A brisa suave do fim da tarde deslizava pelas janelas abertas do imponente palácio da família Argent, também conhecido como o Palácio de Prata, refletindo o esplendor aristocrático do século XV. Seus grandes salões ecoavam passos silenciosos dos criados, que passavam com discrição, carregando bandejas de prata adornadas com iguarias. Era um dia comum para a jovem Camila, filha única do Conde Argent, uma mulher de apenas 19 anos, envolvida em um mundo de luxos e excessos que a definia tanto quanto suas vestes elegantes.
Naquele momento, Camila estava sentada em um dos sofás da grande sala de estar, o corpo relaxado sobre o brocado dourado e a cabeça levemente inclinada, em uma pose perfeita de aristocracia. Seu vestido, feito dos mais finos tecidos trazidos da Itália, era de um tom azul celeste, adornado com rendas delicadas e bordados dourados que refletiam à luz das enormes janelas. O corpete apertado acentuava sua cintura fina, enquanto as saias volumosas se espalhavam ao seu redor como um leque. O colar de pérolas em seu pescoço era pesado, mas ela nunca permitia que o desconforto transparecesse. Cada peça de sua vestimenta era um símbolo de sua posição privilegiada na sociedade.
Apesar de toda a opulência, o rosto de Camila exibia um olhar distante, entediado. Sua vida, embora cheia de luxos, era desprovida de afeto. O pai, Conde Argent, era um homem reservado, austero e constantemente ocupado com os assuntos do condado, distante não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. Para ele, Camila era pouco mais do que uma obrigação a ser cumprida — um fardo social que deveria ser preparado para um bom casamento, mas sem o envolvimento de sentimentos ou carinho.
A ausência da mãe, que falecera anos antes, ainda deixava uma marca profunda no coração da jovem. Camila sentia-se constantemente isolada, embora cercada por criados e todas as riquezas que uma jovem de sua posição poderia desejar. Mas, para ela, joias e vestidos não preenchiam o vazio deixado pela indiferença de seu pai e pela ausência de qualquer figura materna.
A jovem nobre passou os dedos, longos e delicados, sobre o anel de rubi que adornava sua mão direita, observando o brilho vermelho cintilar à luz do entardecer. Joias, pensou ela, são os únicos companheiros leais. Havia algo reconfortante nas pedras preciosas: sua beleza era eterna, imutável, e, ao contrário das pessoas, não traziam decepções. No entanto, por mais que tivesse tudo que o dinheiro pudesse comprar, Camila sabia que faltava algo — e esse vazio a tornava amarga e sarcástica, uma defesa natural contra as expectativas sufocantes da sociedade ao seu redor.
Naquela tarde, uma carta repousava em uma mesa ao lado. Era um convite para o Grande Baile de Inverno, oferecido pela Marquesa de Léon, uma das figuras mais influentes da nobreza. Todos os olhos da sociedade estavam voltados para esse evento anual, onde alianças eram feitas, casamentos arranjados e reputações destruídas ou elevadas em uma única noite. Camila suspirou. Festas como essa eram oportunidades perfeitas para reafirmar sua posição, embora as interações com outras damas da nobreza fossem sempre uma batalha silenciosa de palavras afiados e falsos sorrisos.
"Minha senhora," a voz de Eliza, sua criada mais leal, interrompeu seus pensamentos. Eliza era uma mulher de meia-idade, com olhos gentis e uma presença tranquila que, de alguma forma, conseguia acalmar os ânimos de Camila. A jovem virou-se lentamente, olhando para a criada como quem observa algo distante, sem verdadeira consideração. "Há algo que desejas, Eliza?", perguntou Camila, com a voz suave, mas carregada de desdém. O sarcasmo era sua maneira de mascarar o vazio.
"Vossa presença é requisitada no salão principal," respondeu Eliza, baixando a cabeça em um gesto respeitoso. "O Conde Argent chegou e deseja falar convosco."
