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Infinity Flow

I - Cerimônia de conquista | Arco da Renúncia

A lua prateada brilhava intensamente no céu sem nuvens, abençoando a cerimônia que estava prestes a acontecer. No centro do pequeno templo ao ar livre, cercado por tochas que dançavam com o vento suave, uma longa mesa coberta de finos tecidos de linho aguardava os presentes das pretendentes. Uvas roxas, maçãs vermelhas, bolinhos caseiros e pães rústicos adornavam a mesa, simbolizando a divisão clara entre nobres e camponesas. O ar estava repleto de expectativa, enquanto as moças aguardavam a chance de conquistar o coração dos príncipes.

Sokjhan Nanrhi, com seus 17 anos, observava tudo com desinteresse. Sentado em uma cadeira nobre ao lado de seu irmão mais velho, Leiang, ele mantinha uma postura ereta, porém relaxada. Seu olhar dourado estava fixo nas mulheres que dançavam na pista abaixo. A "Dança da Conquista", como era chamada, era um espetáculo cuidadosamente coreografado, onde tanto as nobres quanto as camponesas exibiam seus talentos e charme na esperança de serem escolhidas para a dança dos príncipes. Para Sokjhan, entretanto, a cerimônia não passava de um teatro vazio.

Leiang, em contraste, estava vibrante de animação. Seu sorriso largo e os olhos brilhantes denunciavam o quanto ele apreciava o espetáculo diante deles.

— Olha só aquela de vestido púrpura, Sokjhan — Leiang comentou, inclinado para o irmão, com uma feição de entusiasmo. — E aquela outra com as maçãs verdes? São todas belas, não acha?

Sokjhan desviou o olhar das dançarinas por um breve momento, mantendo o tom de voz baixo e entediado.

— Uma ou outra é bonita... Mas, francamente, essa cerimônia é ridícula.

Leiang ergueu uma sobrancelha, surpreso com a indiferença do irmão.

— De novo com essa história? — Ele se ajeitou na cadeira, virando-se para Sokjhan. — É a terceira cerimônia de pretendentes, Sokjhan. Você já deveria estar acostumado. O que há de errado com você? São as tradições da nossa cultura, é o que somos! Não consegue ver a beleza nisso?

Sokjhan bufou, cruzando os braços.

— A beleza que eu vejo é você já ter se deitado com mais mulheres fora dessas cerimônias do que há aqui hoje. E isso em apenas três festivais. Algo que não condiz com a conduta de um herdeiro

Leiang bateu no peito com orgulho, sem disfarçar o sorriso provocativo.

— Isso só prova que eu sou macho de verdade. Um futuro chefe da família Nanrhi precisa ser forte em todas as áreas. — Ele deu uma risada, achando graça de si mesmo.

Mas Sokjhan não compartilhou do humor. Seu olhar endureceu, a voz saindo fria.

— Se ser "macho de verdade" significa agir como você, então preferia ser um camponês. Longe de Rachzern, longe de viver as expectativas que você tem como futuro chefe da família Nanrhi. — Ele se levantou de repente, sem se preocupar com a reação dos outros.

O movimento foi rápido o suficiente para atrair a atenção das dançarinas, que pararam imediatamente, as expressões de surpresa e confusão estampadas em seus rostos. Todas as cabeças se voltaram para a pequena elevação onde os irmãos Nanrhi estavam sentados.

— Sokjhan, o que você pensa que está fazendo? — Leiang perguntou, furioso, a voz quase em um grito.

Mas Sokjhan cortou a fala do irmão com um simples gesto da mão, sem sequer olhá-lo nos olhos.

— Para mim, essa cerimônia acabou. — Ele se virou, descendo as escadas com passos firmes, indo em direção à casa.

As dançarinas permaneciam imóveis, chocadas. O ambiente festivo deu lugar a uma tensão palpável, e Leiang, que havia ficado parado, incapaz de reagir, finalmente ergueu a voz.

— Sokjhan! — gritou ele, mas Sokjhan não se deu ao trabalho de responder, entrando na casa sem olhar para trás.

