OLÁ, SEJA MUITO BEM VINDA!
UM POUCO SOBRE OS PERSONAGENS DA FAMILIA STUART E ALICIA. ♥
Pelo menos uma a cada dez pessoas, em um raio de 10 km, admirava e, certamente, sonhava em fazer parte da família Stuart. Mais do que ricos, eles caracterizam o mérito da honra e do respeito. Uma família glamorosa, composta por sete ilustres membros. Para alguém como eu, uma pessoa comum, viver com sete membros em uma casa com apenas seis cômodos como a minha, parecia algo inimaginável, quase sufocante.
Os Stuart eram uma referência em Nova Iorque, uma das famílias mais ricas, ou melhor, milionárias, de todo o solo americano.
Desde criança, eu cresci lendo em revistas e navegando em sites que exaltavam a vida perfeita dos Stuart. Era como se vivessem em uma utopia. As festas beneficentes, sempre luxuosas, aconteciam quase diariamente, e os valores arrecadados eram doados generosamente para hospitais e orfanatos, muitos dos quais só se mantinham de pé graças à generosidade deles.
O senhor Alexandre Stuart, o patriarca e mente estratégica da família, era o presidente e proprietário da Orbita Industries, um conglomerado multifuncional que abrangia desde universidades e hospitais até escritórios de advocacia, agências de modelos e empresas de marketing.
A senhora Lily Stuart, CEO da UDS (Universidade de Direito Stuart), dirigia com maestria uma das instituições de ensino mais renomadas do país, responsável por formar advogados de prestígio.
A caçula, Emily Stuart, com apenas 9 anos, já demonstrava seu fascínio pelo mundo da moda, sonhando em seguir carreira nesse campo.
Emilio Stuart, de 12 anos, apesar da pouca idade, já herdava a ambição do pai e sonhava em fundar sua própria marca de carros de luxo.
Erick Stuart, aos 17 anos, era totalmente diferente dos outros. Recluso e desinteressado por bens materiais, é o presidente do clube de ciências da escola e um aluno exemplar. Sua ambição era se tornar um diplomata ou cientista. Ele é lindo, parecendo um anjo que caiu do céu. O jeito nerd e sexy, deixava ainda mais elegante.
Eloise Stuart, com 19 anos, desde cedo trilhou seu caminho na carreira de modelo, tornando-se uma influenciadora muito conhecida entre os jovens. Possuía sua própria marca de roupas, o que a tornava financeiramente independente dos pais.
Enrico Stuart, aos 20 anos, era o "fruto podre" da família perfeita. Atleta renomado e vencedor de cinco competições mundiais de natação, sua presença nunca passava despercebida, principalmente entre as mulheres. Seu ego, até então, era tão grande quanto suas conquistas, muitas vezes deixando um rastro de arrogância por onde passava.
E eu? Bom, eu sou Alicia Sperling, tenho 18 anos. Não sou ninguém importante, apenas a filha da empregada. Embora sejamos de classe média baixa, com pouco dinheiro, isso é o suficiente para manter nossa casa, onde vivemos eu, minha mãe Judit, e minha irmã, Camille, de 9 anos. Trabalho arduamente em uma cafeteria chamada Sol Nascente. O meu salário, junto ao da minha mãe, faz com que vivamos confortavelmente, mas sem o desejo de ter mais do que precisamos.
Uma vez, alguém me disse que para ser feliz, não precisamos de muito. Precisamos apenas de alguém em quem possamos confiar, alguém que funcione como nosso ponto de equilíbrio. Por isso me sentia "bem", mesmo com a carência de um afeto romântico batendo à minha porta após assistir a um filme de romance no final da tarde. De certa forma, mesmo sem querer, me pegava imaginando: por que não consigo viver algo assim?
Era final de semana, então resolvi passar o dia em casa com a mamãe e a Camille. A senhora Stuart permitia que a minha mãe pudesse ficar em casa todo o fim de semana, uma vez que a residência dos Stuart tinha outros funcionários, mas a minha mãe era apenas uma e carecia de fato desse tempo entre família.
Depois do final do filme, me peguei pensando em como eu jamais viveria um relacionamento doce daquela forma em que eu me vi envolvida enquanto assistia. Tudo bem que era uma ficção e pra ser franca, a realidade não funcionava desse jeito, mas era algo que eu queria pelo menos uma vez viver.
Às vezes eu costumava escrever meus sentimentos e pensamentos como uma forma de desabafo, embora apenas uma ou duas pessoas lia.
Peguei o meu telefone no sofá e deslizei o dedo pela tela e abri o Pinterest e busquei por uma imagem de mãos dadas. Em seguida, fui ao Instagram, selecionando a devida imagem e escrevi uma pequena reflexão.
"Em algum momento de nossas vidas, todos nós cobiçamos por aquele amor que faz o coração disparar, como se um novo mundo se abrisse diante de nós. Encontrar alguém especial é como descobrir uma canção que se encaixa perfeitamente em nossa alma. É um encontro de destinos, onde olhares se cruzam e sorrisos se tornam promessas silenciosas."
O post foi enviado com sucesso e a vida real precisava caminhar. Ainda era cedo, apenas 18h da tarde, confesso que não tinha muito o que fazer em casa. Eu sentia de alguma forma que a minha rotina era monótona, mas também eu sou uma jovem caseira e que saía pouco.
