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Vendida!

O leilão

Eu estou nervosa, com medo e tento avaliar tudo que há na minha volta. Mas o lugar é escuro. Queria correr, mas há uma corrente presa no meu tornozelo esquerdo e fixada ao chão. Estou presa e apenas de “lingerie”.

Ao meu lado esquerdo um "carrasco" um homem negro com máscara que cobre o seu rosto, segura uma vara que dá choque na ponta. Como eu sei?

Descobri dá pior maneira, quando dei um chute no seu saco e tentei correr.

Do meu lado direito havia outras garotas, mas o local era pouco iluminado mal conseguia ver. Eu estou a procura de minhas amigas que foram sequestradas junto comigo.

A minha frente uma cortina vermelha que vai do teto ao chão. E do outro lado, deve haver algumas pessoas. Pois, eu posso ouvir o burburinho das pessoas sussurrando.

Eu queria correr, mas estou presa, queria gritar, mas dá última vez fui amordaçada e dopada...me forçando a dormir.

A garota ao meu lado começa a chorar.

Uma mulher também negra e muito elegante aparece, mascarada. Aliás, até o momento não vi o rosto de ninguém. Exceto algumas garotas que estavam ali comigo, pelo menos aquelas que os meus olhos alcançavam.

- Querida pare de chorar...vai borrar a sua maquiagem. E assim vamos lucrar menos! Ela diz gentilmente e acaricia o rosto da garota. Uma loira, de cabelos longos e que parecia ser americana. Pois ela falava em inglês.

- Help! (Socorro)

- Help me! (Me ajudem)

- Let me go, my father is rich and can pay whatever you want. Let me call him. (Me solte, meu pai é rico e pode pagar o quanto desejar. Me deixe ligar para ele).

- Shut up. (Cale a boca!) Ela diz com grosseria. E com um taser (aparelho de choque pequeno) dá um choque na garota que cai desmaiada no chão.

- Levem ela! E tragam outra. Ela grita.

E mais dois homens máscarados trazem outra garota. Que por coincidência também é loira, só que mais magra que a anterior.

Ela começa a chorar.

- Shiiuuu!! Eu faço levando o dedo a boca, mostrando que ela precisa parar. Ela compreende, soluça algumas vezes, mas se mantém firme.

O silêncio imperá, até do outro lado da cortina escura.

- Bem-vindos caros amigos. Vamos começar o nosso leilão. Um homem diz ao microfone.

As luzes onde estamos acendem, e por alguns segundos ofuscam a vista. Mas logo consigo ver com clareza e percebo que todas as mulheres são brancas.

As cortinas a nossa frente se abrem e estamos em um enorme teatro. As cadeiras e as varandas vip estavam lotada de pessoas todos máscarados como naqueles grandes bailes de máscaras. Todos bem vestidos! Eram ricos e com muito dinheiro. Eu podia ver as joias que eles faziam questão de ostentar. Anéis, colares e relógios que brilhavam mesmo a distância.

Olhando com um olhar analitico percebo que a maioria das pessoas eram negras. O que fazia contraste comigo e as outras garotas no palco.

O homem que estava falando estava ao lado do palco, posicionado de lado em um pequeno púlpito com uma pasta.

- Vamos começar os lances. Nossa primeira mercadoria. Uma belissima americana, 22 anos, em idade reprodutiva com os dois ovários e útero preservados. Inclusive está menstruada.

Quando ele disse isso nós olhamos umas para as outras, buscando uma resposta. Mas ninguém tinha uma resposta para essa loucura.

Eu estou de férias da universidade e ganhei uma viagem em um concurso, como podia levar três acompanhantes convidei as minhas duas amigas. E então viemos conhecer o Egito. Me lembro que nos hospedamos em uma casinha que foi reservada no Airbnb.

Me lembro que deitamos para dormir e...por algum motivo não me recordo de mais nada. Apenas de ser retirada de uma Van como um animal e agora estou aqui sendo vendida. E nem faço ideia de que lugar é esse.

