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Unforgettable Love - Nos Braços do Vilão

Sinopse

Elore Krainer, uma escritora de romances que adora fantasia, aventura e muita comédia, Alguém que possui uma personalidade única; ela é uma mistura de várias facetas. Às vezes é bastante sociável, mas em outras prefere seu espaço pessoal e se sente bem quando está sozinha. No entanto, também gosta de sair com amigos. No caso dela, amigos no singular. Ela possuía apenas uma amiga que realmente considerava verdadeira e real.

Elore é engraçada, inteligente, sensível, extremamente compreensiva e muito leal. Mas também tem pavio curto para injustiças, se estressa facilmente com idiotas e tem uma tendência a se meter em situações embaraçosas, algo com o qual já se acostumou.

Ela descobriu sua paixão pela escrita quando leu seu primeiro romance e se viu apaixonada por um personagem fictício. E nem era o protagonista principal, mas o vilão. Na época, Elore estava superando o término de um relacionamento complicado. Suas relações amorosas sempre foram um desastre (ela não teve muitos parceiros), mas os poucos com quem se envolveu se mostraram grandes idiotas insensíveis. O último bateu o recorde de imbecilidade em sua vida.

Ao ler aquele livro, Elore se identificou com o personagem de passado sombrio que, aos olhos dos outros, era visto como vilão. Ela se apaixonou por ele. Pela história, pelo passado, pelas lições e pela personalidade dele. Tudo. Embora soubesse que ele não existia, foi arrebatada por uma fascinação incontrolável. E foi ali que ela teve uma grande descoberta.

Era oficial. Ela precisava de terapia.

Não era possível que, dentre tantas coisas absurdas, fosse se apaixonar por um personagem fictício – e pior, o "vilão" da história. Mas não conseguia resistir. Se fosse sincera consigo mesma, Elore perceberia que se apaixonou pelo completo oposto do que idealizava. Seus relacionamentos anteriores foram um fracasso por causa dessas idealizações. Talvez por isso tenha se apegado tão espontaneamente ao vilão literário.

Principalmente depois que encontrou uma única imagem do personagem, divulgada pela própria autora do livro. Essa fanart capturou tão bem a essência do personagem que Elore ficou ainda mais apaixonada. Era como uma fotografia real de Kael. Ela sonhava com ele todas as noites, e isso tornava suas noites menos solitárias e mais tranquilas. Era como se ele estivesse ali, fazendo-lhe companhia.

Todas as manhãs, ao acordar, a primeira coisa que vinha à sua mente era Kael. Esse nome estava gravado em seu coração. E o dono desse nome também havia se tornado o dono de seu coração.

Que brega, ela pensava.

Elore sabia que tinha problemas. Ela entendia o que estava acontecendo: buscava consolo em um personagem fictício para aliviar as dores dos relacionamentos que fracassaram. Ela o compreendia, e sentia que ele a compreenderia também. Isso lhe trazia certo alívio. Mesmo não existindo, saber que havia alguém que a entendia era reconfortante.

Ela então começou a escrever histórias alternativas com seu vilão, imaginando como seria um cotidiano ao lado dele. As aventuras e o romance entre os dois fluíam em suas palavras. Com o tempo, Elore percebeu que era muito boa nisso e decidiu investir em sua nova carreira como escritora.

Levou um tempo para alcançar o sucesso, especialmente por medo de mostrar suas ideias a alguém. Mas sempre pensava em Kael e na determinação dele em perseguir seus objetivos (mesmo os mais crueis), e isso a motivava a continuar. Ela se esforçava para melhorar sua técnica, escrita, cenários, enredos e, principalmente, para superar bloqueios criativos. Com o tempo, perdeu o medo de receber críticas negativas e começou a divulgar seus trabalhos.

No entanto, sua obra original, sua primeira criação, nunca foi revelada. Essa era especial, feita para Kael. Era um agradecimento por ele ter sido sua companhia nos anos de solidão e tristeza, dando-lhe força para continuar lutando por seus objetivos.

Após alcançar sucesso com suas obras, Elore escreveu uma carta para a autora de seu livro favorito, agradecendo por ter criado o personagem que foi sua inspiração e distração nos momentos mais sombrios. Contou como tudo começou, o que sentiu, sua vergonhosa paixão por um personagem fictício e como isso a ajudou a superar seus desastres amorosos. Como isso lhe ensinou a se valorizar e a se amar.