Camila ergueu uma sobrancelha. Seu pai raramente a chamava para qualquer coisa. Quando o fazia, era geralmente por questões de aparência ou protocolo — raramente por interesse genuíno. Levantando-se com graça, ela ajeitou o vestido e seguiu em direção ao grande salão.
Ao entrar no ambiente, foi recebida pelo brilho dourado das lareiras, o som abafado de passos no chão de mármore e a figura imponente do Conde Argent, parado à frente de uma grande tapeçaria que representava as façanhas heroicas de seus antepassados. Ele usava um traje formal escuro, como sempre, e sua postura ereta exalava autoridade e distanciamento. Seu olhar frio encontrou o de Camila, e, por um breve momento, o silêncio pairou entre os dois, como sempre acontecia nas raras ocasiões em que estavam juntos.
"Chamaste por mim, pai?", disse ela, com um tom neutro. Não havia ternura em suas palavras, apenas uma formalidade que ambos estavam habituados a manter.
"Camila," começou ele, a voz grave e controlada. "Recebemos um convite da Marquesa de Léon para o Grande Baile de Inverno. Será uma oportunidade importante para que você faça novas alianças... e, quem sabe, se prepare para um futuro casamento."
A palavra "casamento" fez o estômago de Camila revirar. Ela sabia que, para seu pai, isso significava apenas uma transação social. Ela não seria casada por amor, mas por conveniência, para fortalecer os laços da família com outra casa nobre. "Claro, pai," respondeu ela, sem emoção. "Cumprirei meu dever."
O Conde a observou por um momento, como se estivesse avaliando sua resposta, e então assentiu. "É bom que compreendas tua responsabilidade. Teu comportamento nesse evento refletirá sobre toda nossa casa."
Camila sentiu um aperto no peito, mas manteve sua expressão impassível. Já havia se acostumado a ser vista como um peão no tabuleiro de seu pai. "Se não precisas de mais nada, estarei em meus aposentos." Com um leve aceno de cabeça, ela se retirou, sem esperar uma resposta.
Enquanto caminhava de volta para seus aposentos, o som dos saltos de seus sapatos ecoava pelo corredor vazio. O peso da expectativa e da solidão a cercava como uma sombra. Camila sabia que, no fundo, nunca seria boa o suficiente para seu pai, e isso a enfurecia. Ela não queria ser apenas uma jovem obediente destinada a se casar e servir aos caprichos dos homens ao seu redor. Ela queria algo mais — poder, liberdade, e, acima de tudo, controle sobre seu próprio destino.
Ao chegar aos seus aposentos, Camila fechou a porta com um leve tranco e olhou seu reflexo no grande espelho de moldura dourada. Sua imagem era impecável — o cabelo escuro perfeitamente penteado, a pele clara e sem imperfeições, os lábios vermelhos pintados com precisão. Ela era linda, poderosa e impenetrável, mas por trás dessa fachada, seu coração estava fechado, endurecido por anos de indiferença e rejeição.
"Eles acham que podem me controlar, mas eu serei a única a decidir o que farei da minha vida," murmurou para si mesma. "Não importa quantas festas, quantos bailes, quantas alianças. Eu serei mais forte do que todos eles."
Olhando pela janela de seu quarto, ela observou o sol se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja e vermelho. As sombras alongadas cobriam os jardins do palácio, criando uma atmosfera de mistério e intriga. Camila sabia que sua vida estava prestes a mudar, mas ainda não sabia como. Havia algo no ar, uma tensão palpável, que a fazia sentir que o futuro guardava mais do que apenas festas e casamentos.
Ela se virou lentamente, afastando-se da janela e mergulhando em seus próprios pensamentos. Camila sabia que, para sobreviver nesse mundo de intrigas e traições, precisaria jogar o jogo melhor do que qualquer um. E estava disposta a fazer isso, custasse o que custasse.
...Estimados leitores,...
