, seus avós aceitaram cuidar dela, mas sempre deixaram claro que sua presença era mais uma obrigação do que um desejo.

Com dezoito anos ela conseguiu passar em uma faculdade particular, e no início, avós começaram a pagar a mensalidade para ela, meio a contragosto, até que ela conseguisse uma bolsa de estudo ou um trabalho que pudesse custear sozinha o valor da mensalidade. E após um ano, ela finalmente começou a trabalhar.

Os avós conservadores sempre consideram que era besteira Valentina estudar, que ela poderia se casar com um homem rico da igreja que frequentavam e que tinha interesse nela, mas não era isso que Valentina queria.

Apesar de trabalhar e estudar, Valentina nunca se envolveu em festas ou relacionamentos superficiais. Sua beleza e inteligência atraíam olhares, mas ela preferia manter-se reservada. Entre seus poucos amigos, está Susan, uma colega da faculdade e do trabalho.

Susan, por outro lado, tinha uma postura oposta. Sempre expansiva, cercada por pessoas, gostava de ser o centro das atenções. Apesar de se dizer amiga de Valentina, Susan sentia uma rivalidade secreta e uma inveja que crescia a cada conquista da colega. Mesmo assim, mantinha Valentina por perto, talvez para vigiar seus passos ou até para sentir-se superior de alguma forma.

 E foi com a ajuda dela, que Valentina conseguiu o emprego na empresa do seu pais, e assim pode custear  boa parte da mensalidade, reduzindo assim os gastos que os avós tinham com ela.

E assim tinha sido os últimos dois anos de Valentina, que já completado com 21 anos.

Valentina, 21 anos

_Vai sair? Perguntou a avó ao ver Valentina arrumada.

_ Vou sim Vô Clara, hoje é o aniversário da Susan.

_ Vê se não vai aprontar. Falou fechando a cara, não gostavam quando a neta saia pois sempre imaginava que ela poderia ser como a filha que sumiu.

_ Não se preocupe vovó. Disse tentando dar uma beijo em Clara que desviou.

Valentina foi uma das primeiras a chegar a festa. Ela usava um vestido discreto, mas que destacava sua beleza natural. Assim que entrou, Susan a recebeu com um sorriso falso.

_Não acredito que você veio! Susan, abraçou rapidamente. _Espero que aproveite. Disse tentando disfarçar o incômodo de vê-la.

_ Obrigada, a festa está agitada. Valentina se sentia um pouco deslocada, nao estava costumada a frequentar festa.

_ É assim que eu gosto! Fique a vontade, vou cumprimentar algumas pessoas e já voltou. Susan se afastou e Valentina tentou encontrar algum conhecido.

A festa logo ficou cheia, e Valentina tentava se misturar enquanto Susan circulava entre os convidados, rindo e chamando a atenção. Foi então que Renan apareceu. Alto, elegante, com olhos penetrantes e um sorriso confiante, chamando a atenção para ele. Susan imediatamente foi até ele, mas Renan desviou o olhar que se fixou em Valentina.

_ Não vai me apresentar a sua amiga, Susan? Perguntou Renan se aproximando de Valentina. Susan, que até então exibia um sorriso, fechou a expressão por um instante, mas logo disfarçou.

_ Ah, é claro... Essa é Valentina, minha amiga, e Valentina, esse é o Renan. Susan fez a apresentação com uma voz forçada, tentando esconder a irritação ao ver que Renan estava interessado em Valentina.

Renan sorriu, pegando a mão de Valentina e beijando-a levemente.

_ Prazer em te conhecer Valentina… Disse a cumprimentando de forma sedutora.

 Renan fez com que Valentina, normalmente tão cuidadosa, baixasse sua guarda, e durante toda a noite, ele encontrou maneiras de puxar conversa com Valentina, ignorando completamente Susan. Ele a fazia rir, ouvia suas histórias com atenção e a elogiava de forma que parecia verdadeira. Valentina, geralmente cautelosa, sentiu algo diferente em sua presença, mas recusou o seu beijo quando ele tentou beija-la, e ele sorriu dizendo que entendia que era cedo.

_Certo... mas eu espero te ver de novo, Valentina. Disse Renan ao final da noite, com um olhar que capaz de fazê-la acreditar em suas intenções. Eles trocaram telefones e ele disse que ligaria para ela.

E interessado em Valentina, Renan passou a ligar e mandar mensagens todos os dias, até que decidiu convida-la para um encontro, e Valentina disse sim.

