Sempre tive uma vida considerada feliz. Tinha os meus amigos, passava os dias na escola, não precisava de me ralar com as notas por ter memória fotográfica. Em casa era eu quem mandava por ter uns pais que trabalhavam no estrangeiro, e dinheiro nunca me tinha faltado.
- Precisas de arranjar alguém para ti.- dizia-me Tom todos os dias à hora de almoço.
- Para ter dores de cabeça?Vejo-te a ti e à Stella, dispenso problemas, obrigado!
- Eu e ela somos diferentes, a nossa relação é literalmente baseada no sexo, apenas isso. Não andamos sequer!
- Não sei como não tens ciúmes...
Ele riu, mas depois encolheu os ombros dando uma garfada no esparguete com almôndegas que a chefe da cantina preparava todas as sextas feiras.
- Às vezes tenho, gostava que as coisas avançassem mais, mas ela deixou sempre bem claro desde o início que não tinha intenções de assumir um relacionamento comigo, por isso sempre tenho alguns momentos com ela...
- Ui...tu gostas dela!- apontei para ele com o meu garfo em tom acusador,mas ri. Ele suspirou e pousou os talheres.
- Esse assunto fica para um dia mais tarde. Hoje vais fazer o quê depois do exame de ciências?
- Vou para casa. Os meus pais pediram para eu pagar á governanta e eu quero apanhar ela antes dela sair.
- Como é que não te fartas de seres o responsável pela casa? Tens de ser o tutor da Hannah, cuidares de tudo por cá eles limitam-se a bancar as vossas despesas...
- Gosto assim. Não preciso de me falar com nada, é só chegar a casa, fazer as minhas coisas e ligar para eles quando algo se passar na escola que eu não consiga lidar. Já sou maior de idade, mas há coisas que quando é com a Hannah têm de ser eles a resolver.
- Pelo menos até ao mês que vem!- ele exclamou esfregando as mãos entusiasmado.
No mês seguinte seria o aniversário de dezoito anos da minha irmã mais nova.Os nossos pais não iam estar presentes no aniversário dela, como sempre, mas eu já tinha luz verde para fazer a melhor festa que eu conseguisse. Por isso Stella, a minha melhor amiga estava a ajudar-me a tratar desses pormenores.
- Vai muita gente?- ele perguntou entusiasmado.
- Não. Ela só fiz que quer lá i novo namorado dela, ainda nem o conheço, mas é como se ela já estivesse a querer casar com ele.
- Tens de conhecer o tipo. Tens de lhe mostrar quem manda lá em casa, sabessl que ela já anda com a mania que como vai fazer anos que pode também mandar...
- Nem nos sonhos dela!- exclamei soltando uma gargalhada que fez alguns alunos olharem para mim.
- Mas ainda não o viste?
- Não. Mas ele deve ter a minha idade, ela diz que ele tem uma moda e estuda aqui na universidade.
Tom ficou pensativo durante uns instantes.
- Bem, aqui na universidade a maior parte do pessoal vem de transportes públicos ou os pais vêm trazer eles, só alguns vêm de mota. Mas maior parte desses são todos atletas, são os tipos da natação...
- Só esses? Não estou a ver ela a andar com um atleta, ela odeia esses tipos...
- Depois tens os do departamento das artes e por ultimo os de engenharia mecânica...
- Engenharia mecânica...- repeti tentando lembrar-me de quem tinha mota nesse curso, mas só me conseguia lembrar de Luca, um estudante de intercâmbio italiano que era tatuado até ao pescoço.
- Pode ser o Luca?- perguntou Tom enquanto dava à senhora da copa o seu tabuleiro e pegava o meu para entregar.
- Não, pelo menos eu espero que não. Nunca falei com ele, mas já ouvi dizer que ele come tudo o que mexe...- respondi tentando pensar noutra pessoa que tivesse mota em engenharia mecânica, mas não me lembrei de mais ninguém.
- Sejamos honestos, com aquele corpo também eu comia o que eu quisesse...- comentou Tom rindo enquanto saiamos da cantina da universidade.
Aquele assunto ficou na minha cabeça até eu ter chegado a casa, apanhei a senhora Fran e paguei-lhe tal como os meus pais tinham pedido. Hannah já estava em casa, veio abraçar-me mal me viu chegar, estava mais bem disposta do que o habitual.