A expressão de Leiang, antes cheia de empolgação, agora estava fechada em raiva. Ele olhou para as pretendentes, que hesitavam em continuar a dança, claramente abaladas pela interrupção. Tomando um fôlego, Leiang tentou suavizar a situação.

— Continuem — disse ele, com um sorriso forçado. Mas sua irritação era evidente. As dançarinas lentamente retomaram seus movimentos, mas o clima da festa estava arruinado.

Dentro de si, Leiang fervilhava de ódio e frustração. Sokjhan mais uma vez tinha humilhado as tradições de sua família, e dessa vez, havia feito isso diante de todas as pretendentes e nobres presentes.

Sokjhan estava em seu quarto, sentado em uma almofada no piso de madeira, dedilhando suavemente as cordas de seu banjo. O som ecoava pelo ambiente, criando uma melodia serena que contrastava com a tensão da cerimônia que acabara de abandonar. Com os olhos fechados, ele se deixava levar pelas notas, quase como se pudesse se isolar do mundo e, por um breve momento, encontrar paz.

De repente, a porta de correr de seu quarto foi aberta com um puxão brusco. O som da madeira deslizando ecoou pelo espaço, interrompendo a música e trazendo a realidade de volta a Sokjhan. Ele não precisava abrir os olhos para saber quem estava ali.

— Já encerrou o evento, irmão? — Sokjhan perguntou, sem desviar a atenção do instrumento. — Ainda está cedo para você, que costuma estender essas cerimônias até tarde da madrugada... Com os gemidos de mulheres presas à ilusão de que governariam nossa família ao seu lado.

Leiang, já vestido com seu roupão de dormir, ainda emanava a raiva da humilhação pública que Sokjhan havia lhe causado. O rosto de Leiang estava tenso, seus punhos cerrados debaixo das mangas longas do roupão.

— Eu detesto essa tua mediocridade, Sokjhan — Leiang respondeu com grosseria, suas palavras carregadas de ressentimento. — Tratar-me com indiferença... Eu, que sempre te treinei, sempre cuidei de você, e é assim que me retribui?

Sokjhan abriu os olhos lentamente, mantendo a calma enquanto olhava diretamente para Leiang. Seus dedos pararam sobre as cordas do banjo, e ele respirou fundo antes de responder.

— Admito, irmão, você cuidou de mim. — Ele deixou as palavras flutuarem por um momento. — Mas, assim como uma maçã bela apodrece, você também apodreceu. Se tornou um ser orgulhoso e luxurioso, Leiang. Tudo o que faz agora é iludir doces jovens, na cama ou fora dela. Esse é o seu pecado.

As palavras de Sokjhan, frias e diretas, atingiram Leiang como um golpe. Ele apertou a mandíbula, seus olhos faiscando com raiva.

— Você deveria medir suas palavras, Sokjhan. Eu exijo mais respeito! — Leiang deu um passo à frente, erguendo a voz. — Se continuar com essa sua arrogância, então terá que resolver isso de forma digna. Um Kōseina kettō.

Sokjhan franziu o cenho por um breve segundo, ponderando o desafio. Ele sabia o que Leiang estava propondo: um duelo tradicional, uma luta de honra para resolver disputas entre irmãos ou membros da nobreza. A ideia de medir forças com seu irmão mais velho não o intimidava, mas tampouco o agradava.

— E o que eu ganharia com isso? — Sokjhan perguntou, seus olhos fixos em Leiang. — Só estou te jogando a verdade na cara, e você sabe disso.

Leiang não hesitou em responder, sua voz carregada de desafio.

— Se vencer, Sokjhan, eu renunciarei ao posto de herdeiro da família Nanrhi. O trono será seu.

Sokjhan levantou uma sobrancelha, o interesse cintilando em seu olhar. Porém, ele continuou impassível, mantendo a calma que sempre o caracterizava.

— E se eu recusar o K.Kettō? — perguntou Sokjhan, testando o irmão.

Leiang sorriu, um sorriso amargo e provocador.

— Se recusar, estará admitindo que não é homem digno de suas próprias palavras.