Um pouco diferente dos demais dias, naquele momento, meu celular vibrou com uma notificação. Apressada, peguei o celular para checar as minhas mensagens, mas era a minha patroa anunciando que estaria de viagem na segunda-feira e queria que eu tomasse as rédeas da cafeteria. Senti um grande nervosismo. Nunca tinha sito tão fã de desafios e assumir a cafeteria poderia ser uma oportunidade de mostrar o que eu realmente sabia fazer. Respirei fundo e respondi à mensagem, afirmando que estava pronta para assumir a responsabilidade. Ao mesmo tempo, a ideia de ser a única responsável por um espaço que sempre considerei especial me deixou inquieta. Mas, tudo estava em seu devido lugar e tudo o que eu queria não pensar no momento era ter que me preocupar com o trabalho, não era hora de minha cabeça ficar ansiosa. Eu merecia estar em paz, pelo menos em um final de sábado.
E outra vez, o meu celular vibrou firmemente com uma notificação, mas dessa vez era a minha amiga, Samantha. Samantha era a minha única melhor amiga, embora fossemos iguais em alguns aspectos, éramos tão diferentes em outros. Samantha não perdia tempo pra ficar parada, sempre que houvesse sequer uma oportunidade ela estava "curtindo".
Abri a mensagem praticamente sabendo do que se tratava. Ou era sobre eu acompanhá-la em um de seus encontros, que infelizmente nunca dava certo ou era um convite para uma balada, o que eu vez e outra sempre recusava. Mas claro que eu recusaria, da última vez eu havia tomado tanta tequila que meu estomago não aguentou e tive que vomitar na calçada da boate em que estávamos e para evitar que isso aconteça novamente, resolvi recusar aos convites.
Após ler a mensagem eu resolvi responder em forma de áudio, assim seria mais direta no assunto.
— Ainda não, Sam. Não estou a fim de sair hoje. O dia foi cansativo e preciso de um tempo para mim — respondi, com um leve desânimo na voz. Eu sabia que ela entenderia, mas não conseguia evitar a sensação de estar perdendo algo.
A resposta dela não demorou:
— Vai por mim, você precisa sair! Você só fica em casa. A vida não espera por ninguém. Venha comigo, prometo que vai ser divertido!
Sorri ao ler suas palavras respondida por texto. Samantha tinha um jeito especial de transformar qualquer situação em uma “aventura”. Mas, naquele momento, o que eu mais queria era a segurança do meu sofá e a companhia da minha mãe e da Camille.
— Obrigada, mas hoje não. Me conta como foi depois, tá bom? — Respondi a mensagem dela.
Uma nova onda de solidão me atingiu quando vi a conversa encerrar. Era estranho, eu tinha certeza de que era feliz sozinha, mas momentos assim me faziam questionar. O que havia de tão errado em querer alguém ao meu lado? Um alguém que não fosse apenas minha mãe ou minha melhor amiga, mas alguém para compartilhar pequenas alegrias e tristezas. Talvez eu estivesse sendo um pouco ingrata, mas no fundo eu sabia a quão agradecida eu era em ter a amizade da Sam.
Levantei-me do sofá e fui até a cozinha. O cheiro do jantar que minha mãe estava preparando invadiu o ar e me trouxe um pouco de conforto. Enquanto isso, a ideia de me revirar sozinha na cafeteria começava a martelar na minha cabeça. E se eu pudesse transformar aquele lugar em um espaço aconchegante, onde as pessoas se sentissem em casa? Um lugar onde elas também pudessem encontrar um pouco de amor e calor humano, mesmo que fosse apenas por meio de café e doces? Em pequenos momentos, me vi uma jovem sonhadora, mas na prática, nem sempre era como eu queria. Às vezes planejar algo é muito simples, mas executar é tão complicado. Isso me deixava exausta e esse era o meu defeito: desanimar facilmente das coisas.
Enquanto eu vasculhava entre as panelas do fogão levando até a mesa, o comercial da TV na sala prendeu rapidamente a minha atenção, não era nada de mais, apenas havia surgido uma vaga de secretária na agência de advocacia da senhora Stuart. Talvez eu pudesse me candidatar ao cargo, visando no salário que seria bem remunerado, mas também me pegava um pouco despreparada para lidar com algo tão grande. Deixei aquela situação passar, assim como outras inúmeras vezes eu havia deixado.
— Pode vir jantar — Gritei da cozinha tentando chamar a Camille.
— Já estou quase indo — Camille respondeu do outro lado.
Uma coisa que eu sou extremamente grata é a forma em que lido com a minha família. Por sermos apenas nós três, a nossa dinâmica familiar é calma. Acredito que a vida se encaminhou para ser dessa forma, caso o meu pai estivesse em casa, a paz não seria a mesma, assim como tivemos que enfrentar aos episódios de quando ele chegava em casa totalmente alcoolizado. Era terrível, então eu clamava pela paz.
Passaram-se algumas poucas horas, um carro havia estacionado frente à minha casa, a buzina me chamou atenção. A avenida em que eu morava era um subúrbio, poucos dos vizinhos tinham condições de ter um veículo, então o som alarmante da buzina disparada era a Sam, certamente ela estava com o carro do padrasto, era praticamente uma rotina dela fazer isso.
Assim que escutei todo o alarde, me direcionei até a porta da frente de casa, a Samantha estava em pé na poltrona de couro do carro cujo teto era solar e podia ser aberto, ela estava pressionando disparadamente a buzina enquanto gritava junto ao som me chamando para um rolê entre os seus amigos.
— Ah, não — você não pode recusar — Sam gritou ainda mais.
Fui para a calçada rindo, que desesperador e bagunçado estava aquela situação.
