Estava a amanhecer. Da sua pequena janela, Jade podia sentir a luz entrando. Logo o quarto estaria tão abafado que seria impossível de ficar dentro, mas ela não se importava, não ficaria ali, tinha que levantar, e fazer as suas obrigações. Ao pensar nisso uma dor surgiu no seu peito e estômago. Na sua casa morava ela, seu pai, sua mãe, seu irmão e sua mãe, somente ela tinha tarefas que lhe consumia todo o seu dia e trazia-lhe surras e mais surras se não executava com perfeição. Ela sempre tentava dar o seu melhor, mas quase todos os dias algo não estava bom e ela apanhava, ficava de castigos ou sem comida. Preferia ficar sem comida.
Jade deixou os pensamentos de lado e levantou-se do seu colchão no chão, tratou logo de levanta-lo e Coloca-lo no lugar devido, também trocou de roupa e foi para o pequeno banheiro fazer a sua higiene. Sim, ela tinha um banheiro, feito especialmente para ela, pois a sua família dizia que ela era suja e não usaria os banheiros da casa. Antes não tinha esse banheiro, tomava banho na mangueira com água gelada e fazia as suas necessidades em lata. Tiveram que construir quando no frio ela pegou pneumonia devido aos banhos gelado. A história era longa, mas o resumo era que a professora a levou na emergência do hospital e foi quando viram pela primeira vez as marcas no seu corpo. Na época ela tinha 08 anos. Eles construíram o banheiro e a tiraram da escola, disseram ser pela sua saúde, mas o que queriam eram esconder as marcas. Jade lembrou que apanhou todos os dias da construção do banheiro.
Olhou o quarto antes de sair, verificou estar tudo organizado e saiu para ir fazer o café. Chegou a cozinha e verificou serm 5 horas da manhã. Sua mãe deixava uma lista das suas tarefas do dia na geladeira, e tudo o que ela deveria cozinhar nas refeições. Verificou que no café deveria fazer além do café, pão e manteiga caseira, frutas cortadas, suco de laranja natural, um bolo de mandioca.
Ao ver a lista Jade suspirou e desesperou-se era muitas coisas, e só tinha 2 horas. Começou a preparar a massa do pão, pois essa deveria descansar. Foi fazer o bolo, ralou a mandioca, colocou os demais ingredientes e levou ao forno. Olhou o relógio já era 6 horas. Cortou e organizou as frutas em uma travessa. E foi arrumar a mesa. Tirou o bolo do forno e foi enrolar e por pra assar os pães. Lembrou derrepente da manteiga e agora com desespero pegou as natas da geladeira para bater até virar manteiga. Se pudesse usar a batedeira era tudo mais fácil, mas era proibida de fazer qualquer barulho de manhã. Acordar alguém seria uma surra na certa por isso seus movimentos eram silenciosos.
As 6:55 tudo estava organizado em cima da mesa, e ela correu para limpar o resto da cozinha. Estava terminando de guardar as últimas coisas quando ouviu seus pais descendo as escadas. Um arrepio de pavor passou pelo seu corpo. Será que tudo estava como eles desejavam? Fez uma prece silenciosa de que estivesse.
Jade estava ainda apoiada na pia quando escutou a sua mãe lhe chamando.
_ Onde está a imprestável? Jadeeee!!! Gritou.
Jade foi apressadamente para a sala de jantar.
_ Aí está a inútil, acho que as minhas ordens foram bem claras e você mais uma vez não a executou com perfeição, como pode ter dificuldade em fazer um pequeno almoço tão simples?
Jade passa na sua memória o que deveria ter feito e sim cometera um erro, não feito o suco de laranja. Sentiu um frio subir pela sua espinha.
A sua mãe viu o seu desespero e sorriu.
_ Ah!!Já percebeu onde falhou. A risada que deu após as suas palavras era de gozo.
Jade sentiu a felicidade da sua mãe por ter-lhe dado motivo real para lhe castigar.
_ Vou fazer imediatamente. Disse Jade indo para a cozinha.
Estava a pegar as laranjas quando sentiu a mão da sua mãe puxando os seus cabelos.
_ Você pensa que é simples assim? Descumpre uma ordem direta e simples e vai sair impune?
Jade levou as suas mãos no cabelo querendo impedir a dor, mas sua mãe puxou mais forte e gritou:
_ Pegue as laranjas, e vamos fazer juntas este suco.
Jade soltou o seu cabelo e obedeceu, pegou as laranjas, o espremedor manual, a faca e o levou a pia. Tudo isso com a sua mãe puxando os seus cabelos para traz fortemente. Lágrenchiam os seusenchiam seus olhos.
Cortou as laranjas e sua mãe soltou os seus cabelos. Ela sentiu um alívio momentâneo, sabia que não seria somente isso. Estava certa, sua mãe foi até a porta e tirou de trás dela um cinto grosso de couro e voltou.
_ Vamos ver se isso te anima a fazer esse suco mais rápido. Gargalhou alto.
Jade sentiu a primeira cintada nas suas costas.
_ Não pare de espremer, eu só vou parar quando esse suco estiver pronto e em cima daquela mesa. Irá aprender.
