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Entre o Dever e o Desejo

Ecos de uma Noite Silenciosa.

Lara olhava pela janela de seu apartamento, as luzes da cidade piscando como estrelas distantes. O som do relógio na parede ecoava em seus ouvidos, marcando a passagem do tempo de uma maneira agonizante. Ela se lembrava do dia em que havia se casado com Ricardo, quando o amor parecia ser suficiente para iluminar qualquer escuridão. No entanto, agora, a casa estava silenciosa, exceto pelo sussurro da brisa que entrava pelas frestas da janela.

Ricardo tinha se tornado um estranho em sua própria casa. As promessas de um futuro juntos, de risadas e jantares românticos, eram apenas ecos do que uma vez foram. Ele chegava tarde, com a desculpa de que o trabalho estava exigindo muito dele. Lara queria entender, mas sua compreensão se transformava em frustração à medida que as semanas passavam. As flores que ela deixava na mesa da sala se murchavam, e as conversas que antes fluíam agora eram limitadas a breves troca de palavras, como se as palavras se tornassem um fardo.

Certa noite, após mais um dia solitário, Lara decidiu sair para uma caminhada. O ar fresco parecia revigorá-la, mas ao mesmo tempo, ela se sentia perdida. Pensou em seu trabalho na renomada empresa de marketing, onde havia conquistado respeito e admiração por seu talento. Porém, o que mais lhe ocupava a mente não eram as metas ou os projetos, mas a presença de André, seu chefe. Ele sempre fora gentil e atencioso, mas algo havia mudado nos últimos dias. Havia uma nova intensidade em seu olhar, uma preocupação que parecia ir além do profissional.

Durante uma reunião na manhã seguinte, Lara não pôde deixar de notar como André a observava. Suas palavras, que antes eram meras instruções, agora eram acompanhadas de um toque de empatia que a fazia sentir-se vista. A cada sorriso trocado, um misto de gratidão e confusão tomava conta dela. Era estranho sentir-se atraída por alguém que não era seu marido, mas as emoções a consumiam como um fogo que não podia apagar.

Enquanto os dias se passavam, a distância entre Lara e Ricardo se tornava cada vez mais evidente, e os momentos de interação com André se intensificavam. Ele a incentivava, a elogiava por suas ideias, e Lara começou a perceber que, talvez, ela merecesse mais do que a solidão que a cercava. Mas o que fazer com esse novo sentimento? Era certo se permitir sentir algo por alguém que não era seu marido? Lara se encontrava em um dilema, e a resposta parecia tão distante quanto as estrelas que brilhavam na noite.

À medida que o sol se punha, trazendo consigo a escuridão, Lara sabia que precisava fazer uma escolha. O que estava em jogo era mais do que um simples romance; era a busca por felicidade e autodescoberta em um mundo que, até então, parecia ter perdido seu brilho. Com o coração dividido, ela se perguntava se deveria seguir em frente ou lutar pelo amor que havia prometido a Ricardo, mesmo que esse amor parecesse ter desaparecido.

As semanas passaram, e a atmosfera no escritório se tornava mais carregada a cada dia. Lara se sentia como se estivesse caminhando sobre uma linha fina entre duas realidades: a vida que vivia com Ricardo, onde a solidão era sua única companhia, e a nova conexão que surgia com André, que parecia oferecer não apenas atenção, mas também um entendimento que ela havia perdido.

Naquele dia específico, uma apresentação importante estava programada. Lara havia se preparado meticulosamente, revisando cada detalhe, mas sua mente estava longe. Enquanto se dirigia à sala de conferências, sua mão tremia levemente. André, que era conhecido por sua postura imponente e seu olhar perspicaz, a recebeu com um sorriso encorajador.

— Você está pronta, Lara? — ele perguntou, seu tom sincero a fez sentir um frio na barriga.

Ela assentiu, mas o nervosismo era palpável. A apresentação começou, e Lara se sentiu como uma atriz em cena, tentando mostrar o melhor de si, mesmo que a parte de seu coração desejasse que o evento acabasse rápido. Ela falou com eloquência, os gráficos e números flutuando como cores em sua mente, mas o verdadeiro brilho vinha do olhar atento de André, que a observava com admiração.

