Lucas chegou em casa chorando muito, ele passou por seus pais, se trancando em seu quarto e estava disposto a tirar a sua própria vida.
Os pais pediram que ele abrisse a porta, mas Lucas respondeu:
Não, eu preciso acabar com tudo isso.
Abre a porta, filho, por favor! — pediu a mãe.
Lucas respondeu não, o pai tentou arrombar a porta, mas não conseguiu. Os pais falaram quase simultaneamente:
Por favor, abra a porta.
Não, eu sou uma aberração! — disse Lucas.
Lucas toma o frasco com chumbinho e começa a engasgar e ter uma tosse seca, sentindo uma dor muito forte no peito. Os pais, escutando os espasmos, ficam desesperados.
O pai conseguiu arrombar a porta. Lucas, com a visão turva, escuta o eco da porta sendo arrombada e vê os seus pais aos prantos e Ryan se aproximando, Ryan estava chorando muito e lhe sacudindo.
Por favor, Lucas, reaja! — Ryan dizia.
A última coisa que Lucas vê é Ryan o abraçando, nisto, lágrimas escorrem de seus olhos. Narra Ryan
Vi Lucas deixando a escola no meio da aula sem explicar nada a ninguém, ele estava muito furioso e chorava muito. Resolvo seguir ele, mas a professora me interrompe e eu digo:
Cala a boca, sua desgraçada, você é uma das culpadas pelo que está acontecendo!
Matheus, a hiena, vendo o que estava acontecendo começa a debochar, eu parto para cima dele e acerto vários socos nele. Guilherme me segura e eu digo:
Me solta, Guilherme, deixa eu acertar essa hiena desgraçada!
Matheus sorri e diz:
Vai pro inferno.
Quando Bianca entra na sala e diz que Lucas quer se matar, eu deixo a sala e sigo Lucas. Eu estava indo na direção da casa dele e quando chego eu me espanto, a porta do quarto de Lucas foi arrombada e os seus pais estavam em prantos. Subo as escadas e vejo que Lucas estava agonizando e cuspindo sangue, eu desabei em lágrimas também e comecei a balançar ele, dizendo:
Por favor, Lucas, reaja!
Ele tentou me dizer alguma coisa, mas eu não entendi o que era, ele estava chorando muito e eu resolvi abraçá-lo. Narra Lucas
Senti uma dor muito forte quando o meu segredo foi revelado. A maioria dos meus amigos se afastaram de mim, o Ryan, meu melhor amigo, estava me evitando, os meus pais começavam a brigar demais e eu andava na rua sendo encarado por algumas pessoas. Matheus e os seus bullys começaram a infernizar a minha vida, já não aguentava mais tudo isso e saí no meio da aula para tirar a minha vida
Bianca, que sempre ficou do meu lado, tentou me consolar, mas eu estava decidido. Cheguei em casa e estava muito triste, chorando muito.
Eu pego o frasco de chumbinho no armário e corro para o quarto, meus pais ficam desesperados e pedem para eu abrir a porta. Resolvo tomar o chumbinho e começo a sentir uma dor muito forte no peito, começo a cuspir sangue e a ficar com a visão turva. Ouço o eco da porta sendo arrombada e vejo meus pais em prantos vindo até mim, minha mãe gritava e perguntava:
FILHO, NÃO! O que você fez?
Reparo Ryan aos prantos se aproximando de mim, me sacudindo e dizendo para eu reagir. E eu digo:
Eu te amo, Ryan.
Ele me abraça e eu sinto meu corpo esfriando, meus sentidos e minhas memórias se apagando.
Lucas é um jovem lobo que está passando por maus bocados em sua vida, as descobertas da puberdade, a vida amorosa, os amores não correspondidos. Mas cada coisa que fazem a ele, deixa de ser um aprendizado.
Lucas sofre de depressão há anos e isso o afeta de forma muito negativa para sua vida pessoal, social e familiar.
Lucas era forte, mesmo com a depressão em um estado crítico. Ele insistia em lutar, persistindo em manter a esperança por seus amigos. Ele queria viver.
Presente:
Lucas acordou cedo pela manhã, mais cedo até que seu despertador. Levantou-se com um pouco de preguiça, mas não se deixou levar por ela, queria estar acordado e fora de casa o mais rápido possível.
Tomou um rápido banho e vestiu sua cueca favorita, uma vermelha com a parte da virilha pintada de preta, uma calça de moletom para o frio e uma camisa de algum desenho que ele acha interessante. Depois, escovou seus dentes e suas presas e por último, deu aquele verdadeiro “trato” no pelo, pois estava bem bagunçado e cheio de nós.
Bom dia, Lucas! — disse sua mãe o abraçando com força, fazendo ele se sentir meio aconchegado em meio ao abraço, era reconfortante a sensação dele.
Bom dia, mãe — responde baixo, apenas sentindo o calor do abraço.
