Acordei com o som de gritos abafados, o cheiro de vinho e o calor sufocante da lareira. Meu corpo parecia rígido, pesado como se tivesse sido moldado em pedra. Aos poucos, as memórias começaram a fluir. Eu me encontrava no castelo do Duque, mas não como o convidado honrado que minha família esperava que eu fosse. Não. A realidade era muito mais cruel. Eu era o vilão dessa história.
A lâmpada que iluminava a grande sala treme luzia em sincronia com minha mente confusa, enquanto a verdade caía sobre mim como uma lâmina fria. Eu não era o herói destinado a salvar reinos ou conquistar corações. Não, eu era aquele que arruinaria tudo. Meu papel era claro. Eu estava destinado a ser odiado, derrotado, e, inevitavelmente, cair nas sombras, consumido pelo peso dos meus próprios pecados.
Mas então... algo mudou.
Eu me lembrava. Eu sabia o que estava por vir. E de repente, isso tudo parecia uma piada de mau gosto, como se o destino estivesse zombando de mim. As peças do tabuleiro estavam exatamente onde deveriam estar: o protagonista heroico estava sendo envenenado por minhas ordens, sendo arrastado para o quarto. O fim já estava escrito. Ele sobreviveria, claro, afinal, o vilão sempre fracassa. E eu pagaria o preço por minhas ações, como sempre.
Era assim que as coisas funcionavam, não? Eu, o vilão cruel, o arquiteto da tragédia, terminaria essa noite de glória em desgraça. Mas agora, pela primeira vez, o jogo estava claro para mim. As regras, as peças... tudo se desvelou diante dos meus olhos. E junto com essa clareza veio uma raiva que queimava em meu peito. Não era justo. Não era justo que eu fosse jogado na lama sem chance de redenção, apenas um peão em um jogo que eu nunca quis jogar.
Levantei-me devagar, sentindo o peso das escolhas que ainda não haviam sido feitas. Por que eu deveria seguir o roteiro? Por que eu deveria aceitar esse destino já traçado? E se... e se eu pudesse mudar tudo?
Minhas mãos tremiam, mas meu coração estava firme. Se esse era um jogo, então eu jogaria de acordo com minhas próprias regras. Eu não aceitaria mais ser a sombra do herói. Não me contentaria mais em ser a peça descartável que os outros usavam para justificar seus atos de bravura. Não.
Olhei ao redor, absorvendo cada detalhe da sala como se fosse a última vez que a veria. O fogo da lareira, antes ameaçador, agora parecia ser o combustível da minha revolução interna. Se eu conhecesse o final... poderia alterar o curso.
A partir desse momento, não haveria mais um vilão previsível. A história não seguiria o caminho que todos esperavam. O protagonista sobreviveria? Sim. Mas seria pelo meu comando. Eu não jogaria mais o papel que o destino me forçou. Desta vez, eu ditaria as regras.
A primeira jogada era minha.
Em "A Última Jogada do Vilão", acompanhamos um protagonista que desperta em meio à tragédia iminente, ciente de cada erro e cada traição que ainda não cometeu, mas já está destinado a realizar. No entanto, algo está diferente desta vez: ele tem consciência de seu papel na trama, conhece os acontecimentos que estão por vir, e, mais importante, sabe que, ao seguir o roteiro, estará condenado a cair.
Com o conhecimento do futuro e uma determinação feroz, o vilão decide quebrar as correntes que o prendem à narrativa pré-definida. Ele não será mais o peão sacrificial. Ele reescreverá as regras do jogo. Mas ao desafiar o destino, ele também desperta forças poderosas que controlam a trama. Seria possível mudar sua história sem cair nas armadilhas que o cercam? E o que aconteceria com os outros personagens se o vilão decidisse se rebelar contra o enredo?
Nesta história cheia de reviravoltas e intrigas, o vilão se vê não apenas lutando contra o herói, mas contra o próprio tecido do destino que o aprisiona. Prepare-se para uma narrativa onde cada escolha pode alterar o rumo dos acontecimentos, e onde até o vilão pode sonhar em conquistar sua própria redenção ou afundar ainda mais em um destino inevitável.
O som abafado de risos e música se misturava ao crepitar do fogo na lareira, lançando sombras tremeluzentes nas paredes de pedra do grande salão. Meus olhos se abriram lentamente, e por um breve momento, tudo parecia um borrão. O peso de algo terrível pressionava meu peito, mas a princípio eu não sabia o que era. Então, a lembrança me atingiu como uma lâmina afiada: este era o momento em que tudo desmoronaria.