- Que foi?- perguntei-lhe quando a soltei.
- Nada, apenas estou ansiosa para quando chegar o meu aniversário! Os meus amigos já disseram que vêm e o meu namorado também vem.
- Falando no teu namorado. Ele é da minha universidade?
- Sim. Ele estuda carros!
Deus, mal ouvi a palavra carros comecei a ver a minha vida a andar para trás.
- Carros, portanto, ele estuda engenharia mecânica?
Sim, acho que é isso, mas se o quiseres conhecer é só esperares um pouco, eu pedi a ele para ir buscar algumas coisas para a festa e ele já foi buscar. A Stella deixou aqui a lista e os pais já mandaram o dinheiro. Aproveitas e ajudas ele a descarregar maninho...
Ela só podia estar a falar de Luca. De certeza que ela andava com ele, mas eu não podia estar a falar muito mais nele, senão ela ia começar a pensar que eu tinha algo contra ele e ia começar uma guerra comigo e áquela hora eu não estava com cabeça para isso.
Esperei sentado no sofá da sala. Comecei a ficar impaciente com o passar do tempo. Afinal onde é que ele tinha ido?
Passado algumas horas, já depois do anoitwcer ouvi uma mota estacionar e Hannah saiu porta fora a correr, fui atrás dela e senti o coração cair-me aos pés quando vi Luca a tirar de dentro do porta bagagens da mota alguns sacos.
- Algumas coisas não havia. Vou ver depois na minha zona se encontro o que precisas.- ele disse-lhe. Ela ia a pegar em sacos, mas ele deu-lhe uma palmada leve na mão.
Ela derreteu completamente e só depois se lembrou que eu estava logo ali.
- Gabe este é o Luca!-ela apresentou-nos. Luca sorriu para mim e eu tentei retribuir o sorriso, mas o aspecto dele, ali ao vivo deixou-me apresensivo. Será que ele era como diziam?
Alto, moreno, de olhos verdes, cabelo preto pelos ombros despenteado, com tatuagens desde as mãos e continuando para o pescoço, faziam dele um homem bonito, as orelhas estavam furadas e ele usava um piercing no lábio inferior.
Raios Hannah, que raio de escolha fizeste!
Luca ficou ainda em nossa casa a jantar, mandei vir algumas pizzas, a vontade de cozinhar naquele momento não existia e eu queria estar de olho neles. Luca estava sentado de pernas abertas no sofá e Hannah estava sentada de lado mas com as pernas apoiadas em cima das dele.
- Estudas lá na universidade\, pelo que a minha irmã me disse...- tentei fazer conversa\, ele acenou que sim com a cabeça\, mas manteve a atenção focada nela. Boa\, tinha de apanhar pombinhos apaixonados!
- Já te vi por lá com aquele teu amigo baixinho...- ele comentou sem desviar o olhar dela. Hannah estava a escolher as roupas que queria usar na festa e ia pedindo-lhe opiniões.
- Sim\, eu estudo engenharia de computação.- respondi indo buscar guardanapos ao armário e refrigerantes.
- Temos algumas matérias juntos\, acho que ainda não reparaste.- ele disse tirando gentilmente as pernas de Hannah de cima das dele para me ajudar com as coisas.
- A sério?- perguntei espantado.- Nunca te vi lá\, qual delas temos?
- Inglês\, e Matemática Discreta e Avançada.
- Temos o professor Cusco então.- eu ri olhando para ele e ele soltou uma gargalhada mostrado os dentes mais brancos que eu tinha visto em toda a minha vida.
- Sim\, esse homem é pior que as mulheres!- Hannah voltou a chamá-lo e ele foi para perto dela. Ela tinha medo que eu estivesse perto dele?
As pizzas chegaram e fomos todos comer, Hannah esteve sempre a falar sobre a bendita festa de aniversário certa altura comecei a ver que Luca já estava a ficar cansado de a ouvir.
- Tenho de ir. - ele disse-lhe no final do jantar. Ela levantou-se agarrando-se a ele pela cintura.
- Não queres ficar a dormir cá? O Gabe não se importa…
Ela olhou para mim em busca de um "sim".
- Tenho de ir\, vou rever uma das motas\, tenho de entregar o projeto na semana que vem.- ele voltou a dizer\, desta vez muito mais assertivo\, ela fez uma careta e depois acompanhou ele á saída.