— Chega, não precisa de tudo isso — Pedi educadamente e aos risos para que a Sam parasse de fazer barulho.
Samantha saltou do carro que ainda estava de portas fechadas.
— Não é momento de estar em casa, amiga — Samantha disse, enquanto agarrava o meu pescoço, fechando em um modo chave de braço, ela beijou o meu rosto.
A Sam tinha um jeito levado, no bom sentido, ela era destemida e eu adorava muito isso dela. Ao contrário de mim, eu sou mais serena, cautelosa e costumava agir mais com o coração do que pela razão. Mas ela conseguiu me convencer de dar uma saída, mesmo que eu tivesse planejado não sair de casa. Afinal, algumas regras precisavam ser quebradas, não é mesmo?.
A Sam se empolgou, ela parecia estar muito eufórica. Toda aquela agitação não tinha outro nome, se não pura euforia.
— A gente vai jogar verdade, desafio ou vodka — haverá muitos meninos gatinhos da região, a festa vai ter mais de 300 pessoas, estão todas com sede de diversão — Samantha expeliu tudo o que estava preso na garganta, ela falou com muita empolgação.
— E quem vai estar lá, alguém interessante que valha a minha presença? —Perguntei enquanto brincava com ela.
— Eu não sei, apenas recebi o convite e estou passando para te pegar — Samantha falou.
Frangi a sobrancelhas ainda meio receosa.
— Promete que não vai beber? — Fiz o pedido, enquanto ergui o meu dedo mindinho na tentativa de ela cumprir com a promessa.
— PRO-ME-TO — Samantha soletrou enquanto entrelaçava o dedinho junto ao meu.
Resolvi acatar ao pedido, uma vez e outra sair da zona do conforto não seria nada mal.
Entrei em casa novamente para pegar minha jaqueta, enquanto a Sam ficava do lado de fora, já revisando a playlist da noite no celular. Subi as escadas rapidamente, mas no fundo, ainda hesitante. Eu sabia que aquilo seria uma fuga temporária, uma tentativa de escapar das minhas inquietações interiores. Algo dentro de mim resistia, mas outra parte, talvez a parte que mais precisava de um empurrão começava a aceitar que talvez eu devesse simplesmente me deixar levar por um momento de diversão.
No meu quarto, olhei para o espelho por um instante. Nada mal, pensei. Passei a mão pelos cabelos, ajustando o meu coque bagunçado. Coloquei uma jaqueta jeans por cima da camiseta branca básica que eu usava, bem confortável, mas ainda assim apresentável. Respirei fundo.
Ao descer, vi minha mãe na cozinha, colocando o jantar na mesa.
— Mãe, vou sair um pouco com a Samantha, mas não vou demorar — avisei.
Ela olhou para mim com uma leve surpresa, provavelmente porque eu não costumava sair tanto.
— Tudo bem, só tome cuidado. Não fique até tarde.
— Pode deixar — respondi com um sorriso.
Depois de um tempo, com a Sam dirigindo cheia de energia e o vento fresco entrando pelas janelas, finalmente chegamos ao Central Park. Era um dos maiores parques da cidade, um lugar que pulsava de vida, especialmente nos fins de semana. Assim que entramos, pude ver os grupos espalhados pelo gramado, conversando e rindo, enquanto algumas fogueiras já haviam sido acesas em diferentes pontos. Embora a noite não estivesse tão fria, o calor das fogueiras criava um ambiente convidativo.
A Sam estacionou o carro em uma vaga um pouco afastada, e assim que desligou o motor, eu pude sentir o som distante das conversas e o crepitar das fogueiras. O céu estava limpo, com poucas nuvens, e a lua brilhava suavemente, iluminando o parque. Era um cenário bonito, quase mágico, mas eu ainda sentia aquele leve desconforto que sempre vinha quando me aventurava fora da minha zona de conforto.
— Vamos encontrar o pessoal — Sam disse, já puxando o celular para enviar mensagens enquanto caminhava na frente.
Eu a segui, tentando absorver aquele tumulto. Era tudo tão descontraído, e ao mesmo tempo, cheio de vida. Um contraste com a minha rotina pacata, que eu mesma tinha escolhido.
À medida que nos aproximávamos do grupo principal, Sam fez questão de me apresentar para algumas pessoas que já estavam ali. Mesmo que eu não conhecesse ninguém, ela tinha uma maneira de me fazer sentir um pouco mais à vontade, sempre com aquele sorriso contagiante e sua habilidade de puxar conversa com qualquer pessoa.
O grupo tinha aproximadamente umas doze pessoas, e dessas doze, eu conhecia apenas duas. Além da Sam, o outro conhecido era ninguém menos que Erick Stuart, filho da família para quem minha mãe trabalhava. Fiquei surpresa ao vê-lo ali, entre jovens de classe média baixa, sentado casualmente no gramado, prestes a jogar e beber com o restante do grupo. (que aleatório).
Por alguns segundos, me peguei imaginando o que um Stuart estava fazendo junto. Não era o tipo de lugar onde eu esperaria encontrá-lo, ainda mais considerando que ele tinha apenas 17 anos, tecnicamente menor de idade. Erick sempre pareceu tão distante dessa realidade, criado em uma bolha de luxo e privilégios. Era difícil imaginá-lo no meio daquela cena simples, em uma noite quase fria, com o cheiro de fogueira e as risadas soltas no ar.
