As duas carrinhas de mudanças deram a entender que alguém se ia mudar para o meu prédio. O único apartamento que ainda estava vago era o 504 o apartamento ao lado do meu. Talvez o novo vizinho fosse simpático, se calhar eu devia ir fazer um bolo para lhe dar as boas vindas...
Abri a porta do corredor e espreitei para ver se via alguém, mas o pessoal das mudanças ainda estava a descarregar as caixas lá em baixo e eu optei por voltar a fechar a porta de minha casa e ir ver o que havia na dispensa para lhe fazer um bolo. Seria homem ou mulher?
Rezei que fosse um homem,porque a minha paciência para aturar mulheres era demasiado curta. Eu tinha o Simon, um dos meus melhores amigos, que vivia no mesmo prédio que eu, mas no andar de baixo e tinha também o Will que vivia no mesmo corredor que eu mas no fundo do corredor. Esses sim, eram pessoas que eu sempre tinha considerado meus amigos e tinham estado a apoiar-me nos meus piores momentos.
Eu estava a ver o que tinha na dispensa quando alguém me tocou à porta, era Simon que vinha entusiasmado com o facto de termos novos vizinhos.
- Já viste quem é?- ele perguntou quando se sentou no sofá pegando logo no comando da tv.
- Ainda não, mas a pessoa deve ter comprado isto. O velho Nelson nunca ia alugar a casa a ninguém, ele disse sempre que só queria vender.
- Tens de te dar bem com a alminha então, senão vais ter uns tempos difíceis...
- Espero que seja um homem, só peço isso. Não quero ter nenhuma bestie ao meu lado a viver.
- Para isso já basto eu!- ele disse com um sorriso gozão fazendo um coração com as duas mãos. Eu ri e voltei a minha atenção para a dispensa pegando nos ingredientes para o bolo. No corredor ouvimos um latir, Simon levantou-se como se tivesse uma mola debaixo dele e abriu a porta de minha casa e depois voltou a fechar rapidamente.
- A pessoa tem um golden!!!- ele disse sem conseguir conter a excitação.
- E?
- O cão é lindooooo!
- Mais um bocadinho e queres ir passeá-lo!
- Depende do dono...- ele disse rindo. Eu abanei a cabeça, ele não tinha juízo nenhum mesmo.Fiz o bolo, optei por um bolo de chocolate com calda de chocolate e algumas nozes, era o meu bolo favorito. A minha parte estava feita, por isso sentei-me ao pé de Simon e ficámos a ver uma série que costumávamos acompanhar.
Já tinha quase anoitecido quando o barulho dos tipos das mudanças parou. Simon levantou-se e abriu a porta na expectativa de ver quem se tinha mudado para o meu lado, mas a porta já estava fechada. Eu espreitei também, mas a única resposta que tivemos foi um cão a ladrar e uma voz masculina estar a chamá-lo á atenção.
- Max, calma!- ele dizia. Simon olhou para mim quase a ter um ataque de histeria.
- É um homem!
- Fico feliz por saberes distinguir vozes...- eu disse indo á cozinha para ver se o bolo já tinha arrefecido para o levar.
Peguei no bolo, meti num prato e saí de casa para ir levar o bolo, bati á porta e o cão voltou a ladrar de novo.
- Max!- ele gritou novamente e depois ouvi passos. Ele abriu a porta e eu fiquei sem reação: aquele homem era um Deus! Cabeço preto despenteado, moreno de olhos castanhos escuros, ele estava apenas de bermudas e eu vi os músculos do abdômen dele salientes, juro que um calor súbito subiu por mim a cima e eu fiquei saber o que lhe dizer. Ele olhou para mim e depois para o bolo.
- Sim?
- Sou o Nanon, vivi na casa ao lado...fiz este bolo para lhe dar as boas vindas, vamos ser vizinhos...- sorri para ele, ele olhou para o bolo desconfiado.
- Não, obrigado.- ele disse fechando a porta na minha cara.Okay, aquilo tinha corrido mal, ele podia ser lindo, mas era um bocado antipático…
Voltei para dentro de casa com o bolo e Simon veio logo ter comigo.
- Não quis?
- Não. Acho que ele não estava de bom humor, ou é mesmo assim!Simon tirou-me o prato do bolo da mão e fugiu com ele para a cozinha procurando nas gavetas uma faca.
- Mais sobra!- ele disse cortando uma fatia enorme de bolo.
Juro que tentei dormir, mas a meio da noite o cão do meu novo vizinho não parou de ladrar. Era óbvio que ele estava a estranhar a nova casa e era por isso que ainda não se tinha calado, mas também ele não tinha qualquer controlo sobre ele,porque eu só o ouvia dizer para ele se calar sem sucesso.
Sentei-me na cama e fiquei a olhar para as paredes do meu quarto, no dia seguinte ia ser lindo para eu me levantar!