Dormiu bem? — o lobo respondeu que sim e beijou a bochecha de sua mãe.
Tome o café da manhã, a primeira refeição é sempre a mais importante. Se quiser, pode comer a rosca inteirinha! — a rosca é quase um pão, mas geralmente vem com uma cobertura muito gostosa, a preferida de Lucas é chocolate.
Obrigado mãe, bom dia pra você e dá bom dia pro papai por mim — o lobo sorriu de leve e começou a tomar seu café, uma mesa farta cheia de frutas, um sanduíche, pães e algumas coisas mais doces.
O lobo começou a comer a rosca com um pouco de café com leite e também com um pouco de manteiga para ficar ainda mais gostoso.
A loba se sentou na mesa e começou a tomar seu café da manhã, mas em silêncio, enquanto o Lucas perguntava coisas cotidianas do tipo “tá tudo bem?” e a loba sempre respondia que sim e o assegurava que tudo estava bem. Hoje o dia realmente era diferente.
Geralmente… quando acordo… vocês estão brigando... mas hoje foi diferente.
Eu tentei conversar com seu pai para… melhorar seu dia, já que talvez… você não se sinta à vontade com isso.
Sim… eu não me sinto.
A cozinha ficou em silêncio e a loba terminou de tomar seu café e foi para a pia lavar a louça. O lobo comeu um pouco mais e terminando seu café, foi escovar os dentes novamente.
Tchau, Lucas — disse a mãe do lobo.
Tchau, filhão! Vê se traz uma garota pra casa dessa vez! — disse o lobo rindo ainda relaxado no sofá, aquilo incomodava profundamente Lucas
O lobo saiu de casa com as orelhas baixas, colocou seu capuz e botou uma música para ouvir enquanto caminhava. A escola era um pouco longe, mas o lobo preferia ir sempre caminhando
No caminho ele se encontrou com Ryan, o guaxinim estava alegre, e Lucas se alegrou pelo simples fato de seu amigo estar ali, esquentando seu coração com um sentimento que talvez nunca seria revelado.
Os dois perceberam que o colégio estava próximo e então correram para chegar cedo e poderem se sentar em seus lugares privilegiados, possuindo uma boa visão da lousa.
O guaxinim se sentava de forma mais relaxada na mesa, por ser mais atlético que Lucas, o guaxinim se comportava diferente do lobo, que era mais certinho e guardava seus materiais de forma mais organizada, além de roupas mais comuns, enquanto Ryan se vestia de forma mais descolada.
Logo chegou naquela sala o aluno problemático, Matheus, a hiena não era um aluno fácil de se aturar. Mas ele tinha sempre um tempo para arruinar o dia de Lucas, mesmo sabendo que Lucas era diagnosticado com depressão.
Eae, Luquinhas — sorriu Matheus, o mesmo se sentou ao lado de Lucas e ficou olhando para o lobo. Matheus nutria por Lucas sentimentos intensos, um misto de amor e ódio e ele ao mesmo tempo, machucava Lucas e queria estar perto dele.
Deixa ele em paz, Matheus — rosnou o guaxinim já irritado, o mesmo já havia sentido que Lucas havia tido uma mudança em seu comportamento.
Por quê? Só estamos brincando… não é, depressivo? — disse Matheus, provocando Lucas.
Não estamos brincando — disse Lucas em um tom audível — Eu só vim aqui para estudar, me deixa em paz.
Calma, moleque! — riu Matheus e o guaxinim tentou intervir, mas outras duas hienas o seguraram. A professora ainda não havia chegado e isso era o maior dos problemas.
Vamos ver o que ele trouxe hoje — disse Matheus, olhando o que tinha na mochila. Lucas logo lembrou que seu diário estava ali.
Tira suas patas da minha mochila! — gritou o lobo e tentou pegar a mochila das mãos da hiena, mas a hiena foi mais rápida e puxou a mochila de volta. Ele deu um abraço ao redor do pescoço de Lucas e esfregou as patas na sua cabeça, deixando seu pelo todo bagunçado, tentando se safar, Lucas deixou cair o diário.
— Esse é o seu... diário? — pegou o caderno que tinha um cadeado — José... quebra isso — deu ao gato que destrancou o cadeado com facilidade — Que ótimo… — disse Matheus com um sorriso de satisfação.
Lucas foi agarrado por trás igual ao guaxinim. Os outros alunos da sala nem sequer se moveram, ninguém queria confrontar a hiena e sua mandíbula poderosa. Guilherme não estava na sala e Raul e Bianca ficaram calados, assistindo tudo.
Olha... o que temos aqui. — Mateus começou a ler em voz baixa o diário, coisas sobre a raiva que ele passa com os pais e até mesmo com a própria hiena, até chegar em um monte de 15 páginas com pontas coloridas — RYAN? — gritou a hiena — VOCÊ AMA SEU AMIGO?