O silêncio que se seguiu foi sufocante, a tensão entre os dois irmãos crescendo a cada segundo. Sokjhan fechou os olhos por um instante, respirando fundo, antes de encarar Leiang novamente.

— Nesse caso, farei você engolir suas palavras, Leiang. E também as minhas. — Sokjhan se levantou lentamente, ficando à altura de Leiang, seu olhar sério e decidido.

Leiang, agora com o orgulho ferido e a raiva mais evidente em suas feições, deu um passo para trás. Ele sorriu de lado, um sorriso cheio de superioridade, enquanto já se virava para sair do quarto.

— Vamos ver o que você tem a mostrar, irmãozinho. — Leiang falou com desdém. — Mas lembre-se: se perder, deverá sair de Rachzern para nunca mais voltar.

Sokjhan permaneceu imóvel, apenas observando enquanto Leiang fechava a porta de correr com força. O quarto voltou ao silêncio, mas a atmosfera parecia carregada de uma tempestade prestes a estourar. Sokjhan respirou fundo, voltando a se sentar, mas dessa vez ele não pegou o banjo. Ao invés disso, ele fitava o vazio, pensando no que o futuro poderia lhe reservar. O Kōseina kettō estava selado, e agora o destino dos dois irmãos Nanrhi estava por um fio.

E Sokjhan sabia que, ao final, um deles não teria mais lugar em Rachzern.

II - Kōseina Kettō

O sol mal havia nascido, e o pátio da casa Nanrhi já estava preparado para o Kōseina kettō. O chão de pedra que normalmente abrigava reuniões e cerimônias agora servia de arena para a batalha que decidiria o destino de Sokjhan e Leiang. Ambos estavam frente a frente, vestidos com kimonos de luta, o símbolo da família Nanrhi orgulhosamente estampado em suas costas. Havia um silêncio pesado no ar, um presságio da luta que estava por vir.

Leiang, com um sorriso confiante, foi o primeiro a quebrar o silêncio.

— Tem certeza de que está tão confiante assim na sua vitória, Sokjhan? — Ele inclinou a cabeça, provocando. — Porque não vai haver uma segunda chance.

Sokjhan manteve a calma, os olhos fixos nos de Leiang. Sua resposta foi fria e firme.

— Para mim, qualquer resultado é favorável, Leiang. Mas, acima de tudo, quero que você engula a verdade sobre si mesmo.

Leiang deu um sorriso amargo, o desdém evidente em sua voz.

— Tente, então. — Seus olhos brilharam com a expectativa do confronto.

Sokjhan suspirou, irritado com o tom arrogante do irmão.

— Cale logo a boca e mostre a sua determinação com ações, não palavras.

A provocação fez Leiang ranger os dentes por um breve instante. Ele respirou fundo, deixando a tensão inflar seus músculos. Então, como se uma corda invisível tivesse sido cortada, ele falou com um tom decidido.

— Está bem. Que o K.Kettō comece!

Antes mesmo que o eco de suas palavras sumisse no ar, Leiang avançou. Seu movimento era rápido, mas não o suficiente para surpreender Sokjhan. Leiang pulou no ar, usando as mãos como apoio no chão, e desferiu um chute com a perna, como se fosse um chicote direto no irmão mais novo. Sokjhan ergueu o braço direito e bloqueou o ataque com firmeza.

Sem perder tempo, Leiang continuou a investir, desferindo dois chutes rápidos. Sokjhan cruzou os braços e os defendeu com habilidade, mantendo sua postura firme. A tensão no ar aumentava, mas Sokjhan manteve-se calmo. Vendo uma brecha, ele se abaixou, tentando desferir uma rasteira nas mãos de Leiang. Porém, o irmão mais velho estava atento e impulsionou seu corpo para cima com as mãos, fazendo com que a rasteira passasse no vazio.

Porém, Sokjhan já esperava esse movimento. Usando o impulso da rasteira frustrada, ele apoiou o corpo na mão esquerda, girando e desferindo um chute no ar com o pé direito. Leiang, ainda no ar, bloqueou o chute com as duas palmas das mãos, sentindo a força do impacto, mas mantendo o equilíbrio.