...Com imenso respeito e gratidão, dirijo-me a vós que, com tanta dedicação, tendes acompanhado minha obra em progresso. É com sincera humildade que vos peço paciência e compreensão, pois reconheço que esta história, como uma tapeçaria em construção, ainda apresenta fios soltos e algumas inconsistências que hão de ser corrigidas com o tempo e o devido cuidado....
...Ao escrever a jornada de Camila e dos demais personagens, empenho-me em criar uma narrativa envolvente, cheia de profundidade e emoção. Todavia, como qualquer processo criativo, há momentos em que as ideias fluem mais rapidamente do que as revisões podem acompanhar. É por isso que, ao longo da leitura, é possível que encontreis trechos que careçam de mais clareza ou que revelem pontos de incoerência. Estas falhas não são fruto de negligência, mas de uma história que ainda está em formação e que se molda com cada nova página escrita....
...Peço-vos, então, indulgência para com estas imperfeições que, por ora, ainda se fazem presentes. Esta obra, como uma semente recém-plantada, precisa de tempo para crescer e florescer plenamente. Os personagens estão a ganhar vida, e cada fio da trama se entrelaça aos poucos, à medida que mergulho mais profundamente nos dilemas e nas complexidades que desejo trazer à tona....
...Este é, acima de tudo, um convite para que permaneçais comigo ao longo desta jornada. Sei que muitos de vós já criastes uma ligação com Camila, uma protagonista que, em meio às suas falhas e virtudes, reflete a busca humana por aceitação, poder e amor. No entanto, reconheço que ainda há muito a lapidar em sua história, bem como nas de outros personagens. Cada um deles ainda tem muito a revelar, e conto com vosso olhar atento e paciente enquanto ajusto os detalhes e aperfeiçoo os capítulos por vir....
...Como em um baile da nobreza, onde os anfitriões se preparam meticulosamente para garantir que cada detalhe esteja à altura de seus convidados, eu, como autora, me preparo para vos receber com uma narrativa digna de vossa atenção e carinho. Este é um processo contínuo, e vosso apoio é inestimável para que a história atinja todo o seu potencial....
...Peço, pois, que continueis a caminhar ao meu lado, que aprecieis os momentos já desenhados e que me acompanheis na construção do que ainda está por vir. Vossas sugestões e comentários são sempre bem-vindos e servem como guia para que eu possa melhorar e refinar cada elemento desta história....
...Grata por vossa paciência e dedicação, sigo confiante de que, juntos, faremos desta obra algo verdadeiramente especial....
...Com todo o respeito e apreço,...
...Léria Oliveira...
A manhã amanheceu com um brilho tímido e frio, típico dos invernos casa dos Argent, onde os jardins antes floridos agora estavam cobertos por uma fina camada de geada, refletindo a luz pálida do sol. A atmosfera no Palácio de Prata estava ainda mais silenciosa do que o habitual, exceto pelo ruído dos criados, correndo de um lado para o outro em preparação para a chegada de Margarete, a nova esposa do Conde Argent, e seus filhos.
Camila, sentada em frente ao grande espelho de moldura dourada em seu quarto, observava impassível enquanto sua criada, Eliza, ajustava os últimos detalhes de seu vestido. Naquele dia, ela vestia um traje de veludo verde-escuro, com detalhes dourados que acentuavam sua pele clara e os cabelos escuros, que estavam cuidadosamente presos em um penteado elaborado, conforme ditava a moda da época. Ela deveria estar radiante, pronta para receber sua nova "família", mas seu coração estava carregado de desprezo e desconfiança.
"Não posso acreditar que ele teve a audácia de trazer essa mulher aqui," murmurou Camila, o tom de voz frio e cortante, seus olhos cintilando de desdém. "E esses filhos... Duvido que eles tragam algo de bom para esta casa."
Eliza, sempre discreta, evitou olhar para a sua senhora pelo espelho, mas a tensão no ar era palpável. Camila era conhecida por seu temperamento difícil, especialmente quando contrariada. A criada sabia que qualquer palavra dita em falso poderia incitar a ira da jovem. Ainda assim, Eliza se atreveu a responder de maneira calma e cuidadosa. "É apenas uma mudança, minha senhora. Talvez a nova condessa e seus filhos tragam alguma... harmonia para a casa."