O leilão continua...

- Lances iniciais de 50 mil euros.

- 50 mil...50 mil para o número 20. Um homem levantou a plaquinha.

- Quem dá mais...60 mil?

- 60 mil para o número 98.

E o leilão continua.

- 120 mil...quem dá mais? Dole uma? Quem dá mais? Dole duas? Quem dá mais dole três?

Ninguém mais ofereceu lance.

- Vendida! Para o número 20 por 120 mil euros.

- Vamos a próxima mercadoria.

Quando olho a mulher aparece dá um choque na garota. Ela desmaia, eles a levam. Eu começo a ficar desesperada. Procuro alguma forma de fuga. Analiso o lugar, se ah saídas, ou algo do tipo...

Olho para trás de mim, há uma bandeira. Com três listras...uma verde, no meio branco e outra verde todas na vertical.

Que País é esse? Anda...pense Amélia...você sabe...

Minha cabeça ferve, quero saber onde eu estou...

- Nigéria - África Ocidental. É isso! Por isso tanto negros. Falo pensando alto.

O carrasco me olha, eu fecho a boca.

Mas por que estou aqui? Está claro que fui sequestrada...traficada...sei lá qual o melhor termo, sendo que todos são ruins.

O que eles querem? O que irão fazer comigo? Tento lembrar das aulas que eu tive...o que eu sei sobre a Nigéria...

- Tráfico humano para exploração sexual! Digo pensando alto novamente. O carrasco chega a dar uma passo na minha direção, mas eu fecho a boca outra vez e ele para.

Me perco em meus pensamentos que me desligo do leilão. E quando me dou conta eu era a próxima. Só tinha eu e mais a garota a qual estavam dando os lances.

- Vendida! Por 89 mil euros.

- Agora vamos a cereja do bolo. Essa linda brasileira. Que espetáculo!

Meu coração dispara, estou com medo, quero gritar, chorar, mas tenho medo do que possam fazer.

- Linda! 22 anos, em idade reprodutiva, com os dois ovários e útero preservados.

Eu queria mesmo saber como eles sabem e por que isso está sendo dito.

- Seios médios! Ideal para amamentar, quadril de parideira. Dizem que brasileiras são fogosas. O comprador sairá satisfeito. Ele diz e as pessoas ficam animadas e agitadas. Eu queria mandar todo mundo para o inferno. Eu me sentia como naqueles leilões de gado.

Meu coração parecia que ia sair bela boca. Eu tinha a sensação que iria desmaiar a qualquer momento de tanto medo e estresse.

- Lance inicial de 150 mil euros.

O público ficou ainda mais agitado. Por que tudo isso? As outras garotas não foram assim.

- 150 mil para o número 10. Era um homem baixo, de pele mais clara que estava em pé ao fundo da platéia.

- 160 mil? Quem dá 160 mil?

- 160 mil para o número 55. Um homem gordo na plateia. Eu podia ver o corpo, o porte físico, mas não o rosto.

- Vamos subir 170 mil?

- 170 mil para o número 23. Um homem bem magro.

- O que é isso? Vamos tirar o escorpião do bolso. Essa joia rara, vale muito mais.

- Quem dá 180 mil?

- 220 mil! O homem no fundo grita.

- Muito bem cavalheiro. 220 mil para o cavalheiro de número 10.

- Alguém dá mais?

- 250 mil! Grita o gordo da plateia.

- Eu disse cavalheiros e damas que era a cereja do bolo. Eu deixei o melhor para o final. Essa lindíssima e atraente brasileira. Repito brasileira, é virgem! Com laudo médico atestando a existência de hímen.

- Oi!! Eu digo.

Como ele sabe, e quem me examinou e quando? Meu Deus! O que fizeram comigo? Por isso falou do ovário e útero. O desespero bate e eu começo a chorar.

A plateia vibra com a notícia, as pessoas cochicham.

