Capítulo 1: "O Fardo dos Ashford"
A primeira luz do amanhecer filtrava-se pelas pesadas cortinas de veludo que emolduravam as imponentes janelas da Mansão Ashford. A propriedade, outrora símbolo de poder e prosperidade, agora parecia uma sombra de sua antiga glória. O silêncio dominava os corredores, quebrado apenas pelo som ocasional de passos apressados dos poucos criados que ainda permaneciam em serviço. Cada canto da casa parecia contar uma história de decadência e desespero, um reflexo claro da ruína que se aproximava.
No centro desse cenário desolador, encontrava-se Lady Eleanor Ashford. Ela estava sentada à beira da grande cama de dossel, onde tantas gerações de sua família haviam dormido antes dela. A madeira escura e esculpida do dossel, que outrora exibia um brilho profundo e rico, agora parecia opaca, como se até mesmo o tempo tivesse começado a corroer sua majestade. Eleanor olhava fixamente para as mãos, os dedos finos entrelaçados em um gesto de tensão silenciosa. As dobras de seu vestido de linho azul claro caíam graciosamente ao redor dela, mas nem mesmo o tecido macio podia esconder a rigidez de seus ombros, a tensão que parecia irradiar de cada parte de seu ser.
A notícia da morte de seu pai, o Conde de Ashford, ainda era fresca, como uma ferida aberta que recusava a cicatrizar. Embora a morte de seu pai tivesse sido há semanas, o luto ainda pairava pesadamente sobre ela, um manto negro que parecia sufocá-la a cada respiração. A partida repentina e inesperada de seu pai não apenas havia deixado um vazio insuportável em seu coração, mas também havia trazido à tona uma realidade cruel: a ruína financeira de sua família.
Os Ashford, uma das famílias nobres mais antigas e respeitadas da Inglaterra, haviam caído em desgraça. O que antes era uma fortuna vasta e invejável agora se reduzia a dívidas impossíveis de quitar. Seus ancestrais, que haviam servido com lealdade a coroas e protegido suas terras com sangue e sacrifício, agora pareciam meros fantasmas, suas vozes perdidas no tempo. A história da família estava impregnada nas paredes da mansão, em cada retrato de ancestrais que decorava os corredores, em cada tapeçaria que pendia dos tetos altos, mas tudo aquilo agora parecia uma farsa, uma encenação de uma era que há muito havia desaparecido.
Eleanor, a única filha do Conde, sentia o peso do legado de sua família com uma intensidade que a esmagava. Ela havia sido criada para ser a joia dos Ashford, preparada desde a infância para brilhar nos salões da alta sociedade, para ser a perfeita dama inglesa. Mas agora, toda aquela preparação parecia inútil diante da dura realidade que ela enfrentava. Sua educação, sua graça, suas habilidades em conversação, dança e música – todas as coisas que lhe haviam sido ensinadas para manter o prestígio da família – não tinham poder para salvar os Ashford do abismo financeiro em que se encontravam.
Enquanto seus pensamentos vagavam por esse terreno sombrio, Eleanor levantou-se da cama e caminhou até a janela, afastando as cortinas para deixar a luz do sol invadir o quarto. O jardim da mansão, que antes florescia com uma variedade impressionante de flores exóticas, agora estava desleixado, as plantas crescidas de forma desordenada, como se refletissem a desordem interna que ela sentia. O lago, outrora um espelho calmo que refletia a serenidade da propriedade, estava agora coberto por uma fina camada de névoa matinal, conferindo à paisagem uma atmosfera quase irreal.
Os sentimentos de Eleanor eram um turbilhão, uma mistura de tristeza, raiva e desespero. Ela sentia-se traída pelo destino, como se os deuses houvessem voltado suas costas para ela e sua família. Como poderia ter chegado a este ponto? Como uma família tão antiga e poderosa poderia ter permitido que a decadência se instalasse de tal forma? Ela sabia, no fundo, que a resposta estava nos erros de seu pai, na sua confiança desmedida em investimentos arriscados, na sua fé cega em amigos que não mereciam tal título. Mas culpar o pai, agora morto, parecia cruel, mesmo que sua irresponsabilidade tivesse os conduzido a este penhasco.
Uma batida suave à porta interrompeu seus pensamentos. Eleanor virou-se, ajeitando rapidamente as dobras de seu vestido antes de responder. A porta se abriu para revelar sua fiel aia, Martha, uma mulher que servira à família Ashford por décadas. Martha trazia consigo uma bandeja com o desjejum, mas sua expressão era de preocupação.
— Milady, o senhor Henry está à sua espera na sala de jantar — disse Martha, colocando a bandeja sobre a mesa ao lado da janela. — Ele pediu que a senhora se juntasse a ele assim que possível.