Confessou que ainda estava apaixonada pelo personagem. Na verdade, já não podia mais chamar aquilo de paixão. Nunca mais conseguiu se relacionar com ninguém, mas estava bem com isso. Aprendera a conviver com a solidão, que acabou se tornando sua querida amiga. Ficar sozinha não era ruim; pelo contrário, havia algo libertador na solidão.

Foi uma carta longa e sincera. Elore dedicou seu sucesso à sua autora favorita e, consequentemente, ao personagem. Com essa carta, também se libertava de um segredo que guardara por tanto tempo. Nunca contará a ninguém sobre sua paixão por um personagem fictício e como ele a ajudará a superar seus medos e obstáculos, e a se tornar quem era.

A autora, tocada pela carta, respondeu com um e-mail e enviou como presente o manuscrito original de sua obra, junto com uma surpresa incrível. Era uma história exclusiva, totalmente focada em Kael, o tão famigerado "vilão", narrada do ponto de vista dele. Detalhe por detalhe, seu passado e os motivos que o levaram a ser visto como vilão eram explicados. A autora revelou que nunca publicou essa versão e agradeceu a Elore por sua dedicatória. Ela também sabia como era ser apaixonada por um personagem fictício, pois começou assim.

A autora pediu que Elore guardasse segredo e nunca publicasse aquele manuscrito, pois era algo pessoal e um presente precioso. Junto ao manuscrito, a autora enviou um lindo amuleto antigo, idêntico ao que Kael usava. Tudo era tão belo que Elore sentiu como se estivesse mais perto de Kael.

Elore leu e releu o presente, encantada mais uma vez por seu amor literário. Não concordava com algumas das decisões ou atitudes de Kael, mas tentava entender seu ponto de vista. Seria incrível ser amiga, companheira, parceira dele. Na verdade, se ela ao menos o conhecesse em carne e osso, já seria suficiente para lhe render anos de pura alegria. Tamanha era sua fascinação e amor por seu vilão literário.

Na história, Kael agia como vilão e, às vezes, até gostava de ser assim, com ou sem motivo. Mas, no final, ele se tornava amigo do personagem principal. Ele não tinha uma parceira no livro, afirmando que não precisava de uma para ser feliz. Ele tinha casos e sabia se divertir, mas nunca demonstrou interesse real em alguém. O livro sugeria que ele teve uma breve queda pela parceira de seu arqui-inimigo, que depois virou amigo, mas logo percebeu que era apenas ego ferido. E ele estava muito bem sozinho.

No fundo, Elore sabia que havia mais nisso. De alguma forma, ela sabia. Não pergunte como, ela apenas sentia – e sentia muito.

O começo do fim

Cinco anos atras

Em seu apartamento, um lugar que deveria ser seu refúgio, mas que agora parecia mais uma prisão confortável Elore Krainer está sozinha, cercada por livros empilhados em desordem com a luz fraca do fim da tarde atravessando as cortinas empoeiradas. A sensação de vazio a envolve, mas não é um vazio tranquilo—é sufocante, carregado de tristeza e memórias dolorosas.

Sentada no chão, encostada na parede, olhando para o teto, Elore está fisicamente e emocionalmente exausta, ainda sentindo o peso do término recente com Marcus. Ela pensa sobre como seu relacionamento foi se deteriorando, relembrando as insinuações de Marcus que a diminuíam e em como isso foi transformando Elore em uma garota manipulável, culminando em um controle emocional completo. Ela se lembra também de como a mãe dele a tratava com desdém, e como isso afetou sua autoestima.

Seu namoro com Marcus começou durante os anos de faculdade. No início, o relacionamento parecia promissor; Marcus era carismático, ambicioso e sabia como encantá-la. No entanto, as coisas começaram a mudar quando ela foi apresentada à mãe dele, Cecília.

Cecília era uma mulher controladora, extremamente crítica, e não via Elore como alguém digna de seu filho. Desde o início, Cecília tentou minar o relacionamento deles, fazendo comentários cruéis sobre Elore, comparando-a constantemente com outras mulheres que ela considerava mais "adequadas" para Marcus. Cecília também exercia uma influência emocional sobre o filho, manipulando-o para que ele priorizasse os desejos dela acima dos de Elore. Ela se lembra de como isso era perturbador, e mais perturbador ainda era em como Elore aceitava esse tipo de tratamento. Com as desculpas de Marcus que sempre vinham carregadas de palavras doces e carinhosas. Uma fachada para manipular Elore. Hoje ela enxerga isso.