As horas foram passando e sempre que eu ia começar a dormir o cão começava a ladrar de novo e eu a certa altura perdi o resto da minha paciência e levantei-me da cama furioso saindo do quarto pronto para iniciar a discussão do século. Dei com o punho fechado na porta dele várias vezes até ele abrir a porta, o cabelo despenteado, de boxers, e sem paciência também pelos vistos.
- Eu sei que ele está a fazer muito barulho, mas não tenho como o calar!- ele justificou-se mal eu abri a boca para falar. O cão veio atrás dele e espreitou olhando para mim.
- Max para trás!- ele disse, mas quando reparei ele já me tinha atirado ao chão e estava a lamber-me a cara.
Ele apressou-se a tirá-lo de cima de mim e eu levantei-me ainda com as costas duridas derivado ao tombo.
- Entra.- ele pediu-me, pelos vistos tinha ficado preocupado com o que o Max me tinha feito.
- Não é preciso, eu estou cansado, preciso mesmo que ele se cale, amanhã tenho de ir trabalhar bem cedo e por este andar não me vou aguentar em pé!
- Entra porra!- ele disse mais alto e eu tive medo que alguém da administração do prédio o ouvisse, por isso entrei em casa dele fechando a porta atrás de mim.
A casa estava cheia de caixotes, parecia que ele ainda não se tinha dado ao trabalho de arrumar as coisas e o Max como era óbvio estava irrequieto por causa disso, ele não tinha espaço quase para se mover.
- Ele está ansioso.- disse-lhe olhando para Max que olhava para mim como se eu fosse uma tábua de salvação.
- Como sabes?- ele perguntou-me curioso fazendo festas no lombo do cão.
- No meu primeiro emprego eu passeava cães z consigo perceber o que se passa com ele. Ele quer espaço para se mover e à frente dele só existem caixas e caixas...
Ele olhou para a sala e coçou a cabeça olhando depois para Max.
- Companheiro, amanhã vou tentar despachar estas caixas, com sorte já vamos ter tudo tratado!- ele sorriu para Max e eu perdi-me durante segundos no sorriso dele. Ele olhou para mim e eu ainda estava ali a derreter-me.
- Sou o Ohm. Sei que não começámos muito bem, mas espero que isso melhore.
Sorri para ele e fui para sair, mas Max voltou a ladrar.
- Acho que ele não quer que vás...- ele disse olhando para Max que parecia estar a boicotar o meu regresso a casa.
- Um dia vou passear-te, prometo!- disse-lhe fazendo-lhe festas no lombo. Ohm sorriu.
- Ele gosta de ti, se fosse outra pessoa ele tinha já arrancado algum pedaço.
- É bom saber...- eu disse olhando para Max com um leve receio.
- Ainda sobrou bolo?- ele perguntou-me de repente.
- Sim, o meu melhor amigo por acaso ainda deixou algum bolo. por sorte não se lembrou de o levar com ele...
- Posso ter uma fatia?
Juro que quando ele me disse aquilo eu tive a nitida sensação que não era do bolo que ele queria uma fatia, mas eu só podia estar a imaginar coisas, eram ilusões provocadas pela privação de sono, só podia, por isso fui a casa e fui buscar o prato do bolo para lhe dar o bolo que por acaso até tinha sido feito para ele.
- Queres comer comigo?- ele perguntou-me, e juro que mais uma vez tive a impressão que não era de comer o bolo que ele estava a falar.
- Acho que ele já sossegou por isso vou para casa, preciso de descansar, fica para outra altura...
Despedi-me dele e saí porta fora com o coração aos pulos. Eu estava a imaginar coisas ou ele tinha acabado de se fazer a mim?
No dia seguinte quando acordei só quis amaldiçoar o Ohm por estar a cair de sono. Levantei-me e fui tomar um duche de água fria, dessa maneira podia acordar mais depressa e talvez me conseguisse manter acordado o resto do dia.
Não pensei sequer nele e vesti-me, do outro lado Max estava silêncio, provavelmente estava a dormir. Que bom para eles!
Fiquei em frente ao espelho para ajeitar o meu cabelo, ele era naturalmente ondulado e eu nem sempre tinha paciência para o esticar. Olhei para o meu outfit do dia e parecia estar bom. Calças cargo verdes escuras, o meu blusão era verde tropa e tinha uma t-shirt branca vestida. Peguei nos meus óculos de sol e depois lenbrei-me que ainda não tinha metido os meus fios, por isso fui a correr ao quarto buscá-los e já trouxe a mochila comigo. Olhei novamente ao espelho e depois saí apressado.
Eu trabalhava como relações públicas num dos restaurantes mais conhecidos na Tailândia e naquele dia o nosso chef ia lançar pratos novos, por isso eu tinha de lá estar para ver a reação dos clientes e caso existissem reclamações poder lidar com elas.