Eleanor assentiu, agradecendo à mulher com um aceno de cabeça. Ela sabia que seu irmão, Henry, estava igualmente pressionado pela situação. Ele havia herdado o título de Conde, mas junto com ele, todas as responsabilidades e dívidas que o cargo implicava. Henry era um homem jovem, apenas quatro anos mais velho que Eleanor, mas os últimos meses o haviam envelhecido consideravelmente. As rugas de preocupação em sua testa e os círculos escuros sob seus olhos eram testemunhas de noites sem dormir, passadas em cálculos e reuniões com credores.
Eleanor tomou uma respiração profunda, tentando acalmar o turbilhão de emoções dentro de si antes de sair do quarto. O corredor que levava à sala de jantar era longo e decorado com retratos de seus antepassados. Ela caminhou lentamente, permitindo que seus olhos percorressem os rostos pintados, buscando nos traços familiares alguma força, alguma inspiração que pudesse guiá-la no momento presente. Mas os rostos dos antepassados pareciam frios, distantes, como se já tivessem aceitado seu destino de decadência.
Quando Eleanor finalmente entrou na sala de jantar, encontrou Henry de pé, junto à janela. Ele estava virado para fora, olhando para os mesmos jardins que ela havia contemplado minutos antes. Ele se virou ao ouvir seus passos, e Eleanor pôde ver a expressão séria em seu rosto, uma mistura de determinação e cansaço.
— Eleanor, precisamos conversar — disse ele, sua voz baixa, mas firme.
Ela assentiu, sentando-se à mesa enquanto ele permanecia de pé, como se o peso da situação não lhe permitisse relaxar nem por um momento.
— As coisas estão piores do que imaginávamos — começou ele, sem rodeios. — Os credores estão pressionando. Recebi outra carta esta manhã, exigindo pagamento imediato. Se não conseguirmos levantar fundos em breve, perderemos tudo. A mansão, as terras... Tudo.
As palavras de Henry eram como facadas no coração de Eleanor. Ela sabia que a situação era grave, mas ouvir isso dito em voz alta, de forma tão definitiva, trouxe uma nova onda de desespero.
— Não podemos vender mais terras? — sugeriu Eleanor, embora soubesse que essa opção já havia sido considerada.
Henry balançou a cabeça negativamente.
— As terras que restam mal conseguem sustentar a mansão. Vender mais significaria sacrificar a subsistência que ainda temos. E mesmo que conseguíssemos vendê-las, não seria suficiente para cobrir todas as dívidas.
Eleanor sentiu a garganta se apertar. A sensação de impotência era avassaladora. Ela tinha sido treinada para ser uma dama, para representar sua família com dignidade, mas nada em sua educação a havia preparado para enfrentar uma crise dessa magnitude. Ela sabia dançar, tocar instrumentos, conversar sobre literatura e história, mas essas habilidades eram inúteis diante do abismo financeiro que se abria diante deles.
— Há algo que possamos fazer? — perguntou ela, desesperada por uma solução, qualquer solução.
Henry hesitou por um momento, desviando o olhar antes de falar.
— Existe uma possibilidade, mas... não sei se você estaria disposta a considerá-la.
Eleanor franziu a testa.
— O que é, Henry? Diga-me.
Ele respirou fundo antes de continuar.
— Recebi uma oferta, de Sir Thomas Wycliffe. Ele propôs um casamento por contrato entre você e ele. Em troca, ele cobriria todas as nossas dívidas e garantiria a segurança financeira da família.
Eleanor ficou em silêncio por um momento, absorvendo as palavras de seu irmão. Um casamento por contrato. A ideia era ao mesmo tempo ultrajante e tentadora. Sabia que casamentos arranjados eram comuns entre a nobreza, mas a proposta de Sir Thomas parecia impessoal, quase mercantil. Ele não estava interessado nela como pessoa, mas sim no que a união com sua família poderia lhe proporcionar em termos de status e influência.
— Eu sei o que você está pensando — disse Henry, interpretando o silêncio de Eleanor como hesitação. — Não é a situação ideal, mas... o que mais podemos fazer? Se recusarmos, perderemos tudo. E ele é um homem respeitável, de boa reputação. Não é um casamento por amor, mas garantiria nossa sobrevivência.
Eleanor se levantou lentamente, caminhando até a janela. O sol agora estava mais alto no céu, iluminando os jardins com uma luz dourada que fazia
as flores desabrocharem em toda sua beleza. A ironia da situação não lhe escapou. Estava diante de uma escolha que determinaria o futuro de sua família, de sua própria vida. Ela poderia salvar os Ashford, mas a que custo? Perderia a liberdade de escolher seu próprio caminho, de decidir com quem compartilharia sua vida. Mas, ao mesmo tempo, a responsabilidade que sentia para com sua família, para com a honra dos Ashford, pesava mais do que qualquer desejo pessoal.