- Vamos essa belezinha vale muito. Virgem! 22 aninhos. Quem dá mais?

- 380 mil euros! Grita um homem que está na varanda vip.

Eu começo a chorar ainda mais, tento soltar a corrente.

- Aaahhhhh!! Eu começo a gritar.

- Alguém dá mais? Ele pergunta.

- Mais alguém?

- VENDIDA! Por 380 mil euro para o cavalheiro de número 80.

- Quero agradecer a participação de todos...

A moça aparece.

- Não me dá choque! Isso doí. Eu acompanho vocês. Eu juro vou ficar quieta. Eu digo.

A mulher me olha com seriedade, mas duvidando.

- Eu prometo! Eu digo.

- Soltem a garota. Ela diz.

Quando ela diz um dos homens solta o meu tornozelo. Eu faço que vou acompanha - los. Mas manco com o pé que estava preso. Como se estivesse machucado e não pudesse andar.

- Você está bem? A mulher pergunta.

- Não! Eu digo com a voz baixa e me abaixo tocando o tornozelo.

- Me deixe ver! Quando ela se abaixa. Eu dou uma joelhada no seu rosto. Ela cai. Eu corro, pulo do palco, e corro pelo corredor entre a plateia.

- Peguem! Não deixem ela escapar. Grita o apresentador.

- Os seguranças correm atrás de mim.

Eu passo pela porta. Vejo a placa de saída. Corro pela direita. E vejo a porta aberta, a luz do sol invadindo o lugar. Liberdade! Estou livre...

Prisioneira

Estou a centímetros da porta. Quando de repente o meu dono. O cara da varanda aparece na minha frente, parecia uma parede de tão grande e forte que ele é. Mais do que eu achava ter percebido.

- Você é minha! Ele diz com a sua voz grave e bem masculina.

Eu corria tanto que não consegui parar e bati contra o seu corpo, que nem balançou.

Logo sinto a vara na minha costela me dando um choque que me imobiliza e me faz cair ao chão.

- Vocês são incompetentes. Quase perdem o meu prêmio. Paguei muito por ela. Ele diz para a mulher que estava com o seu nariz sangrando. Ele me pega no colo, coloca um pano molhado em meu nariz, sinto um cheiro de remédio e desmaio.

Acordo, estou numa espécie de quarto luxuoso.

O espaço é vasto, dominado por uma grande cama com dossel de madeira esculpida à mão, possivelmente feita de mogno ou outra madeira nobre. Cortinas feitas de tecido seda dourado que envolve a cama representam realeza e riqueza. As colchas e travesseiros são bordados com padrões geométricos com fios que pareciam ouro e com contas na barra.

As paredes são adornadas com obras de arte, máscaras de madeira esculpidas, pinturas que retratam a história e os feitos que acredito ser dos ancestrais, e tecidos tingidos de forma intrincada, pendurados emoldurados.

Eu me sento na beira da cama. O piso coberto com tapete de lã, coloco o meu pé e vejo como é macio. Todo adornado com motivos tribais.

O mobiliário é elaborado, feito de madeira escura esculpida, com detalhes em marfim, incluindo uma mesa baixa, poltronas estofadas com tecidos tradicionais e um armário. Num dos cantos a algo que me lembra um trono elevado, ricamente decorado, onde o maluco que se sente Rei pode sentar-se quando necessário.

Me sinto tonta, tudo começa a rodar, uma ânsia de vômito. Eu me deito novamente.

Ao lado da cama uma cumbuca com água. Eu me sento novamente e bebo um pouco da água. Eu ainda estou vestindo a lingerie e nada mais.

A porta do quarto se abre e uma mulher entra.

- Olá! Srta. Como se sente?

Queria socar aquela mulher sonsa. Como eu me sinto? Eu fui sequestrada, vendida, agredida, violentada ao ter os meus genitais examinados sabe se lá por quem e como. E essa mulher vem me perguntar como estou?

