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Highlander

Arco 1: Ecos de Cinzas

As árvores altas projetavam sombras irregulares sob o céu encoberto. O ar era denso, pesado, quase palpável, como se a floresta respirasse ao redor de Rhaedrin Skarne. Ele seguia pela trilha estreita, o som de suas botas abafado pelo musgo que cobria o chão. As folhas acima balançavam com o vento, criando uma sinfonia suave que contrastava com a tensão no ar.

Rhaedrin carregava sua espada negra às costas, o cabo esculpido em um desenho simples, mas robusto, que se ajustava perfeitamente à sua mão. O manto escuro caía sobre os ombros largos, surrado pelas viagens. A textura rústica da lã era marcada por bordados que narravam histórias de seu clã, um legado que o acompanhava onde quer que fosse.

Ele estava ali para cumprir um contrato. Um vilarejo havia sido destruído, e os rumores falavam de uma criatura que atacava durante a noite, deixando apenas cinzas e silêncio. O trabalho de um Highlander não era questionar ou lamentar. Era caçar.

Quando chegou à clareira onde o vilarejo deveria estar, encontrou um campo de destroços. As casas estavam reduzidas a escombros, os telhados queimados, e o cheiro de fuligem ainda pairava no ar. Ele parou no centro, os olhos analisando cada detalhe. Não havia corpos, nem sangue, apenas destruição. Isso tornava tudo ainda mais inquietante.

O silêncio foi rompido por um som fraco, quase imperceptível. Rhaedrin virou-se na direção de uma cabana parcialmente de pé. O ruído parecia um soluço, baixo e irregular. Ele caminhou até a entrada, a mão repousando no cabo da espada, mas não a puxou.

— Quem está aí? — Sua voz cortou o ar, calma, mas com autoridade.

Após alguns segundos de hesitação, uma garota emergiu da sombra. Seus cabelos ruivos estavam emaranhados, e o vestido simples que usava estava sujo e rasgado. Os olhos verdes encontraram os de Rhaedrin com uma mistura de medo e alívio.

— Você... você não é um deles, é? — A voz dela era trêmula.

— Não sou. — Ele avaliou a figura à sua frente, buscando sinais de perigo, mas tudo que viu foi uma jovem assustada. — Como sobreviveu?

Ela abraçou os próprios braços, tremendo. — Eu me escondi. Quando ele veio... eu corri para a floresta. Mas não tenho para onde ir.

Rhaedrin não respondeu imediatamente. Seus olhos percorreram o local novamente, atentos a qualquer movimento. A presença dela complicava as coisas. Highlanders não eram feitos para proteger pessoas; eles eliminavam ameaças e seguiam em frente. Mas deixá-la ali não era uma opção.

— Seu nome? — perguntou ele.

— Lyana.

Antes que pudesse dizer mais, o som quebrou o silêncio ao redor. Um rugido profundo e ressonante ecoou pela floresta, seguido pelo som de galhos quebrando e folhas farfalhando. Rhaedrin virou-se na direção do som, puxando a espada com um movimento fluido. O brilho opaco da lâmina negra refletiu a luz fraca que atravessava as nuvens.

— Fique aqui. Não saia por nada. — Ele lançou um olhar rápido para Lyana antes de avançar em direção ao som.

A criatura emergiu da linha de árvores como uma mancha viva. Seu corpo era uma massa grotesca de carne e ossos expostos, coberto por uma substância escura que parecia escorrer e evaporar ao mesmo tempo. Os olhos brilhavam em um tom vermelho intenso, fixando-se em Rhaedrin com uma intenção quase humana.

Ele assumiu posição, a espada firme em suas mãos. O monstro avançou, cada passo pesado fazendo o chão tremer. Rhaedrin desviou do primeiro ataque, um golpe de uma das garras maciças que destruiu uma árvore próxima. Ele girou a lâmina em um arco perfeito, acertando a lateral da criatura, mas a pele grotesca parecia resistir ao corte.

A batalha era feroz. Rhaedrin movia-se com precisão, seus golpes ecoando no ar, enquanto a criatura o atacava com selvageria. Cada desvio era milimétrico, cada golpe calculado. O som da luta preenchia a clareira, misturando-se ao rugido da besta e ao impacto de golpes contra o solo.

Lyana observava de longe, os olhos arregalados. O Highlander era uma força da natureza, sua figura escura movendo-se como se fosse parte da sombra que o cercava. Mas ela podia ver o cansaço começando a se manifestar nos movimentos dele.

Com um movimento rápido, Rhaedrin desferiu um golpe direto no pescoço da criatura. A lâmina negra atravessou a carne, e o rugido final foi abafado enquanto o monstro caía. O corpo começou a se desintegrar, dissolvendo-se em uma substância escura que desaparecia no ar.

Rhaedrin recuou alguns passos, respirando fundo. Ele limpou a espada com um pedaço de tecido antes de colocá-la de volta às costas. Então virou-se para Lyana, que ainda estava imóvel.