Ela olhou para Henry, que a observava com expectativa. Ele estava contando com ela, colocando nela a esperança de toda uma linhagem que não poderia terminar em ruína.
— Vou pensar sobre isso, Henry — disse ela finalmente, sua voz firme, mas cheia de uma tristeza contida. — Dê-me um pouco de tempo.
Henry assentiu, aliviado, mas ainda preocupado.
— É claro, Eleanor. Mas não demore. O tempo não está a nosso favor.
Com essas palavras, ele se retirou da sala, deixando Eleanor sozinha com seus pensamentos.
Eleanor permaneceu ali, olhando para os jardins, sentindo o peso da decisão que estava prestes a tomar. Não seria uma escolha fácil, mas, como tantas outras mulheres em sua posição, ela sabia que o dever para com a família às vezes exigia sacrifícios. Ela só esperava que, no final, esse sacrifício valesse a pena.
A primeira luz do amanhecer agora era um brilho pleno de dia, mas para Eleanor Ashford, a sombra do fardo que carregava nunca pareceu tão escura.
...Caros leitores,...
...Esta história foi escrita na minha infância, enquanto ainda estava no ensino fundamental. Ela foi criada seguindo as diretrizes de um concurso literário da escola, por isso não contém cenas de sexo ou beijos explícitos, como alguns talvez esperem. Se você procura uma história com grande foco em "intimidade", talvez esta não seja a mais adequada para você. Este é um conto mais simples e inocente, onde a confiança e a interação entre os personagens ganham destaque....
...Desde já, agradeço sua compreensão....
Capítulo 2: "A Proposta de Sir Thomas
O sol já estava alto quando Eleanor finalmente deixou a sala de jantar. Seus passos eram lentos e medidos enquanto ela caminhava pelo corredor em direção à biblioteca, um dos poucos lugares na mansão onde ela ainda encontrava algum consolo. As paredes estavam cobertas por prateleiras que se estendiam do chão ao teto, cheias de livros que haviam pertencido a gerações de Ashfords. Os volumes, muitos deles antigos e raros, eram testemunhas silenciosas do prestígio e erudição que sua família outrora possuíra.
Ao entrar na biblioteca, Eleanor sentiu o cheiro familiar de papel envelhecido e couro. Era um odor reconfortante, que a transportava para tempos mais simples, quando suas maiores preocupações eram escolher qual livro ler em seguida ou qual música tocar no piano. Agora, no entanto, a presença reconfortante dos livros não conseguia afastar a tempestade de pensamentos que assolava sua mente.
Ela caminhou até uma das janelas altas da biblioteca e olhou para fora, observando os jardins que haviam sido o orgulho de sua mãe. Embora a beleza do lugar fosse inegável, Eleanor não podia deixar de notar como as cores vibrantes das flores pareciam atenuadas, quase apagadas, refletindo o estado de espírito que dominava a mansão. A proposta de Sir Thomas Wycliffe girava em sua mente como um redemoinho, impossível de ignorar.
Eleanor não conhecia Sir Thomas pessoalmente, mas já ouvira falar dele. Um homem que havia ascendido rapidamente na sociedade, enriquecendo-se através do comércio, um empreendimento que muitos nobres tradicionais desprezavam, mas que inegavelmente o havia tornado poderoso. As histórias que circulavam sobre ele eram variadas, algumas o descrevendo como um homem honesto e trabalhador, outras insinuando que sua riqueza havia sido acumulada de maneiras menos nobres. De qualquer forma, ele era uma figura que inspirava respeito e, em alguns casos, medo.
A ideia de se casar com um homem que ela mal conhecia a perturbava profundamente. Eleanor sempre imaginara que, se um dia se casasse, seria com alguém por quem tivesse afeto, alguém que a amasse por quem ela era, e não por seu nome ou status. A proposta de Sir Thomas era, na melhor das hipóteses, uma transação comercial. Ele não estava oferecendo amor ou carinho, mas sim segurança financeira em troca de uma aliança conveniente. Para ele, ela seria apenas mais um meio para um fim, e essa percepção fazia seu estômago se revirar.
No entanto, ao mesmo tempo, Eleanor não podia ignorar a gravidade da situação. A ruína iminente de sua família era uma realidade que precisava ser enfrentada. Ela pensou em seu irmão, Henry, e no peso que ele carregava. Ele era o Conde agora, mas suas responsabilidades iam além de um título. Ele tinha que garantir que a família Ashford não desaparecesse na obscuridade, que o legado de seus ancestrais não fosse perdido para sempre. E Eleanor sabia que, se ela pudesse ajudar de alguma forma, ela deveria fazê-lo, mesmo que isso significasse sacrificar seus próprios desejos.
