Rose Martins, 50 anos bem vividos, viúva, mãe de dois filhos e tenho uma neta.
Quando meu marido faleceu de um infarto fulminante há três anos, achei que ia também, era casada com ele desde os meus 16 anos, nunca vivi sozinha. Me senti perdida, sem rumo, tive que correr atrás de todos os papéis do inventário, acertar contas que haviam ficado sem pagar e dar um jeito de meu cunhado me vender a parte do sítio porque não o quero mais de sócio nem fedendo.
Meu filho sempre morou comigo e agora acha que manda em mim. No começo, foi até reconfortante, mas começou a me cansar. Nem meu marido, que achava que me controlava, fazia isso de verdade. Agora, esse moleque acha que mandará em minha vida, não vai não. Minha filha se mantém na dela, eu cuidando da filha dela para que ela possa viver a liberdade dela, o resto está tranquilo, mas a filha é dela, desculpa, mas bancarei a avó ingrata, fugirei deles, quero um tempo para mim e com eles no meu pé, continuo casada, só que sem marido.
Depois que comprei a parte do sítio de meu cunhado, comecei a arrumar a casa, não é uma casa grande tem dois quartos, sala, cozinha, banheiro, do lado de fora tem uma área que aumentei onde tem um fogão a lenha, uma mesa de peroba rosa, várias cadeiras de cordinhas. Alambrei o quintal todo, coloquei câmeras, internet, porque hoje escrevo e preciso da internet, e na hora que falar para meus filhos que vou me mudar para o sítio, não vão poder falar que não tenho contato com o mundo, tirei carta e comprei um uno para poder me locomover. Não tenho intenção de viver do sítio, só quero o sossego e poder criar minhas criações sem pensar no que fazer com elas depois.
Preparei tudo e liguei para meus filhos avisando que jantaríamos juntos hoje.
Preparei algumas assadeiras de esfirras e, quando eles chegaram, comemos. Meu filho me conhece demais, sabe que não fiz isso no meio da semana atoa.
_ Vai mãe conta logo o que está acontecendo.
_Não é nada de mais, eu só quero dar uma notícia para vocês dois de uma vez.
Minha filha já se mete.
_ Já sei! A senhora arrumou um namorado.
_ Ficou louca, Cristina, minha mãe não arrumará um homem, ela já tem idade, não precisa disso.
_ Para de ser retrógrado Bruno a nossa mãe é nova e pode muito bem arrumar um namorado.
_ Parem vocês dois com isso! Eu não arrumei um namorado, nem consigo sair de casa como que ia arrumar um namorado?
_ Então fala mãe o que é?
_ Resolvi me mudar para o sítio.
Primeiro ficou um silêncio, e depois eles caíram ambos na risada, eu fiquei parada esperando eles pararem de rir de mim. Quem falou primeiro foi minha filha.
_ A senhora está de brincadeira? Quem cuidará da Gabi para eu poder trabalhar?
_ A filha é sua de seu jeito, desculpa Gabi, vovó te ama, mas preciso de um tempo para mim.
_ Mãe a senhora não sabe o que está falando, como que a senhora morará sozinha em um lugar longe de tudo? E se acontecer alguma coisa?
_ Filho, coloquei internet e você poderá falar comigo todo dia. Quero escrever um livro e preciso de um tempo para mim, aqui eu só fico cuidando das vossas coisas e esqueci de mim.
_ Até quando tenho para resolver o problema da Gabi?
_ Até o final de semana, eu vou para o sítio sábado e não voltarei mais.
_. Mas podemos ir lá ficar com a senhora no final de semana?
_ Agora, no começo, quero ficar sozinha, não quero nenhum de vocês lá.
_Mas, mãe, eu tinha uma festa de peão para ir, precisava que você ficasse com a Gabi.
_ Não dará.
_ Arrumarei um cachorro para a senhora deixar solto no quintal, tem que ser uma raça brava.
_ Tá bom, mais alguma coisa?
_ Não mãe se a senhora já se resolveu do que adianta nós falarmos.
_ Tentem torcer por mim, eu preciso desse tempo para mim.
Nos abraçamos e meus filhos saíram. Minha filha foi embora para a casa dela e meu filho acho que foi pensar. Para ele será mais fácil, mas para minha filha será difícil desmamar, mas Deus está no controle.
Já fiz a parte mais difícil, agora é só não retroceder.
O final de semana chegou e meu filho me deu um rottweiler preto, dei o nome de Fantasma.
_ Mãe mas o fantasma do Games of Thrones é branco por isso o nome.
_ O meu é preto, porque de noite ninguém vai conseguir vê-lo.
_ O cachorro é seu dá o nome que a senhora quiser.
_ Já dei.
**** Um ano depois
_Nossa Fantasma já faz um ano que moramos aqui, mesmo você sendo um folgado e não protegendo nada eu te acho útil, você não deixa o cachorro do mato atacar nossas galinhas.
Eu acabei adotando uma cachorra que apareceu aqui no sítio Lassie e um gato muito folgado, Vincent. Ele dorme em cima do Fantasma, somos um quarteto inseparável.
Minha vida está tranquila, escrevi meu livro e já estou preparando outro, acho que vou escrever um livro infantil baseado nas minhas criações, acho que as crianças vão adorar ouvir as histórias do sítio contada por intermédio da galinha.
_ Meninos já são quase dez horas, vamos dormir, vamos Lassie
Entrei em casa e fechei tudo verifiquei se as câmeras estavam funcionando e fui me deitar. Mal tinha pego no sono ouvi um estrondo, sentei na cama assustada, parece que alguém trombou na cerca.