Camila bufou, um sorriso sarcástico curvando seus lábios. "Harmonia?" disse ela, com uma risada amarga. "Nada trará harmonia para esta casa enquanto meu pai continuar ignorando minha existência. E se essa Margarete pensa que pode tomar o lugar da minha mãe, ela está enganada." Havia uma amargura contida em suas palavras, um ressentimento que crescia desde o anúncio do novo casamento.
À medida que o relógio marcava as horas, o momento da chegada se aproximava. Camila desceu as grandes escadas de mármore, onde cada degrau ecoava com o som ritmado de seus sapatos delicados. Ao chegar ao salão de entrada, observou o movimento frenético dos servos preparando tudo para a chegada da carruagem. As tapeçarias foram repostas, as flores nos vasos ajustadas, e até o grande candelabro foi polido mais cedo para garantir que o palácio estivesse impecável para a nova condessa.
Pouco tempo depois, o som de cascos de cavalos no pátio anunciou a chegada da carruagem. Camila, de pé ao lado de seu pai, o Conde Argent, manteve uma expressão fria, os olhos fixos na grande porta de madeira que se abriu lentamente. O conde, como de costume, estava impecavelmente vestido em um traje formal escuro, a postura rígida e imponente, como um homem que dominava sua posição com uma autoridade natural. Ele olhou brevemente para a filha, mas não disse nada. Não havia espaço para palavras entre eles — apenas o silêncio ensurdecedor de uma relação quebrada.
A carruagem finalmente parou, e os criados rapidamente correram para abrir a porta, revelando a figura de Margarete, a nova condessa. Ela desceu da carruagem com a graça calculada de uma mulher que entendia perfeitamente seu papel na alta sociedade. Seu vestido era de um tecido riquíssimo, em tons de púrpura profundo, com bordados de ouro que cintilavam à luz do dia. Sua figura era esguia, os cabelos loiros presos em um coque impecável, e seus olhos castanhos, embora cheios de doçura aparente, escondiam uma frieza calculada. Margarete era uma mulher bela, mas havia algo em sua postura que exalava uma sensação de premeditação, como se cada movimento, cada gesto, fosse cuidadosamente orquestrado para impressionar.
Atrás dela, René e Gracebete desceram da carruagem. René, o filho mais velho, tinha uma presença forte, com os cabelos escuros penteados para trás e uma expressão altiva. Ele usava um casaco de brocado verde com detalhes dourados, complementando sua postura imponente, quase arrogante. Seus olhos, escuros como a noite, passavam rapidamente pelo ambiente, fixando-se brevemente em Camila com uma intensidade desconfortável. Havia algo predatório em seu olhar, algo que fazia a pele de Camila arrepiar.
Gracebete, ao contrário, parecia mais inocente, ou ao menos assim aparentava à primeira vista. Seu vestido, em tons de azul claro, destacava sua juventude e beleza delicada. Seus olhos, de um azul cristalino, eram vivos, mas havia uma ligeira expressão de descontentamento em seu rosto. Claramente, ela não estava feliz por estar ali, mas fazia o possível para esconder isso com sorrisos ensaiados e gestos suaves. Ela olhou para Camila e, por um breve momento, um lampejo de rivalidade silenciosa passou entre as duas.
"Bem-vindos ao Palácio de Prata," disse o Conde Argent, com sua voz grave e formal. "Espero que estejam confortáveis."
Margarete sorriu, um sorriso que não alcançava seus olhos. "É uma honra finalmente estar aqui, meu querido," disse ela, enquanto se aproximava dele para um cumprimento rápido, nada mais do que uma formalidade. "Espero que possamos nos adaptar rapidamente." Havia um tom calculado em suas palavras, e Camila percebeu de imediato. Margarete não estava ali apenas como esposa, mas como uma mulher com intenções muito mais profundas.