Estou puta querendo matar todo mundo. Como ela esperava que eu me sentisse.

Eu olho séria para ela e fico calada.

- Srta? Está me ouvindo? Fala o meu idioma? Ela pergunta quase soletrando.

- Sim! Eu respondo.

- Ah que bom! Como se sente?

- Poderia chamar o seu patrão? O seu chefe? Sei lá quem seja ele...o maluco que me comprou. Eu digo.

- A Srta irá conhecer o Sr. Umar na cerimônia. Ela diz sorrindo.

Juro! Eu queria socar ela, até ela parar de sorrir e ser gentil.

- Que cerimônia? Eu pergunto.

- De casamento. Ela diz.

- Ha Ha Ha! Eu começo a gargalhar. Não consigo me conter.

- Desculpe Srta. Não entendi a risada? Ela diz e eu começo a rir ainda mais. Ao ponto de chorar de rir e a minha barriga doer.

- Ai! Ai! Casamentoooo... o seu patrão é louco. Na verdade, todos vocês são loucos. Eu digo, mas a última parte sai com seriedade.

- Eu não estou nem aí, para o que pensam que vai acontecer. Mas não vou me casar com ninguém. E manda o seu patrão ser homem e vir falar comigo.

- Srta eu já lhe expliquei que o Sr. Umar só virá...

"Pah"

Eu perco a paciência e dou um tapa na cara dela. Ela abaixa a cabeça e volta a dizer.

- Como eu estava dizendo...ela diz e olha novamente para mim sorrindo.

- A Srta conhecerá o Sr. Umar na cerimônia de...

- Você está brincando né?

- Eu já disse que não vou me casar com ninguém! Que maldição. Eu grito.

- Srta eu vim para garantir que a Srta está bem e que a cerimônia poderá acontecer como programado. Estou encarregada de ajuda - la nessa preparação.

- Isso só pode ser uma pegadinha? Cadê a camera? Eu já entendi, beleza acabou, posso ir para casa. Eu digo olhando em volta.

- Srta quando mais cedo compreender e aceitar, mais fácil será para todos.

- Ha Ha Ha! Aceitar?

- Vai para o inferno. Não vou aceitar nada.

- Srta por favor não use essas palavras aqui. O Sr...

"Pah"

Eu lhe dou outro tapa.

- Cala a sua maldita boca! Ou eu juro que vou arrancar todos os seus dentes na porrada. Eu digo com raiva.

- Srta eu compreendo a sua situação, e eu não sou responsável pelo que lhe aconteceu. Eu apenas sigo ordens!

- E nada...nada do que a Srta possa me fazer, chegará nem perto do que vou sofrer se descumprir uma ordem. Então pode me bater o quanto quiser. Ela diz com a voz presa a garganta.

O meu coração se aperta e percebo que essa pobre mulher é tão vitima quanto eu. Eu fico calada e decido ouvi - la.

Respiro fundo, pois algo em mim, dizia "lute" e outro dizia "é hora de ceder".

Então decidi ceder.

- O que você tem que fazer?

- Garantir que esteja bem e preparar você para o casamento.

- E como seria isso?

- Te explicar nossos costumes e no dia preparar todo o ritual.

Eu me afasto, me aproximo da janela e vejo uma floresta enorme ao fundo. Que lugar é esse. Estou bem alto, a casa deve ter uns dois ou três andares. Se eu fugir posso ser devorada por algum animal, quem sabe um leopardo ou crocodilo...eu vi na tv que esses animais são comum na Nigéria.

Mas o que vou fazer? A minha família deve estar preocupada. E as minhas amigas? Será que estão vivas ou também foram vendidas? O que será que aconteceu?

E essa mulher? Será que também foi vendida? Será que também é vítima de tráfico humano? Ou é uma escrava em tempos modernos?

Eu tinha milhares de perguntas e nenhuma resposta. Se eu tentar fugir posso ser devorada por leopardos, e se ficar serei devorada pelo Sr Umar. Eu não sei o que devo fazer.