Meus pensamentos estavam nebulosos, mas aos poucos as memórias começaram a emergir, como fragmentos de um pesadelo do qual eu jamais poderia escapar. Eu era o vilão. Não o herói que as pessoas amavam, não o salvador que arrancaria o reino das mãos do mal. Não. Eu era aquele que arruinaria tudo. Era o vilão cuja queda era celebrada por todos. Estava destinado a perder. Esse era o meu papel.
Tentei levantar, mas meu corpo parecia estranho, como se tivesse sido moldado por um escultor desajeitado. Meu coração batia acelerado, como se soubesse que algo estava terrivelmente errado. E estava. Algo muito errado. Lembrei-me da cena que se desenrolava nesta mesma noite. O herói, envenenado por minhas ordens, seria levado para o quarto do Duque, onde sua vida penderia por um fio. Mas ele sobreviveria, é claro. O vilão sempre fracassa no final. E eu, como o vilão, estaria ali, assistindo minha própria derrota se aproximar.
Mas dessa vez, algo estava diferente. Eu sabia. Sabia o que aconteceria. Sabia o que estava por vir, como um espectador que já assistiu ao filme várias vezes e conhece cada detalhe. Isso era novo. Eu nunca havia sentido essa clareza antes, essa terrível certeza de que eu estava condenado a repetir os mesmos erros. Como se o destino já tivesse escrito minha queda, e eu fosse apenas um peão, jogado de um lado para o outro.
Por um breve segundo, considerei a ideia de simplesmente seguir o fluxo, aceitar meu destino. Mas então, algo dentro de mim se agitou. Uma faísca de revolta. Eu não queria mais ser apenas o vilão, o fantoche cujo único propósito era servir de escada para a ascensão do herói. Eu sabia como essa história terminava. E, se eu conhecesse o final, talvez pudesse mudar o meio.
Levantei-me, os joelhos ainda trêmulos, e caminhei até a grande janela do salão. A noite estava escura, mas as luzes das tochas lançavam um brilho dourado sobre as muralhas do castelo. O herói estava lá fora, em algum lugar, prestes a ser envenenado. Eu podia sentir o peso das minhas escolhas, o fardo de saber o que viria a seguir. Mas, desta vez, não seria como antes.
Minha mente começou a trabalhar em um plano, algo que nunca antes havia me ocorrido. Se eu sabia o que aconteceria, se tinha a vantagem do conhecimento... por que seguir o roteiro? Por que permitir que as engrenagens do destino continuassem a girar como sempre? Eu poderia mudar as regras. Eu poderia reescrever essa história.
Mas, é claro, isso significava uma coisa: eu não seria mais o vilão previsível. Minhas ações iriam confundir, desorientar todos à minha volta. O herói, o Duque, até mesmo a heroína – ninguém seria capaz de prever meus movimentos. Eu não seria mais aquele que se submeteria ao destino, mas o autor de um novo enredo. E, para isso, precisaria jogar minhas cartas com astúcia e precisão.
Caminhei até a porta, meu coração martelando no peito. Havia uma inquietação no ar, como se o próprio universo estivesse segurando a respiração, esperando o meu próximo passo. Sabia que, ao tomar essa decisão, colocaria em risco tudo o que conhecia. O jogo estava prestes a mudar, e o primeiro movimento seria meu.
Abri a porta e caminhei em direção ao corredor. O som dos meus passos ecoava nas paredes, e cada passo que eu dava parecia mais pesado que o anterior. Mas, ao mesmo tempo, algo dentro de mim crescia – uma força, uma convicção. Não seria mais uma marionete no teatro do destino.
Hoje, eu começaria minha própria história.
O silêncio do corredor era quase opressor enquanto eu caminhava, cada passo um lembrete de que algo fundamental havia mudado. A noção de que eu sabia o que estava por vir, que o destino estava em minhas mãos, me inundava com uma mistura de ansiedade e determinação. Já não era mais o vilão que simplesmente aguardava sua queda, passivo diante dos acontecimentos. Agora, com cada segundo que passava, eu me via como um jogador, consciente das peças que compunham o tabuleiro.
A sensação de poder era inebriante, mas também havia um risco em cada movimento. Eu sabia exatamente o que aconteceria se seguisse o caminho original. O herói sobreviveria à tentativa de assassinato, o Duque consolida seu poder, e eu seria o vilão derrotado, odiado e esquecido. Mas e se… e se eu pudesse mudar esse resultado?