René, por sua vez, manteve-se em silêncio, mas seus olhos se fixaram em Camila por tempo suficiente para causar desconforto. "Camila," disse ele finalmente, com um leve sorriso no canto dos lábios. "Ouvi muito sobre você."
Camila manteve a postura firme, sem piscar. "Espero que apenas coisas boas," respondeu ela, a voz carregada de sarcasmo.
Gracebete, que até então havia ficado em segundo plano, aproximou-se com um sorriso forçado, estendendo a mão delicadamente. "É um prazer conhecê-la, Camila," disse ela, com uma suavidade que parecia sincera, mas que, para Camila, soava apenas como uma tentativa de bajulação. "Tenho certeza de que seremos grandes amigas."
"Amigas?" Camila sorriu de volta, mas seus olhos estavam frios. "Veremos." O tom da voz de Camila era claro: ela não estava interessada em uma amizade, e menos ainda em compartilhar qualquer espaço com aquela garota.
O restante da apresentação foi formal, como ditava a etiqueta da época. Criados levaram as bagagens, e a família se deslocou para o salão principal, onde uma refeição aguardava. O clima, embora educado, era tenso. Camila percebeu de imediato que sua nova "família" não trazia boas intenções, e que sua posição na casa agora estava sob ameaça.
Mais tarde, quando já estavam todos sentados à mesa, Camila observou o comportamento dos recém-chegados. Margarete assumia um ar de autoridade disfarçado por sorrisos doces, tentando conquistar a atenção do Conde Argent e o controle sobre a casa. René, embora calado, exibia uma postura de superioridade, o que apenas aumentava o desprezo de Camila por ele. Gracebete, por sua vez, era o reflexo de uma jovem competidora, claramente tentando se aproximar do Conde e ganhar o favoritismo do novo "pai".
No entanto, para Camila, tudo isso era uma afronta. Sua casa estava sendo invadida, e sua posição como a única filha e herdeira estava sendo desafiada. Sua rebeldia, já presente, começava a ferver por dentro. Ela sabia que aquele seria apenas o início de uma batalha — uma batalha de poder, intriga e traição. E se Margarete e seus filhos pensavam que ela seria facilmente derrotada, estavam muito enganados.
Naquela noite, enquanto caminhava pelos corredores escuros do palácio, Camila prometeu a si mesma que não deixaria Margarete tomar o lugar de sua mãe, nem permitiria que René e Gracebete assumissem controle sobre o afeto de seu pai, por mais frágil que fosse. Ela lutaria por sua posição, e não deixaria que ninguém a afastasse de seu destino.
Assim, com o coração endurecido e os olhos fixos no futuro, Camila preparava-se para enfrentar a nova estrutura familiar. E, embora o palácio estivesse em silêncio, dentro de sua mente, as engrenagens por busca de sobrevivência em sua propria casa começavam a girar.
...OBS: A Casa do cnondado é descrita como "Palacio" , não por ser um palácio em si, mais por ser imaginada como tão bonita, exuberante e ornamentada como um palácio, por este motivo a colocação....
Capítulo 3: O Escândalo e a Isolação de Camila
O brilho dourado das velas refletia-se nos cristais que pendiam do lustre imponente, enquanto o grande salão de mármore estava repleto de nobres em trajes luxuosos. A festa de noivado de Anais, a melhor amiga de Camila, estava em pleno andamento, e a jovem anfitriã parecia radiante, envolta em um vestido de seda cor de marfim, bordado com pérolas minúsculas que cintilavam à luz suave da noite.
Anais era uma presença leve, sua beleza discreta e sua postura graciosa sempre lhe garantiam a simpatia da alta sociedade. Havia algo de puro e genuíno em sua personalidade, algo que atraía todos ao seu redor. Ela não era apenas uma das favoritas entre as damas, mas também uma amiga próxima de Camila desde a infância. Porém, a amizade entre as duas era marcada por uma rivalidade silenciosa. Enquanto Anais era vista como doce e gentil, Camila era conhecida por seu sarcasmo, sua vaidade e sua propensão a buscar atenção de formas não convencionais.