Os dois irmãos aterrissaram no chão ao mesmo tempo, Sokjhan se colocando de pé com uma elegância natural. Leiang, por sua vez, pousou com uma postura mais agressiva, seus olhos avaliando cada movimento de Sokjhan.

— Nada mal, Sokjhan — Leiang comentou com um sorriso desdenhoso. — Mas quero ver o que você fará agora.

Antes que Sokjhan pudesse responder, Leiang avançou novamente. Desta vez, ele tentou algo mais ousado, saltando para trás e desferindo um chute duplo aéreo. Sokjhan, ágil, se esquivou com um mortal, evitando o ataque por um triz.

Quando Leiang pousou no chão, ele não perdeu tempo. Seus olhos se estreitaram e suas mãos começaram a se mover de forma precisa. Com a mão esquerda, ele levantou apenas o indicador e o médio, abaixando os outros dedos. Com a mão direita, ele formou a forma de uma arma, posicionando-a sobre os dedos abaixados da mão esquerda. Seu polegar subiu e desceu, como se estivesse disparando uma flecha invisível.

...シージェット...

...(Shījetto)...

...Jato do Mar...

Sokjhan observou a movimentação, seus olhos estreitos. Com desdém, ele percebeu que seu irmão mal havia trocado alguns golpes e já estava apelando para o seu domínio. Uma leve sensação de desapontamento se formou no peito de Sokjhan.

“Já vai apelar para isso tão cedo?” — ele pensou, balançando a cabeça internamente.

Leiang, no entanto, estava totalmente imerso na ativação de seu poder. A técnica de Leiang era forte, e Sokjhan sabia que qualquer movimento em falso poderia custar caro.

Mas Sokjhan não se deixaria intimidar. Ele permaneceu firme, os músculos relaxados, mas prontos para reagir ao menor sinal de perigo.

As agulhas de água voavam de maneira feroz em direção a Sokjhan, cortando o ar como lâminas invisíveis. Cada disparo de Leiang criava buracos profundos nas paredes ao redor, uma demonstração clara do poder de seu domínio sobre a água. No entanto, Sokjhan não era fácil de atingir. Ele corria em zigue-zague, executando acrobacias com maestria, esquivando-se de cada ataque com fluidez. Suas mãos tocavam o chão como apoio em movimentos ágeis, quase como se estivesse dançando com a própria morte.

Enquanto se movia, seus olhos captaram algo no chão uma pedra. Em um movimento quase imperceptível, Sokjhan a pegou e, no instante em que se levantou de uma acrobacia, lançou a pedra na direção de Leiang. Vendo a aproximação do projétil, Leiang desfez sua técnica defensiva e se esquivou para o lado, uma ação rápida, mas que o deixou vulnerável.

Foi nesse momento que Sokjhan atacou. Ele desapareceu da visão de Leiang apenas para reaparecer do lado, desferindo um chute devastador nas costelas de seu irmão mais velho. O impacto foi violento, fazendo Leiang ser arrastado alguns metros pelo chão de pedra. Ele ofegou, sentindo a dor vibrar em suas costelas enquanto, por reflexo, levava a mão ao local atingido.

Sokjhan não deu trégua. Ele correu em direção a Leiang, que, ainda ofegante, tentou acertar um soco com o punho cerrado. Sokjhan, no entanto, estava um passo à frente. Com uma leveza surpreendente, ele pulou, apoiando-se nos ombros de Leiang por um instante e, ao aterrissar atrás dele, desferiu um chute firme atrás de seus joelhos. Leiang se dobrou, perdendo o equilíbrio. Mas antes que ele pudesse se recompor, Sokjhan ergueu as costas de Leiang com os pés,girou 180 graus e, com precisão, acertou outro chute, lançando o corpo do irmão para a frente como se fosse um boneco de pano.

Leiang mal conseguia acompanhar o ritmo. Seu corpo estava exausto, os golpes de Sokjhan vinham rápidos e impiedosos. Ele começou a perceber que subestimara o irmão mais novo, e agora estava pagando o preço. Antes que pudesse sequer reagir, Sokjhan desferiu uma voadora em suas costas, forçando Leiang a cair de bruços no chão.