A situação se agravou quando Elore e Marcus decidiram morar juntos. Cecília frequentemente se intrometia na vida do casal, criticando as decisões de Elore e pressionando Marcus para terminar o relacionamento. Essa pressão e a constante desvalorização afetaram profundamente a autoestima de Elore. Ela começou a duvidar de si mesma, se isolando dos amigos e se tornando cada vez mais dependente de Marcus, mesmo sabendo que o relacionamento não era saudável.

Depois de um tempo, Marcus começou a adotar o comportamento crítico de sua mãe, tornando-se distante, frio e manipulador. Ele justificava suas ações dizendo que era apenas "realista" e que Elore precisava "crescer". Elore ja não conseguia mais trabalhar em paz sem receber mensagens possessivas de Marcus querendo controlar tudo o que ela fazia. Ate seus horários de almoço eram cronometrados. Mas quando era Elore que ligava perguntando algo, ou se ao menos ousasse perguntar onde ele estava ou com quem... Ela não gostava nem se lembrar desses momentos. Realmente um poço de toxidade que Elore não queria enxergar.

Apos uma discussão acolarada entre Elore e sua unica amiga - que permaneceu ao seu lado mesmo apos Elore ter mudado por influencia de Marcus - Sofi confronta Elore a respeito de Marcus e em como esse relacionamento estava matando-a aos poucos. pela primeira vez na vida, sofi gritou e berrou com Elore. Sua ultima tentativa de tentar salvar a amiga do caminho que estava seguindo.

Nessa noite em particular, apos berra para sofi que não se metesse em sua vida e a deixasse em paz, Elore teve uma crise de ansiedade horrível, e foi parar no hospital. Tentou contato com Marcus -Ele somete deixava Elore de lado quando sua mãe o chamava para algo- Ligou ate mesmo para Cecilia, mas ela também não atendeu. Ja no hospital esperando o retorno do medico, Elore tenta mais uma vez ligar para Marcus, Ela segurou o telefone com mãos trêmulas, o eco da última discussão com Sofi ainda retumbando em sua mente. Respirou fundo, tentando manter a calma, enquanto o telefone chamava insistentemente. Finalmente, Marcus atendeu.

"O que foi? Estou ocupado agora," ele disse, a voz fria e irritada, sem sequer perguntar por que ela estava ligando.

"Marcus... eu preciso de você," ela sussurrou, sentindo a garganta apertar, tentando não deixar o choro escapar. Estava sozinha, num hospital, e precisava dele mais do que nunca.

"Elore, eu já não disse que estou ocupado? Não começa com seu drama hoje." A voz dele era ríspida, impaciente, como se ela fosse apenas um incômodo em sua noite.

"Marcus... eu estou no hospital," ela conseguiu dizer, mas a voz saiu quase inaudível. "Eu... eu não consegui respirar, foi horrível. Pensei que fosse—"

Ele interrompeu, sem qualquer traço de preocupação. "Olha, se não consegue se controlar, talvez devesse pensar em terapia, não em ficar me ligando toda hora. Eu tenho coisas pra fazer."

A frieza dele atravessou como uma faca o peito de Elore. Ela tentou responder, explicar o quanto estava machucada, o quanto sentia falta de quem ela pensava que ele poderia ser, mas as palavras travaram na garganta.

"Eu só... queria que você estivesse aqui," ela murmurou, a voz cheia de um misto de dor e vergonha.

"Estivesse aí? Elore, você se ouve? Eu não posso ficar correndo atrás dos seus problemas o tempo todo. E, sinceramente, esse lance de ficar chamando minha atenção assim, como se fosse meu dever... cansa, sabia?"

Ela sentiu uma fraqueza nas pernas, e nos braços, uma espécie de vazio que parecia engolir o pouco de força que ainda tinha. Tudo o que desejava era um mínimo de compreensão, um sinal de que ele realmente se importava. Mas não houve nada além de uma barreira gelada, que ele erguia com orgulho.

"Marcus, eu... não sei se aguento mais."