Naquela noite, o alvo da atenção de Camila não era qualquer um. Era Philippe, o futuro marido de Anais. Ele, um jovem nobre de estatura imponente, com os cabelos loiros cuidadosamente penteados e um olhar que exalava segurança, movia-se entre os convidados com a confiança de alguém que sabia o valor de seu nome e de sua herança. Philippe era não só atraente, mas também herdeiro de uma das maiores fortunas da região — um partido cobiçado por todas as jovens damas da corte.
Camila observava tudo com uma calma calculada, sentada em um canto do salão, seu vestido de veludo vermelho sangue contrastando vividamente com a decoração delicada ao redor. O corpete apertado e a saia volumosa de seu vestido realçavam sua figura esguia e seus cabelos escuros estavam presos em um penteado impecável, adornado com pequenas pedras preciosas. O rubi em seu colar brilhava com a mesma intensidade de seus olhos, que seguiam Philippe enquanto ele se movia, sempre rodeado por elogios e sorrisos falsos.
Anais estava feliz, e a felicidade dela incomodava Camila mais do que gostaria de admitir. A jovem nobre passou a mão pelo colar de pérolas que descansava em seu pescoço, um presente caro de seu pai que, mesmo sem afeto, garantia a ela todos os luxos que o dinheiro pudesse comprar. Mas naquela noite, nenhuma joia, nenhum vestido poderia preencher o vazio que a consumia.
"Ela não o merece," pensou Camila, enquanto observava Anais sorrindo carinhosamente para Philippe. Uma chama de inveja queimava em seu peito. Havia algo em Anais, algo quase irritante na sua doçura, que fazia com que Camila a desprezasse em silêncio. "Ela é fraca demais para ele. E Philippe... bem, ele precisa de alguém que o desafie, alguém como eu."
Quando a música começou a tocar, os convidados se moviam em pares para a pista de dança. Camila observava, em silêncio, o sorriso sincero de Anais enquanto Philippe a conduzia pela pista. A cada passo, a cada giro, algo dentro de Camila fervia. Sua mente, sempre afiada e estratégica, já começava a traçar o próximo movimento. Philippe merecia mais, merecia uma mulher que o entendesse, que não fosse tão simples ou previsível. Ele merecia ela.
Enquanto a dança avançava, Camila decidiu agir. Com um movimento gracioso, levantou-se de sua cadeira e caminhou até o centro do salão, seu vestido vermelho fluindo atrás dela como uma sombra. Ela se aproximou de Philippe e Anais com um sorriso nos lábios, cheio de charme e uma pitada de provocação. "Philippe," disse ela, com sua voz doce e envolvente, "concederia a mim a próxima dança?"
Anais hesitou por um segundo, seus olhos castanhos mostrando uma breve centelha de surpresa. No entanto, antes que pudesse responder, Philippe aceitou o convite de Camila. Ele ofereceu a mão à jovem, e ela a aceitou com elegância. O choque percorreu o salão enquanto os dois se posicionavam no centro da pista. O murmúrio dos convidados cresceu conforme as cabeças se viravam para observar a inesperada troca de parceiros.
O sorriso no rosto de Anais se desfez por um breve momento, mas, educada como era, ela não causaria uma cena. Em vez disso, recuou com elegância para um canto do salão, observando com olhos que agora carregavam uma sombra de desconforto. Camila sabia que aquilo era o início de algo maior — e ela não se importava. Na verdade, havia uma excitação crescente dentro dela.
Enquanto Camila e Philippe dançavam, ela se aproximou dele, seus corpos se movendo em sincronia ao som da música. Ela lançou um olhar desafiador ao redor, sabendo que cada mulher no salão estava observando, e que a maioria delas a condenava em silêncio. "És tão previsível," murmurou Camila enquanto giravam. "Não vês que Anais nunca será o suficiente para ti?"