Seus pensamentos foram interrompidos por uma batida suave na porta da biblioteca. Ela se virou para ver Martha, sua aia, entrando com uma expressão grave.
— Milady, Sir Thomas Wycliffe está aqui para vê-la — anunciou Martha, com um tom que revelava sua própria inquietação.
O coração de Eleanor deu um salto involuntário. Sir Thomas? Aqui? Ela não esperava que ele viesse tão cedo, nem mesmo estava preparada para encontrá-lo. No entanto, Eleanor sabia que não poderia evitar o encontro. Com um aceno de cabeça, ela indicou que estava pronta para recebê-lo.
Martha saiu da biblioteca, e poucos minutos depois, Sir Thomas Wycliffe entrou. Ele era um homem alto, com uma presença imponente. Seu cabelo escuro estava perfeitamente penteado, e sua barba bem aparada destacava as linhas fortes de seu rosto. Seus olhos verdes, frios e calculistas, observaram a biblioteca antes de finalmente se fixarem em Eleanor. Ele vestia um casaco de veludo escuro, adornado com bordados discretos, mas elegantes, que sugeriam sua riqueza sem ostentação exagerada.
Eleanor sentiu um arrepio correr por sua espinha enquanto os olhos de Sir Thomas a analisavam. Ele fez uma reverência educada, e Eleanor respondeu com uma leve inclinação de cabeça, mantendo a postura ereta e graciosa que lhe fora ensinada desde a infância.
— Lady Eleanor, é um prazer finalmente conhecê-la — disse Sir Thomas, sua voz firme e controlada.
— Sir Thomas, o prazer é meu — respondeu ela, tentando manter a voz estável, apesar da tensão que sentia.
Ele gesticulou para uma das cadeiras perto da lareira, convidando-a a se sentar, e Eleanor aceitou. Sir Thomas se sentou na cadeira oposta, mantendo uma postura relaxada, mas seu olhar atento não perdeu nenhum detalhe.
— Sei que minha visita é inesperada, e espero não estar incomodando — começou ele, com um tom que sugeria que, mesmo se estivesse incomodando, isso não o afetaria. — Mas achei que seria melhor discutirmos pessoalmente a proposta que apresentei ao seu irmão.
Eleanor assentiu, cruzando as mãos no colo para disfarçar o nervosismo. Ela sabia que este era um momento decisivo. O que ela dissesse agora poderia definir o futuro de sua família.
— Agradeço por sua vinda, Sir Thomas. Meu irmão mencionou sua proposta, e devo admitir que fiquei surpresa. Não esperava... algo assim.
Sir Thomas esboçou um leve sorriso, mas seus olhos permaneceram inexpressivos.
— Entendo que não seja o tipo de proposta que uma jovem dama como a senhorita esperaria receber. No entanto, acredito que estamos em uma posição única para ajudar um ao outro.
Ele fez uma pausa, como se esperasse que Eleanor respondesse, mas ela permaneceu em silêncio, incentivando-o a continuar.
— Acredito que a senhorita está ciente da situação financeira de sua família. — A forma como ele disse isso não era uma pergunta, mas uma afirmação. Eleanor sentiu um leve rubor em seu rosto, mas manteve a compostura.
— Sim, estou ciente.
— Então deve compreender que a proposta que estou fazendo não é apenas para meu benefício, mas também para o da sua família. Um casamento entre nós garantiria que os Ashford mantivessem sua posição na sociedade, enquanto eu me beneficiaria do prestígio de seu nome. — Ele inclinou-se um pouco para frente, como se quisesse sublinhar suas próximas palavras. — Este é um acordo que beneficia a ambos, Lady Eleanor. E, honestamente, não vejo outra solução para os problemas que enfrentamos.
Eleanor sentiu o peso de suas palavras. Ele estava certo, claro. Ela sabia disso. Mas saber disso não tornava a decisão mais fácil. Havia algo no tom frio e prático de Sir Thomas que a incomodava. Ele falava de casamento como se fosse um simples contrato comercial, uma transação entre duas partes, sem qualquer menção ao que isso significaria para ela, como mulher, como pessoa.
— Entendo a lógica de sua proposta, Sir Thomas — disse Eleanor, escolhendo cuidadosamente as palavras. — Mas o casamento é mais do que uma simples aliança comercial. É uma união entre duas pessoas, uma parceria que deve ser baseada em confiança e, se possível, em afeto.