Ele riu, sem qualquer traço de empatia. "Drama de novo, Elore? Vamos encerrar essa ligação antes que você comece a fazer mais cenas."

Ela ficou em silêncio, a respiração curta, os olhos perdidos em algum ponto distante. Finalmente, ele suspirou, como se estivesse cansado da ligação.

"Tenho que desligar. Se cuida aí, sei lá." E a linha ficou muda.

Elore deixou o telefone deslizar de sua mão, sentindo-se mais sozinha do que nunca. Marcus a havia deixado não só naquele hospital, mas em um abismo de frieza e descaso que parecia não ter fim. Por mais doloroso que fosse, uma certeza começou a crescer dentro dela: algo precisava mudar.

Quando ninguém veio ao seu encontro, Elore percebeu que sofi tinha razão. Então se sentindo derrotada, alguém sem valor nenhum e com muita, muita vergonha, Elore com o ultimo resquício de coragem que tinha, ligou pra sofi. Elore segurou o celular por alguns segundos, o peso da vergonha sufocando sua voz. Ela sabia que, ao ligar para Sofi, estaria admitindo que tinha se enganado, que tudo o que Sofi havia dito era verdade. No entanto, naquele hospital vazio e frio, onde até o som distante de passos parecia abafado, não havia ninguém para ela a não ser Sofi.

Reunindo o que restava de sua coragem, discou o número, cada toque demorando mais que o anterior. No terceiro toque, Sofi atendeu, e ao ouvir sua voz, Elore sentiu um nó apertar em sua garganta.

"Elore?" A voz dela era suave, mas carregada de preocupação. "Aconteceu alguma coisa?"

Elore respirou fundo, tentando manter o pouco de compostura que ainda tinha. "Sofi... eu... eu tô no hospital."

Um silêncio pesado se seguiu, e ela imaginou o quanto Sofi deveria estar se contendo para não perguntar "Por que você não ligou antes?". Mas, ao invés disso, Sofi apenas respirou fundo e disse: "Qual o endereço? Me espera, estou indo para aí agora."

"Obrigada... e me desculpa," Elore murmurou, quase incapaz de acreditar que Sofi ainda estava disposta a ajudá-la depois de tudo. Mas Sofi respondeu de imediato, com uma gentileza que aqueceu um pouco o vazio que se espalhava dentro dela.

"Não precisa pedir desculpas. Vou estar aí em quinze minutos, tá?"

Assim que desligou, Elore finalmente sentiu as lágrimas correrem, uma mistura de vergonha e alívio, mas também uma semente de esperança, que talvez, com Sofi ao seu lado, ela pudesse, enfim, encontrar forças para mudar sua vida. E ali sozinha naquele hospital Elore decidiu que não iria mais continuar com Marcus. Sua decisão estava tomada.

O relacionamento terminou de forma tumultuada, humilhante e sufocante, com Elore finalmente conseguindo sair da influência tóxica de Marcus e Cecilia, mas não sem cicatrizes emocionais profundas.

A voz de Elore é marcada por uma mistura de sarcasmo e dor, enquanto ela tenta encontrar humor nas situações mais difíceis. Ela pensa em como, até mesmo agora, ela está sentada no chão, o lugar onde Marcus costumava dizer que ela "pertencia" quando discutiam. Esse pensamento a faz rir de forma amarga.

Enquanto ela se perde em seus pensamentos, o telefone toca. É Sofi.

"Ei, Elore... Como você está?"

Tentando disfarçar a tristeza Elore diz "Ah, você sabe... Estou sobrevivendo. Hoje foi um daqueles dias."

"Eu imaginei. Terminar com Marcus não foi fácil para você. Quer falar sobre isso?" Sofi fala com uma voz doce e preocupada.

Elore hesitou, sentindo um nó na garganta. Cada palavra sobre Marcus parecia puxar um fio solto dentro dela, desfiando-a por completo. Mas ela sabia que precisava falar. Precisava começar a se libertar.

Respirando fundo Elore começa de vagar  "Foi... foi horrível, Sofi. Eu pensei que estivesse preparada, sabe? Mas quando finalmente aconteceu, parecia que eu estava sendo arrancada de mim mesma. Ele... Ele me fazia sentir como se tudo fosse minha culpa, como se eu nunca fosse boa o suficiente."

