A chuva caía suavemente, criando uma sinfonia calma nas ruas de Paraty. Para Marina, aquele som era familiar e reconfortante. Ela estava escondida sob o toldo de uma pequena cafeteria, observando as gotas de água escorrerem pela vidraça, enquanto segurava sua câmera. A cidade histórica parecia ter sido feita para ser fotografada sob a chuva, e ela se perdeu nos detalhes.
— Você vai ficar aí até o fim da tempestade? — Uma voz suave e bem-humorada a tirou de seus pensamentos.
Marina se virou, e por um breve instante, perdeu o fôlego. Uma mulher de cabelos curtos, desgrenhados pela chuva, e olhos verdes cintilantes a encarava. Seu sorriso era caloroso, e sua presença trouxe uma onda de algo que Marina não conseguiu identificar de imediato.
— Ah, eu... estava esperando a chuva passar — respondeu Marina, meio sem jeito, tentando não encarar diretamente os olhos da desconhecida, que agora se sacudia levemente para espantar as gotas d’água.
— Se você esperar isso em Paraty, vai acabar virando uma estátua aqui — brincou ela, rindo de sua própria piada e estendendo a mão. — Alice. Você é daqui?
Marina hesitou antes de apertar a mão de Alice, ainda sentindo-se um pouco desconcertada pela súbita proximidade. — Não, só estou de passagem. Sou fotógrafa. — Sua resposta saiu mecânica, como sempre que mencionava seu trabalho, mas, por algum motivo, dessa vez parecia haver algo mais na troca de palavras.
— Ah, então está capturando a magia do lugar? — perguntou Alice, com um brilho nos olhos que deixava claro o quanto ela valorizava a beleza ao redor. — Eu sou arquiteta, gosto de olhar para esses detalhes também, mas de um jeito diferente.
As duas trocaram sorrisos, e Marina sentiu algo que não sentia há muito tempo: curiosidade. Não sobre a arquitetura ou o trabalho de Alice, mas sobre a própria Alice. Ela tinha um magnetismo que atraía Marina como um mistério a ser desvendado.
— Quer saber? — Alice disse, olhando para o céu encoberto. — Se você tiver coragem de se molhar um pouco, posso te mostrar alguns dos meus lugares favoritos por aqui. Aposto que vai render ótimas fotos.
Marina olhou para a chuva, depois para Alice, que a encarava com um olhar desafiador, mas gentil. Ela hesitou por um momento, mas algo dentro dela queria dizer sim. O que era tão atraente em Alice? Talvez o fato de que, por um instante, parecia que a chuva não importava mais.
— Acho que vou aceitar essa proposta — respondeu Marina, finalmente sorrindo de volta.
E ali, sob o mesmo céu cinzento, algo começou a florescer entre as duas. Algo que Marina nunca havia permitido a si mesma sentir.
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Uau! Chegamos ao fim dessa parte da história! 💖 É com o coração transbordando de gratidão que agradeço a cada um de vocês que embarcou nessa jornada com a gente.
Agradeço especialmente aos leitores que acompanharam desde o primeiro capítulo, que vibraram com cada conquista e se solidarizaram com cada obstáculo. Vocês foram parte fundamental dessa jornada, e sem vocês, essa história não teria sido tão especial.
Mas preparem-se, pois a história deles ainda tem muitos capítulos pela frente! 🎉 Novos desafios, novas emoções, novas descobertas… E eu mal posso esperar para dividir tudo isso com vocês.
Fiquem ligados nas atualizações e continuem acompanhando a história de amor deles! 💖
As ruas de Paraty, encharcadas pela chuva, pareciam ter sido feitas para momentos como aquele. O calçamento irregular refletia as luzes tênues dos postes antigos, e o som das gotas ecoava nas paredes de pedra. Marina caminhava ao lado de Alice, os passos das duas ritmados, quase como uma dança improvisada pela cidade.
Alice parecia completamente à vontade, ignorando o frio que vinha com a chuva. De vez em quando, ela apontava para detalhes nas construções, e Marina se pegava impressionada pela maneira como Alice enxergava o mundo. A arquitetura das casas coloniais, o equilíbrio entre as fachadas antigas e a vegetação que insistia em crescer nas frestas das pedras. Tudo parecia ter vida própria aos olhos dela.
— E aqui? — Alice parou de repente, estendendo o braço para indicar uma pequena praça escondida entre as ruas estreitas. — Esse é um dos meus lugares favoritos. À noite, com as luzes e a chuva, fica ainda mais bonito. Me lembra como o velho e o novo podem coexistir.
Marina olhou em volta. A praça era simples, com bancos de madeira desgastada e algumas árvores cujas folhas pareciam brilhar sob as gotas d'água. Era uma cena serena, quase mágica. Ela levou a câmera aos olhos, ajustando o foco para capturar o momento.
