Gabrielly sempre acreditou que suas decisões moldavam seu futuro, mas, em momentos como aquele, era difícil ver o caminho à frente. Enquanto o sol da manhã filtrava-se através das cortinas brancas da sala, ela estava sentada à mesa da cozinha, uma xícara de café esfriando em suas mãos. A tela do celular piscava com uma notificação que mudaria sua vida: uma oferta de emprego em uma empresa que sempre admirou. Mas, em vez de excitação, o que sentia era uma avalanche de memórias que a prendiam ao passado.
Desde a infância, Gabrielly sempre foi a aluna dedicada, a filha que nunca deu trabalho. Cresceu em um bairro simples, onde a rotina era marcada pela segurança e previsibilidade. Sua mãe, uma professora de escola pública, sempre a incentivou a buscar conhecimento e a acreditar em seus sonhos, enquanto seu pai, um mecânico, trabalhava longas horas para garantir que a família tivesse o que precisava. Embora tivessem pouco, havia amor e estabilidade em casa.
As aulas de sua mãe eram mais do que apenas ensino; eram lições de vida. Gabrielly recordava-se de sentar na mesa da cozinha, ouvindo sua mãe contar histórias sobre os desafios que enfrentou para se formar. Ela sempre dizia: “Gabrielly, o conhecimento é a chave para abrir portas. Nunca tenha medo de sonhar grande.” Essas palavras a seguiram ao longo da vida, mas agora, enquanto olhava para a oferta de emprego, questionava se realmente estava disposta a abrir uma nova porta.
O telefone vibrou, interrompendo seus pensamentos. Era uma mensagem de Larissa, sua melhor amiga desde a infância. “E aí? Já decidiu? Estou torcendo por você!” Larissa sempre foi a mais ousada entre elas, a que se jogava em novas aventuras sem pensar duas vezes. Gabrielly admirava essa coragem, mas sempre hesitou em segui-la. Lembrava-se da vez em que Larissa a convenceu a se inscrever em um programa de intercâmbio. Gabrielly quase desistiu, apavorada com a ideia de viajar sozinha, mas acabou se surpreendendo com a experiência. Foi uma das melhores decisões que já tomou, mas a lembrança do medo que sentiu ainda a assombrava.
Seus pensamentos se voltaram para os anos da faculdade, onde seu amor pela comunicação floresceu. Ali, ela aprendeu a contar histórias, a criar conexões e a expressar suas ideias. Mas também se lembrou da pressão constante para ter sucesso, da competição com os colegas e da dúvida que a acompanhava. Mesmo após se formar e conseguir um emprego estável, ainda sentia a sombra do medo de falhar.
Com um suspiro profundo, Gabrielly afastou os pensamentos negativos. A oportunidade que tinha em mãos era única. A empresa era respeitada, e o cargo prometia crescimento e desafios. Ela se lembrou das noites em que sonhou em trabalhar em um lugar assim, mas agora, de repente, tudo parecia real demais. A ideia de deixar para trás a segurança do seu emprego atual e os colegas que se tornaram amigos a deixava ansiosa.
Ela colocou o celular de lado e pegou um caderno e uma caneta. Havia algo terapêutico em colocar seus pensamentos em palavras. Com a caneta na mão, começou a escrever:
O que eu tenho a perder?
Segurança no emprego atual
Amigos e colegas
Minha rotina confortável
O que eu poderia ganhar?
Experiência em uma nova área
Crescimento pessoal e profissional
Oportunidades que ainda não consigo imaginar
Enquanto escrevia, um novo sentimento começou a se formar dentro dela: uma mistura de medo e excitação. Seria possível que essa mudança pudesse levá-la a um lugar que ela nunca imaginou? Um lugar onde poderia ser mais do que a pessoa que sempre foi?
Com o caderno à frente, Gabrielly sentiu que o tempo estava correndo. Precisava tomar uma decisão, e logo. Era hora de encarar não apenas o que estava em jogo, mas quem ela realmente era.
Decidiria pelo conforto ou se arriscaria pelo desconhecido?
Gabrielly olhava fixamente para a tela do computador. A página de inscrição para o curso de modelagem estava aberta, e o cursor piscava incessantemente, como se implorasse por sua ação. Ela deveria estar entusiasmada com a oportunidade, mas, em vez disso, sentia o conhecido nó no estômago. Seus dedos pairavam sobre o teclado, trêmulos, incapazes de completar o que parecia ser uma tarefa simples.
A mensagem de Larissa ainda estava ali, no celular ao seu lado: “Estou torcendo por você!” Sua amiga de longa data, sempre otimista e destemida, acreditava que Gabrielly tinha tudo o que era preciso para encarar aquele novo desafio. “Se ao menos eu tivesse metade dessa confiança”, pensou. No entanto, Larissa não sabia da batalha interna que Gabrielly enfrentava. Cada decisão parecia um mergulho no desconhecido, com a sombra do fracasso sempre à espreita.