Quando finalmente terminou, a sala explodiu em aplausos. André se aproximou dela, seus olhos brilhando com uma mistura de orgulho e respeito.

— Você foi incrível, Lara. Sua visão é inspiradora — disse ele, a voz carregada de sinceridade.

Aquela simples frase fez o coração dela acelerar. Em um instante, a tensão entre eles tornou-se quase tangível. Lara podia sentir o calor de seu corpo próximo ao dela, e o mundo ao seu redor desapareceu, deixando apenas os dois. Foi como se uma barreira invisível tivesse se quebrado, revelando um espaço novo e inexplorado entre eles.

— Obrigada, André. Eu só fiz o meu melhor — respondeu ela, tentando esconder a emoção que a dominava.

Ele se inclinou um pouco mais perto, suas vozes baixas, como se estivessem compartilhando um segredo.

— Você merece ser reconhecida, não apenas pelo seu trabalho, mas por quem você é. — A sinceridade de suas palavras fez Lara sentir-se vulnerável, mas, ao mesmo tempo, fortalecida.

No fundo, uma parte dela queria recuar, lembrar-se de seu casamento, de Ricardo. Mas as lembranças dos sorrisos que não eram mais compartilhados e das noites solitárias pesavam em sua mente. Ela começou a se perguntar se o que sentia por André era realmente errado ou apenas um despertar para algo que deveria ter reconhecido há muito tempo.

Naquela noite, após o trabalho, Lara decidiu sair para um bar próximo, tentando distrair-se. Mas, para sua surpresa, André apareceu. Ele havia insistido em parabenizá-la mais uma vez, e a simplicidade do gesto a fez sentir um misto de alegria e nervosismo. Eles se sentaram em um canto discreto, longe da agitação, e começaram a conversar sobre tudo e nada.

— Você tem talento, Lara — disse André, seus olhos fixos nos dela. — E não só no trabalho. Você tem uma luz que não passa despercebida.

Ela sorriu, um pouco envergonhada, mas seu coração estava acelerado. A conversa fluiu, e as barreiras começaram a se dissipar. Lara riu das piadas de André, e ele fez com que se sentisse viva novamente. Era como se a dor e a tristeza que a acompanhavam desaparecessem, mesmo que apenas por alguns momentos.

Contudo, a sombra de sua vida com Ricardo ainda a seguia. Ao olhar para André, Lara se lembrava de seu marido e da promessa que havia feito, mas ao mesmo tempo, sentia-se irresistivelmente atraída pelo homem à sua frente. A vida que vivia ao lado de Ricardo já não era a mesma; os sentimentos mudaram, e ela se sentia dividida.

O bar começou a se encher, e a atmosfera ao redor deles se tornava mais vibrante. O riso e a música eram um pano de fundo que contrastava com a tempestade emocional dentro de Lara. A cada instante que passava com André, a conexão se tornava mais intensa, mais real. Era como se eles estivessem flutuando em um mundo à parte, e Lara se sentia tentada a se deixar levar.

Finalmente, quando as horas passaram e a noite se aproximava do fim, André a olhou nos olhos com uma expressão séria.

— Lara, eu não posso ignorar o que estou sentindo. A atração que sinto por você é real, e eu gostaria de saber se você também sente isso.

As palavras dele a pegaram de surpresa. Lara sentiu seu coração disparar e sua mente correr em um turbilhão de pensamentos. Ela sabia que precisava tomar uma decisão, e a resposta poderia mudar tudo.

— André… — começou ela, sua voz hesitante. — Eu não sei se isso é certo…

Mas, no fundo, Lara se questionava se a felicidade que André poderia oferecer valia a pena arriscar tudo o que tinha ou se deveria voltar para a sombra da solidão que a cercava. E assim, a noite avançava, enquanto os ecos de sua escolha se tornavam mais altos, ensurdecedores.

A Revelação do Silêncio.