As lições de Zuri

Srta? Srta? A mulher me chama.

- Está com fome? Deseja comer algo?

Eu estava faminta e preciso de energia para raciocinar direito. E até para poder fugir caso surja uma brecha. Energia é essencial.

- Sim! Estou faminta. Eu digo.

- Certo! Vou buscar algo para a Srta.

- Desculpe! Qual o seu nome? Eu pergunto.

- Zuri!

- A Srta tem alguma preferência? Ela pergunta.

Eu até poderia sugerir algo. Mas não faço ideia de quais são os pratos típicos da Nigéria.

- Não! Só peço que escolha o que for mais saboroso e claro nutritivo. Por favor!

- Pode deixar! Irei providenciar. Ela diz.

- Srta Zuri?

- Sim!

- Estou com dor de cabeça e cansada. Não sei que horas são, mas pela posição do sol parece que estamos na metade do dia. Será que posso descansar um pouco.

- Sim, claro!

Olho na minha volta e esse lugar é chique demais. Quem me comprou não parece ser um criminoso, já que deseja se casar comigo. Mas pensando bem, ninguém que compra uma mulher de tráfico humano também não é tão boa pessoa assim.

Eu me deito na cama enorme e confortável. Pouco depois ela retorna com uma bandeija e um prato digamos diferentes.

- O que é isso?

- Chama - se Eba. É uma bola de ámido de mandioca que acompanha a sopa.

- Prove! É saboroso. Ela diz.

Eu pego a colher, é um prato diferente, mas tem um cheiro bom e é bem colorido. Exceto a bola que é branca. Provo primeiro a sopa é bem gostosa, com bastante tempero. E depois a bola de amido que tem um gosto neutro.

- Para sobremesa temos banana da terra frita.

Esse prato não é diferente. Já que no Brasil comemos muita banana. Mamãe fazia banana da terra, com farofa ou com queijo coalho. E ambos são muito gostosos.

- Srta Zuri será que posso conhecer o Sr Umar.

- Não Srta. Somente no dia do casamento.

- Não se preocupe isso acontecerá em alguns dias. Ela diz.

- Com licença, vou deixar a Srta descansar.

Eu me deito novamente e acabo adormecendo. Acordo e não tenho nada para fazer. Vou até a porta, mas está trancada.

Zuri entra carregando algumas sacolas, ela retira vários tecidos e os espalha pelo piso. Roupas de cores vibrantes, bordadas com detalhes delicados em ouro e prata, se destacam contra o fundo escuro da madeira polida.

- Srta prove alguns modelos. Já que a Srta está apenas com roupas de baixo. Ela diz.

Provo algumas calças, blusas e vestidos.

- Acho que vai servir. Eu digo mostrando para ela.

- Ficou perfeito. Ela diz.

Zuri está à minha frente, ajustando um tecido longo e dourado que parece brilhar sob a luz fraca que entra pela janela. Seu olhar tranquilo me faz sentir desconfortável. Como ela pode ser tão serena em meio a tudo isso?

- Isso vai realçar sua pele, Srta Amélia. Zuri comenta com um sorriso leve, quase maternal, enquanto me oferece um pano azul profundo com detalhes prateados.

- Você será uma noiva digna da tribo.

Respiro fundo, tentando entender tudo o que está acontecendo. Eu fui vendida e esse homem misterioso. E agora...ela age como se tudo fosse normal.Tento não me deixar levar pelo pânico, mas meu estômago revira. Zuri parece ler minha mente e continua com sua voz calma.

- O casamento na cultura Yoruba é uma cerimônia sagrada, cheia de tradições e respeito. Ela se aproxima, agachando-se ao meu lado, enquanto dobra o tecido em seu colo.

- Nós, mulheres, temos nosso papel. É importante que você compreenda isso. Não apenas para o casamento, mas para sua vida daqui em diante.