Os olhos de Sir Thomas estreitaram-se levemente, como se as palavras de Eleanor tivessem tocado algo que ele preferia manter enterrado.
— Lady Eleanor, sou um homem prático. Entendo que o casamento pode ser muitas coisas, mas na nossa situação, deve ser, acima de tudo, uma solução. Sei que a senhorita pode ter esperanças de um casamento baseado em afeto, mas acredito que a situação em que nos encontramos exige uma abordagem mais... pragmática.
Eleanor sentiu um aperto no peito. As palavras dele eram duras, mas verdadeiras. Ela sabia que, em muitos casos, os casamentos nobres eram pouco mais que alianças políticas, mas mesmo assim, a frieza com que Sir Thomas falava do assunto a perturbava.
— E quanto ao futuro? — perguntou ela, tentando entender melhor as intenções dele. — O que espera desse casamento além da segurança financeira?
Sir Thomas inclinou-se um pouco mais na cadeira, observando-a atentamente antes de responder.
— Espero que, com o tempo, possamos construir uma parceria sólida e respeitosa. Não sou um homem de grandes paixões, Lady Eleanor, mas acredito firmemente no respeito mútuo e na honestidade. Se aceitarmos esta união com esses princípios em mente, acredito que ambos podemos nos beneficiar grandemente.
Eleanor observou Sir Thomas por um momento, tentando decifrar o que estava por trás de suas palavras. Havia uma franqueza desconcertante na maneira como ele se apresentava. Ele não estava tentando encantá-la ou seduzi-la com promessas vazias. Ele era direto, talvez até brutalmente honesto, sobre o que oferecia e o que esperava em troca. Isso, por si só, era incomum e, de certa forma, intrigante.
Ela sabia que não poderia tomar uma decisão tão importante naquele momento, mas também sabia que não tinha muito tempo. A pressão de salvar sua família era esmagadora, e a proposta de Sir Thomas, por mais impessoal que fosse, oferecia uma solução clara e direta para seus problemas.
— Sir
Thomas, devo dizer que suas palavras me deram muito em que pensar — disse ela, finalmente. — Esta é uma decisão que afetará não apenas minha vida, mas também o futuro da minha família. Preciso de algum tempo para considerar sua proposta.
Sir Thomas assentiu, parecendo satisfeito com a resposta dela.
— Compreendo, Lady Eleanor. E não quero apressá-la. Apenas peço que considere o que está em jogo. Nem sempre podemos escolher o que queremos, mas podemos escolher como responder às circunstâncias que nos são impostas.
Com essas palavras, ele se levantou da cadeira, sinalizando que estava pronto para partir. Eleanor também se levantou, e eles trocaram uma breve reverência formal.
— Deixarei que a senhorita pense sobre o que discutimos — disse ele, dirigindo-se à porta. — Espero ouvir sua resposta em breve.
Eleanor acompanhou-o até a porta, sentindo-se um pouco mais segura de si do que quando ele havia chegado. Havia algo reconfortante na clareza com que Sir Thomas abordava a situação. Ele não estava pedindo nada que ela não pudesse dar, e, em troca, oferecia a segurança que sua família desesperadamente precisava.
Quando a porta se fechou atrás dele, Eleanor voltou à janela da biblioteca, onde permaneceu por um longo tempo, perdida em pensamentos. Ela sabia que não poderia ignorar a proposta de Sir Thomas por muito mais tempo. A escolha estava diante dela, clara como o dia, mas não menos difícil por isso.
Ela passou o resto do dia imersa em reflexões, pesando os prós e contras, tentando imaginar como seria sua vida ao lado de um homem como Sir Thomas. Havia um vazio frio em seu peito, uma sensação de perda antes mesmo de ter tomado uma decisão. Ela sabia que, independentemente do que escolhesse, parte de sua liberdade e sonhos seria sacrificada.
Ao cair da noite, Eleanor decidiu que precisava de um descanso. Retirou-se para seus aposentos, mas o sono não veio fácil. A imagem de Sir Thomas, com seus olhos frios e voz controlada, continuava a assombrá-la, e a proposta que ele lhe fizera parecia pairar no ar, uma presença invisível que não a deixava em paz.
Finalmente, quando o sono a tomou, seus sonhos foram povoados por imagens de um futuro incerto, de um casamento sem amor, mas cheio de responsabilidades. Ela viu-se caminhando pelos corredores da Mansão Wycliffe, um lugar tão diferente de sua própria casa, com sua beleza fria e calculada. Viu-se ao lado de Sir Thomas, seus passos ecoando em sincronia, mas sempre distantes, como dois estranhos que se cruzam em uma encruzilhada.