— O que você vê quando olha pelo visor? — Alice perguntou, curiosa, aproximando-se de Marina. — Sempre me perguntei o que passa na cabeça de um fotógrafo. O que faz você decidir que vale a pena congelar esse momento e não outro?
Marina baixou a câmera, surpresa com a pergunta. Quase ninguém perguntava sobre sua perspectiva. As pessoas só viam a foto pronta, não o processo. Alice estava tentando entender algo além disso.
— Eu acho que… procuro a história. O que está além do que os olhos podem ver — Marina respondeu, meio incerta. Ela nunca tinha realmente tentado explicar aquilo em palavras. — Tipo agora, por exemplo. Não é só uma praça. É o contraste entre a chuva e as luzes, o silêncio que fica entre os pingos, o fato de estarmos aqui e ninguém mais. São pequenos detalhes que talvez só façam sentido para mim, mas que contam uma história.
Alice ficou em silêncio por um momento, olhando para a praça através dos olhos de Marina. Então, sorriu.
— Gosto disso. Ver o mundo como se cada canto tivesse uma história. — Ela olhou para Marina, seus olhos verdes cintilando sob a luz fraca. — Talvez seja por isso que eu gosto tanto de arquitetura. Não é só sobre construir coisas, mas sobre as vidas que vão habitar esses lugares.
O jeito como Alice falava com paixão sobre sua profissão tocou algo em Marina. Era raro encontrar alguém que se conectasse com o mundo de uma forma tão parecida com a dela, que enxergava além da superfície.
— Você parece diferente de muitas pessoas que conheci aqui — disse Marina, surpresa com o quão fácil estava se abrindo. — Parece que vê o mundo de um jeito... leve.
Alice deu uma risada baixa, que fez Marina sorrir sem perceber.
— É que eu sempre acreditei que a vida é muito curta para a gente complicar as coisas. Sabe, só... viver. Deixar a chuva cair e aproveitar o momento, sem pensar tanto no que vem depois.
Marina, acostumada a controlar cada detalhe, a viver entre horários e prazos, sentiu uma pontada de admiração — e talvez um pouco de inveja — da forma como Alice encarava o mundo. E, pela primeira vez em muito tempo, ela quis experimentar o mesmo. Quis, pelo menos naquela noite, se permitir esquecer os planos, as metas, o futuro.
As duas continuaram andando, agora mais próximas, dividindo confidências leves. Alice apontava para os prédios antigos, fazendo observações engraçadas sobre como algumas construções pareciam "falar" com ela, e Marina não conseguia evitar rir de suas analogias inusitadas.
Em determinado momento, Alice parou sob uma marquise de pedra, se protegendo um pouco da chuva, e olhou diretamente para Marina. Seus olhos verdes pareciam brilhar ainda mais sob a luz fraca dos postes.
— Marina, posso te perguntar uma coisa? — Ela hesitou, como se estivesse decidindo se deveria ou não continuar.
— Claro. — Marina respondeu, sentindo seu coração bater um pouco mais rápido.
— Você... já se permitiu parar e só... sentir? Sem a câmera, sem os planos. Só... viver?
A pergunta pairou no ar, e pela primeira vez, Marina não soube o que responder de imediato. Sempre estivera ocupada demais capturando o mundo ao seu redor para se permitir vivê-lo plenamente. Até aquele momento.
Antes que ela pudesse responder, Alice se inclinou um pouco mais perto, e com um sorriso suave, murmurou:
— Talvez seja hora de começar.
E, naquele instante, debaixo da chuva leve e com o silêncio da noite ao redor, algo mudou entre elas.
A manhã seguinte chegou com o sol tímido surgindo entre as nuvens, transformando a paisagem de Paraty em algo completamente diferente. As ruas, ainda molhadas pela chuva da noite anterior, refletiam o céu e traziam uma sensação de calmaria. Para Marina, porém, nada parecia calmo.
Ela estava sentada na varanda da pousada, sua câmera no colo, mas sem intenção de usá-la. Seus pensamentos estavam em Alice, na conversa sob a chuva, no sorriso que parecia ter uma força própria. Pela primeira vez em muito tempo, Marina sentiu algo diferente, algo que a fazia questionar suas próprias escolhas e sentimentos.
O celular vibrava ao seu lado, mas ela ignorou. O trabalho, os prazos, tudo parecia distante agora. Ela queria entender o que estava acontecendo dentro de si, algo que a inquietava desde o momento em que Alice a deixou na porta da pousada, com um simples "até logo" e um olhar que dizia muito mais.