— Você matou aquilo... sozinho? — A voz dela era um misto de incredulidade e fascínio.

— É o meu trabalho. — Ele começou a caminhar de volta pela trilha, mas parou quando ouviu os passos dela seguindo atrás.

— Espere. Por favor. Não posso ficar aqui.

Ele olhou por cima do ombro, avaliando-a por um momento. Ela parecia frágil, mas havia uma determinação em seus olhos que ele não podia ignorar.

— Se quiser vir, mantenha o ritmo. Não vou esperar por você. — E continuou caminhando.

Lyana hesitou por um instante antes de segui-lo. Ela sabia que aquele era o único caminho que lhe restava, mesmo que o destino fosse incerto.

O céu começou a escurecer enquanto Rhaedrin e Lyana caminhavam pela trilha sinuosa que levava para fora da floresta. A luz fraca do sol poente projetava sombras longas sobre as árvores, e o som abafado de seus passos era o único ruído que preenchia o silêncio opressor.

Rhaedrin mantinha os olhos fixos no caminho à frente, sua mão ainda próxima ao cabo da espada. A presença de Lyana era uma complicação que ele não havia planejado, mas algo na determinação dela o impedia de mandá-la embora. Ele não tinha tempo para entender por que.

— Para onde estamos indo? — perguntou Lyana, quebrando o silêncio. Sua voz era baixa, hesitante, como se temesse a resposta.

— Para longe daqui, — respondeu Rhaedrin, sem olhar para ela.

— Isso não ajuda muito.

Ele parou abruptamente e virou-se para ela, os olhos cinzentos fixando-se nos dela com uma intensidade que fez Lyana recuar meio passo.

— Você está viva porque eu decidi deixar você vir. Então me poupe das perguntas.

Ela engoliu em seco, mas não recuou mais. Havia algo nos olhos dele — uma mistura de exaustão e algo mais profundo, algo que ela não conseguia nomear.

— Eu só... não quero ser um peso.

— Então não seja.

Sem mais palavras, ele voltou a caminhar. A trilha se tornava mais íngreme, as árvores dando lugar a formações rochosas que subiam como muralhas naturais ao redor deles. A cada passo, a sensação de serem observados crescia, um peso invisível que pressionava os ombros de Lyana.

— Isso sempre acontece? — Ela finalmente quebrou o silêncio novamente, olhando ao redor como se esperasse ver algo surgir das sombras.

— O quê? — perguntou ele sem se virar.

— Esse silêncio... esse sentimento de que algo está nos espreitando.

— É o mundo, — respondeu ele simplesmente. — Está cheio de coisas que preferimos não ver.

O comentário a deixou em silêncio. Não havia como argumentar com algo tão absoluto.

Quando a noite caiu completamente, Rhaedrin encontrou um local protegido entre as rochas para descansarem. Ele começou a preparar um pequeno fogo, suas mãos experientes manipulando gravetos e pedras para acender as chamas sem esforço. Lyana observava, sentada de lado, os joelhos puxados contra o peito.

— Você faz isso com frequência? — perguntou ela, tentando romper o silêncio pesado.

Ele não respondeu imediatamente. Depois de um momento, ele apenas disse:

— O suficiente para saber que não importa onde estou, sempre há algo esperando para matar.

Ela franziu o cenho, abraçando os próprios braços.

— Deve ser solitário.

Ele parou por um momento, os olhos fixos nas chamas que começavam a crescer.

— Solitário é uma palavra gentil.

Por um instante, ela sentiu vontade de perguntar mais, de entender por que alguém escolheria uma vida assim. Mas antes que pudesse falar, um som baixo veio das rochas próximas.

Rhaedrin levantou-se imediatamente, a espada já em mãos antes que Lyana pudesse perceber o movimento. Ele sinalizou para que ela ficasse em silêncio, os olhos varrendo as sombras ao redor.

— Fique perto do fogo, — disse ele em um tom baixo, sem desviar o olhar das rochas.

Lyana obedeceu, seus olhos arregalados enquanto o silêncio da noite se tornava pesado demais. O som repetiu-se, um arrastar irregular que parecia vir de algo grande.

Rhaedrin avançou alguns passos, os músculos tensos como um arco prestes a disparar. Ele sabia que a floresta nunca estava realmente vazia. E, ao longe, entre as sombras, algo começou a se mover.

Ele apertou o cabo da espada, os olhos fixos na escuridão que se adensava ao redor deles.

— Prepare-se, — murmurou ele.

Lyana segurou a respiração, seu corpo congelado pela antecipação. Naquele momento, ela percebeu que viajar com um Highlander era estar sempre à beira de um abismo.

Ecos das Sombras

A trilha sinuosa que levava para fora da floresta parecia não ter fim. O ar estava mais frio naquela manhã, e uma leve neblina cobria o solo úmido, abafando os sons dos passos. Rhaedrin caminhava à frente, sua postura ereta e constante, como se o peso da espada às costas fosse parte de seu próprio corpo. Lyana o seguia alguns metros atrás, tentando manter o ritmo, mas cada passo parecia mais pesado do que o anterior.