Sokjhan aterrissou de pé, seu corpo imponente e calmo, olhando para o irmão caído diante dele. A respiração de Leiang era pesada, o chão abaixo de si parecia a única coisa estável naquele momento. Sokjhan, no entanto, não demonstrava mais compaixão.

— A luta acabou — disse Sokjhan em um tom firme, mas sem arrogância. Ele sabia que havia vencido, e essa certeza estava estampada em seus olhos.

Leiang, ainda de bruços, mal podia acreditar no que acabara de acontecer. Como Sokjhan, o caçula que ele sempre menosprezara, havia conseguido derrotá-lo? Era impossível. Ele olhou para o irmão, com a respiração pesada e um olhar de desespero.

— Como...? Como você fez isso? — a voz de Leiang saiu rouca, quase inaudível.

Sokjhan se aproximou, sem pressa. Seu olhar estava calmo, mas suas palavras eram afiadas.

— A resposta é simples, Leiang. Enquanto você passava noites e mais noites elevando jovens moças aos ares dentro das quatro paredes do seu quarto... — ele fez uma pausa, o desdém evidente em cada sílaba — ...eu estava aqui fora, elevando a minha própria força, sob o céu aberto.

A dor das palavras de Sokjhan foi tão profunda quanto seus chutes. Leiang sentiu uma mistura de humilhação e uma verdade inescapável. E Sokjhan não havia terminado.

— E, mesmo que eu não faça o que você faz — Sokjhan continuou —, ainda sou mais homem do que você jamais será. Porque, ao contrário de você, eu não desonro nossos pais com esses atos desprezíveis. Usar a cerimônia sagrada para isso... é algo que só um ser mesquinho faria.

Sokjhan então se virou de costas para Leiang, sem olhar para trás, e antes de sair, disse com frieza:

— E mesmo tendo vencido, Leiang, você pode continuar sendo o príncipe herdeiro da família Nanrhi. Eu não me importo. Quem vai sair daqui sou eu. Não vou continuar vivendo em um lugar tão desonroso quanto este.

Ele começou a caminhar em direção à saída do pátio, seus passos ecoando no silêncio pesado que pairava no ar. Sokjhan entrou na casa sem olhar para trás, deixando Leiang sozinho com suas feridas e pensamentos.

Leiang, ainda caído no chão, lentamente começou a se levantar. O corpo doía, esfolado e com hematomas. Mas, pior do que a dor física, era a dor que as palavras de Sokjhan haviam cravado em sua alma. Ele ponderou por um longo momento, sua mente confusa, antes de sussurrar para si mesmo, com um pesar que ele nunca havia sentido antes:

— Sokjhan... talvez você esteja mesmo certo...

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KŌSEINA KETTŌ

Kōseina Kettō (Meiyo no Kettō) - Duelo de Honra

O Kōseina Kettō (lit. "Duelo Nobre") ou Meiyo no Kettō (lit. "Duelo de Honra") é uma prática ancestral que envolve um combate ritualizado entre dois indivíduos para resolver disputas de honra, poder ou respeito entre membros da nobreza. Este costume remonta à Dinastia Danoko, há mais de 135 anos, sendo um elemento persistente e significativo em quatro dinastias subsequentes: Danoko, Guuoram, Seijchō e agora Fugura (que se iniciou há cinco anos). O sistema foi originalmente concebido para evitar guerras ou intrigas desnecessárias entre famílias nobres, canalizando tensões por meio de confrontos controlados e legitimados pelas tradições.

Origem

Dinastia Danoko (135 anos atrás): A prática nasceu como resposta a crescentes conflitos internos entre clãs nobres, onde disputas menores frequentemente escalavam para batalhas. O então imperador Danoko Hiroji estabeleceu o Kōseina Kettō como uma alternativa formal que respeitasse os princípios da honra sem comprometer a estabilidade do império.

Dinastia Guuoram: Aqui, as regras do duelo foram refinadas, incluindo a introdução de juízes neutros conhecidos como Shidō-sha e um código específico que limita o tipo de armas e habilidades utilizadas.