Mal ele saiu ela veio ter comigo quase em modo histérico.
- Que achas dele? É lindo\, não é?
- É.- respondi com um ar enfadonho sem perceber que tinha acabado de dizer que o achava bonito. Hannah olhou para mim e depois espetou-me o dedo no peito.
- Meu!
- Hannah\, lá porque gosto de homens não quer dizer que goste de todos os géneros…
- Só estou a avisar para não ficares com ideias…
- Mas falas como se tivesses algo a temer…
- Ele é bi\, por isso fico sempre com esse medo\, sei lá\, já viste a humilhação que era se ele me trocasse por um tipo?
Okay, ele era Bi, afinal o que diziam dele devia ser verdade, tudo o que mexia ele comia, fosse homem ou mulher.
- Tens a certeza que é uma boa ideia andares com ele? Vê bem\, ele é assim todo bad boy\, tem uma reputação na universidade de comer tudo o que mexe\, sei la\, acho que devias pensar bem no que andas a fazer. E ele ficar cá em casa? Quando é assim perguntas antes de lhe perguntares a ele\, sabes que sou responsável por ti e por tudo o que acontece cá em casa. Viste bem a confusão que foi só para conseguir convencer os pais a deixarem-te fazer a festa!
- Eu sei\, mas é super gente boa\, não trás problemas a ninguém\, as pessoas vêm aquelas tatuagens e pensam que ele é super mau\, mas ele não é.
- Tatuagens? Existem mais? Pensei quer era aquela no pescoço e a que ele tem na mão…
- Não.- ela riu-se como se eu fosse parvo ou ingénuo.- Essa que ele tem ocupa o braço dele todo e termina no pescoço! Do outro lado ele uma pequena no ombro\, mas ele queria tatuar mais\, mas acho feio se ele cobrir as costas todas…
- Sim\, deve ficar...- respondi pegando nas caixas de pizza para deitar fora. Ela até podia achar feio\, mas a realidade é que eu nem o queria imaginar sem camisola\, porque se o fizesse havia uma probablidade enorme de dar porcaria.
Hannah procurou algo no telemóvel e depois mostrou-me a foto dele em tronco nú. Deixei cair as caixas das pizzas no chão e apanhei-as rapidamente.
- Vês?- ela disse-me com um ar bastante orgulhoso do homem que ela tinha conseguido para ela.- Tens de o seguir nas redes sociais\, ele faz trabalhos de modelo também.- Voltou a mostrar-me fotos dele cada uma pior que outra\, havia até uma dele de tronco nú em cima de uma moto de alta ciclindrada.
Deus Hannah, afasta essa tentação de mim!
- Muito gira a mota Hannah\, mas por favor\, vê o que fazes!
Fui para o meu quarto, já tinha arrumado tudo na cozinha e Fran não ia ter grande coisa a fazer no dia seguinte, mas mal fechei a porta dei um soco na porta do quarto.
Porque raio é que ela andava a mostrar-me aquelas fotos?! Raios!
Fui tomar banho de água fria na expectativa daquela imagem dele na mota me sair da cabeça, mas mesmo assim não o consegui. Deitei-me na cama e tentei adormecer, mas cada vez que começava a dormir sonhava com ele e acordava logo sobressaltado. Não, aquilo não podia acontecer! Eu não me podia sentir atraído por ele, ele era irmão da minha irmã!
O resto da noite passei acordado literalmente a olhar para o teto à espera que amanhecesse.
- Estás com uma cara...- comentou Tom mal me viu chegar á aula de Inglês de manhã.
- Nem me digas nada, conheci ontem o namorado da minha irmã...
- Quem era afinal?- ele perguntou esfregando as mãos na expectativa de saber, mas nisto começou um burburinho na parte de trás das aulas e olhei para trás vendo Luca chegar.
- Aquele.- eu apontei com a cabeça. Tom olhou para ele e depois para mim.
- Bolas, mas ela atraiu ele com o quê? Notas de dólar? Ele é demasiado para ela...
- Não sei, nem quero saber!- exclameu rabugento por causa do sono.
- Oi, posso sentar?- ouvi uma voz demasiado perto do meu ouvido que me fez arrepiar. Olhei e era Luca.
- Não há lugares lá atrás?- perguntei esquecendo a parte de ser simpático por ele ser meu cunhado.