Jade sentia as cintadas na sua costa, agradecia na sua mente pela blusa que vestia, se não fosse por isso os cortes não cicatrizados da surra anterior seriam novamente abertos.
Terminou o suco e leva-o a mesa.
Seus irmãos estavam sentados a mesa com seu pai.
_ O pão esfriou, mamãe. O que vale fazer pão se não podemos come-los quente? Disse sua irmã com uma fingida tristeza fingida.
_ Sinto muito filhinha.
Virando- se para Jade disse.
_ Suma daqui e não ouse comer nada até eu dar ordem para fazer isso.
Jade saiu da cozinha. Teria que sobreviver de água novamente.
Na cozinha limpou o que sujara para fazer o suco e começou a limpar o que a sua mãe deixara no papel.
Limpou os armários de cima, fazia sem barulho e com seus movimentos lentos. As suas costas doíam, havia contado mentalmente as cintadas, foram 37 no total.
Fazia sei trabalho concentrada, evitava pensar na dor física, evitava pensar na dor física, emocional, não pensava na sua vida. Ela apenas queria se deixava levar por uma quietude solitária dentro de si.
Escutou as cadeiras da sala de jantar sendo arrastadas, sinal tinham acabado.
Ela tirou a mesa e continuou suas tarefas, tinha que ser rápida para evitar outras surra que alguém com certeza gostaria de lhe dar.
Eram 23h e Jade acabara de entrar no seu banheiro para tomar banho e ir dormir, sentia- se cansada como sempre e seu colchão já estava arrumando.
Jade aprendeu nos seus 18 anos de vida tornar-se invisível numa tentativa de evitar as surras.
Aprendera também a bloquear pensamentos de revolta e sentimentos depressivos. Ela guardava os seus sonhos num lugar muito secreto no seu coração que somente o gato laranja chamado Tupic sabia
Quando Jade saiu do banho o gato estava acomodado em cima do colchão. Ele dormia com ela todas as noites e de dia ficava na casa do seu verdadeiro dono. Ela deitou ao lado do gato.
_ Boa noite, Tupic. Disse Jade passando a mão pelos pêlos sedosos.Esta bem? Como foi seu dia? O meu dia hoje foi perfeito. Eu terminei de plantar as mudas de mil cores no jardim, e percebi que as mudas de azaléia e margaridas brancas estão a crescer. Logo o jardim estará cheio de cor e aroma. Sabe Tupic, mexer com o jardim não é numa tarefa é para mim um prazer, como ler, desenhar, pintar e ouvir música. Não pensa que eu tenho muita sorte?
O gato deu um miado curto.
_ Não acha? Pois, vou te dizer porquê, se qualquer um dessa casa descobrisse que gosto de cuidar do jardim com certeza um jardineiro seria contratado, mas eles não percebem, e eu fiquei boa em ocultar alegria e prazer. Jade deu uma risada. Outra coisa se o meu quarto não fosse nesse depósito, longe da casa e com tantos tijolos e piso solto eu não teria como guardar os meus tesouros e nem ouvir as músicas da nossa vizinha Ana tocar. As minhas tardes de domingo não seriam uma festa dançante.
O gato deu outro miado curto.
_ Não olhe o mau Tupic. Olhe para as pequenas boas coisas.
Dizendo isso Jade acomodou-se na cama e fechou os olhos, porém não conseguia dormir, hoje estava a pensar na sua vida. Ela completara 18 anos e sabia que poderia deixar a casa dos seus pais. Ela tinha um pouco de dinheiro, conseguia dinheiro vendendo retratos e personagem infantil.
Um dia quando ela foi mandada ao mercado ela observou um casal junto, o amor que os dois transmitiam chamou a sua atenção, e ela fez um esboço dos dois, em casa terminou o retrato. Levava ele no bolso sempre que ia ao mercado, queria presentear o casal. Demorou mais de um mês para que ela os encontrasse novamente. Sorrindo foi até eles e entregou o desenho. Contou quando foi que os vira. O rapaz que se chamava Luiz e era ‘designer’ de desenho infantil, ficou encantado e fez várias perguntas a Jade. A partir daquele dia ele passou a trazer para Jade, fotos de pessoas e ideias de personagem infantil para ela desenhar e pagava pelos desenhos.
Este mês Luiz tinha-lhe dado um projeto de um livro inteiro para ela desenvolver os personagens. Ela já fizera alguns e passando para ele. Todos os personagens desenhados até agora foram aceitos e Luiz disse que ela tinha o direito de ter o seu nome no livro como desenhista. Ela não poderia fazer isso. É claro que a família não iria ler história infantil, mas seu sobrenome Gylber era conhecido. Luiz falou que ela poderia usar um codinome. Se ela usasse seria Evangeline, nome de uma estrela do último filme infantil que assistiu quando ainda ia na escola.
Jade caiu no sono sem perceber, mesmo com as dores do dia, ela trazia no seu sono um sorriso no rosto.
Você que sabe agora de uma parte da sua vida pode achar que ela é uma tola, mas eu espero que como eu se apaixone pelos pequenos detalhes bons.
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