Ela apertou o manto que Rhaedrin havia lhe dado na noite anterior. O tecido era áspero, cheirando a couro e cinzas, mas trazia um conforto inesperado. Seus pés descalços estavam sujos e machucados, mas ela não reclamava. Sabia que, para continuar viva, precisava seguir em frente.

O silêncio entre os dois era quase palpável, interrompido apenas pelo canto distante de um pássaro ou pelo estalar de galhos secos sob os pés de Lyana. Apesar disso, ela sentia a tensão no ar, como se o próprio ambiente os observasse.

— Você está muito quieta, — disse Rhaedrin, sem olhar para trás.

Lyana hesitou antes de responder. — Não sei o que dizer.

— Não precisa dizer nada, — ele respondeu com simplicidade. — Apenas continue andando.

Ela queria perguntar mais, queria entender quem era aquele homem que parecia carregar o mundo nos ombros, mas algo na postura dele a impedia. Não era hostilidade, mas uma barreira invisível, como uma muralha que ele havia erguido entre ele e o resto do mundo.

Quando a trilha finalmente abriu para um pequeno vale, o cenário mudou drasticamente. A grama era baixa e coberta de orvalho, brilhando sob a luz fraca do sol que lutava para atravessar as nuvens. No centro do vale, uma árvore solitária se erguia, seus galhos torcidos parecendo mãos esqueléticas apontando para o céu.

Rhaedrin parou, seus olhos fixos na árvore. Lyana quase esbarrou nele, mas conseguiu parar a tempo.

— O que foi? — perguntou ela, olhando ao redor, tentando entender o que ele estava vendo.

— Não estamos sozinhos. — A resposta veio curta, mas o suficiente para fazer o coração dela disparar.

Antes que ela pudesse perguntar mais, um movimento rápido chamou sua atenção. Das sombras projetadas pela árvore, uma figura surgiu. Era um homem, ou pelo menos algo que se parecia com um. Sua pele era pálida e fina, quase translúcida, e seus olhos brilhavam com um tom amarelado. Vestia uma armadura leve de placas escuras, corroídas pelo tempo, e carregava duas lâminas curvas que pareciam cintilar à luz do sol.

— Um caçador de recompensas, — disse Rhaedrin, mais para si mesmo do que para Lyana.

O homem sorriu, um gesto que não tinha nada de caloroso.

— Faz tempo que não cruzo com um Highlander. — Sua voz era baixa e arrastada, como o sussurro de folhas mortas. — Me disseram que você estaria aqui.

Rhaedrin não respondeu. Ele apenas deu um passo à frente, a mão já no cabo da espada.

— Você sabe por que estou aqui, não sabe? — continuou o homem, balançando uma das lâminas casualmente. — Aquele contrato. Aquele que você tomou. Alguém pagou muito para garantir que ele não fosse cumprido.

Lyana olhou para Rhaedrin, esperando uma reação. Ele parecia inabalável, mas ela podia ver seus dedos apertando o cabo da espada com mais força.

— Você deveria ter ficado fora disso, — disse Rhaedrin finalmente, sua voz fria como o vento.

O caçador riu, um som seco e desagradável.

— Highlanders sempre tão confiantes. Vamos ver se essa sua fama é merecida.

A batalha começou sem aviso. O caçador avançou com velocidade impressionante, suas lâminas girando em um arco perigoso. Rhaedrin desviou por um triz, a espada negra saindo da bainha em um movimento fluido. O som do metal contra metal ecoou pelo vale, cortando o silêncio como uma lâmina invisível.

Lyana recuou instintivamente, os olhos arregalados enquanto observava a luta. Rhaedrin movia-se com uma precisão assustadora, cada golpe desferido com uma força controlada. O caçador, por outro lado, era rápido, ágil, suas lâminas dançando ao redor do Highlander em tentativas de encontrar uma brecha.

O som da respiração pesada dos dois combatentes preenchia o ar, misturando-se ao impacto das lâminas. A espada negra parecia pulsar com uma energia própria, seus golpes emitindo um brilho fraco que desaparecia tão rápido quanto surgia.

Rhaedrin finalmente encontrou sua abertura. Com um giro rápido, ele desarmou o caçador de uma das lâminas, que caiu ao chão com um estrondo. Antes que o homem pudesse reagir, a espada negra estava em sua garganta.

— Diga quem te enviou, — ordenou Rhaedrin, sua voz firme.

O caçador riu novamente, mas dessa vez havia algo de estranho em seu tom.

— Você realmente acha que isso importa? Eles sempre enviarão outro... e outro.

Rhaedrin não hesitou. Com um movimento rápido, ele cravou a lâmina na garganta do homem, silenciando-o para sempre.

O corpo caiu ao chão, e o silêncio voltou a dominar o vale. Rhaedrin limpou a espada na capa antes de colocá-la de volta às costas.