Renan a levou a um restaurante sofisticado,  mas o que mais chamava atenção de Valentina era a forma como Renan parecia se importar com ela. Ele ouvia cada palavra atentamente, fazia perguntas sobre seus sonhos e dizia que admirava sua determinação. Para Valentina, a experiência era mágica, como se fosse tirado de um conto de fadas.

Conforme o relacionamento avançava, Renan se mostrava cada vez mais encantador. Ele a surpreendia com flores, elogios e pequenos gestos que faziam Valentina acreditar que ele era o homem dos seus sonhos. Ao lado dele, ela se sentia especial e valorizada como nunca antes, e assim eles começam a namorar, o que foi o ponto de mudança no comportamento dele

Em pouco tempo, Renan, um homem experiente, começou a pressioná-la para se entregar. Valentina, que ainda era virgem e cheia de inseguranças, hesitava. Ela sabia que não estava pronta, mas as palavras doces e a insistência dele acabaram fazendo ela ceder.

Renan

Susan

Cap. 2

Depois de alguns dias, durante o intervalo de trabalho, Susan se aproximou de Valentina com um sorriso que até parecia gentil, mas que escondia suas verdadeiras intenções.

_Então, amiga... Quero saber tudo! Falou Susan, fingindo entusiasmo. _Como foi a primeira vez com o gato do Renan? Ainda não me contou.

Valentina se sentiu desconfortável com a pergunta, mas confiava na amiga.

_ Não foi como eu esperava, para ser honesta. Foi... Ela procurava  palavras para definir como tinha sido. _ Além da dor, eu não senti nada. Confessou ainda sem saber como se sentia com a experiência que teve com Renan. _Acho que talvez eu devesse ter esperado mais, sabe? Mas ele estava me pressionando... e nas outras vezes, foi o mesmo… Renan parece... pensar só nele.

Susan tentou esconder um sorriso satisfatório ao saber da má experiência de Valentina.

_Ah! Não seja tão crítica. Ele é um homem lindo, charmoso e, convenhamos, muito rico. Com um cara desses, até eu me conformaria com algumas falhas. Mas vocês se protegeram?Ou pretende engravidar para garantir o seu futuro?

Valentina ficou surpresa pela frieza na resposta e pela pergunta estranha feita por Susan.

_Dinheiro é importante mas eu nunca faria algo assim... por isso eu estudo e trabalho. E quanto a usar camisinha, eu vi ele colocando, mas eu tive a leve impressão que ele estava sem depois, não sei …  posso ter me enganado.

Susan forçou uma risada, mudando de assunto para evitar que Valentina percebesse a sua inveja.

Valentina, não notou os dinais, e via Susancomo uma amiga, alguém com quem sempre poderia compartilhar suas inseguranças, sem imaginar que Susan, na verdade, esperava por sua queda.

Com o passar do tempo, Valentina começou a perceber que, apesar do encanto inicial, que o relacionamento com Renan não era tão perfeito quanto imaginava. Ele continua atencioso em público, mas suas atitudes quando estavam a sós começaram a incomodá-la. Ele a pressionava para encontros íntimos, e quando Valentina tentou estabelecer limites, Renan reagia com manipulação emocional, fazendo ela se sentir culpada.

Susan, por outro lado, está sempre por perto, agindo como uma amiga curiosa e disposta a ouvir.

_Não me leve a mal, amiga, mas você não acha que está exigindo muito de Renan? Perguntou Susan, fingindo preocupação, após ouvir Valentina comentar sobre a falta de conexão emocional nos momentos íntimos.

_Talvez... Mas não acho que seja errado eu me preocupar com o que estou sentindo. Quero me sentir especial de verdade, não só quando estamos em público.

_Ele é um homem ocupado.... Você precisa ter paciência. Lembre-se, homens como Renan não se encontram todo dia.

Embora confusa, Valentina tentava entender as atitudes de Renan, agarrando-se à ideia de que ele ainda poderia ser o príncipe que conheceu.

Naquele dia, na saída da faculdade, Luciana, uma colega de curso procurou Valentina.

_Valentina, posso te dizer uma coisa?

_Claro... Valentina parou para escutá-la.

Luciana respirou fundo, como se estivesse decidindo se devia continuar.

_Eu vi que você saindo com um cara... Você sabe que ele tem fama, aqui na faculdade, né? Ele já ficou com várias meninas... Bom, e ele nunca leva ninguém a sério. Só achei que você precisava saber.