Dinastia Seijchō: Durante este período, o Kōseina Kettō foi integrado às leis imperiais, tornando-se o único método legalmente permitido para resolver pequenas disputas entre membros da nobreza.

Dinastia Fugura (atual): Apesar de sua longa tradição, o Kōseina Kettō perdeu parte de sua relevância prática devido a mudanças políticas e sociais, mas permanece um símbolo cultural de respeito e honra.

Regras e Estrutura

O Kōseina Kettō segue um conjunto rigoroso de diretrizes, que asseguram que a disputa seja justa, ritualística e livre de interferências externas:

1. Convocação e Aceitação

Qualquer membro da nobreza pode convocar um Kōseina Kettō, desde que tenha motivos legítimos, como disputas de herança, desrespeito público ou rivalidades territoriais.

A convocação deve ser formalmente enviada ao oponente por meio de um mediador, contendo o motivo e as condições do duelo.

O desafiado pode aceitar ou rejeitar, mas a recusa pública é considerada desonrosa e pode levar à perda de status social.

2. Local e Preparação

Os duelos são realizados em terrenos neutros, geralmente arenas designadas pelo imperador ou por um conselho local.

O local deve conter:

Espaço amplo e delimitado.

Testemunhas de ambos os lados, incluindo nobres e plebeus.

Os Shidō-sha (juízes), responsáveis por validar o duelo e declarar o vencedor.

3. Regras de Combate

Tipos de armas: Apenas armas tradicionais e aprovadas, como espadas, lanças ou arcos. Magia é permitida, mas limitada ao domínio do desafiador e apenas em formas não letais, acaso o desafiador não permita um duelo com armas mais letais.

Habilidades e poderes: Habilidades fortes (elevação de poder) podem ser usadas apenas com consentimento prévio de ambos os lados.

Fim do duelo: O combate termina quando um dos participantes se rende, é incapacitado ou, em casos extremos, morto.

4. Resultado

Vitória: O vencedor adquire o direito legítimo de reivindicar o motivo do duelo. Isso pode incluir respeito público, controle de territórios menores, ou mesmo o direito de palavra em conselhos maiores.

Derrota: O derrotado sofre consequências variáveis, desde humilhação social até perda de privilégios dentro de sua família ou clã.

Importância e Finalidade

O Kōseina Kettō não é apenas um evento marcial, mas um mecanismo político e cultural profundamente enraizado na sociedade nobre. Suas principais funções incluem:

1. Resolução de Disputas: Prevenir escaladas de pequenos conflitos, mantendo a harmonia entre famílias nobres.

2. Exibição de Poder: Demonstrar força e habilidade para obter respeito entre pares e vassalos.

3. Preservação da Tradição: Honrar os princípios de coragem, disciplina e lealdade que são pilares das dinastias.

Mudanças na Dinastia Fugura

Na era Fugura, os duelos de honra são cada vez mais simbólicos, com resolução de disputas através de acordos diplomáticos ou econômicos. Contudo, o Kōseina Kettō ainda é realizado em ocasiões cerimoniais, preservando sua relevância cultural e histórica.

III - Não renuncio

O ar no curral estava fresco naquela manhã, o céu tingido de um azul suave com poucas nuvens. Sokjhan, em silêncio, preparava o cavalo malhado preto e branco, ajustando a sela. Embora suas mãos trabalhassem com a prática de quem já havia feito aquilo inúmeras vezes, havia uma certa hesitação em seus olhos. Ele abriu a bolsa presa à sela e colocou um punhal cuidadosamente dentro, respirando fundo logo em seguida. Estava prestes a dar um passo definitivo.

O som de passos suaves interrompeu o silêncio. Sokjhan nem precisou se virar para saber quem estava ali. Quando Leiang entrou no curral, sua presença era diferente — a habitual arrogância e confiança haviam dado lugar a uma melancolia visível. Ele se aproximou devagar, como se não quisesse perturbar o ambiente mais do que já o fizera na noite anterior.