Lara acordou naquela manhã com um misto de expectativa e ansiedade. Após semanas se sentindo invisível, decidiu que era hora de surpreender Ricardo em seu trabalho. Ela tinha esperança de que uma visita inesperada poderia reacender algo entre eles, talvez um momento que os lembrasse do amor que um dia compartilharam.

Depois de se arrumar com um vestido que acentuava suas curvas, Lara deu um último olhar no espelho, tentando convencer-se de que tudo ficaria bem. Com um sorriso no rosto, saiu de casa e se dirigiu à empresa de Ricardo, uma imponente torre de vidro que refletia o céu azul.

Ao chegar, Lara foi recebida com sorrisos pelos colegas de trabalho do marido. Eles a cumprimentaram com simpatia, e ela se sentiu um pouco mais animada. “É a esposa dele!”, murmuraram alguns, e isso lhe trouxe um breve momento de alegria.

— Ricardo está na sala de reuniões — informou uma recepcionista. — Você pode subir.

Lara não hesitou. Ela era a esposa, tinha todo o direito de ir até ele. Com um brilho nos olhos, subiu as escadas, imaginando o sorriso que ele daria ao vê-la. Seria um momento de reencontro, uma chance de reconexão.

Ao se aproximar da porta da sala dele, Lara parou por um instante. O coração batia forte, e um sorriso nervoso dançava em seus lábios. Ela tomou uma respiração profunda, pronta para abrir a porta e ver o olhar de surpresa de Ricardo.

Mas quando a porta se abriu lentamente, seu sorriso congelou. O que viu a fez sentir como se o chão se abrisse sob seus pés.

Ricardo estava de costas, as calças abaixadas, e ao seu lado havia uma mulher com as pernas abertas, gemendo de prazer. O choque a atingiu como um soco no estômago. Ela ficou paralisada por um momento, os olhos arregalados, a cena se gravando em sua mente como uma tatuagem de dor.

A mente de Lara estava em turbilhão, e, em um reflexo automático, ela fechou a porta devagar, quase sem querer fazer barulho. O som do fechamento ecoou em sua cabeça como um sinal de alerta. Ela se afastou da porta, o coração em frangalhos, a confusão se misturando à raiva e à tristeza.

Sem conseguir pensar direito, Lara desceu as escadas em um estado de choque. O que acabara de testemunhar era uma traição brutal. Cada passo que dava em direção à saída fazia sua dor aumentar. Sentia-se como uma estranha em sua própria vida, a mulher que havia se entregado a um amor que agora se revelava uma ilusão.

Quando finalmente chegou em casa, a sensação de desamparo a envolveu como um manto pesado. A casa estava silenciosa, e a realidade do que acontecera a atingiu com força total. Lara se sentou no sofá, os olhos fixos na televisão que estava desligada, o pensamento em um loop interminável sobre a cena que acabara de presenciar.

Mais tarde, Ricardo chegou. A porta se abriu e ele entrou, como se nada tivesse acontecido.

— Oi, amor! — disse ele, com um sorriso despreocupado, como se tivesse passado o dia em uma reunião comum.

Lara não conseguiu responder. A dor e a traição a deixaram sem palavras. Ele continuou a falar, compartilhando a mesma desculpa de sempre, a pressão no trabalho, as reuniões que se estendiam até tarde. Lara ouvia, mas as palavras não faziam sentido. Era como se estivesse assistindo a um filme, um pesadelo no qual não conseguia acordar.

— Você não acredita no que eu passei hoje... — Ricardo continuou, mas Lara estava distante. Ela se levantou e, sem dizer uma palavra, foi até a cozinha. Preparou-se um copo d’água, as mãos tremendo, enquanto tentava manter a compostura.

Naquela noite, enquanto assistia à televisão, Lara sentiu-se como uma estranha em sua própria vida. Ricardo foi para a cama mais cedo, e ela permaneceu ali, mergulhada em seus pensamentos, a mente girando como um furacão.