Valentina ficou surpresa e desconfortável.

_ Luciana, talvez você esteja confundindo ele com outra pessoa … O Renan é meu namorado.

_ Olha, Valentina, eu sei o que vi, e eu gosto muito de você. Fique atenta. Alertou antes de se afastar.

Valentina começou a pensar no que disse Luciana, mas logo a descartou a possibilidade de traição. Afinal, Renan não tinha dado motivos para que ela desconfiasse.

Alguns dias se passaram, e Valentina chegou a conclusão que estava na hora de apresentar Renan aos avós que não gostavam das saídas dela a noite. Ela pensou que quando os avós conhecessem o namorado ficariam mais tranquilos.

Naquele mesmo dia, durante o jantar com Renan, ela abordou o assunto.

_Renan, eu pensei que ... Ela tentava falar sem parecer que estava exigindo que ele conhecesse os avós.

_O que foi, amor? Renan olhou para ela enquanto mexia no celular, sem realmente dar muita atenção.

_ Eu gostaria que você conhecesse meus avós. Eles são a minha família, e acho que seria importante para eles te conhecerem.

Renan parou por um instante, um sorriso forçado surgindo em seus lábios.

_ Seus avós?

Valentina sorriu, tentando disfarçar o nervosismo.

_Sim.... Estamos juntos há alguns meses, pensei que gostaria de conhecê-los.

_Claro, claro... Disse ele, evitando olhá-la nos olhos enquanto tomava um gole do vinho.

Renan havia concordado, mas Valentina notou a falta de entusiasmo em sua voz. No entanto, escolheu ignorar, acreditando que, talvez, fosse apenas nervosismo.

Após esse dia, Valentina notou que  Renan começou a mudar. Ele estava menos presente, e, quando conversavam, suas respostas eram curtas, quase monossilábicas. Os encontros que costumavam ser frequentes foram se tornando raros, e ele sempre parecia ter uma desculpa: "Estou atolado de trabalho", "Desculpe, surgiu uma reunião de última hora", ou simplesmente "Não vai dar hoje."

Valentina tentava compreender, mas o comportamento dele a deixou nquieta. Ela se pegava olhando para o celular, esperando mensagens que demoravam horas para chegar. Quando chegavam, eram respostas secas, sem o calor e a atenção de antes, o que a fez lembrar do que disse Luciana.

Uma noite, enquanto encarava o telefone, decidiu que precisava descobrir o que estava acontecendo. Não podia continuar com tantas dúvidas corroendo seu coração. Valentina saiu da aula  e foi até o apartamento de Renan sem avisar.

Cap. 3

Quanso Valentina chegou ao edifício onde Renan residia, viu um carro que logo reconheceu a placa. Era o carro de Susan que estava parado em frente a portaria, o que a fez lembrar que a amiga não tinha ido aula naquele dia.

_ Não... não pode ser...

Cada passo parecia mais pesado enquanto tentava convencer a si mesma de que a presença do carro de Susan era apenas coincidência. O porteiro que conhecia Valentina deixou ela entrar sem problemas. No corredor, hesitou em bater na porta, mas antes que pudesse decidir, a porta se abriu de repente.

Renan, que estava descendo para pegar um pedido de comida na portaria, ficou irritado ao ver Valentina.

_O que você está fazendo aqui? Pergunta Renan, cruzando os braços.

_Renan... Precisamos conversar. Você está agindo estranho desde que falei dos meus avós... Eu posso entrar?

Renan suspirou, visivelmente impaciente.

_ Não, eu não quero conversar com você agora, você poderia voltar depois?

_Por que? Eu pensei que tínhamos algo especial, não entendo o que está acontecendo porque tenho que voltar depois

Renan ri, um som seco e cruel.

_Especial? Olha, você é bonita, mas você está chata, cheia de cobranças e eu não gosto disso.

Enquanto Renan falava, uma voz familiar surgiu  dentro do apartamento.

_Renan, quem está aí?

Valentina congelou ao ver Susan vindo do quarto de Renan usando uma das camisas dele A expressão de Susan foi de surpresa, mas seus olhos brilharam de satisfação.

_Valentina, eu... Não sabia que você viria aqui hoje

_ Como você pode fazer isso comigo? Perguntou Valentina, notando que Susan e Renan pareciam não se importar com a sua presença.