Ele parecia tranquilo, quase à vontade, como se pertencesse a aquele ambiente, o que só aumentava minha curiosidade. Será que ele estava tentando escapar do controle rígido da família? Ou talvez estivesse em busca de algo mais simples, algo que sua vida cheia de excessos não podia oferecer?
Samantha, sempre perceptiva, notou meu olhar surpreso.
— Ah, sim, o Erick! Ele tá meio que sempre com o pessoal ultimamente. Acho que curte dar uma escapada dessa vida engomadinha dele — comentou, com um sorriso divertido.
Eu balancei a cabeça, ainda tentando digerir a cena. Não que eu soubesse muito sobre a vida particular dele, mas a presença de Erick ali me parecia fora do comum.
— Mas, sabe… ele é bem legal, nada metido — continuou Sam, como se lesse meus pensamentos. — E hoje ele tá com a galera pra relaxar. Aposto que você vai acabar se dando bem com ele. — Sam afirmou.
Eu particularmente aprendi a ter mais acesso com as pessoas devido ao meu emprego na cafeteria, mas fora disso, ainda não havia precisado manter um contato mais pessoal.
Um grito rugiu do outro lado do parque.
— HOJE É POR MINHA CONTA! — Enrico disparou, enquanto se aproximava com uma caixa de bebida nas mãos, acompanhado por três de seus amigos. Assim que o vi, tudo fez sentido. Era evidente que Erick estava ali por influência do irmão mais velho. Um adolescente como Erick, tímido, não teria coragem de sair da sua vida de príncipe e se juntar a jovens em um parque de Nova Iorque sem um empurrãozinho.
Revirei os olhos ao observar a cena de Enrico. Ele adorava ser o centro das atenções, transformando tudo ao seu redor em algo sobre ele. A maneira como ele se exibia, com o sorriso confiante e a caixa de bebidas como se fosse um troféu, era quase cômica. O cara realmente se achava o máximo.
Assim que ele se juntou ao grupo, todos vibraram, exceto por mim e Erick, que permanecemos um pouco mais serenos, observando a cena com expressões neutras. Eu podia sentir a vibe da festa aumentar com a chegada de Enrico, e não demorou muito para que as provocações e risadas começassem a fluir.
— Ah, Enrico! Você chegou! — gritou alguém do grupo, enquanto outros começavam a se aproximar, rindo e cumprimentando-o. O ambiente ao redor parecia ficar mais eletrificado, como se a presença dele tivesse um efeito magnético. (que patético).
Todos se acomodaram ao redor da fogueira, formando uma grande roda. No centro, a caixa de bebidas reinava como uma espécie de totem para a noite, ao lado de uma pequena mesa de madeira, com cerca de 30x45 cm, onde estava posicionada uma garrafa que seria o centro das atenções. O grupo todo estava animado, e o barulho de risadas e conversas aumentava à medida que todos se ajeitavam para o jogo.
Depois de muita euforia e puxação de saco para Enrico que obviamente adorava ser o centro das atenções, o jogo finalmente começou. A regra era simples, mas com grandes chances de criar momentos embaraçosos.
Verdade: A pessoa para quem a garrafa apontasse deveria responder com sinceridade à pergunta feita por quem girou a garrafa.
Desafio: Aquele que girou a garrafa poderia desafiar a pessoa escolhida a realizar uma ação, que podia ser qualquer coisa.
Vodka: Caso a pessoa escolhida não quisesse responder à pergunta ou realizar o desafio, deveria tomar um copo de vodka, medido em três dedos — o suficiente para fazer qualquer um sentir o efeito, principalmente quem não tinha costume de beber.
O clima estava leve, mas todos sabiam que o jogo poderia rapidamente tomar um rumo mais intenso, especialmente com Enrico no comando da primeira rodada. Ele já tinha um sorriso travesso nos lábios, como se planejasse provocar todo mundo ali.
— Certo, pessoal, vamos ver quem vai ser o primeiro azarado — Enrico disse, pegando a garrafa com uma certa dramaticidade e a girando no centro da roda.
Eu observava com certa apreensão. Embora estivesse ali disposta a relaxar e me divertir, sabia que com Enrico as coisas nunca eram simples. Sam, por outro lado, já estava rindo, pronta para qualquer coisa.
A garrafa girou, girou e finalmente parou, apontando para um dos amigos de Enrico, que soltou uma risada nervosa.
— Verdade, desafio ou vodka? — Enrico perguntou, já cheio de malicia refletida em seus olhos verdes.
O rapaz alto, de cor negra, bem-vestido, olhou rapidamente para cada um que estava na roda, em seguida disse com firmeza: DESAFIO.
O Enrico fez uma expressão de "tudo bem", mordeu os lábios e então mandou a primeira rodada.
— Eu te desafio a dar um beijo de língua por 30 segundos na mulher que você acha mais gata aqui na roda.
O olhar do rapaz vagou por todas as mulheres da roda, analisando uma a uma, até que ele parou em uma garota sentada no canto. Ela era loira, de beleza marcante, com longos cabelos ondulados caindo sobre os ombros e uma postura relaxada, mas seus olhos revelavam uma certa apreensão. A atenção de todos se voltou para ela, que, apesar do súbito foco, tentou manter a compostura.
Eu, por outro lado, torcia silenciosamente para continuar invisível, como sempre fui durante a maior parte da minha vida. Estar em situações como essa, onde todos os olhares podiam facilmente se voltar para mim, me deixava desconfortável. Já não era o meu ambiente natural, e o jogo parecia levar tudo ao extremo.