Meus pensamentos fervilhavam com planos, estratégias. Sabia que, para alterar o curso dos eventos, precisava agir de forma sutil, testar os limites sem alertar os outros de imediato. O que aconteceria se eu interferisse? Seria possível desviar o destino, ou estaria apenas atrasando o inevitável?
O som distante de passos apressados me tirou de meus devaneios. O primeiro teste do meu novo papel estava chegando. Era a criada do Duque, indo em direção ao quarto do herói, onde ele estava sendo levado inconsciente. Eu sabia que ela era leal ao Duque, que suas ações estavam sempre de acordo com os planos daquele manipulador de poder. Ela entregaria o herói ao destino que, ironicamente, o salvaria. Era aqui que eu poderia interferir pela primeira vez.
Escondido na penumbra do corredor, esperei que ela passasse por mim. Seu rosto estava pálido, seus olhos arregalados. Ela não sabia, mas estava levando o herói ao início de sua jornada gloriosa. A ironia de tudo aquilo me fazia quase rir. No entanto, eu não podia ser impetuoso. Precisava jogar com cautela.
Com um movimento rápido, silencioso como uma sombra, me aproximei por trás e a parei, segurando firmemente seu braço. Ela se virou, assustada, com os olhos arregalados de surpresa. "O que está fazendo?", sussurrou, sua voz cheia de pavor.
"Você não pode levá-lo até lá", disse, sem pestanejar. "Ele precisa ir para outro lugar. O Duque não pode saber." Era um risco enorme, mas esse era o tipo de movimento que definiria tudo.
Ela hesitou, seus lábios tremendo. Sabia que não tinha poder diante da palavra do vilão. "Mas... mas o Duque..." gaguejou, claramente aterrorizada com a possibilidade de desobedecer.
"Não questione", repliquei, meus olhos fixos nos dela. "Diga que fui eu quem ordenou. Se você seguir o plano original, a sua vida será tão desgraçada quanto a minha." Minha voz estava fria, carregada de uma certeza inabalável. Estava jogando com a mente dela, com seus medos, plantando a semente da dúvida. Se eu pudesse controlar essa primeira peça, o tabuleiro começaria a se inclinar a meu favor.
Ela hesitou por mais um momento, depois, finalmente, assentiu. "Como desejar, meu senhor", disse com a voz trêmula. Sem mais palavras, a criada desviou o caminho e seguiu na direção oposta, carregando o herói para um lugar onde o Duque jamais o encontraria.
Suspirei profundamente, o primeiro teste havia sido superado. Mas aquilo era apenas o começo. Sabia que, embora tivesse conseguido manipular um pequeno evento, as consequências desse ato reverberam por todo o reino. O destino é como uma teia, e ao puxar um fio, todos os outros se movimentam, ameaçando desfazer a estrutura.
Ainda assim, havia uma estranha satisfação em saber que o jogo estava em minhas mãos agora. Cada movimento precisava ser calculado, cada palavra, um passo em direção à minha liberdade do papel que me foi imposto. Eu não seria mais o vilão previsível, não aquele destinado à ruína. O herói havia sido salvo, mas isso significava que a trama inteira havia sido deslocada.
Enquanto eu me afastava do corredor escuro, a gravidade da minha decisão começou a pesar sobre mim. O Duque notaria a ausência do herói? Certamente. E o que ele faria quando descobrisse que eu havia alterado o plano? Uma onda de dúvida percorreu meu corpo. Ao interferir, eu não estava apenas mexendo no destino do herói, mas no equilíbrio de poder que mantinha o reino estável. A cada decisão que eu tomava, mais distorcido o futuro se tornava.
Minha mente fervilhava com as possibilidades, e era como se cada pensamento me puxasse em direções opostas. Ao mudar um pequeno detalhe, as implicações eram imensuráveis. Era um jogo perigoso, mas agora, pela primeira vez, eu estava preparado para jogar até o fim.
Ao virar o corredor, notei a silhueta de outra figura conhecida. O Duque. Ele estava ali, em pé, imóvel, com os olhos fixos em mim com uma expressão indecifrável. O que ele sabia? O que ele desconfiava? Este não era o fim do jogo. Apenas o início de uma longa partida, e eu precisaria estar mais atento do que nunca.
“Vossa Graça,” murmurei, forçando um sorriso frio. O próximo movimento seria dele, mas a diferença agora era clara: eu não estava mais apenas reagindo. Eu estava a jogar.
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