— Isso foi... — começou Lyana, mas sua voz falhou.

— Apenas o começo, — respondeu Rhaedrin, sem olhar para ela.

Ele começou a caminhar novamente, e Lyana, mesmo com as pernas tremendo, seguiu. Ela sabia que aquele era o único caminho que lhe restava, mesmo que a estrada à frente estivesse mergulhada em sombras.

Enquanto caminhavam, o vento pareceu se erguer, trazendo consigo o som distante de folhas balançando e galhos se chocando. O vale ficou para trás, e a trilha os conduziu para uma encosta rochosa. Rhaedrin caminhava à frente, o ritmo constante de seus passos ecoando na pedra sob os pés. Ele era uma figura quase espectral contra o horizonte nebuloso, sua capa esvoaçando suavemente a cada rajada de vento.

Lyana seguia atrás, os pés ainda doloridos, mas agora uma determinação silenciosa se fixava em seu rosto. Cada movimento do Highlander parecia meticulosamente planejado, como se ele sentisse o mundo ao redor de uma forma diferente, mais aguda. Ela não sabia o que esperar ao continuar com ele, mas sabia que onde quer que fossem, a segurança era algo que não viria facilmente.

— Ele sabia seu nome. — A voz dela quebrou o silêncio. Era mais uma observação do que uma pergunta, mas a tensão estava ali.

Rhaedrin não respondeu de imediato. Ele parou no topo de um rochedo, observando o horizonte. Sua postura parecia rígida, mas havia algo de melancólico na forma como ele segurava o cabo da espada presa às costas.

— Eles sempre sabem, — respondeu ele, finalmente, sem olhar para ela. — Meu nome está marcado em mais contratos do que posso contar.

— Então é assim que é ser um Highlander? — Ela se aproximou, olhando para ele. — Caçar monstros enquanto é caçado por pessoas?

Ele finalmente se virou para encará-la, os olhos cinzentos brilhando com algo entre cansaço e determinação.

— Ser um Highlander significa não ter para onde voltar. Significa carregar o fardo de fazer o que ninguém mais quer ou consegue. Não é uma vida. É uma sentença.

Lyana engoliu em seco, as palavras dele caindo sobre ela como uma verdade incômoda. Ela tentou desviar o olhar, mas algo na intensidade dele a mantinha presa.

— E mesmo assim você continua, — disse ela em voz baixa.

— Continuo porque alguém precisa. — Ele deu de ombros e voltou a caminhar.

O dia foi se arrastando, e a trilha os levou para uma floresta mais densa. Os galhos das árvores formavam um teto natural acima deles, bloqueando a luz do sol e mergulhando o ambiente em uma penumbra quase sufocante. O ar cheirava a terra molhada e madeira antiga, e o som de água corrente ao longe era o único alívio do silêncio pesado.

Rhaedrin parou de repente, levantando a mão em um gesto para que Lyana ficasse quieta. Ela congelou, os olhos arregalados enquanto tentava entender o que havia chamado a atenção dele.

O som era sutil no início, um estalo aqui e ali, como galhos sendo quebrados por algo pesado. Mas então veio o som mais claro — um rosnado baixo, gutural, que parecia vibrar no ar ao redor deles.

— Não se mexa, — sussurrou ele, sua mão já no cabo da espada.

Do meio da floresta, a criatura apareceu. Era uma fera massiva, com pelo escuro e brilhante como breu. Seus olhos eram amarelos, brilhando como faróis em meio à escuridão. Suas patas eram desproporcionais, cada passo pesado e deliberado, e garras afiadas rasgavam o chão onde pisava.

Rhaedrin deu um passo à frente, colocando-se entre Lyana e o monstro. Ele não disse nada, mas sua postura mudou. Ele era agora uma arma viva, os músculos tensionados como se cada parte de seu corpo estivesse pronta para agir.

A criatura rosnou novamente, e desta vez foi um aviso claro. Ela saltou para frente, rápida demais para algo de seu tamanho, e Rhaedrin mal teve tempo de desviar. Ele girou a espada em um movimento largo, mas a lâmina encontrou apenas o ar.

Lyana, escondida atrás de uma árvore, observava com o coração disparado. A luta era um espetáculo de precisão e brutalidade. Rhaedrin atacava com golpes poderosos, a espada negra cortando o ar com um som agudo, enquanto a criatura respondia com investidas ferozes e garras que pareciam capazes de rasgar pedra.

O impacto das investidas do monstro fazia o chão tremer. Rhaedrin desviava por pouco, usando a lâmina para bloquear os golpes mais perigosos, mas o cansaço começava a aparecer em seus movimentos. Ele recuou, respirando pesado, enquanto o monstro o encarava, os olhos brilhando com uma inteligência cruel.

Lyana apertou as mãos contra o tronco da árvore. Ela queria fazer algo, mas sabia que seria inútil. Ela só podia assistir enquanto o Highlander enfrentava algo que parecia impossível de derrotar.