"Elore, você sabe que isso não é verdade, certo? Marcus sempre teve uma maneira de manipular as coisas para que você se sentisse assim. Ele queria controlar você. Eu nunca gostei dele e você sabe disso. Nunca escondi meu descontentamento"

Com a voz quebrada Elore fala "Eu sei... Eu sei disso agora. Mas na hora... Eu acreditei em tudo o que ele dizia. Tudo o que ele disse... sobre mim. Eu me afastei de tanta gente, me perdi em tantas coisas, porque eu acreditava que ele sabia o que era melhor para mim. E, Deus, a mãe dele... Ela sempre fazia questão de me lembrar do quanto eu era inadequada."

Enquanto falava, Elore sentia uma mistura de alívio e dor. Era como se cada palavra fosse um passo para fora de uma prisão emocional, mas cada passo trazia consigo o peso dos anos passados ao lado de Marcus. Anos perdidos que não irão voltar.

Com uma voz firme Sofi diz "Ela estava errada, Elore. Você é uma mulher incrível, e a única coisa que você não fez foi se proteger. Você se entregou de coração, Porque sempre foi sincera com o que sente, mas eles não mereciam isso."

Tentando não chorar Elore fala;

"Eu só queria ser amada, sabe? Queria que alguém me visse e me aceitasse pelo que sou. Mas o que eu consegui foi ser quebrada em pedaços."

A dor de Elore transparecia em cada palavra. Ela se via novamente naquela casa, sentindo os olhares de reprovação, as palavras cortantes disfarçadas de conselhos, e a constante sensação de que estava sempre um passo atrás do que se esperava dela.

"Você foi quebrada, sim. Mas você também está se reconstruindo. E dessa vez, você pode se construir de uma forma que ninguém poderá destruir El."

"Eu estou tentando, Sofi. De verdade. Hoje, eu consegui levantar e tomar um banho sem sentir que era um esforço sobre-humano. Pequenos passos, né?"

Sorrindo através da ligação Sofi fala"Esses pequenos passos vão se transformar em grandes saltos, você vai ver. E quando menos esperar, você vai olhar para trás e perceber o quão longe chegou."

Elore sentiu o peso da conversa aliviar um pouco de sua alma. A voz de Sofi era uma âncora, uma lembrança de que ela não estava sozinha, mesmo que às vezes se sentisse assim.

"Obrigada por estar aqui, Sofi. Eu realmente não sei o que faria sem você."

"Você não vai ter que descobrir, porque eu vou estar sempre por perto. E a propósito... Eu sei que os livros têm sido seus melhores amigos a muitos anos. Que tal você voltar a dar uma atençãozinha para seus queridinhos hun?

"Talvez eu devesse. Eu vou desligar agora. Se cuida. bjos."

Embora Sofi tente animá-la, Elore não consegue esconder o peso que carrega.

Pensar que estava vivendo um relacionamento abusivo a assusta mais do que podia imaginar. seu coração doí descontrolavelmente. O choro vem logo em seguida. As lagrimas carregadas de soluços e gemidos de dor por ter se permitido passar por tudo isso. As lembranças das palavras de Marcus ainda possuem um peso enorme em Elore, e ela teme que isso talvez nunca mude.

Então Elore chorou durante a noite toda.

***

Alguns dias depois...

O apartamento de Elore era um reflexo perfeito de seu estado interno: desorganizado, desolado e sombrio. As cortinas permaneciam fechadas, deixando apenas algumas faixas de luz entrarem. Pilhas de livros e papéis espalhados pelo chão, pratos sujos na pia e roupas jogadas pelo sofá, formavam o cenário de um caos emocional e físico. Elore, uma jovem que antes era vibrante e cheia de vida, agora estava afundada em melancolia, amargura e dor.

Ela passava horas sentada no chão, encostada na parede da sala, olhando para o teto. A sensação de vazio a envolvia, e cada minuto parecia um esforço gigantesco. As vezes era difícil ate mesmo respirar. As memórias das palavras de Marcus estavam sempre presentes, como fantasmas que a assombravam dia e noite. Ela lembrava de como ele e, especialmente, a mãe dele a tratavam com desprezo, diminuindo sua aparência, escolaridade e educação a cada comentário cruel. Essas lembranças faziam com que a dor parecesse insuportável.