Os alunos ficaram espantados, não era comum naquele colégio acontecer de alguém demonstrar que era gay. Matheus ficou furioso por Lucas sentir aquilo por Ryan.
Tá vendo Ryan… um dia você salva seu amigo do seu líder de equipe… outro dia ele quer beijar você! — rosnou a hiena.
E o que é que tem? — perguntou o guaxinim furioso, tentando se soltar e ajudar seu amigo lobo que no calor do momento chorava e se debatia, uma crise de ansiedade que poderia levar a coisas mais pesadas.
LUCAS! PROFESSORA! PROFESSOR! — berrou o guaxinim, mas sua boca foi fechada e ele levou um soco na barriga, a hiena voltou a ler.
Acha os músculos dele atraentes? Acha que ele tem um físico esbelto? — ele se aproximou do lobo que estava chorando, mas de pé pelas hienas que o agarravam, Matheus debochou — É tão bonito vê o Luquinha chorando, tão bonitinho — os outros alunos riram, Ryan recebeu outro soco na barriga, tão forte que embrulhou seu estômago — Lucas começou a gritar para Matheus.
Matheus disse: Quer ajudar o namoradinho, é? — quando Matheus deu mais um soco em Ryan, o professor Liam apareceu para separar a briga.
Matheus era um aluno problemático que secretamente nutria sentimentos por Lucas, mas isso era segredo. Ele sempre pensou ser uma hiena assim como todas as pessoas que o observam, mas o pai nunca deixou de afirmar que ele era um lobo. Matheus não aceitava bem a sua sexualidade e descontava essa frustração infernizando a vida dos demais alunos. Matheus conheceu Lucas quando tinha 13 anos, ele não sabia descrever muito bem o que sentia por Lucas, mas esta foi a pessoa por quem pela primeira vez sentiu algum tipo de afeto.
Matheus cresceu em uma família problemática com pais separados, a mãe de Matheus deixou ele e o seu pai quando ele tinha 3 anos. A mãe não sentia muito afeto por ele e seu pai lhe tratava com frieza. Matheus foi crescendo sozinho com pouco afeto, sofreu muito bullying quando era criança e se tornou mais fechado e agressivo. Matheus se tornou o bully da escola quando conseguiu vencer uma briga com Guilherme e após isso, ele começou a ser temido por todos.
Quando Matheus conheceu Lucas, o mesmo o ajudava a fazer os trabalhos e as lições de casa. Eles passaram muitas tardes agradáveis juntos, com o tempo essa amizade foi amadurecendo e Matheus inventava desculpas para ficar perto de Lucas. Ele foi ficando possessivo e começou a ficar com mais raiva de Ryan, o melhor amigo de Lucas.
Em um desentendimento, Matheus bateu muito em Ryan e Lucas se afastou dele de vez. Não aceitando isso, Matheus passou a infernizar a vida dos dois.
Droga, não consigo tirar ele da minha cabeça — disse Matheus — Calma, Matheus, isso vai passar. É só uma fase. — disse Matheus a si mesmo.
Com quem você tá falando neste quarto, Matheus? — perguntou o pai — E que garoto você não consegue tirar da cabeça?
Ninguém, pai — respondeu Matheus, meio intimidado, com o coração batendo e a voz trêmula — Eu preciso ir para a escola pai, estou atrasado — disse Matheus.
O pai de Matheus era um lobo alto e forte, ele estava olhando para Matheus com um olhar intimidante. Matheus pega as suas coisas e estava indo na direção da saída quando o pai pede que ele volte para tomar o café da manhã.
Não precisa pai, estou sem fome! — diz Matheus.
Mas o pai insiste e Matheus volta e se senta, ele coloca um pouco de café com as mãos trêmulas segurando a xícara. O pai se senta em uma cadeira olhando fixamente para ele e pergunta — Você por acaso não está me escondendo algo, não é?
Não! — diz Matheus quase se engasgando com o café.
Espero não ver mais aquelas páginas no seu computador outra vez — diz o pai.
Não vai acontecer de novo, pai — diz Matheus engolindo em seco.
Matheus pega as suas coisas e vai em direção à escola. Ele sai da sua casa e fecha a porta, dando uma leve olhada para trás, e lá está o lobo com postura intimidante encarando ele.
Matheus chega na escola e logo tromba com Ryan e Lucas. Ele passa por eles e diz — Eae, Luquinhas! — a hiena abraça o mesmo e bagunça seu pêlo — Eae, guaxinim — dizia enquanto esfregava a mão no rosto de Ryan, bagunçando o seu bigode. Ryan odiava isso, Matheus que era o terceiro maior da sala, sentia prazer em ver Ryan indefeso sem poder fazer nada. As brincadeiras com Ryan eram mais grosseiras e Ryan não podia fazer quase nada contra ele.
Matheus chegou na sala e foi para o fundo, ele se sentou perto das duas hienas e atrás do gato José, colocando um capuz e dois fones de ouvidos, ele ficou assim quase toda a aula.
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