O apartamento ao seu redor estava imerso em silêncio. As paredes, cobertas por fotografias que ela mesma havia tirado ao longo dos anos, refletiam a sua antiga paixão por capturar histórias através de imagens. Havia uma foto em particular que sempre chamava sua atenção — uma de suas férias com Larissa na praia, sorrindo com a brisa bagunçando seus cabelos, livres de preocupações. Era difícil acreditar que aquele brilho nos olhos havia desaparecido, substituído por uma expressão de constante apreensão.
Ela olhou de volta para o computador. O formulário de inscrição estava lá, pronto para ser preenchido, mas a insegurança a prendia como correntes invisíveis. Fazia semanas que ela sabia do curso, e desde o início, sentiu aquela mistura de excitação e medo. A modelagem era uma paixão antiga, mas sempre abafada pela praticidade da vida. Cursar comunicação parecia a escolha sensata na época, algo que garantiria estabilidade, mas, no fundo, nunca foi o que realmente desejava.
“E se não der certo?” — a pergunta ecoava em sua mente repetidamente. Já havia falhado antes, e a dor da decepção ainda era viva. Desde os tempos da faculdade, ela lutava contra o medo de não ser boa o suficiente. Cada conquista parecia vir acompanhada de uma dúvida: "Será que eu mereço isso?"
Ela se levantou da cadeira e foi até a janela. Do outro lado do vidro, as luzes da cidade começavam a acender enquanto o sol se punha no horizonte, tingindo o céu de laranja e púrpura. Era uma cena que sempre a acalmava, lembrando-a de que, apesar de seus medos, o mundo continuava em movimento. Lá fora, as pessoas corriam para pegar seus ônibus, riam em cafés ou voltavam do trabalho, imersas em suas próprias histórias. Gabrielly sabia que também tinha uma história a viver, mas cabia a ela decidir qual seria o próximo capítulo.
Voltou à mesa e pegou o celular mais uma vez, lendo de novo a mensagem de Larissa: "Estou torcendo por você!"
De repente, ela lembrou-se de uma conversa antiga com Larissa, no último ano da faculdade, sobre seguir seus verdadeiros sonhos. Naquela época, Gabrielly confessou seu desejo secreto de trabalhar com moda e modelagem, mas nunca teve coragem de dar esse passo. Larissa, como sempre, a incentivou: "Você não tem nada a perder, Gabi! A vida é curta demais para não ir atrás daquilo que faz o coração bater mais forte."
Ela suspirou profundamente. Quantas oportunidades havia deixado passar por medo? Quantas vezes escolheu o caminho seguro, apenas para se sentir incompleta no final? O emprego atual, embora estável, não preenchia o vazio que crescia dentro dela. Cada dia parecia um repeteco do anterior, e a sensação de estar desperdiçando seu potencial a atormentava.
Mas agora, havia uma nova porta se abrindo, uma chance de se reinventar. A empresa onde trabalhava poderia ser respeitada, e o emprego, confortável, mas o que Gabrielly realmente queria era mais do que isso. Ela desejava algo que a desafiasse, que a fizesse sentir viva novamente, assim como se sentia ao capturar momentos únicos com sua câmera.
Com o coração acelerado, ela voltou a sentar-se. Seus dedos finalmente tocaram o teclado, e lentamente começou a preencher o formulário. Nome, sobrenome, e-mail, telefone... Cada campo preenchido era como um passo a mais em direção ao desconhecido. Quando chegou ao final, seu dedo pairou sobre o botão “enviar”. A mente rodava, questionando se era o momento certo, se ela estava realmente pronta.
Mas então, como um sussurro suave, uma voz interior falou: "Você nunca estará pronta se não tentar."
Sem pensar mais, clicou em "enviar".
O som de confirmação do envio ecoou no silêncio do quarto, e, de repente, Gabrielly sentiu um alívio indescritível. Era como se um peso invisível tivesse sido retirado de seus ombros. Ela sabia que a jornada estava apenas começando, que o caminho seria cheio de desafios, inseguranças e momentos de incerteza. Mas, pela primeira vez em muito tempo, ela sentia-se dona de sua própria história.
Gabrielly sorriu. Tinha tomado a decisão. Agora, tudo estava nas mãos do destino, e, independentemente do que viesse a seguir, ela sabia que o primeiro passo havia sido dado.
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A Pior Decisão Já Tomada por Mim
Era uma manhã de primavera, e a cidade estava repleta de vida. As flores estavam começando a desabrochar, e o sol brilhava com uma intensidade que parecia prometer novas possibilidades. Eu estava em um momento de transição, enfrentando uma decisão que mudaria o rumo da minha vida. O telefone tocou, e uma voz entusiasmada do outro lado da linha me fez estremecer: eu havia sido convidada para uma entrevista como modelo em uma renomada agência.