_ Olha Valentina, Você não é mulher para mim, eu estava apenas curtindo com você, e agora acabou a graça. Falou Renan com um riso cínico no rosto.

_ Como?

_ Isso mesmo que você ouviu. Vaza! Disse fechando a porta na cara dela.

_ Renan... Renam... Ela chamou algumas vezes sem resposta, percebendo ele não estava arrependido do que disse. Sem conseguir suportar a humilhação, ela foi embora, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Quando Valentina entrou em seu quarto, o silêncio parecia gritar ao seu redor. Ela fechou a porta que parecia isolar o som do mundo, mas não abafava a tempestade dentro dela. Com o coração pesado, ela desabou na cama, apertando o travesseiro contra o rosto para sufocar os soluços que vinham de forma descontrolada.

As lágrimas escorriam incessantemente, quentes e amargas, encharcando o tecido do travesseiro. A cada lembrança das palavras de Renan e do sorriso cruel de Susan, um novo soluço emergia, mais profundo, mais doloroso.

Valentina sentia-se esmagada por um misto de emoções: raiva, tristeza e vergonha.

_Como eu não percebi que a Susan não gostava de mim, e que ele so queria me usar… Ela chorou até o corpo ficar exausto, até os olhos incharem e arderem. Quando o sono finalmente veio, foi fragmentado, cheio de pesadelos que a faziam acordar ofegante, apenas para lembrá-la da realidade.

Na manhã seguinte, Valentina acordou com o rosto inchado e pesado, como se tivesse envelhecido anos em uma única noite. Apesar da dor, vestiu-se o melhor que pôde e foi para o trabalho, ainda tentando processar a confusão da noite anterior.

Ao entrar na empresa, sentiu olhares sobre ela, como se todos já soubessem algo que ela desconhecia. Cada passo em direção à sua mesa parecia mais pesado, como se algo sombrio estivesse prestes a acontecer.

Pouco depois, foi chamada à sala do Senhor Almeida, pai de Susan. Ao entrar, o ambiente estava carregado. O semblante dele era frio, e, para seu desgosto, Susan estava lá, sentada ao lado do pai, fingindo uma preocupação que agora Valentina podia reconhecer como falsa, e naquele momento ela sentiu vontade de bater na falsa amiga.

_Valentina, precisamos conversar sobre a sua performance no trabalho. O senhor Almeida começou a falar encarando Valentina.

Ela franziu a testa, confusa.

_Minha performance?

Almeida suspirou, empurrando para ela uma pilha de documentos.

_Temos enfrentado uma série de problemas nos últimos meses relacionados ao seu trabalho. Arquivos incompletos, dados incorretos... Tudo isso nos custou tempo e dinheiro.

O impacto das palavras foi imediato. Valentina ficou paralisada, incapaz de acreditar no que está ouvindo. Ela pegou os documentos com as mãos trêmulas, folheando rapidamente, mas sua mente parecia incapaz de absorver o que via.

O que ela não sabia era que Susan, além de se envolver com Renan, tinha tramado um plano para tirá-la de vez da sua vida. Usando o acesso que tinha aos sistemas da empresa do pai, Susan manipulou documentos e registros, forjando evidências de que Valentina não estava desempenhando bem o seu trabalho.

_Mas... eu fiz tudo com cuidado, revisei… Valentina tentou justificar, sentindo a voz falhar. _Talvez tenha havido algum mal entendido.

_Valentina, eu sei que você sempre tenta dar o seu melhor, mas erros como os que você cometeu… Susan interveio, com um olhar que parecia cheio de falsa preocupação._... Prejudicam a empresa.

Valentina olhou para ela, chocada. Susan estava mentindo descaradamente, mas fazia isso com uma suavidade que fazia parecer verdade.

_Isso não é justo! Eu... eu trabalhei duro! E você está fazendo tudo para me prejudicar, não bastou se envolver com o…

_Valentina! Almeida a interrompeu, com a voz firme. _ As evidências são claras, e já discutimos a sua posição na empresa, e mesmo a minha filha tenha tentando te proteger,  não podemos manter alguém que não entrega o que é necessário. Você está demitida.

A palavra "demitida" soou como um golpe. Valentina sentiu as pernas enfraquecerem, mas segurou-se, recusando-se a chorar na frente deles, vendo Susan sorrir pelos olhos.