Quando o sol se levantou na manhã seguinte, Eleanor sabia que o tempo de tomar uma decisão estava se aproximando. Ela ainda não sabia o que escolheria, mas sabia que, independentemente da escolha, sua vida nunca mais seria a mesma.
...Caros leitores,...
...Esta história foi escrita na minha infância, enquanto ainda estava no ensino fundamental. Ela foi criada seguindo as diretrizes de um concurso literário da escola, por isso não contém cenas de sexo ou beijos explícitos, como alguns talvez esperem. Se você procura uma história com grande foco em "intimidade", talvez esta não seja a mais adequada para você. Este é um conto mais simples e inocente, onde a confiança e a interação entre os personagens ganham destaque....
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Capítulo 3: "Entre Dever e Desejo
A madrugada avançava lentamente, tingindo o céu de tons rosados enquanto o sol começava a despontar no horizonte. A luz tênue e dourada filtrava-se pelas cortinas de linho do quarto de Eleanor, lançando sombras suaves nas paredes adornadas com tapeçarias antigas. Eleanor não havia conseguido dormir bem. Suas pálpebras estavam pesadas, mas sua mente permanecia em alerta, incapaz de descansar verdadeiramente desde o encontro com Sir Thomas. O oferecimento ainda pairava sobre ela como uma nuvem de tempestade, sombria e carregada de incerteza.
Ela se levantou cedo, antes mesmo que Martha viesse chamá-la, e caminhou em silêncio pelo quarto, com a intenção de se vestir sozinha naquela manhã. O quarto, um espaço amplo com móveis esculpidos em carvalho e tapetes espessos que abafavam seus passos, parecia mais vazio do que nunca. Cada objeto parecia carregado de memórias, um lembrete constante das gerações que haviam passado por ali antes dela, vivendo vidas de luxo e poder que agora pareciam tão distantes.
Eleanor parou diante de um espelho alto, seus dedos traçando o contorno do vidro frio enquanto ela olhava para sua própria imagem refletida. Seus longos cabelos castanhos caíam soltos sobre os ombros, e seus olhos azuis, geralmente tão expressivos, estavam apagados, carregando o peso das decisões que se avizinhavam. Ela não conseguia evitar a pergunta que ecoava em sua mente desde que Sir Thomas saíra: "É este o destino que quero para mim?"
Enquanto se vestia, escolhendo um vestido simples de musselina azul claro que realçava a suavidade de sua pele, Eleanor não conseguia afastar os pensamentos sobre o pedido de Sir Thomas. Estava dividida. De um lado, havia o dever que sentia para com sua família, o desejo de salvar os Ashford da ruína e garantir que o legado de seus antepassados continuasse. De outro, havia seus próprios sonhos e desejos, a esperança de um dia encontrar alguém que a amasse verdadeiramente, com quem pudesse compartilhar uma vida de cumplicidade e afeto.
O casamento com Sir Thomas, ela sabia, não traria essa realização emocional. Ele havia sido claro quanto às suas intenções: um casamento baseado em conveniência, respeito mútuo e honestidade, mas sem o calor do amor ou da paixão. Eleanor compreendia as razões por trás do compromisso, mas isso não tornava a decisão mais fácil.
Ao sair de seu quarto, Eleanor decidiu ir até a capela da mansão, um lugar que sempre lhe trouxera paz em momentos de dúvida. A capela era pequena, mas grandiosamente decorada, com vitrais coloridos que filtravam a luz do sol em um caleidoscópio de cores vibrantes. Os bancos de madeira escura, usados por gerações de Ashfords, ainda estavam impecáveis, apesar do desuso nos últimos tempos.
Eleanor ajoelhou-se diante do altar, inclinando a cabeça enquanto suas mãos se uniam em oração. Não era uma mulher particularmente religiosa, mas acreditava que havia uma força maior que guiava o destino das pessoas, e naquele momento, ela precisava de orientação. Seus lábios se moveram em uma prece silenciosa, pedindo clareza de pensamento e força para tomar a decisão certa, não apenas para sua família, mas para si mesma.
Ela permaneceu ali por um tempo, sentindo a serenidade do lugar envolvê-la, mas a paz que procurava ainda estava fora de alcance. Quando finalmente se levantou, sentia-se um pouco mais leve, mas o peso da decisão ainda a acompanhava, como uma sombra que se recusava a desaparecer.
Enquanto caminhava de volta pelos corredores da mansão, Eleanor foi surpreendida pela visão de Henry vindo em sua direção. Seu irmão parecia cansado, com olheiras profundas sob os olhos e a expressão dura que ele vinha carregando desde a morte do pai. Ele sorriu levemente ao vê-la, mas o sorriso não chegou a iluminar seus olhos.