A proposta era tentadora. Sempre sonhei em ser modelo, mas nunca tive coragem de seguir esse caminho. A insegurança e o medo do julgamento sempre me impediam. No entanto, naquele momento, algo dentro de mim pulsava. Depois de muito refletir, decidi recusar a oferta. "É melhor ficar com o que conheço", pensei. A rotina, embora entediante, era uma zona de conforto que me parecia mais segura do que o desconhecido.
Os dias se transformaram em semanas, e a decisão de recusar a oportunidade começou a me atormentar. A ideia de ter deixado passar uma chance que poderia ter mudado minha vida me consumia. A dúvida se tornou um peso em meus ombros, e eu me perguntava se havia cometido um erro colossal. As conversas com amigos só pioravam minha angústia, com todos eles dizendo o quanto eu deveria ter aceitado.
Finalmente, a pressão se tornou insuportável. O desejo de experimentar aquela vida nova, de brilhar sob as luzes e desfilar nas passarelas, tornou-se uma obsessão. Com o coração acelerado, liguei para a agência, e, para minha surpresa, ainda havia uma chance de marcar uma entrevista. Aceitei, mas o nervosismo me acompanhava como uma sombra.
Na manhã da entrevista, enquanto me preparava, uma lembrança inesperada surgiu em minha mente: meu ex-namorado, que sempre acreditou em mim e em meu potencial. Ele havia sido meu apoio nos momentos mais difíceis, mas nós terminamos em um turbilhão de emoções. Mesmo assim, a ideia de ligar para ele surgiu como um impulso. “Ele vai me ajudar a me sentir mais confiante”, pensei.
Ao chegar ao local da entrevista, eu ainda estava me sentindo nervosa, e, em um ato impulsivo, enviei uma mensagem para ele pedindo que me encontrasse. Para minha surpresa, ele aceitou. Quando ele chegou, eu estava vestida com um vestido simples, mas elegante. Ele me olhou com aquele olhar que sempre me fez sentir especial, e, por um momento, a insegurança que me consumia se dissipou.
Conversamos sobre o que eu estava prestes a fazer, e ele me encorajou a seguir em frente. “Você é linda e talentosa. Não tenha medo de brilhar”, disse ele, e essas palavras me tocaram profundamente. Mas, enquanto ele falava, a lembrança do nosso passado começou a se sobrepor aos meus pensamentos. A mistura de sentimentos – saudade, amor, e insegurança – fez com que eu hesitasse.
Quando entrei na sala da entrevista, a tensão era palpável. O painel de jurados me olhava com expectativa, e a pressão era esmagadora. Eu tinha tudo para triunfar, mas, ao invés disso, fui consumida pela dúvida e pela imagem do meu ex me apoiando. Senti que precisava provar não apenas a eles, mas também a mim mesma que eu era digna daquela oportunidade. Mas a insegurança começou a tomar conta. O nervosismo se transformou em um bloqueio, e as palavras que eu ensaiara em minha mente desapareceram.
A entrevista foi um desastre. O que poderia ter sido uma chance de brilhar se transformou em um pesadelo. Eu gaguejei, não consegui articular minhas ideias e, ao final, saí da sala com a certeza de que havia estragado tudo. Quando saí do prédio, o peso da decepção me atingiu como uma onda. Eu havia tido uma segunda chance, mas minha própria insegurança me impediu de aproveitar. O que poderia ter sido um novo começo se tornou a confirmação do meu medo de falhar.
Após o episódio, percebi que havia perdido não apenas a oportunidade de ser modelo, mas também uma parte de mim mesma. O que deveria ter sido um momento de autodescoberta se tornou uma fonte de arrependimento. O encontro com meu ex, que eu esperava que fosse reconfortante, só trouxe à tona a fragilidade de quem eu havia me tornado. Ao invés de me apoiar, sua presença destacou minhas inseguranças, e a ideia de ter deixado essa oportunidade escapar ficou gravada na minha mente como a pior decisão que já tomei.
Os dias seguintes foram um turbilhão de emoções. A vida seguiu seu curso, mas a dor do arrependimento ficou. Aprendi da maneira mais difícil que, às vezes, as decisões mais importantes são aquelas que tomamos em momentos de dúvida. Minha recusa inicial, em busca de segurança, e a falta de confiança em mim mesma se tornaram um fardo que eu carregaria por muito tempo.
A experiência me ensinou que é essencial abraçar o desconhecido, mesmo que o medo grite mais alto. E, acima de tudo, que eu precisava aprender a confiar em mim mesma e a valorizar as oportunidades que a vida me oferece, pois, às vezes, as maiores realizações nascem de momentos em que temos coragem de enfrentar nossos medos e brilhar em nossa própria luz.
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