Levantei, fui olhar as câmeras e vi uma moto caída quase perto da minha porteira, fiquei olhando e vi o dono da moto caído do lado.
_ E agora Lassie? Vamos lá ver se ele precisa de ajuda ou largamos quieto?
Fiquei observando por algum tempo, mas ele não se mexia, eu não vou conseguir dormir imaginando que poderia ter salvo uma vida.
_ Vamos Lassie, vamos salvar o cara.
Fiz a voz como se fosse minha cachorra falando comigo.
“ Mas e se ele for um bandido e nos atacar? Seu filho te falou para não deixar estranhos entrarem”
_ Você está certa Lassie, mas eu tenho você e o Fantasma para me defender e ele está desmaiado na minha porteira, vamos lá olhar de perto, se acharmos que ele é perigoso chamamos a polícia, mesmo sabendo que não virão aqui esta hora da noite.
Peguei uma lanterna que meu filho me deu, e fui lá na porteira ver o homem de perto. Cheguei e ele parecia morto.
_ Lassie, vou ter que ver se ele está vivo, você fica na retaguarda e se ele me agarrar você me defende.
Falei com o desconhecido.
_ Senhor me escuta? Você pode me ouvir?
Coloquei meu dedo no pescoço dele e senti o coração batendo.
_ Lassie, ele está vivo, vou ter que ver se ele quebrou algum osso com o tombo da moto.
Apalpei os ombros, desci as mãos pelos braços, o braço direito está normal, mas o esquerdo está sangrando, clareei melhor e não é um machucado é um buraco de bala.
_ Lassie, ele tomou um tiro, deve ser um ladrão de gado.
Continuei apalpando, a região do peito e abdômen está mais que normal, desci apalpando as coxas e a perna esquerda também está sangrando.
_ Tem outro buraco aqui, e acho que esse é mais grave que o do braço.
De repente ele gemeu, tomei um susto e sai de perto dele correndo.
_ Calma Rose ele está ferido não pode fazer nada com você, eu deveria ir em casa e chamar a polícia, mas e se ele sangrar até a morte?
Voltei perto dele e bati no rosto, tentando ver se ele acordava, abriu os olhos e ficou me olhando.
Perguntei:
_ Quem é você?
Só me disse:
_ Índia, me ajuda.
Quem será índia? Eu? Realmente ele está delirando, de índia não tenho nada.
**Um dia antes**
“Roberto Alvarenga”
_ Querido, faça o Rali com seus amigos, eu ficarei bem sozinha.
_ Patrícia, eu não gosto de te deixar sozinha, e segunda tenho um contrato importante para assinar, não posso simplesmente sair para uma cidadezinha e participar de um rali como se eu fosse um adolescente.
_ Roberto, você tem 30 anos, é novo e vive para a empresa, o que pode acontecer se você tirar um final de semana só para você.
“Roberto”
Sei que meu casamento não vai bem, que minha mulher está me traindo, mas não consigo me desligar dela, foi minha primeira namorada, estamos juntos desde que comecei minha firma, com certeza quer que eu vá para esse rali para ela passar o final de semana inteiro com seu amante. Já que ela quer tanto que eu vá, vou e voltarei antes para pegar ambos no flagra e quem sabe assim conseguimos conversar e se entender.
_ Tá bom, Patrícia, eu vou, mas me promete que você vai se cuidar?
Claro, querido, eu estarei muito bem guardada em nossa casa.
Cheguei a Nova Itapirema, uma cidadezinha do interior de São Paulo, de manhã. A cidade tem uma rua principal e mais algumas ruas paralelas, uma praça com uma igreja muito bem cuidada, um mercado com padaria, estamos em seis motoqueiros, paramos na praça e o cheiro do pão assado está tomando conta da rua. Segui o cheiro e entrei no mercado, me aproximei da padaria e vi os cabelos negros mais lindos bem na minha frente, descem até a altura do quadril da mulher, não é uma beldade, morena, 1,80, gordinha, mas sorri e brinca com o balconista parece irradiar felicidade, eu me senti atraído igual vaga-lume pela luz. Quando ela virou de frente comigo, concentrada ainda na brincadeira com o balconista nem me viu, se eu estivesse na região dos indígenas poderia jurar que é indígena, só uma Índia para ter um cabelo tão lindo e tão cheiroso, passou por mim e eu fiquei olhando até que saiu do mercado, voltei e o balconista estava me encarando estranho.
_ O senhor quer alguma coisa?
_ Pão, por favor.
_ Quantos?
_ Quem era a mulher que estava aqui na minha frente?
_ Ela não é para seu bico, não vou te dar informação nenhuma, quantos pães o senhor quer?
_ Quatro, você está interessado nela?
_ Ela é casada e o marido dela é um matador de aluguel, se não quer morrer fica longe dela.
_ Acho que, para ver se aqueles cabelos são tão macios quanto parece, eu arriscaria morrer.
_ Veio para o rali?
_ Sim.
_ Então, logo vai embora.
_ Você não parece um homem de cidade do interior, eles costumam ser bem amigáveis e receptivos.
_ Quando não chegam mexendo com as mulheres da comunidade, somos amigáveis, do contrário podemos ser bem hostis.
Me entregou o saco com os pães e eu saí, meu amigo tomou o saco da minha mão, pegou um pão e começou a comer.
_ Você parece meio aéreo, aconteceu alguma coisa.
_ Acho que tive uma visão, mas já passou.
_ Visão do quê?
_ Do paraíso, meu amigo, do paraíso.
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