- Haver há, mas prefiro sentar aqui.- disse puxando uma cadeira literalmente ao meu lado para se sentar! Okay, era só uma aula ao pé dele, o Tom estava logo ali, por isso eu sabia que ia falar mais com ele e não ia dar importância a Luca...isto até ter sentido a mão dele na minha perna.
Ao início pensei que tinha sido um acidente, olhei para ele e ele tirou a mão dele da minha perna e desculpou-se, mas na segunda vez mesmo quando olhei para ele, ele não tirou a mão.
- O que estás a fazer?- perguntei-lhe baixo. Ele sorriu, com um ar quase angelical.
- Nada, tinha a mão fria cunhado...
Cunhado...sim, aquela palavra ajudava a acalmar um pouco os ânimos, mas mesmo assim tratei de tirar a mão dele da minha perna. Durante o resto da aula não me atrevi sequer a falar com ele ou olhar para ele. Só a ideia de ter de falar com ele estava a complicar-me com o sistema nervoso, por isso mal deu o toque do final da aula eu saí disparado quase a arrastar o Tom comigo.
- Okay, há coisas que não sabes Tom.- disse-lhe quando íamos a sair para fora do campus. Tom olhou para mim á espera que eu falasse.
- Ele é Bi.- disse-lhe sem mais demoras. Ele arregalou os olhos e olhou para trás como se estivesse a ver se ninguém nos ouvia.
- Não pode! - ele exclamou. - Quem te disse isso?
- A Hannah, ela ontem esteve a mostrar-me as redes sociais dele...
- Não posso!- ele exclamou novamente. - Mas ela fica com um homem daqueles e anda a esfregar na cara do povo todo que o tem? Não tem amor à vida?!
- Tom, eu sou irmão dela, ela não vê nenhum mal em mostrar-me as fotos dele. Mas ele hoje na aula teve uma atitude estranha.
- Ai não me digas!
- Ele meteu a mão dele na minha perna duas vezes, na primeira vez ele pediu desculpa, na segunda disse que estava com a mão fria, mas sei lá, não me pareceu que fosse isso.
- Será que se estava a fazer a ti?- ele perguntou-me.
- Sou cunhado dele, óbvio que ele não ia fazer uma coisa dessas!
Tom olhou para mim, ergueu o sobrolho e inclinou a cabeça para o lado metendo as mãos na cintura.
- Queres que te diga quantos é que eu conheço que deixaram de ser cunhados para namorados?
- Nunca ia fazer uma coisa dessas à minha irmã, e além disso não acho que ele seja de confiança. Aquilo deve ser uma máscara que ele usa, é impossivel ele ser o pacote completo sem ter nenhum defeito!
Tom ficou pensativo.
- Mas estás assim tão interessado em saber?
- Não, apenas tenho medo pela minha irmã. Não quero que ele ande a brincar com os sentimentos dela! Caramba Tom, tu conheces-me e sabes que eu só quero que ela seja feliz. Vamos parar de falar naquele tipo! Hoje é sexta, amanhã nem quero sair da cama!
Fui para casa com Tom, nós éramos vizinhos desde pequenos. Ele seguiu para a casa dele e eu parei feito estátua à minha porta quando vi a mota de Luca estacionada.
Entrei em casa com medo do que eu podia vir a encontrar, mas suspirei quando osnvi sentados no sofá a ver um filme. Para mimha desgraça ele estava sem o blusão dele desportivo vestido e tinha uma camisola manga cava branca vestida que era um pouco transparente, mal olhei consegui ver o braço dele todo tatuado. Desviei o olhar e tentei passar por eles despercebido, mas Hannah às vezes parecia que me conseguia cheirar, porque mal me viu veio a correr abraçar-se a mim.
- Maninho o Luca pode cá passar o fim de semana?
Olhei para ela na esperança de ter ouvido mal, mas ela ficou á espera de uma resposta e Luca manteve o olhar fixo na tv.
- Eu disse-te para me avisares com antecedência, não disse?
- Mano, vá lá...- ela olhou para mim com uma cara de anjinho que eu sabia que ela não era.
Suspirei.
- Tu sabes que eu sou bastante liberal nestas coisas Hannah, mas porra,tens de me avisar antes, ele já aqui está.
Ela adotou uma postura mais séria.
- Isso mesmo, ele já aqui está. Posso por favor passar a noite com o meu namorado ou tens algo contra isso?!
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