A sensação era de voar em uma nuvem de dor. A luz dos faróis vinha com uma intensidade que cegava os olhos de Shin Kuroshi, como se estivesse envolto por um véu de luz branca. O impacto foi rápido, como um relâmpago cortando o céu escuro. Ele tentou gritar, mas sua voz se perdeu no vazio.
“Eu... morri?”
Seus pensamentos flutuavam. Ele conseguia lembrar vagamente do que aconteceu. Salvando aquela criança que se atirou na rua, o som dos pneus derrapando, e então... escuridão. Sua última memória era o frio que invadiu seu corpo, arrastando-o para um abismo sem fundo.
Quando Shin abriu os olhos novamente, não havia mais luz. Ele estava em um mundo que parecia à beira do colapso. O céu estava eternamente coberto por nuvens densas e cinzentas, e uma neblina espessa pairava sobre a paisagem morta. À sua frente, as árvores eram distorcidas, torcidas e sem folhas, como se tivessem sido esculpidas por mãos malignas. Tudo ao redor exalava uma energia densa, quase sufocante.
"Que lugar é esse?", sussurrou Shin para si mesmo, enquanto sua mente tentava entender o que estava acontecendo.
Ao se levantar, ele percebeu que seu corpo não era mais o mesmo. Havia uma leveza em seus movimentos, como se as leis do mundo não mais o restringissem. Ele olhou para suas mãos e, com surpresa, notou que sombras tremulavam ao seu redor, como fumaça sendo movida pelo vento.
Uma voz distante e profunda ecoou em sua mente: “Bem-vindo, Senhor das Sombras. Este é o reino de Azura, onde as trevas dominam e a esperança é apenas uma memória distante.”
Shin sentiu um calafrio percorrer sua espinha. “Senhor das Sombras?”, repetiu, incrédulo.
Sem tempo para processar a estranha voz, ele começou a andar, seguindo o que parecia ser uma trilha esculpida por passos antigos. O ar estava frio e pesado, tornando difícil respirar. O som de galhos quebrando ecoava pela floresta, mas Shin não viu nada ao seu redor.
Enquanto caminhava, ele começou a perceber algo estranho: a escuridão ao seu redor parecia viva. As sombras se moviam conforme ele se movia, respondendo a cada pensamento e comando inconsciente. Ele estendeu a mão, e uma onda de sombra se condensou na forma de uma lâmina escura, saindo de sua palma como se fosse uma extensão de seu próprio corpo.
"Eu... fiz isso?" Seus olhos se arregalaram.
O pânico começou a tomar conta dele. Este não era seu mundo. Ele não era mais o mesmo Shin. Tudo parecia... errado. "Eu só quero voltar para casa!", gritou, sua voz ecoando nas árvores.
Mas sua súplica não foi atendida. Em vez disso, a floresta ao seu redor pareceu reagir à sua raiva. As sombras ao seu redor começaram a dançar violentamente, e uma presença maligna se fez sentir mais intensamente.
Antes que pudesse se recompor, algo surgiu da neblina. De repente, uma figura encapuzada, envolta em sombras, apareceu diante dele. Os olhos vermelhos brilhavam na escuridão, e uma risada fria ecoou por todo o ambiente.
"Bem-vindo ao seu novo lar, Senhor das Sombras," disse a figura com um tom sarcástico.
Shin recuou. "Quem é você? O que quer de mim?"
A figura sorriu, embora seu rosto estivesse oculto pela escuridão. "Eu sou apenas um servo das sombras. E você... é aquele que deveria nos guiar. Não lute contra isso. Aceite o poder que lhe foi dado."
"Eu não pedi por nada disso! Eu só quero sair daqui!" Shin gritou, sentindo o desespero crescer dentro dele.
A figura riu novamente, desta vez com mais intensidade. "Não há como voltar, garoto. Este é o seu destino. E em breve, você verá que resistir é inútil."
Antes que pudesse responder, a figura desapareceu nas sombras, deixando Shin sozinho novamente. Ele caiu de joelhos, tentando entender o que havia acabado de acontecer. Nada fazia sentido.
“Este é o seu destino...” As palavras ecoaram em sua mente.
Shin, então, percebeu que estava preso neste novo mundo sombrio e cruel. Tudo ao seu redor parecia estar de acordo com uma lógica de escuridão. Ele não sabia quem era, ou por que havia sido trazido aqui, mas uma coisa era certa: ele precisaria sobreviver.
De repente, um som distante chamou sua atenção. Uma melodia suave, quase imperceptível, parecia vir de algum lugar além da floresta. Ele não sabia por quê, mas sentiu-se compelido a seguir aquele som.
Após caminhar por algum tempo, Shin chegou a uma clareira. No centro dela, havia uma pequena fonte de luz, algo completamente contrário ao ambiente sombrio em que ele estava. A luz era quente, reconfortante. Ele deu um passo à frente, mas parou quando ouviu uma voz firme e determinada.
"Pare aí mesmo!", gritou uma figura emergindo das sombras.