Então, algo mudou. A espada negra começou a emitir um brilho fraco, quase imperceptível, como se estivesse respondendo à determinação de Rhaedrin. Ele apertou o cabo com mais força, seus olhos fixos na criatura à sua frente.

— Você não vai passar daqui, — murmurou ele, a voz baixa, mas carregada de intensidade.

Com um movimento rápido, ele avançou. O som do metal contra a pele grossa da criatura ecoou pela floresta, e o rugido da fera foi abafado por um golpe preciso. Quando o monstro finalmente caiu, o silêncio voltou, pesado e absoluto.

Rhaedrin ficou parado por um momento, a respiração pesada enquanto observava o corpo inerte da criatura. Ele limpou a lâmina em um pedaço de tecido antes de guardá-la novamente.

Lyana saiu de trás da árvore, os olhos ainda arregalados.

— Você faz isso... o tempo todo?

Ele deu de ombros, passando por ela sem responder.

— Vamos. Não é seguro ficar aqui.

Ela hesitou por um instante antes de segui-lo, a certeza de que sua vida nunca mais seria a mesma crescendo a cada passo.

Rhaedrin ajustou o passo enquanto a trilha o levava para uma área mais aberta. O som de seus passos ecoava suavemente entre as pedras, misturando-se ao murmúrio distante de um riacho. O céu acima ainda estava encoberto, mas pequenas brechas permitiam que raios tímidos de luz iluminassem o chão irregular.

Lyana mantinha-se próxima, mas nunca ao lado. Ela parecia entender instintivamente que aquele não era um homem com quem se caminha lado a lado. Seus olhos corriam entre os arredores e a figura alta à sua frente, buscando um equilíbrio entre curiosidade e medo.

— Quanto tempo até chegarmos a algum lugar seguro? — perguntou, a voz hesitante.

Rhaedrin respondeu sem virar o rosto.

— Não existe um lugar seguro. Só momentos entre os perigos.

Lyana franziu a testa, desacelerando por um instante antes de apressar o passo para não ficar muito atrás.

— Então, para onde estamos indo?

Ele finalmente parou. Virou-se para ela, e pela primeira vez, Lyana viu a exaustão nos olhos dele.

— Para onde o próximo contrato me levar.

Ela abriu a boca para protestar, mas foi interrompida por um som estranho, um farfalhar intenso vindo das árvores próximas. Imediatamente, Rhaedrin ergueu a mão em um gesto para que ela ficasse quieta.

— Fique onde está, — disse ele, sua voz baixa, mas carregada de autoridade.

Ele deu alguns passos para frente, a mão no cabo da espada, os olhos percorrendo cada sombra entre os troncos. O som continuava, irregular, como se algo estivesse rastejando. De repente, o ruído cessou, substituído por um silêncio pesado.

Rhaedrin se manteve imóvel, os músculos tensos, cada fibra de seu corpo pronta para reagir.

— Rhaedrin? — a voz de Lyana era um sussurro.

Antes que ele pudesse responder, algo surgiu das árvores. Não era uma criatura monstruosa como ele esperava, mas um homem, magro e encurvado, com roupas esfarrapadas e um olhar perturbado. Ele parecia estar fugindo de algo.

— Ajudem-me... — disse o homem, a voz trêmula e desesperada. Ele tropeçou e caiu de joelhos, apontando para trás dele. — Está vindo... por favor, vocês precisam...

Rhaedrin ergueu a espada, o brilho fosco da lâmina refletindo a pouca luz disponível. Ele não abaixou a guarda, nem mesmo quando o homem caiu no chão, exausto e em pânico.

— Quem está vindo? — perguntou ele, a voz firme.

O homem balbuciava, incapaz de formar palavras coerentes. Lyana deu um passo à frente, mas Rhaedrin estendeu o braço, bloqueando-a.

— Não confie tão facilmente, — murmurou para ela, sem desviar os olhos do estranho.

Antes que mais pudesse ser dito, o som voltou. Não rastejando, mas agora em um ritmo pesado, acompanhado por um cheiro pútrido que tomou o ar ao redor. Dos arbustos, uma figura grotesca emergiu. Era uma criatura esquelética, com músculos expostos e uma pele cinzenta que parecia brilhar com umidade. Seus olhos eram esferas vazias, mas brilhavam com um tom azulado, como se alguma força sobrenatural os guiasse.

Lyana recuou, o coração disparando.

— O que é isso?

Rhaedrin não respondeu. Ele avançou, sua lâmina cortando o ar enquanto a criatura investia contra ele. O impacto foi brutal, o som do metal contra ossos ecoando pela floresta. O Highlander desviava com uma precisão quase sobre-humana, mas o monstro era rápido, suas garras arranhando o chão e enviando fragmentos de pedra para todos os lados.

— Fique atrás das pedras, — gritou ele para Lyana, sem tirar os olhos da criatura.