Decidiu não confrontá-lo, não falar sobre o que havia visto. Era mais fácil ignorar a traição, como se isso pudesse fazer a dor desaparecer. Ao invés disso, fingiria que nada havia acontecido, que seu casamento ainda era real, que Ricardo ainda a amava. A ideia de encarar a verdade era aterrorizante, e o medo de perder tudo a paralisava.

Lara ficou acordada até tarde, perdida em seus pensamentos, mas não tinha certeza de quanto tempo conseguiria manter essa fachada. Enquanto o sono finalmente a envolvia, a única coisa que sabia com certeza era que seu coração estava quebrado e que as sombras da traição agora eram parte de sua realidade. E, com isso, uma nova batalha se iniciava dentro dela: lutar para manter seu mundo intacto ou enfrentar a verdade dolorosa que não poderia ser ignorada por muito mais tempo.

Um Convite Tentador.

O domingo amanheceu com uma luz suave entrando pela janela do quarto de Lara. Ainda deitada, ela pegou o celular e viu uma mensagem inesperada de André, seu chefe. Ele a convidava para uma festa naquela noite, um evento descontraído onde estariam presentes todos os colegas de trabalho. Lara hesitou por um momento, mas logo decidiu que iria. Era uma oportunidade de se distrair, de sair de casa e de se afastar dos pensamentos dolorosos que a atormentavam desde o dia anterior.

Lara respondeu a mensagem confirmando sua presença, e em seguida foi direto ao banheiro. A água morna do chuveiro parecia lavar mais que o cansaço físico; era como se as gotas pudessem levar embora, por um instante, a mágoa que sentia. Após o banho, Lara seguiu para o mercado para fazer as compras da casa, mas o pensamento de que, naquela noite, teria algo especial a distrair a deixava um pouco mais leve.

Mais tarde, decidiu que precisava de algo novo para usar na festa. Visitou uma loja elegante e experimentou algumas opções, até encontrar um vestido que a encantou. A peça era delicada e marcava sua silhueta com um toque de sofisticação. Quando se olhou no espelho, sentiu uma alegria genuína, algo que não sentia há tempos. Era uma lembrança de que ainda tinha valor e que podia, sim, sentir-se bonita e confiante.

Ao entardecer, enquanto se preparava para o evento, Lara olhou para o relógio e percebeu que Ricardo ainda não estava em casa. Ele havia saído cedo e não deixara nenhum recado, nem uma mensagem, nada que explicasse sua ausência. Parte dela queria se importar, mas outra parte, machucada demais, tentava não pensar nele. Ele era um fantasma em sua vida agora, e Lara se sentia cada vez mais pronta para abraçar o mundo sem depender de sua presença.

O celular vibrou em cima da mesa. Era uma ligação de André.

— Lara, está quase na hora da festa. Eu posso passar para te buscar, se quiser — disse ele, com uma voz calorosa.

Ela sorriu, sentindo uma sensação agradável com o convite inesperado.

— Eu adoraria, André. Obrigada — respondeu, contente por não precisar ir sozinha.

Minutos depois, Lara finalizou os toques em sua maquiagem e conferiu o visual no espelho. O vestido caía perfeitamente, destacando sua elegância natural, e o brilho em seus olhos era novo. Era como se aquela noite representasse algo maior, uma chance de redescoberta, um caminho para fora da dor que havia se tornado sua vida.

Quando André chegou, ela se despediu de casa, sem qualquer expectativa de ver Ricardo por ali. Ajustou o vestido e entrou no carro, sentindo o coração bater um pouco mais rápido enquanto André a cumprimentava com um sorriso.

— Você está deslumbrante, Lara — disse ele, seus olhos refletindo admiração.

— Obrigada, André. Faz muito tempo que não me sinto assim — confessou, com uma honestidade que a surpreendeu.

A caminho da festa, a conversa fluiu naturalmente, e Lara se sentia relaxada. André era uma companhia acolhedora, alguém que conseguia fazê-la sorrir sem esforço. E, naquela noite, sentia-se viva e pronta para um novo capítulo, deixando o passado para trás, ainda que por algumas horas.

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