- E... qual é o papel de uma mulher aqui, Zuri? — Pergunto com um tom de ironia, olhando-a nos olhos, à procura de uma resposta que talvez faça sentido.

- Uma mulher Yoruba deve ser graciosa, forte, mas sempre respeitosa com seu marido. Ela coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha, quase como se fosse minha amiga de infância.

- Devemos honrar nossos maridos, ouvi-los, cuidar da casa, da família. O respeito é tudo.

Ouvindo aquelas palavras, sinto um aperto no peito. Respeito... como posso respeitar alguém que me comprou?

- Mas o respeito... é conquistado,eu te respeito, quando sou respeitada! Minha voz sai mais dura do que eu pretendia.

- Ele... vai me respeitar também?

Zuri suspira suavemente, abaixando os olhos, e começa a dobrar um lenço que estava em suas mãos.

- Cada casamento é diferente, Amélia. Ela evita a pergunta, algo que me faz refletir quem será o meu futuro marido.

- No dia da cerimônia, você vai usar essa roupa.Ela segura o tecido dourado que havia mencionado antes.

- Este é o iro, uma das peças mais importantes. Ele será amarrado em torno de sua cintura, sobre essa saia mais longa.

Ela me oferece outro tecido, vermelho, com detalhes dourados.

- Isso aqui é o buba, a blusa. Deve ficar ajustada, cobrindo seus ombros. Sua voz tem um tom de orgulho ao falar das vestimentas, como se cada detalhe importasse.

- E este é o gele, o turbante que vai adornar sua cabeça. Ele simboliza a dignidade e o respeito que você carrega como esposa.

- Não posso simplesmente... ir embora? Pergunto, ainda presa em meus pensamentos, minha voz soando mais como um sussurro.

Zuri para por um instante, seus olhos me observando com uma mistura de pena e compreensão. Ela abre um sorriso suave, sem malícia.

- Amélia, você agora é uma Umar. Aceitar essas tradições vai tornar tudo mais fácil. Ela ajeita o gele que ainda está em suas mãos.

- No dia do casamento, sua postura será observada por todos. Mantenha a cabeça erguida, caminhe com graça e...Ela me olha profundamente.

- Nunca mostre suas emoções em público. Você precisa ser a rocha.

O que? Como assim? Ser a rocha? Como posso ser forte em meio a esse pesadelo? Tento processar suas palavras, mas tudo parece tão irreal, tão distante da minha vida anterior.

- E o... noivo? Minha voz falha ao fazer a pergunta, minha curiosidade finalmente vencendo o medo.

Zuri, que estava ocupada dobrando mais um pano, pausa por um instante. Seus olhos escuros se levantam para me encarar, mas ela não sorri dessa vez.

- Isso não é algo para se preocupar agora. Ela diz suavemente.

- O Sr. Umar se apresentará no dia do casamento, e tudo será revelado a seu tempo.

Tento protestar, tentar arrancar mais informações dela, mas sua expressão gentil e impenetrável me diz que essa conversa chegou ao fim. Ela levanta-se, segurando o gele com uma mão e estende a outra para mim, me incentivando a levantar também.

- Agora, vamos começar a praticar. Quero que você se acostume a andar com essa roupa. Ela me observa com cuidado, como se cada detalhe do meu comportamento fosse importante.

- Você tem que estar preparada. Não podemos deixar que os outros percebam as suas emoções.

Tento me levantar, mas sinto minhas pernas tremendo. Zuri sorri, me ajudando a ficar de pé. A cada movimento, a roupa parece mais pesada do que deveria ser, como se simbolizasse o fardo que estou prestes a carregar.

- Vai ficar tudo bem, Amélia. Ela diz, sua voz suave mais uma vez.

Não sei se posso confiar nela, mas até agora é a única pessoa a quem tenho contato.

No fundo só queria acordar e descobrir que tudo isso foi um enorme pesadelo.

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