O rapaz, sem hesitar mais, apontou para a loira e deu um leve sorriso.
— Pode ser você — ele disse em tom suave, mas com a confiança de quem já sabia que seria aceito.
O rapaz se levantou lentamente, e, ao se aproximar da loira, ela rapidamente ficou de pé, como se já estivesse preparada para o que viria. Suas mãos grandes e firmes pousaram suavemente no pescoço e no rosto da moça, os dedos acariciando sua pele com cuidado. Os olhos de ambos se cruzaram por um breve momento, cheios de desejo e tensão. O silêncio momentâneo na roda foi logo substituído por gritos e murmúrios.
Então, sem mais demora, eles se beijaram. Foi um beijo intenso, que imediatamente incendiou os comentários ao redor. Muitos dos jovens no grupo começaram a gritar, aplaudir e, claro, sacar seus celulares para filmar a cena, enquanto o casal se deixava envolver na intensidade do momento.
Eu me encolhi um pouco mais na minha posição, tentando me misturar com o fundo da multidão. O brilho das telas dos celulares capturava tudo, e o som alto das risadas e dos gritos só fazia aumentar meu desconforto. Samantha, ao meu lado, já ria e se sacudia de tanta empolgação, como se estivesse torcendo pelo drama. Eu só queria que a garrafa não chegasse até mim.
Então foi a vez do rapaz rodar a segunda rodada.
A garrafa girou e dessa vez, por muito azar, eu acho, apontou para o Erick, irmão do Enrico.
— Verdade, desafio ou vodka? — Perguntou a Erick.
Erick levou alguns segundos para raciocinar a pergunta.
— Verdade — respondeu sem jeito.
Todos ficaram ansiosos para o que estava por vir.
O rapaz que eu ainda não havia descoberto o nome rondou e fez um drama antes de direcionar a pergunta ao garoto.
— É verdade que você nunca fez sexo? — Ele perguntou de forma intima.
Erick ficou visivelmente desconcertado. Ele levou alguns segundos para assimilar a pergunta, sua expressão refletindo o desconforto que sentia com a atenção repentina. A roda inteira silenciou, com todos esperando animosamente pela resposta, enquanto o rapaz que fez a pergunta esboçava um sorriso malicioso, claramente satisfeito com o climão que tinha provocado.
— Verdade — respondeu Erick, com um tom hesitante e baixo, quase como se quisesse que ninguém ouvisse.
O silêncio que se seguiu foi ainda mais sufocante. Alguns membros do grupo trocaram olhares, e logo começaram os sussurros e risadas abafadas. Mesmo sem querer, eu senti uma pontada de empatia por ele. Não era fácil estar naquela situação, principalmente sendo mais novo e tão tímido. Chegando a sua vez de rodar a garrafa, Erick olhou em seu relógio de pulso, disse que não poderia continuar porque precisava voltar para casa, pois tinha horário marcado e para ele já estava ficando tarde. Mas, antes de sair, Enrico pediu para que pelo menos ele rodasse a garrafa.
Ele girou a garrafa, que foi perdendo velocidade, até que finalmente parou... apontando diretamente para mim.
Meu coração disparou. Eu, que até então conseguia me manter na sombra, agora estava no centro da atenção de todos. O rosto de Erick se envermelhou, talvez tanto quanto o meu. Senti o calor subir até minhas bochechas e tentei esboçar um sorriso, embora nervosa.
— Então... verdade, desafio ou vodka? — Ele me perguntou em um tom um pouco baixo na sua voz.
— Verdade — falei prontamente, queria que aquela vibe esquisita terminasse logo.
Os olhos de Erick naquele momento se voltaram para o irmão, ele parecia não saber por onde começar e precisava do auxílio de Enrico.
— Pergunta logo, sem rodeios — Enrico falou logo atrás.
— Você já beijou alguém que está nessa roda? — Erick perguntou de forma ousada, mas não me senti invadida.
— Claro que não, ninguém daqui faz o meu tipo — respondi de forma direta.
Todos se chocaram, talvez até me tenham achado um tanto quanto esnobe na resposta, mas sinceramente, poucos garotos ali tinham aquele charme. Apenas os irmãos Stuart eram bonitões pra valer, pelo menos em meu ponto de vista. Mas aquela brincadeira já não estava me deixando tão confortável, não queria estar ali, pelo menos não mais.
— Muito bem, amiga — você arrasou — Samantha me elogiou.
Antes de seguir para a próxima rodada, avisei para a Samantha que precisava ir para casa, já tinha ficado o bastante ali. Samantha compreendeu muito o meu lado, mas eu não quis acabar com a vibe dela, embora houvesse me oferecido carona, vi que estava tudo bem, eu poderia voltar a pé, caso me cansasse eu chamaria um taxi, não estava tão distante de casa.
Assim, deixei todos lá e retornei para o meu aposento que eu nem sequer tinha que ter saído rs.
Assim que cheguei em casa e estava pronta para tomar um banho e encerrar o dia, me encarei frente ao espelho e tudo voltou, todo o questionamento de todo o porquê de eu ser assim, “Por que eu não posso ser como eles?”, sussurrei, quase como uma prece. A água do chuveiro corria ao fundo, mas eu ainda não conseguia me mover. O desgaste dos meus próprios pensamentos era sufocante. Como se, de alguma forma, o simples ato de viver fosse uma tarefa monumental, uma responsabilidade que eu não estava preparada para assumir.