Uma vez por dia, seu telefone tocava. Era sempre Sofi, sua melhor amiga, tentando animá-la. Mas nada parecia funcionar. Cada tentativa de Sofi de trazer algum brilho para a vida de Elore era recebida com respostas monossilábicas ou com longos suspiros. Elore sentia que estava se afogando e não conseguia encontrar um caminho para a superfície. Não sabia como sair daquele lugar sombrio.

Numa dessas ligações, a conversa foi particularmente difícil. Sofi, com sua voz suave e cheia de preocupação, tentou mais uma vez alcançar Elore.

"Elore, você precisa sair desse ciclo. Eu sei que é difícil, mas você precisa se levantar, fazer algo por você mesma, mas fazer algo. Qualquer coisa, por favor"

"Eu não sei, Sofi. Parece que nada faz sentido. Eu só... estou cansada. Exausta"

"Você é uma das pessoas mais fortes que conheço El. E você tem que se lembrar disso. Faz um esforço por mim por favor.

A ligação terminou com Sofi ainda tentando animar Elore, mas a escuridão dentro do apartamento parecia invencível. Após a ligação, Elore passou mais algumas semanas afundada em sua melancolia. Os dias se misturavam, sem que ela percebesse a passagem do tempo. Cada manhã era igual à anterior, com a mesma sensação de desespero a consumindo lentamente.

Elore não sabia mais o que fazer. Se entregar a essa escuridão não parecia uma má ideia afinal.

O encontro com o vilão perfeito

Elore Krainer estava em um daqueles momentos sombrios da vida, onde o peso do mundo parecia descansar em seus ombros. Seu refúgio habitual nos livros tinha perdido o encanto; passeio com os amigos eram recusados de forma imediata e sua mente havia se tronado sua pior inimiga. Os livros, que antes eram seus amigos íntimos, agora eram meras lembranças de um prazer que parecia inalcançável.

Ela passava os dias envolta em seu cobertor, sem ter animo nem mesmo para comer e as noites ficava andando pelo apartamento que nem um fantasma pois não conseguia dormir. Sua mente não deixava. Ou simplesmente ficava sentada naquele chão frio encostada na parede olhando para o teto, pensando em tudo e pensando em nada ao mesmo tempo.

Depois de muita insistência de Sofi, Elore finalmente decidiu fazer algo para de distrair.  Uma noite quando teve coragem de abrir o notebook e se distrair na internet, estava vendo vídeos aleatórios. Muito aleatório mesmo. Mas então a campainha tocou e Elore ficou pensando se atendia ou não. Contra sua vontade se levantou e se arrastou até a porta. Quando abriu, deu de cara com uma pequena senhora.

"Olá minha jovem. Me desculpe incomodar, sou a morada do apartamento ao lado." Elore a comprimentou com um aceno dizendo Olá.

" A Senhora precisa de ajuda?"

"Oh não. Estou bem. Só queria conhecer minha vizinha e entregar meus comprimentos" ela diz estendendo uma cesta com um pano bordado por cima.

"Ah, não precisa senhora."

"eu insisto. É com muito carinho"

Diante disso Elore não podia recusar e fazer essa desfeita. Então aceitou e agradeceu e quando voltou para o sofá, ficou curiosa para saber o que tinha ganhado. Alguns doces, saquinhos com pães caseiros e um livro com um laço branco em cima. Aquilo chamou sua atenção: um título sobre reinos mágicos, príncipes, e claro, um vilão intrigante. Elore Nunca recusou uma boa leitura sobre romance, porem ela pensou que depois de tudo o que aconteceu, o que menos queria agora era um livro sobre isso, mas  algo naquele livrou chamava por ela. Mesmo que relutante, algo dentro dela se agitou. Talvez fosse a promessa de um escape, de um mundo onde os problemas eram diferentes dos seus, mas de alguma forma igualmente complexos.

"Por que não?" pensou. Talvez uma fuga para um mundo de fantasia fosse exatamente o que precisava. Ainda com ceticismo sem acreditar que aquilo realmente ajudaria, respirou fundo e começou a ler.

E então algo surpreendente aconteceu.

A história a capturou de imediato, e, para seu próprio espanto, um certo personagem começou a fazer seu coração bater mais rápido. Não era o herói galante ou a mocinha em perigo que despertava sua atenção, mas o vilão. Ele era maravilhoso e sarcasticamente cativante, e cada vez que aparecia, Elore sentia um estranho calor em seu corpo e seu coração acelerava de uma forma que não acontecia há muito, muito tempo.