_Eu... entendo... Conseguiu dizer, com a voz baixa. Nada que dissesse mudaria aquela decisão, ja que Almeida era o pai de Susan.

Enquanto ela se levantava para sair, Susan a seguiu até o corredor.

_ Ah, a  a vida é cheia de reviravoltas, não é? Provocou Susan esperando que Valentina reagisse e a atacasse. Quando Valentina foi na direção de Susan, outra funcionaria interveio.

_ Não faça isso, ela só quer te prejudicar. Falou segurando Valentina que percebeu que era realmente isso que Susan queria.

_ Obrigada. Agradeceu a pessoa que a impediu de bater em Susan. Valentina saiu da empresa sem olhar para trás, antes que cometesse uma loucura que a prejudicasse ainda mais,  com um peso no peito e a sensação de que tudo estava desmoronando mais uma vez.

Depois de deixar a empresa, Valentina caminhou pelas ruas sem rumo O vento frio daquela manhã fazia as lágrimas em seu rosto parecerem ainda mais geladas, mas ela não conseguia impedir que escorressem. A humilhação e o peso do dia esmagavam seu peito, dificultando até mesmo respirar. Cada passo parecia um esforço, cada rosto que cruzava o seu era ignorado, como se ela estivesse presa em uma bolha de dor.

Ao se aproximar de casa, tentou se recompor, limpando as lágrimas com as mangas do casaco e respirando fundo para acalmar o tremor em seu corpo. Porém, a sensação de fracasso não a abandonava.

Assim que abriu a porta, encontrou os avós sentados na sala, conversando. Eles se calaram assim que a viram.

_Valentina, o que você está fazendo aqui a essa hora? Perguntou  à avó, Dona Clara, franzindo a testa.

Valentina respira fundo, tentando encontrar as palavras certas.

_Preciso contar algo... Eu fui demitida... Contou , tentando controlar o tremor na voz.

A avó arregalou os olhos, enquanto o avô, Raimundo,  sentado em sua poltrona, resmungou algo inaudível antes de levantar o olhar para ela.

_Como assim perdeu o emprego? Questionou a avó, levantando o tom da voz

_ A culpa não foi minha… Disse Valentina com a voz embargada. _A Susan, tenho certeza que ela sabotou o meu trabalho, disse que eu fiz coisas erradas, mas eu não fiz, e...

_Valentina, isso é muito grave. Como vamos acreditar que você está falando a verdade?

_Vocês me conhecem! Sabem que eu nunca faria algo assim, que eu me esforço para fazer o meu melhor.  Disse Valentina mplorando com o olhar.

_ Não importa se é verdade ou não. A questão é que você perdeu o emprego. E nós estávamos ajudando a pagar a sua faculdade. Sem isso, não tem como continuar, não podemos dar mais dinheiro a você, isso se você realmente estiver gastando ele como diz que gasta.

Valentina sente um nó na garganta diante da desconfiança.

_Por favor, vovô, não desistam de mim. Eu vou conseguir outro trabalho, vou resolver isso...

_Resolver? Como, Valentina?  Dona Clara a interrompeu. _Você só traz problemas. Pensa que não sabemos que esteve dormindo fora, e que ficava rindo pelos cantos mexendo no celular, e agora isso... Parece que você está seguindo os passos da sua mãe.

A menção à mãe de Valentina foi um soco no estômago. Ela abriu a boca para falar, mas as palavras pareciam presas

_Eu não sou como ela! Gritou Valentina, sentindo as lágrimas molharem novamente o seu rosto.

Dona Clara balança a cabeça, sem ceder.

_Isso é o que veremos. Mas, por enquanto, você vai ter que se virar sozinha. Não podemos mais ajudá-la, temos outros netos, e eles não nos dão tanto trabalho quanto você. O Henrique está fazendo cursinho, vai ser medico, e e ele sim tem um futuro. Há tempos estamos pensando em ajudá-lo, mas estávamos gastando dinheiro com você… se arrependimento matasse.

Valentina não conseguiu mais ouvir. Correu para o quarto com o rosto em chamas, enquanto as palavras da sua avó ecoando como um mantra cruel.

Ao entrar, fechou a porta e caiu na cama, abraçando o travesseiro com força, como se ele fosse sua única fonte de conforto.

Lágrimas quentes escorriam pelo rosto, molhando o tecido, enquanto soluços sacudiam seu corpo. Ela se sentia pequena, desamparada, como se o mundo inteiro estivesse contra ela.

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