Ela obedeceu, mas continuava assistindo, cada golpe e movimento gravados em sua mente. Era como se o mundo inteiro tivesse sido reduzido àquela luta, o som do combate preenchendo o espaço ao seu redor.

Com um último golpe, Rhaedrin cravou a espada no peito da criatura, que soltou um grito agonizante antes de desmoronar. A carne começou a se dissolver em uma fumaça escura, desaparecendo no ar.

Ele permaneceu parado por um momento, a respiração pesada. Quando finalmente guardou a espada, voltou-se para o homem caído, que agora chorava silenciosamente.

— Quem enviou isso? — perguntou, mas o homem apenas balançou a cabeça, incapaz de responder.

Rhaedrin olhou para Lyana.

— Vamos. Este lugar vai atrair mais deles.

Ela não protestou. Apenas o seguiu, com o som do vento entre as árvores agora parecendo sussurrar promessas de novos horrores.

Cordas e Silêncio

O acampamento improvisado era simples, mas eficiente. Sob o céu estrelado, Rhaedrin ajustava pedaços de madeira para alimentar as chamas do pequeno fogo que iluminava a clareira. Ele havia encontrado o lugar após horas de caminhada, um terreno elevado cercado por árvores, com uma leve brisa que afastava os insetos.

Lyana estava sentada perto do fogo, segurando algo que ele ainda não tinha notado: um violão antigo, desgastado, mas inteiro. As cordas, apesar de finas, pareciam prontas para ecoar melodias esquecidas.

— Onde encontrou isso? — perguntou ele, apontando para o instrumento com um movimento de cabeça.

Ela olhou para ele e sorriu timidamente.

— Era do meu pai. Peguei antes de... antes de perder tudo.

Rhaedrin assentiu lentamente. Não havia mais perguntas a fazer. Ele sabia que histórias como a dela estavam sempre marcadas por tragédias que palavras não conseguiam descrever.

Enquanto ele trabalhava na comida — coelhos que havia caçado com armadilhas improvisadas —, Lyana começou a afinar o violão. O som suave das cordas se misturava com o crepitar do fogo, criando uma melodia que parecia flutuar pelo ar frio da noite.

— Não sabia que sabia tocar, — comentou ele, sem desviar os olhos da panela que equilibrava sobre as chamas.

— Meu pai me ensinou, — respondeu ela, dedilhando uma melodia simples. — Não sou muito boa, mas... é algo que me lembra de quem eu era.

Rhaedrin continuou trabalhando, mas havia uma leve suavidade em sua postura, como se a música tivesse conseguido quebrar uma barreira invisível. Ele cortou pedaços da carne, temperando-os com ervas que havia recolhido no caminho, o aroma rico preenchendo o ar.

— Você cozinha? — perguntou Lyana, o tom levemente surpreso.

— Highlanders fazem o que precisam para sobreviver, — respondeu ele, mexendo a panela com cuidado. — Ninguém está lá para fazer por nós.

Ela sorriu e voltou a tocar. A melodia era mais animada agora, quase como se estivesse tentando preencher o espaço entre eles com algo mais leve.

Quando a comida ficou pronta, ele serviu uma porção para cada um. Usavam pedaços de madeira como pratos improvisados, e o sabor surpreendeu Lyana.

— Isso está... bom, — disse ela, os olhos brilhando de surpresa.

— Comer algo ruim no meio de uma batalha pode ser a diferença entre viver e morrer. É melhor que seja bom, — disse ele, um leve sorriso tocando seus lábios antes de desaparecer.

Enquanto comiam, Lyana continuava tocando, alternando entre músicas simples e acordes dispersos, como se estivesse testando memórias. Rhaedrin a observava por trás de sua postura endurecida, mas havia algo em seus olhos que sugeria um lampejo de nostalgia.

Quando terminaram de comer, ele se recostou em uma árvore, a espada ao alcance da mão. Lyana, por sua vez, ajustou o violão no colo e olhou para ele com uma expressão que misturava curiosidade e hesitação.

— Posso tocar algo? Algo de verdade? — perguntou ela.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Se quiser.

Ela sorriu e começou a tocar uma melodia lenta, melancólica. A música parecia carregar o peso de algo antigo, algo que transcendia palavras. Enquanto os acordes preenchiam o espaço ao redor deles, Rhaedrin fechou os olhos, permitindo-se, pela primeira vez, relaxar completamente.

Quando ela terminou, o silêncio tomou conta novamente, mas era um silêncio diferente. Não era o peso opressor do mundo ao redor, mas algo mais íntimo, mais humano.

— Essa música... — murmurou ele, sem abrir os olhos. — Ela tem um nome?

Lyana hesitou antes de responder.

— Meu pai chamava de ‘Canção do Lar’.

Rhaedrin ficou quieto por um momento, então se levantou, pegando sua espada e colocando-a nas costas.

— Hora de dormir. Amanhã, seguimos cedo.

Ela assentiu, mas não tocou mais naquela noite. Apenas guardou o violão e se recostou em um canto, enquanto o fogo lentamente se apagava.