— Você não precisa ir embora, Sokjhan — Leiang começou, a voz suave, quase implorando. — A casa da família... não precisa ser largada por você.

Sokjhan terminou de ajeitar as correias da sela e se virou para o irmão. Seus olhos eram sérios, mas não havia raiva. Ele balançou a cabeça levemente antes de responder.

— Essa é minha decisão, Leiang. — Sokjhan falou com firmeza, porém sem frieza. — Eu não concordo com os costumes nobres da família. Não vou continuar fingindo que concordo com algo que desprezo.

Leiang passou a mão pelos cabelos, nervoso. Ele se aproximou mais, tentando encontrar as palavras certas.

— Nós poderíamos mudar esses costumes, juntos. — Sua voz era cheia de esperança, um lampejo de arrependimento. — Apenas um de nós dois herdará o trono de qualquer maneira. Podemos fazer diferente...

Sokjhan suspirou, os olhos voltando-se para o cavalo enquanto acariciava sua crina.

— Já tomei minha decisão. — Ele deu um leve sorriso triste, mas seus olhos continuavam firmes. — Você pode assumir a casa, Leiang. O nome Nanrhi será seu, e você poderá guiar a família do jeito que quiser.

A preocupação tomou conta de Leiang, que deu mais um passo à frente, seus olhos cheios de incerteza.

— Você vai renunciar à família? — A pergunta saiu com um tom de medo, como se Leiang estivesse prestes a perder algo irreversível.

Sokjhan o olhou de relance e balançou a cabeça, negando com firmeza.

— Renunciar? Não. — Ele fez uma pausa, pensando em como colocar aquilo em palavras. — Querendo ou não, eu sempre farei parte da família Nanrhi. Esse é um laço que não pode ser desfeito. Mas eu quero que você entenda uma coisa. — Seus olhos se estreitaram levemente, sérios. — Não suje o nome da nossa família com atos desprezíveis, Leiang. Eu posso estar longe, mas os rumores chegam a todos os lugares. E, no final das contas, eu também serei afetado por isso, mesmo distante.

Leiang ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras do irmão. O peso da responsabilidade era visível em seus ombros. Ele não era tão ingênuo a ponto de não entender o que Sokjhan queria dizer. Ele assentiu lentamente, sem saber o que responder, mas claramente tocado pelo pedido do irmão.

Sokjhan montou no cavalo com um movimento suave, ajeitando-se na sela enquanto olhava para Leiang uma última vez.

— Para onde você vai? — perguntou Leiang, com uma mistura de preocupação e curiosidade.

— Ainda não sei ao certo. — Sokjhan deu um leve sorriso, mais tranquilo desta vez. — Mas não se preocupe comigo. Preocupe-se com o que você faz aqui. Tome juízo, Leiang. Honre nossos pais como eles sempre nos honraram.

Leiang ficou parado, calado, sentindo o peso daquelas palavras. Ele sabia que Sokjhan estava certo, e a verdade em suas palavras fazia o constrangimento que ele sentia crescer cada vez mais. Ele simplesmente assentiu, o olhar fixo no chão, incapaz de manter contato visual com o irmão.

Sokjhan puxou as rédeas do cavalo e começou a cavalgar devagar para fora do curral, deixando Leiang para trás, perdido em seus próprios pensamentos. Quando Sokjhan cruzou os portões do curral e desapareceu no horizonte, Leiang ficou parado, sem se mover. Ele olhou para o chão, os pensamentos zumbindo em sua cabeça.

— Sokjhan é o caçula... — murmurou para si mesmo, quase com incredulidade. — E ainda assim... ele consegue ser mais maduro do que eu.

Ele ficou ali, sozinho, enquanto as palavras de seu irmão ecoavam em sua mente, trazendo uma nova compreensão do que significava ser um verdadeiro herdeiro da família Nanrhi.

— Adeus Sokjhan...