— Bom dia, Eleanor — cumprimentou ele, com uma voz que soava mais rouca do que de costume.
— Bom dia, Henry — respondeu ela, tentando parecer mais animada do que realmente estava.
Henry parou ao lado de uma janela que dava vista para os jardins da mansão, e Eleanor o acompanhou, ambos olhando para fora, em silêncio, por um momento. O jardim, que havia sido o orgulho de sua mãe, agora estava em declínio, as flores murchando e as plantas crescendo desordenadamente. Era um reflexo triste da situação em que a família Ashford se encontrava.
— Tenho pensado muito desde nossa conversa ontem — disse Henry finalmente, quebrando o silêncio. — E sei que pedi para que você considerasse o oferecimento de Sir Thomas. Mas quero que saiba que, independentemente do que decidir, eu a apoiarei.
Eleanor virou-se para ele, surpresa pela sinceridade em sua voz.
— Henry, eu sei o quanto isso é importante para a nossa família. Se eu aceitar o compromisso, farei isso por nós, por nosso futuro.
Henry balançou a cabeça, ainda olhando para os jardins.
— Sei disso, Eleanor. Mas também sei que esta não é a vida que você sonhou. E, como seu irmão, quero que seja feliz, não importa o que aconteça com a nossa fortuna. — Ele finalmente olhou para ela, seus olhos cansados, mas cheios de afeto fraternal. — Não quero que se sacrifique por algo que, no final, pode não valer a pena.
As palavras de Henry tocaram Eleanor profundamente. Ela sabia que ele estava lutando tanto quanto ela para manter a família de pé, mas ouvir essas palavras de apoio a fez sentir que, de alguma forma, estava menos sozinha em sua luta interna.
— Obrigada, Henry — respondeu ela, sua voz suave. — Suas palavras significam muito para mim. Mas preciso de um pouco mais de tempo para pensar.
Henry assentiu, e, depois de um breve aperto de mão, deixou-a sozinha novamente. Eleanor continuou a olhar para os jardins, perdida em pensamentos. As palavras de seu irmão ecoavam em sua mente. Ele queria que ela fosse feliz, mas Eleanor se perguntava se a felicidade ainda era uma opção realista para alguém em sua posição.
Ao longo da manhã, Eleanor continuou a refletir, tentando encontrar uma solução que equilibrasse seus deveres com seus anseios pessoais. Sua mente voltou-se para Isabella, sua amiga de longa data e confidente. Se havia alguém com quem ela pudesse discutir a situação de forma honesta, sem medo de julgamento, era ela.
Eleanor decidiu ir até a propriedade de Lady Westfield, localizada a algumas milhas de distância, para buscar conselhos. Sabia que, mesmo que não encontrasse uma resposta definitiva, ao menos teria a chance de conversar com alguém que a compreendia e poderia oferecer uma perspectiva diferente.
A viagem até a propriedade dos Westfield foi tranquila. O caminho que atravessava as terras rurais era cercado por campos de trigo dourados e árvores frondosas que balançavam suavemente com a brisa. O cavalo de Eleanor trotava ritmicamente, e ela aproveitou aquele breve momento de paz para tentar ordenar seus pensamentos.
Quando finalmente chegou à propriedade de Isabella, foi recebida com entusiasmo. Isabella, sempre calorosa e acolhedora, a levou imediatamente para o salão principal, onde uma lareira acesa afastava o frescor da manhã. O salão, decorado com móveis elegantes e tapeçarias exuberantes, era um reflexo do gosto refinado de Isabella e de sua família.
— Eleanor, querida, é tão bom vê-la! — exclamou Isabella, abraçando-a calorosamente. — Já faz muito tempo desde nossa última conversa. Como você está?
Eleanor sorriu, embora o sorriso não tivesse a usual vivacidade. Isabella percebeu imediatamente que algo a preocupava e, sem hesitar, conduziu-a a um confortável sofá próximo à lareira.
— Algo está incomodando você, não é? — perguntou Isabella, sua voz cheia de preocupação. — Pode me contar tudo, você sabe disso.
Eleanor sentiu uma onda de alívio ao ouvir a voz reconfortante de Isabella. Era exatamente o que precisava naquele momento: alguém com quem pudesse ser completamente honesta.
— Isabella, estou enfrentando uma decisão muito difícil — começou Eleanor, suas mãos nervosamente brincando com a barra do vestido. — Sir Thomas Wycliffe me fez uma oferta de casamento por contrato. Ele ofereceu-se para salvar minha família da ruína financeira em troca de uma aliança matrimonial.
Isabella arregalou os olhos, surpresa com a revelação.