Rhaedrin manteve-se acordado, observando as sombras ao redor. A música dela ainda ecoava em sua mente, como uma memória que ele não sabia se era dele ou de outra pessoa.

Quando a madrugada finalmente chegou, ele estava pronto para seguir, mas agora, algo dentro dele parecia diferente. E, pela primeira vez em muito tempo, o silêncio não parecia tão solitário.

O fogo reduzia-se a brasas, emitindo um brilho fraco que mal iluminava o acampamento. A noite estava silenciosa, mas o silêncio era denso, como se o próprio ar esperasse algo. Rhaedrin permanecia acordado, encostado em uma árvore, a espada ao alcance da mão. Ele conhecia bem aquele tipo de quietude — era o prelúdio de algo perigoso.

Lyana dormia perto do fogo, o violão repousando ao seu lado como um companheiro leal. Seu rosto, suavizado pelo sono, parecia pertencer a outro tempo, a uma vida menos cruel. Mas Rhaedrin sabia que aquela era uma trégua momentânea.

Então, o som veio. Primeiro, um estalo seco, seguido por passos pesados que quebravam galhos e deslocavam a terra. Ele levantou-se, os olhos fixos na escuridão.

— Lyana, acorde, — disse ele, a voz baixa e firme.

Ela abriu os olhos, piscando para ajustar-se à luz das brasas. Ao ver a expressão de Rhaedrin, sentou-se rapidamente, o corpo tenso.

— O que foi? — perguntou, ainda atordoada.

— Algo está aqui.

Os passos se tornaram mais claros, acompanhados por um rosnado baixo, quase gutural. Da sombra das árvores, uma criatura começou a surgir. Era alta, grotesca, com braços desproporcionais e pele que parecia mal ajustada sobre ossos protuberantes. Seus olhos, amarelos e vazios, fixaram-se em Rhaedrin, e ela soltou um som que parecia um misto de rugido e sibilo.

— Atrás de mim, — ordenou ele, puxando a espada.

A lâmina negra refletiu o brilho suave das brasas, um contraste perfeito com a criatura. Ela não hesitou. Com um salto, investiu contra ele, suas garras levantando pedaços de terra e pedras. Rhaedrin desviou com um movimento preciso, girando a espada para desferir um golpe na lateral da fera.

O impacto fez o monstro recuar, soltando um grito distorcido. O sangue escuro que escorria de seu flanco tingiu o chão, e o cheiro metálico inundou o ar. Mas a criatura não parou. Ela voltou a avançar, cada movimento desajeitado, mas carregado de força bruta.

Lyana observava de onde estava, o coração disparado. Ela queria correr, mas os pés não se moviam. A luta era feroz, um jogo de velocidade e força. Rhaedrin atacava com precisão, mas a fera parecia crescer em fúria a cada golpe.

— Lyana, vá! — gritou ele, desviando de mais um ataque que arranhou o chão onde ele estava segundos antes.

Ela pegou o violão e começou a correr, mas um som diferente chamou sua atenção. Do corpo da criatura, pequenas formas começaram a surgir, sombras rastejantes que pareciam mover-se com uma agilidade cruel.

— Droga, — murmurou Rhaedrin, girando a espada para derrubar uma delas antes que se aproximasse demais.

Lyana viu uma das sombras vir em sua direção e tropeçou, caindo no chão. Antes que ela pudesse gritar, Rhaedrin apareceu, cortando a coisa em dois com um movimento rápido. Ele olhou para ela, os olhos sérios.

— Fique fora do caminho. Não vou perder tempo salvando você de novo.

Ela assentiu, apressando-se para um ponto mais alto, onde pudesse observar sem atrapalhar.

Enquanto isso, a criatura maior avançava novamente. Rhaedrin desviou mais uma vez, mas desta vez o golpe de sua espada foi direto. Ele cravou a lâmina no peito da fera, que soltou um último rugido antes de cair, o corpo dissolvendo-se lentamente em uma fumaça escura que parecia arrastar a própria escuridão consigo.

Rhaedrin recuou, respirando pesado, mas não permitiu que o cansaço o dominasse. Ele limpou a espada e olhou ao redor, certificando-se de que o perigo havia passado.

Lyana desceu do ponto onde estava, os olhos ainda arregalados.

— Você conseguiu, — disse ela, a voz carregada de alívio.

— É o meu trabalho, — respondeu ele, guardando a espada nas costas.

Ela se aproximou, ainda segurando o violão como se fosse uma tábua de salvação.

— E se aparecerem mais?

Ele deu de ombros, começando a caminhar.

— Então, eu lido com elas.

Ela hesitou por um momento antes de segui-lo. A noite parecia ainda mais escura agora, mas enquanto caminhava atrás dele, Lyana sentiu que, apesar de tudo, estava viva. E com ele, sabia que não havia espaço para dúvidas. Apenas para sobreviver.