Alice. Sua presença leve, mas intensa, parecia mexer com algo que Marina não sabia explicar. Ela estava acostumada a controlar tudo, até suas emoções, mas com Alice, era diferente. Era como se as paredes que Marina tinha erguido ao longo dos anos estivessem começando a ceder.
— Marina? — A voz de Alice quebrou o silêncio.
Marina levantou o olhar e lá estava ela, de novo. Alice, com seu sorriso caloroso e aquele jeito despreocupado que, de alguma forma, sempre a deixava à vontade. Ela estava parada na entrada da pousada, com uma pequena mochila nas costas e o cabelo ainda um pouco bagunçado pelo vento.
— Achei que poderia te encontrar aqui. — Alice disse, aproximando-se devagar. — Posso sentar?
— Claro — respondeu Marina, ajeitando-se na cadeira ao seu lado. Seu coração começou a acelerar de novo, algo que parecia ser constante sempre que Alice estava por perto.
— Você desapareceu ontem à noite — Alice comentou com um sorriso suave, enquanto se sentava. — Achei que ia me mandar uma mensagem.
— Eu... estava processando algumas coisas. — Marina admitiu, sentindo-se um pouco envergonhada por ter sumido sem dar notícias. — A noite foi… intensa.
Alice olhou para ela, com um misto de compreensão e expectativa nos olhos.
— Intensa? Como assim?
Marina respirou fundo, sabendo que aquela era a hora de ser sincera, pelo menos consigo mesma.
— Eu não sei bem como explicar, mas estar com você ontem... me fez perceber que talvez eu esteja vivendo de forma muito… segura. Sempre com tudo planejado, sem espaço para o inesperado. E você é... diferente. Você me faz querer experimentar o mundo de uma forma que eu nunca pensei em fazer antes.
Alice sorriu, mas dessa vez havia algo mais em seu olhar. Ela parecia estar absorvendo cada palavra, como se estivesse esperando por essa confissão.
— Fico feliz de ouvir isso — respondeu ela, calmamente. — Mas sabe, não acho que seja só sobre viver de forma diferente. Às vezes, é sobre com quem a gente vive essas experiências. — Ela fez uma pausa, observando Marina atentamente. — Talvez o que você esteja sentindo não seja só sobre mudar o jeito de viver. Talvez seja sobre... nós.
A última palavra pairou no ar, carregada de significado. Marina sentiu o peso dela como um impacto suave, mas profundo. Havia algo que ela vinha evitando reconhecer, algo que estava crescendo desde o primeiro momento em que seus olhares se cruzaram naquela noite chuvosa.
— Nós? — Marina repetiu, quase como se precisasse testar o som daquela palavra.
Alice não desviou o olhar, mantendo a intensidade que agora parecia ainda mais evidente. Ela se aproximou um pouco, de maneira sutil, mas significativa.
— Sim, nós. — Alice murmurou. — Eu sinto que há algo aqui, entre nós, que vai além de apenas uma amizade casual. Desde que te conheci, tem algo diferente. Eu não sou do tipo que força as coisas, mas também não gosto de ignorar o que é real.
Marina sentiu seu coração acelerar, uma mistura de medo e excitação a dominando. Era raro para ela estar tão vulnerável, mas ali, com Alice, parecia que era a única coisa a se fazer.
— Eu também sinto isso — admitiu, sua voz baixa, quase um sussurro. — Mas não sei o que fazer com isso. Eu nunca... — Ela parou, hesitante.
Alice entendeu. Não precisava de mais palavras. Lentamente, ela pegou a mão de Marina, um toque suave que fez com que todos os pensamentos caóticos em sua mente se dissipassem, deixando apenas a sensação de conexão.
— Não precisa ter pressa — Alice disse, com sua voz calma. — Não precisa saber de tudo agora. O que importa é o que você sente aqui. — Ela tocou levemente o peito de Marina, bem sobre o coração.
Marina fechou os olhos por um segundo, tentando se reconectar com o momento. Quando os abriu, viu o rosto de Alice tão próximo, tão acolhedor, que foi impossível resistir. Tudo o que ela vinha segurando, todos os medos e dúvidas, foram deixados de lado.
— Eu só sei que... quero tentar. — Marina finalmente disse, sua voz carregada de emoção.
Alice sorriu, um sorriso que era metade alívio, metade felicidade pura.
— Então, vamos tentar. — Ela disse suavemente.
E, naquele momento, sob o céu ensolarado que ainda brilhava com os resquícios da chuva, as duas se aproximaram ainda mais, deixando que o sentimento falasse por si. Não havia mais palavras necessárias, apenas o entendimento silencioso de que, de alguma forma, o que estava nascendo entre elas era real, poderoso, e merecia ser vivido.
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