Sokjhan cavalgava montanha abaixo, descendo o Monte Zavid, onde a grande mansão da família Nanrhi dominava a paisagem como um símbolo de poder. A brisa fria do fim da manhã soprava contra seu rosto, agitando seus longos cabelos e fazendo seu roupão flutuar como uma capa. Seus pensamentos eram claros, e ele não sentia arrependimento pela decisão de partir, mas algo o incomodava — a forma como Leiang iria herdar o trono e se casar. Ele sabia que, agora, não podia fazer muito, mas não conseguia evitar o peso das preocupações que vinha carregando.

Enquanto o cavalo avançava em direção à fronteira de Rachzern, Sokjhan sentia o vento da incerteza em sua pele, o mesmo vento que acompanhava sua jornada solitária. À medida que os quilômetros passavam, as árvores começaram a dar lugar a uma floresta de bambus, não muito densa, mas ainda assim impressionante em sua simplicidade.

Os bambus se curvavam gentilmente ao redor dele enquanto ele cavalgava lentamente, os olhos observando o ambiente ao redor. Os sons da natureza, o leve farfalhar das folhas e os estalos ocasionais dos bambus balançando eram quase tranquilizadores. Sokjhan se perdeu brevemente em seus pensamentos, ponderando em voz baixa sobre o que faria a seguir. Ele precisava escolher um lugar onde pudesse se estabelecer, ou pelo menos evitar problemas, enquanto traçava seu próximo passo.

— Os distritos ao redor de Rachzern... — murmurou para si, enquanto acariciava o pescoço de Fugoshi, seu cavalo. — Se eu seguir para o Distrito de Gohseian, seria uma jogada perigosa. A família Jangk e a família Taenun estão por lá, e a rivalidade com os Nanrhi é antiga. Invadir Gohseian seria pedir por problemas.

Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo, tentando traçar uma rota mais segura.

— Talvez os Distritos de Kershan ou Velzar sejam uma opção melhor. — Continuou a falar, ponderando. — Em Kershan, há somente a família Verla que não suporta os Nanrhi. Aqueles ladrões de riquezas sempre estiveram contra nós, mas ao menos não são tão problemáticos quanto os Jangk. E Velzar... bem, Velzar é dividido entre três famílias, mas nenhuma delas tem problemas diretos com os Nanrhi.

Seus pensamentos foram bruscamente interrompidos. Sons leves, quase imperceptíveis, chegaram a seus ouvidos, mas Sokjhan tinha uma audição apurada demais para ignorá-los. Ele franziu o cenho, os olhos se estreitando enquanto puxava levemente as rédeas do cavalo.

— Calma aí, Fugoshi — disse ele, a voz baixa e firme, fazendo o cavalo parar.

Os sons persistiam. Não eram naturais, não vinham dos bambus ou de algum animal da floresta. Eram ruídos agudos, quase como o rangido de uma porta velha, mas havia algo mais perturbador neles. Sokjhan desceu do cavalo, batendo de leve em seu flanco para que ele ficasse ali.

— Fique aqui, Fugoshi. — Ordenou suavemente, e o cavalo obedeceu, parado como uma estátua no meio do bambuzal.

Sokjhan, agora a pé, seguiu os sons com passos cautelosos. Ele não sabia o que encontraria, mas sua experiência o ensinara a nunca subestimar a origem de ruídos incomuns. Enquanto se aproximava, os sons ficaram mais claros, e logo ele conseguiu distinguir algo como uma voz rabugenta misturada a gemidos.

Ele avançou lentamente, escondendo-se atrás de um bambu mais grosso quando avistou uma pequena cabana. Feita de bambu e madeira, a cabana parecia simples, rústica, e o mais estranho: não havia portas, apenas uma entrada aberta que dava para o interior. Era de lá que os sons vinham.

A voz agora era clara, e a expressão de Sokjhan ficou séria ao ouvir.

— Safada! Sua família gosta de passar a perna nos outros, não é? Então você merece pagar por isso! — gritou a voz, cheia de rancor.

Logo em seguida, um gemido foi ouvido, e Sokjhan soube naquele instante que algo de errado estava acontecendo.

— Mais um covarde... — pensou consigo, o olhar endurecido, avaliando a situação.

O instinto de Sokjhan dizia que ele precisava agir, mas também sabia que precisava ser cuidadoso.

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