Philippe olhou para ela com curiosidade, uma sobrancelha erguida. "E quem seria o suficiente, então?" Ele sabia que estava brincando com fogo, mas algo na confiança de Camila o intrigava.
"Alguém como eu," respondeu Camila, com um sorriso provocador. "Alguém que entenda o que é poder, o que é desafio."
Philippe riu baixo, mas não se afastou. Naquela noite, o destino deles mudaria para sempre.
Os dias que seguiram àquela festa foram marcados por rumores, cochichos e escândalo. Em pouco tempo, Anais cancelou o noivado, devastada pela traição não apenas de seu noivo, mas também de sua amiga de infância. A sociedade, naturalmente, voltou-se contra Camila. O nome dela circulava nos corredores das mansões e salões de baile com uma aura de escândalo e desaprovação. Camila havia ousado fazer o impensável — roubar o noivo de sua melhor amiga —, e isso não seria perdoado tão facilmente.
As damas da alta sociedade começaram a evitá-la. Sussurros a seguiam onde quer que fosse, e os olhares carregados de desdém tornaram-se uma constante em sua vida. Os convites para eventos começaram a diminuir, e o isolamento de Camila aumentou. Ela sabia que era odiada por muitos, mas, em sua mente, isso não importava. Ela tinha o que queria. Philippe agora estava em seus braços, e ela tinha a satisfação de ter triunfado sobre Anais e todas aquelas que a criticavam.
Porém, com o tempo, a euforia da conquista deu lugar a um vazio ainda maior. Philippe, apesar de ser um homem atraente e influente, não preenchia o vazio emocional que Camila carregava consigo. Seu pai, o Conde Argent, ficou silencioso diante do escândalo, mas era evidente que ele estava desapontado. Para ele, o comportamento de sua filha era uma mancha na reputação da família, mas como sempre, ele se manteve distante, sem intervir.
Camila, por sua vez, começou a se afogar em excessos. As boutiques mais caras da cidade tornaram-se seu refúgio, e cada nova joia adquirida era como um bálsamo temporário para sua frustração interna. "Quanto mais caras, melhor," pensava ela, enquanto suas mãos delicadas deslizavam sobre colares de diamantes e anéis de safiras. O som das moedas de ouro trocando de mãos parecia ser a única coisa que trazia algum conforto momentâneo.
As festas também se tornaram uma constante. Camila organizava banquetes e bailes luxuosos em sua própria casa, gastando fortunas em vestidos, música e decoração. Se a sociedade não a aceitava mais, ela criaria seu próprio círculo. Mas, mesmo em meio ao luxo e ao esplendor, o vazio persistia.
E em casa, a tensão com sua madrasta, Margarete, e seus irmãos adotivos, René e Gracebete, só aumentava. Margarete, sempre com um sorriso polido, claramente via em Camila uma ameaça ao seu controle sobre o Conde Argent. René, por outro lado, observava Camila com um interesse cada vez mais desconcertante. Seus olhares eram persistentes, e havia uma arrogância crescente em seu comportamento. Gracebete, enquanto isso, tentava, sem sucesso, se aproximar de Camila, mas a jovem não tinha interesse em estabelecer qualquer tipo de laço com aquela família que ela via como usurpadora.
Os corredores do Palácio de Prata, antes silenciosos, agora pareciam carregados de uma tensão invisível, onde cada palavra dita entre Camila e sua nova família era uma batalha velada. E no fundo de seu coração, Camila sabia que a guerra entre ela e Margarete não havia começado de fato. Aquilo era apenas o prelúdio de algo muito maior.
Assim, Camila continuava sua trajetória, afogada em luxo, isolada do mundo, e cada vez mais distante de quem um dia fora. O mundo ao seu redor começava a desmoronar, mas ela não estava disposta a ceder. Seria a vilã, se precisasse, mas nunca deixaria de ser a vencedora.
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