Passei os dedos pelo cabelo, na esperança de que o gesto me trouxesse algum conforto, mas não havia alívio. Eu odiava o fato de não me encaixar, odiava essa sensação de ser diferente, como se estivesse sempre à margem, observando um mundo que não me pertencia. Mas, ao mesmo tempo, havia algo dentro de mim que gritava que eu não deveria me conformar, que essa sensação de não pertencer tinha um propósito maior. E era isso que me deixava mais confusa. Eu não sabia o que fazer com esse conflito interno. Lidar com a depressão sozinha era um tanto quanto complicado. Eu escondia isso da minha mãe, da minha patroa e da minha amiga porque tinha medo de que o fardo fosse tão pesado que acabasse afundando-os junto comigo. A cada sorriso forçado e cada conversa leve, eu sentia como se estivesse construindo um muro em torno de mim, um muro que não permitia que ninguém visse o que realmente acontecia dentro da minha cabeça.
Era um jogo de atuação constante, onde eu precisava desempenhar o papel da filha dedicada, da funcionária exemplar e da amiga leal. Mas, no fundo, a verdade era que me sentia como uma impostora. A fragilidade da minha mente era um segredo bem guardado, e eu me convencia de que, ao ocultá-la, estava fazendo um favor a todos. Porém, o peso dessa mentira era esmagador.
Muitas noites, quando as luzes se apagavam e o silêncio preenchia meu quarto, o peso da solidão se tornava quase insuportável. Eu me perguntava se as pessoas ao meu redor perceberiam a minha ausência, a falta de brilho nos meus olhos. Mas mesmo quando sentia que estava à beira do colapso, não conseguia compartilhar a verdade. O medo de ser vista como fraca, ou pior, de ser uma carga emocional, me paralisava.
Às vezes, eu desejava ter coragem para gritar, para desabafar, mas as palavras ficavam presas na garganta. Em vez disso, eu caminhava por uma linha tênue entre a esperança e o desespero, tentando encontrar pequenos momentos de luz em meio à escuridão. Um sorriso de um desconhecido na rua, o calor do sol na pele, a música que tocava em uma tarde qualquer, essas eram as pequenas âncoras que me mantinham um pouco firme.
Mas a verdade é que a luta era incessante. E, enquanto o mundo continuava girando lá fora, eu permanecia presa nesse ciclo interminável, sem saber como pedir ajuda, sem saber como quebrar o silêncio que me isolava. E, no final do dia, tudo o que eu queria era que alguém olhasse em meus olhos e enxergasse a tempestade que se escondia atrás do meu sorriso.
Depois de um momento fui para baixo daquele chuveiro quente, com a cabeça martelando cruelmente em meios aos pensamentos, era hora de ir me deitar. Peguei meu telefone para checar a minha rede social, então escrevi novamente as palavras de conforto que seria para mim mesma, e quem sabe algum momento alguém pudesse se dar conta disso.
"A solidão é um abismo silencioso, um espaço onde os ecos da própria voz se tornam estridentes, revelando medos ocultos. Às vezes, ao olhar ao redor, é como se o mundo estivesse povoado de rostos sorridentes, enquanto a solidão se agarra a nós, como uma sombra persistente. O medo de terminar sozinha, de ser uma ilha em meio a um mar de conexões superficiais, se transforma em um peso difícil de carregar.
Sentir-se incapaz é um fardo que muitos carregam nas costas, como se um manto de expectativas não cumpridas nos envolvesse, sufocando qualquer vestígio de esperança. As comparações incessantes, as histórias de amor que parecem florescer ao nosso redor, alimentam essa sensação de inadequação. O coração anseia por companhia, mas a mente, por vezes, se enreda em pensamentos pessimistas, criando barreiras invisíveis que nos afastam do que poderia ser.
Nessas noites em que a escuridão parece engolir tudo, questionamos o valor de nossa presença. O silêncio se torna um companheiro desconfortável, e a luta interna entre a busca por amor e o desejo de permanecer a salvo de uma possível dor se intensifica. Cada lágrima que cai é um lembrete da fragilidade de nossa condição, um grito mudo por conexão em um mundo que parece tão vasto e ao mesmo tempo tão solitário."
De alguma forma me vi inspirada, e se eu pudesse me ajudar, com certeza eu me estenderia a mão e não puxaria o meu próprio tapete como sempre fiz.
Mas, antes de pregar os olhos, me peguei pensando na diferença de personalidade entre os irmãos Stuart. O Enrico era bonito, um bom porte físico, descolado e popular, mas isso parecia ser tão supérfluo, alguém tão raso e sem muito o que oferecer, tem 1,88m de altura, com um corpo atlético e definido, resultado de anos de treinamento intenso como atleta. Seu físico é bonito, com ombros largos, braços musculosos e um abdômen tonificado. Ele tem pele clara, olhos esverdeados que parecem sempre radiantes de confiança e um sorriso encantador que pode ser tanto sedutor quanto desdenhoso. Seu cabelo é curto e bem cuidado, com um corte moderno que destaca suas feições marcantes.
Mas também, Erick exalava um charme e tanto. O jeito tímido e de beleza cativante. Ele tem cerca de 1,80m de altura, um porte físico magro, mas definido. Seu rosto é angular, com traços delicados e uma mandíbula marcada. Tem olhos verdes intensos que brilham por trás de óculos modernos de armação fina e retangular. Seu cabelo é castanho escuro, ligeiramente ondulado e cortado de forma a parecer desleixadamente estiloso, com algumas mechas jogadas para o lado. A pele é clara como um tom pastel. Ele era um príncipe e tinha uma beleza que ultrapassava a realidade.