Elore fechou o livro por um momento, tentando processar o que estava acontecendo. Ela respirou fundo, duvidando de sua sanidade. "Será possível que eu finalmente atingi o limite da sanidade mental?", pensou, com um meio sorriso. Ainda com o rosto quente por pensamentos indecentes com o tal vilão, Elore continua sua leitura. Sempre atenta a cada palavra, vírgula e ponto final. E a cada página virada e a cada palavra lida, seu coração ia se enchendo de algo desconhecido e isso lhe assustava. "ok... já chega." Elore largou o livro em cima do sofá e vai até o banheiro lavar o rosto, olhando no espelho se sentiu ainda mais envergonhada somente em cogitar tal situação.

"Ok Elore. É sério que você vai fazer isso comigo? hunn? não se atreva a fazer isso." Elore volta para o sofá e desiste da leitura por hora. Talvez seja melhor não continuar, ela pensa.

dois dias depois...

Enrolada em seu cobertor favorito, afundada em seu sofá, com uma xícara de chá já morna ao lado estava Elore Krainer. O apartamento estava mergulhado em um silêncio confortável, quebrado apenas pelo som suave das páginas virando enquanto lia seu mais novo livro. O aroma de camomila flutuava no ar, tentando, sem sucesso, acalmar os nervos agitados de Elore.

Depois de semanas (quatro meses) de tormento emocional após o término com Marcus, Elore finalmente encontrara um alívio inesperado. Não era o tipo de leitura habitual dela, mas aquele livro era maravilhoso. Ela precisava de uma distração, e parecia que tinha encontrado a melhor possível.

Enquanto lia, Elore foi lentamente sendo cativada por seu mais novo amigo literário Kael. Ele não era o príncipe encantado. Não, era o "vilão." Um vilão charmoso, sarcástico e perigosamente inteligente. Cada vez que ele surgia nas páginas, Elore sentia um frio na barriga e um calor subir até as bochechas. O que estava acontecendo com ela? era a pergunta mais frequente em sua mente desde que começou aquela leitura.

Página após página, Elore se encontrou imersa no mundo do livro. A cada aparição de Kael, ela sentia um calor estranho no peito e um rubor no rosto. Seu coração acelerava, e ela ria de si mesma por se sentir assim. "Será que estou ficando louca?", pensava. Mas o fato era que, pela primeira vez em muito tempo, Elore sentia algo além da dor.

"Sério, Elore? Isso é ridículo. Você está corando por um vilão de um livro? Um vilão! Nem é um cara real! E mesmo que fosse, vamos ser honestos, você tem um histórico péssimo de escolha de parceiros. Esse aqui provavelmente tem um calabouço ou dois no porão e um plano maligno de dominação mundial em sua lista de afazeres. Se bem que, pelo menos ele parece saber o que quer, o que é mais do que eu posso dizer do Marcus."

Elore fechou o livro por um momento, pressionando-o contra o peito e respirando fundo. O que estava acontecendo com ela? Elore não sabia nem como começar a pensar naquilo.

"Ok, Elore, respira. Isso é só uma fase. Todo mundo tem uma paixão literária, certo? Não há nada de errado em se apaixonar por um vilão fictício... certo?

Quer dizer, talvez seja mais saudável do que voltar para aquele ex que te fez sentir como se estivesse sempre prestes a tropeçar em uma armadilha de urso emocional. Além disso, este vilão aqui... ele... tem aquele sorriso arrogante, humor sarcástico e ... Ok, vou parar por aqui. Já entendi."

Elore riu sozinha, sabendo que sua mente estava se aventurando em territórios perigosos. Ela precisava de uma pausa da realidade e, ironicamente, encontrou exatamente isso na fantasia de um mundo de perigos e decepções. A ironia não lhe escapava.

" ceus... isso é tão estranho. Pode ser até terapêutico, eu acho. Só vou precisar evitar mencionar isso nas futuras sessões de terapia, ou minha psicóloga pode começar a cobrar por minuto."

Elore se ajeitou no sofá, rindo suavemente de si mesma, e decidiu se entregar àquela fantasia por mais algumas horas. Afinal, o que de pior poderia acontecer?

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