— Oh, Eleanor... Isso é sério. E o que você pensa sobre isso?
Eleanor suspirou, sentindo-se novamente esmagada pelo peso da situação.
— Eu não sei, Isabella. Parte de mim sabe que essa pode ser a única maneira de salvar os Ashford. Mas outra parte de mim... — Ela hesitou, tentando encontrar as palavras certas. — Outra parte de mim se pergunta se estou disposta a sacrificar minha própria felicidade por isso. Um casamento sem amor, sem afeto... Eu sempre sonhei com algo diferente.
Isabella pegou a mão de Eleanor, apertando-a suavemente em um gesto de apoio.
— Eu entendo, querida. Mas também sei que, às vezes, os sonhos precisam se adaptar à realidade. Se você aceitar esse compromisso, poderá salvar sua família, garantir o futuro dos Ashford. Mas, ao mesmo tempo, entendo o que você está sentindo. Ninguém deveria ter que se casar sem amor.
Eleanor sentiu as lágrimas se acumularem em seus olhos, mas lutou para mantê-las sob controle.
— Isabella, estou com tanto medo de tomar a decisão errada. E se eu aceitar e acabar infeliz? E se isso destruir o pouco que resta da minha esperança?
Isabella olhou para ela com seriedade, mas também com carinho.
— Eleanor, não há garantias em nenhuma escolha que você faça. Mas uma coisa é certa: seja qual for a sua decisão, você é uma mulher forte e corajosa. Se escolher casar-se com Sir Thomas, tenho certeza de que encontrará uma maneira de fazer isso funcionar. E se decidir recusar, você ainda terá o apoio de quem ama você, como seu irmão e eu. O importante é que você faça a escolha que sente ser a certa para você.
As palavras de Isabella trouxeram um pouco de clareza para a mente de Eleanor. Ela sabia que a decisão ainda seria difícil, mas sentia-se um pouco mais confiante de que, qualquer que fosse sua escolha, teria o apoio de sua amiga e de seu irmão.
— Obrigada, Isabella. Sua amizade significa muito para mim — disse Eleanor, sentindo-se grata por ter alguém tão compreensivo ao seu lado.
— Sempre estarei aqui para você, Eleanor — respondeu Isabella, com um sorriso encorajador. — E lembre-se, não importa o que aconteça, você não está sozinha.
Eleanor passou o resto da tarde conversando com Isabella, discutindo suas preocupações e ouvindo os conselhos sábios de sua amiga. Elas falaram sobre o passado, riram de memórias compartilhadas e até mesmo planejaram o futuro, mesmo que de maneira incerta. Quando chegou a hora de partir, Eleanor sentiu-se um pouco mais leve, como se parte de seu fardo tivesse sido aliviado pela presença de Isabella.
Enquanto voltava para casa, Eleanor sabia que ainda tinha muito em que pensar. Mas, pela primeira vez em dias, sentiu que havia uma luz no fim do túnel. Ela ainda precisava tomar uma decisão, mas agora sabia que não precisava carregar esse peso sozinha. Tinha o apoio de Henry e de Isabella, e isso fazia toda a diferença.
Ao chegar à Mansão Ashford, o sol já estava se pondo, lançando um brilho dourado sobre a propriedade. Eleanor desceu do cavalo e olhou para a mansão, sentindo um novo senso de determinação crescer dentro de si. Sabia que a decisão não poderia ser adiada por muito mais tempo, mas agora sentia-se mais preparada para enfrentá-la.
Entrou na mansão, onde Martha a aguardava com um sorriso caloroso e uma refeição leve. Eleanor agradeceu, sentando-se à mesa da sala de jantar, que parecia grande demais para uma única pessoa. Enquanto comia em silêncio, seus pensamentos continuavam a girar em torno do oferecimento de Sir Thomas.
Mas agora, havia algo diferente. Eleanor não se sentia mais tão presa, tão desesperada. Sabia que a decisão que tomaria em breve mudaria sua vida para sempre, mas também sabia que tinha a força e o apoio necessários para enfrentá-la, qualquer que fosse o resultado.
Naquela noite, enquanto se preparava para dormir, Eleanor olhou para o espelho e viu seu próprio reflexo. Havia uma determinação em seus olhos que antes não estava lá. Ela não sabia exatamente o que o futuro reservava, mas sabia que estava pronta para enfrentá-lo. E, com isso em mente, deitou-se na cama, permitindo-se finalmente adormecer com a certeza de que, qualquer que fosse sua escolha, ela estaria em paz consigo mesma.
E assim, com a mente e o coração mais tranquilos do que estiveram nos últimos dias, Eleanor Ashford adormeceu, sabendo que o amanhecer traria a resposta que tanto buscava.
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