Quando me perguntaram no jogo da garrafa se eu beijaria alguém da roda, se naquele momento eu tivesse um pingo de coragem em ser sincera, com certeza eu diria que sim, mas como eu diria que beijaria o Erick Stuart?
Narradora em ação:
A mesa estava farta, o jantar na residência dos Stuart era pontualmente servido às 23h, diferente da rotina de outras famílias; para eles, era um hábito passado de geração em geração. Alexandre, o cabeça da casa e da família, estava em seu assento frontal, sua esposa Lily estava do outro lado da mesa. Do lado direito, estavam Eloise, Emily e Emilio, do lado esquerdo, os assentos ainda estavam vazios, pois Erick e Enrico até então não haviam chegado.
Lily, a dama da família Stuart, parecia um pouco tensa, encarando copiosamente o relógio de parede que estava pousado no canto da vasta sala de jantar. O tique-taque rítmico do relógio parecia amplificar o silêncio que pairava no ar, e a preocupação estampada no rosto de Lily não passava ilesa. Após alguns minutos depois do início da refeição, Erick se adentra em casa. Lily, sua mãe, se levanta do assento da mesa e vai em direção a ele.
— Finalmente você chegou, onde estava? — A voz de Lily saiu urgente, enquanto suas mãos checavam os ombros do filho, como se precisasse sentir que ele estava realmente ali.
— Está tudo bem, mãe — Erick respondeu, evitando o olhar ansioso da mãe, enquanto se dirigia ao quarto. — Só estava com o Enrico e alguns amigos no parque. Não precisa se preocupar.
A desculpa foi rápida, e o jovem se apressou para escapar das perguntas, já começando a tirar a camisa, ansioso para tomar um banho e se esconder por mais alguns minutos.
— Pois não demore para jantar, seu pai já está à mesa — Lily falou, agora com uma voz mais baixa, mas ainda carregada de uma preocupação que não passava despercebida.
Erick acenou com a cabeça, a promessa de que logo voltaria para jantar era quase uma formalidade. Na sala de jantar, o restante da família continuava mergulhado em um silêncio opressor. Alexandre, desapontado e furioso, descontava sua frustração nos talheres de ouro, arranhando a porcelana fina com movimentos bruscos. Cada ruído parecia cortar o ar como um aviso de que a paz ali era frágil.
— Pai, está tudo bem, o senhor precisa relaxar — Eloise, sempre a voz da razão, tentou apaziguar o clima, sua voz soando quase como um pedido.
Lily voltou à mesa, sua mão trêmula pousando nos ombros tensos do marido.
— Ele já vai descer, querido. Está tudo bem — sussurrou, como se tentasse convencer a si mesma tanto quanto a ele.
Mas Alexandre não se deu por satisfeito. Seus olhos escuros faiscavam com desconfiança, e seu tom, quando falou, era carregado de uma frieza que fez Lily recuar um passo.
— Onde é que ele estava? — Sua voz coberta por um tom rude cortou o clima como se fosse uma lâmina afiada.
Antes que Lily pudesse responder, Emilio se intrometeu, tentando defender o irmão.
— Ele estava estudando, pai. Erick não faz outra coisa a não ser isso.
A tentativa de Emilio foi ignorada com um silêncio severo. Emily, com a inocência de seus poucos anos, cochichou para Eloise de forma travessa:
— Ou talvez ele tenha uma namorada...
Eloise arregalou os olhos, dando um rápido "psiu" para a irmã mais nova, tentando evitar qualquer comentário que pudesse piorar a situação.
Lily, engolindo em seco, respondeu o que lhe foi perguntado, agora com a voz trêmula:
— Ele estava com amigos e o Enrico... nada de mais.
Mas Alexandre já havia perdido a paciência. Levantou-se abruptamente, sua cadeira rangendo com o movimento áspero.
— Eu já terminei — disse, a voz cheia de desdém. — Com licença.
Sem esperar por qualquer reação, ele caminhou em direção ao quarto de Erick, o som de seus passos ecoando pela casa, como se cada um carregasse a culpa de sua frustração.
Erick mal teve tempo de terminar o banho quando seu pai entrou no quarto, sem bater. Enrolado apenas em uma toalha, ele se virou surpreso.
— Pai? O senhor está aqui... — A voz de Erick saiu hesitante, enquanto seus olhos percorriam o semblante tenso do pai.
Alexandre ignorou o filho por um momento, os olhos correndo pelas medalhas de honra que brilhavam na cômoda de Erick, como símbolos de uma perfeição que ele exigia de todos ao seu redor.
— Bonitas medalhas... — murmurou, quase para si mesmo, antes de se virar para encarar o filho com o olhar frio e desapontado.
— Você sempre foi bom em tudo o que fez, não é, Erick? — A voz de Alexandre finalmente quebrou o silêncio, calma, porém pesada. — Essas medalhas... todas elas são provas de que você pode ser o melhor.
Erick sentiu a pressão de uma expectativa que há muito tempo o sufocava. Não era a primeira vez que o pai o encarava daquela maneira, e ele sabia o que estava por vir. Tentando parecer calmo, Erick puxou a toalha com mais força em torno de seu corpo, mas no fundo, seu coração batia mais rápido.
Alexandre deu mais alguns passos dentro do quarto, como se estivesse tomando o controle do espaço, dominando o ambiente apenas com sua presença. Ele olhou novamente para as medalhas, passando a ponta dos dedos por elas, sem tirar os olhos das inscrições gravadas em ouro. Havia um orgulho silencioso em seu gesto, mas também algo mais profundo, quase obsessivo.