Rhaedrin caminhava à frente, a postura rígida como sempre, a capa balançando suavemente enquanto ele seguia pela trilha coberta de folhas. A lua, quase cheia, iluminava o caminho, mas a floresta ao redor parecia observar em silêncio. Atrás dele, Lyana apertava o passo, ainda segurando o violão como se temesse que o instrumento desaparecesse de suas mãos.

Ela o observava enquanto andava, tentando entender o homem que havia se tornado seu protetor improvável. Ele era frio, mas não indiferente. Cada movimento, cada palavra parecia calculado, mas havia momentos — como quando ele a salvou da sombra rastejante — em que ela sentia algo mais, uma humanidade escondida sob as camadas de aço.

— Você sempre faz isso? — perguntou ela, quebrando o silêncio.

— Faço o quê? — respondeu ele sem se virar.

— Salva pessoas... enfrenta monstros... segue em frente como se nada tivesse acontecido.

Ele parou, virando-se lentamente. Os olhos cinzentos encontraram os dela, e por um momento, o mundo pareceu parar.

— Não é uma escolha. É o que um Highlander faz.

Ela hesitou antes de perguntar:

— Mas por quê? Por que você faz isso se... parece odiar tanto?

Rhaedrin ficou em silêncio por um instante, como se estivesse ponderando a resposta.

— Porque alguém precisa. E porque não sei fazer outra coisa.

Lyana não sabia o que dizer. Ele voltou a caminhar, e ela seguiu, agora com mais cuidado em suas perguntas.

 

O sol começava a nascer quando Rhaedrin finalmente parou. Haviam chegado a um pequeno riacho, a água cristalina correndo suavemente sobre as pedras. Ele se abaixou, tirando uma garrafa de couro de dentro do manto para enchê-la. Lyana, exausta, largou o violão ao lado e se ajoelhou na beira da água, mergulhando as mãos no líquido frio.

— Isso é... melhor do que esperava, — disse ela, lavando o rosto.

Rhaedrin sentou-se em uma pedra próxima, observando o horizonte.

— Vamos descansar aqui por um tempo. Mas fique alerta. Nem sempre dá para confiar em lugares tranquilos.

Ela assentiu, mas não podia evitar um suspiro de alívio. Pegou o violão e começou a dedilhar suavemente, um som leve que parecia se misturar com o som da água.

Rhaedrin observava em silêncio. Ele nunca se interessara por música, mas havia algo reconfortante na forma como ela tocava, como se cada acorde dissipasse um pouco do peso que ele carregava.

— Você já tocava antes de tudo isso? — perguntou ele de repente, quebrando o ritmo dos pensamentos dela.

— Desde criança, — respondeu Lyana. — Meu pai me ensinou. Ele dizia que... — Ela parou, a voz falhando por um momento. — Dizia que a música era a única coisa que podia transformar dor em algo bonito.

Rhaedrin não respondeu, mas ela percebeu um leve movimento em seus olhos, como se aquelas palavras tivessem atingido algo dentro dele.

Depois de um tempo, ele se levantou, esticando os braços.

— Vamos comer. Precisamos nos preparar antes de seguir viagem.

Ele começou a tirar de sua bolsa alguns pedaços de carne seca e um pouco de pão, enquanto Lyana observava, curiosa. Ele pegou uma pedra lisa e colocou a carne sobre ela, esquentando-a sobre uma fogueira que havia começado a acender. O cheiro logo encheu o ar, misturando-se com o frescor do riacho.

— Isso parece... bom demais para estar no meio do nada, — comentou Lyana, um leve sorriso surgindo em seu rosto.

— Highlanders aprendem a fazer o melhor com o que têm, — respondeu ele, mexendo na carne para garantir que não queimasse. — Comer algo que te sustente é tão importante quanto saber lutar.

Ela riu baixinho, pegando o pão que ele lhe oferecia.

— Então você é um cozinheiro também? Isso é inesperado.

— Só o necessário para sobreviver, — disse ele, mas ela notou o leve movimento de seus lábios, como se ele quase sorrisse.

Quando terminaram a refeição, Rhaedrin limpou a área rapidamente e começou a arrumar suas coisas. Lyana o observava, impressionada com a precisão de cada movimento, como se ele estivesse sempre preparado para partir a qualquer momento.

— Rhaedrin... — chamou ela, hesitante.

Ele olhou para ela, levantando uma sobrancelha.

— O que foi?

— Obrigada. Por tudo. Eu sei que não sou o que você queria trazer com você, mas... obrigada por não me deixar para trás.

Ele permaneceu em silêncio por um momento antes de responder.

— Só não me atrapalhe, e você será útil o suficiente.

Ela assentiu, mas dessa vez, o tom frio dele não a incomodou. Havia algo nas palavras que parecia menos duro do que antes.

Quando começaram a seguir novamente pela trilha, Lyana segurava o violão com mais força. Por mais difícil que o caminho fosse, ela sentia que, de alguma forma, não estava mais tão sozinha. E, talvez, nem ele.

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