Cheguei ao restaurante e Will, o meu melhor amigo e dono do restaurante estava já a discutir com alguns dos assistentes dele, as coisas não lhe estavam a sair como ele queria e a paciência dele já se tinha esgotado.
- Precisas de ajuda?- perguntei-lhe mal cheguei à cozinha. Ele tirou o avental dele e atirou-o para cima da bancada saindo apressado. Fui atrás dele, fui encontrá-lo nas traseiras do restaurante sentado no chão pensativo.
- Estes tipos parece que não sabem fazer as coisas bem à primeira!- ele disse chateado. Sentei-me ao lado dele e meti o braço por cima dos ombros dele.
- Will, tem calma, eu sei que queres que tudo seja perfeito, mas eles estão a fazer o melhor que podem...
Ele deixou cair os ombros, notava-se que ele estava exausto.
- Eu sei, acho que descarreguei neles as minhas frustrações...
Tirei o braço de cima dos ombros dele e olhei para ele.
- Simon?
Ele acenou com a cabeça.
- O que foi desta vez?
- Ele não percebe que eu tenho o restaurante e que não posso largar tudo só porque ele anda carente! Nanon tu sabes que eu farto-me de trabalhar, somos todos sócios à anos, temos isto que é nosso e sabes bem o esforço que fiz para que as coisas dessem certo! Mas ele não percebe isso, ele quer que eu esteja com ele a toda a hora!
- Eu acho que vocês deviam viver juntos, quem sabe assim ele acalmasse. Vocês estão juntos já à imenso tempo, mas ainda não passaram disso. Ele deve estar a começar a entrar em stress por causa disso.
- Isso está fora de questão. Preciso de ter o meu espaço. Já falámos várias vezes sobre isso.- ele disse rapidamente como se quisesse acabar ali com a conversa. Will sempre tinha tido problemas em baixar a guarda com Simon, eu estava lá desde que eles se tinham conhecido e vi logo nos olhos do Simon que ele gostava dele, mas disso até o ter conseguido conquistar tinham passado anos. Eu admirava a maneira como Simon nunca tinha desistido dele.
- Bem, faz como te sentires melhor, posso dizer apenas isso.
Ele olhou para mim e acenou com a cabeça. Ficámos ali ainda alguns minutos e depois voltámos ao trabalho, tínhamos a casa cheia naquele dia e nada podia falhar.
Simon chegou pouco tempo depois, vinha bem disposto como sempre e nem ligou sequer à má disposição do namorado quando passou por mim e disse que ia trocar de roupa no escritório. Ele era o gerente do restaurante e levava o trabalho dele muito a sério. Fui atrás dele para o escritório, ele procurava uma camisa para vestir, já estava de tronco nú quando entrei.
- O Will está stressado.- disse-lhe. Ele tirou a camisa do cabide e vestiu-a,fui até ele e ajudei-o a fechar os botões da camisa olhando para ele sério.
- Já sei que queres dizer alguma coisa, mas deixa isso de lado Nanon, não vale a pena. agora vou ficar no meu canto, ele quando quiser estar comigo ele sabe onde vivo.- ele parecia bem disposto, mas eu sabia que se puxasse por ele mais um pouco ele ia desabar.
- Vais ficar bem? Vais ver ele hoje várias vezes...
- Sim, eu sei separar as coisas, não te rales com isso. Então e o vizinho novo?
Só nessa altura voltei a pensar em Ohm.
- Bem, o cão dele esteve a ladrar quase toda a noite, acabei por ir lá reclamar e saí de lá com a ideia que ele em algum ponto se estava a fazer a mim!
Simon soltou uma gargalhada, virou-me as costas e foi buscar o blazer.
- Conta mais!
- Acho que ele é bipolar, só pode! De manhã fechou-me a porta na cara, depois á noite até o bolo me pediu!
Simon só se ria, eu não via onde a bipolaridade tinha piada, mas acabei por me resingar. Eu tinha um vizinho estranho.
Em poucas horas o restaurante estava pronto para abrir, Will já tinha acalmado e eu fui ver as reservas que tínhamos. Estávamos lotados para esse dia.
Ao meio dia o restaurante abriu as portas para receber os nossos clientes e quando dei por isso tínhamos a sala cheia de gente faminta.
Os nossos empregados não tinham mãos a medir e até eu acabei por ter de ir servir alguns clientes.
Quando estava a levar a loiça de uma mesa que tinha acabado de ser desocupada vi Ohm com mais três homens entrarem no restaurante, um deles deu o nome à nossa recepcionista e ela acompanhou-os à mesa que ao lado da minha já estava vaga.
Olhei para Ohm, ele cruzou o olhar dele comigo e literalmente fingiu que não me conhecia. Mas que raio se passava com ele?!
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