— No colégio, você tem que ser o número um. Sempre. — Alexandre avançou ainda mais, pousando sua mão firme no ombro de Erick, que agora sentia o aperto forte.
— Nada menos do que isso será aceitável. Não podemos nos dar ao luxo de ser medianos. Você precisa dar tudo de si, cada segundo, cada esforço. Ser o melhor em tudo que faz... é a única maneira de honrar essa família.
O peso daquela conversa parecia esmagar Erick. Ele sabia que o pai não aceitava falhas, e essa cobrança constante o deixava sem fôlego. Mesmo assim, ele murmurou:
— Entendo, pai. — Eu vou sempre ser o melhor.
Mas, por dentro, Erick sentia o peso da perfeição cada vez mais forte. Ele sabia que precisava ser impecável, mesmo que isso significasse sacrificar partes de si.
Poucos minutos depois da conversa incessante entre Alexandre e Erick, Enrico havia voltado para casa.
A relação entre Alexandre e Enrico não era uma das melhores, enquanto Erick ouvia tudo e consentia calado, Enrico retrucava e respondia ao pai com a mesma firmeza e tom rude nas palavras.
Alexandre desceu as escadas em direção à sala de estar, onde Enrico acabava de entrar. O ambiente era diferente daquele que havia deixado no jantar. Havia uma tensão acumulada no ar, densa e quase palpável, como se a discussão entre pai e filho fosse inevitável.
Enrico jogou a jaqueta de couro no sofá, sem se preocupar com a ordem das coisas, um gesto que sempre irritava Alexandre. Enrico olhou para o pai, percebendo o olhar severo que o seguia. Sem hesitar, ele iniciou a conversa, num tom que misturava cansaço e desafio.
— Quer começar agora ou vai esperar eu me sentar? — disse Enrico, os olhos fixos nos de Alexandre.
Alexandre estreitou os olhos, mas manteve a calma. Ele sabia que Enrico não era como Erick. As palavras que usava com o filho mais velho nunca funcionariam com o filho do meio.
— Onde você estava? — A voz de Alexandre saiu fria, quase mecânica.
Enrico cruzou os braços, não se incomodando em suavizar a resposta.
— Com amigos. Não é da sua conta.
Alexandre deu um passo à frente, seu semblante endurecendo.
— Tudo o que acontece com você é da minha conta, Enrico. Essa atitude irresponsável, essa sua rebeldia… — ele fez uma pausa, como se as palavras certas lhe escapassem — você está jogando fora tudo o que poderia ser!
Enrico sorriu, um sorriso cínico, e deu um passo em direção ao pai.
— Eu não sou o Erick, pai. Nunca serei. Não quero ser o seu "campeão", o filho perfeito, que você molda e controla como se fosse uma marionete.
Alexandre, sentindo o sangue ferver, apontou o dedo para o filho, interrompendo-o.
— Isso não é sobre ser perfeito, Enrico! É sobre responsabilidade, honra, sobre dar continuidade ao legado desta família! Enquanto você está aí, se escondendo atrás dessas desculpas baratas, o mundo não vai esperar por você. Eu não vou esperar por você!
— Eu não preciso que você espere por mim, eu não lhe pedi para me tirar daquele maldito orfanato — Enrico gritou, com a voz cheia de ressentimento. — E só fez porque a mamãe insistiu. Se dependesse de você, eu ainda estaria lá, esquecido.
Do outro lado, Lily, que estava perto da porta, levou a mão à boca e com os olhos cheios de lágrimas. Ela sabia que essa briga era inevitável, mas ouvir aquelas palavras machucava sem tamanho cabimento.
Erick, estava agachado, ainda sem roupas, na porta do quarto enquanto escutava tudo.
Ao escutar a discussão e perceber o tumulto que aquilo estava causando, Eloise convidou Emily e Emilio para dar um passeio no jardim, na tentativa de proteger as crianças daquela guerra travada.
— Alguém a fim de contar vagalumes? — Eloise falou, enquanto segurava a mão de Emily, puxando-a para ir.
— Eu quero — Emilio gritou do lado, se prontificando para ir também.
Enquanto a mansão Stuart voltava lentamente à calmaria após a discussão entre seu pai e Enrico, Erick se pegou pensando em algo completamente diferente. Não era sobre a briga, nem sobre as exigências do pai, mas sobre Alicia. A pergunta que ele tinha feito para ela no jogo da garrafa ainda ecoava em sua cabeça.
Ele conhecia Alicia há muito tempo, mas a relação entre eles nunca tinha ido além de cumprimentos formais, como um "bom dia" ou "boa tarde" quando eram mais novos. Naquela noite, no entanto, algo parecia diferente. Talvez fosse o jeito descontraído como ela respondeu à pergunta, ou talvez fosse só o clima do jogo, mas a verdade é que ele agora pensava mais nela do que o habitual.
Erick pegou o telefone e abriu o Instagram. Ele nunca tinha procurado o perfil de Alicia, e ela também não o seguia. Por um momento, ficou olhando para o botão de "seguir", indeciso. Era um gesto tão simples, mas que de repente parecia ter mais importância do que ele esperava. Será que ela notaria? Será que faria diferença?
Suspirando, Erick clicou em "seguir". Deixou o telefone de lado, tentando não pensar muito no que aquilo significava, mas uma parte de si sabia que algo dentro dele havia mudado.
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