Shin congelou. A pessoa que se aproximava era uma jovem, aparentando ter a mesma idade que ele. Seu cabelo longo e preto brilhava sob a luz suave que emanava da clareira. Ela empunhava uma espada, que irradiava uma luz purificadora. Seus olhos eram firmes, cheios de desconfiança.
"Quem é você?", perguntou ela, mantendo a espada apontada para ele.
Shin levantou as mãos, tentando parecer não ameaçador, mas sentiu as sombras ao seu redor reagirem a sua confusão. "Eu... eu sou Shin. Não sei o que está acontecendo. Acabei de acordar neste lugar estranho e—"
"Você é um Senhor das Sombras," interrompeu a garota, seus olhos se estreitando. "Eu posso sentir a escuridão ao seu redor. Você é uma ameaça."
Shin recuou um passo. "Eu não quero lutar. Não sei o que está acontecendo! Eu fui trazido para cá à força!"
"Você mente," disse ela, sua voz gélida. "Os Senhores das Sombras são responsáveis pela queda deste reino. Se você é um deles, então não tem piedade dentro de você."
Shin balançou a cabeça. "Não! Eu sou diferente! Eu juro!"
Antes que pudesse argumentar mais, a garota lançou um feixe de luz em sua direção, forçando Shin a se esquivar. "Não me obrigue a lutar!" gritou ele, mas sua voz foi abafada pelo som de sua própria sombra se transformando em uma barreira para bloquear o ataque.
A luta era inevitável.
Shin sentiu o peso de seu poder sombrio despertar com mais força do que nunca. Ele não queria machucar aquela garota, mas sabia que, se não se defendesse, seria destruído.
Ela se aproximou rapidamente, lançando mais feixes de luz contra ele. A cada passo que ela dava, o chão se iluminava, afastando as trevas. Mas Shin estava começando a entender como controlar sua própria magia. Ele estendeu a mão e convocou uma parede de sombras que absorveu a luz. Em seguida, ele contra-atacou, lançando uma onda de escuridão que a jovem mal conseguiu evitar.
"Eu não quero lutar!" gritou ele novamente, enquanto continuava a bloquear seus ataques.
"Então por que está resistindo?" ela gritou de volta. "Se você é diferente, prove!"
As palavras dela ecoaram na mente de Shin. Ele sabia que lutar apenas perpetuaria o ciclo de violência. Havia outra maneira. Talvez ele pudesse controlar seu poder sem causar destruição.
Com determinação renovada, ele parou de atacar e abaixou suas defesas. "Eu sou diferente," disse ele, com firmeza. "Eu não sou seu inimigo."
A garota parou, hesitante por um momento. Ela podia ver nos olhos de Shin algo que a fez duvidar. Lentamente, ela abaixou sua espada. "Se você realmente não é uma ameaça... então prove."
Os dois ficaram em silêncio, encarando um ao outro, enquanto as sombras e a luz pareciam se acalmar ao redor deles. A verdadeira jornada de Shin começava ali.
Continua...
O olhar penetrante da jovem não vacilava, e Shin sentiu um calafrio subir por sua espinha. Ela era incrivelmente forte, isso era claro. Mas, além disso, a energia que irradiava dela parecia oposta a tudo que ele representava. Onde ele sentia as sombras ao seu redor, ela era a personificação da luz.
A jovem abaixou a espada apenas um pouco, ainda cautelosa. “Você diz que não sabe, mas a escuridão que o cerca conta uma história diferente.” Seu tom era sério, mas não agressivo. “Eu sou Yuna Tsubasa, cavaleira da luz e da Justiça.”
Shin notou que a espada em sua mão emanava uma aura quase divina, diferente de qualquer outra lâmina comum. Ele nunca havia visto uma arma com tamanho poder, que parecia estar profundamente conectada à sua dona. A luz que a envolvia era tão forte que fazia as sombras ao redor de Shin se agitar, inquietas.
"Yuna," repetiu Shin, absorvendo o nome e a presença dela. "Eu... não estou aqui para causar problemas. Não quero machucar ninguém. Na verdade, eu nem sei o que estou fazendo neste mundo."
Yuna estreitou os olhos, observando cada movimento de Shin com desconfiança. "Não sei se posso acreditar nisso. Senhores das Sombras são perigosos. Eu já enfrentei seres como você antes, e cada um deles tentou corromper tudo ao seu redor."
"Eu não sou como eles!" Shin respondeu rapidamente, tentando afastar a suspeita que pairava sobre ele. "Eu ainda estou tentando entender o que sou. As sombras... elas me seguem, mas eu não as controlo de propósito. Não quero ser uma ameaça."
Yuna manteve o olhar firme, a espada ainda pronta, embora tivesse abaixado um pouco a guarda. "Você pode não saber agora, mas as sombras são traiçoeiras. Elas consomem, corroem, destroem. Meu pai foi um servo das sombras, e eu vi o que isso fez com ele e com o reino."
A revelação pegou Shin de surpresa. "Seu pai...?" ele começou, mas hesitou. Ele percebeu que havia algo profundo por trás da força e da determinação de Yuna.
"Sim," disse ela, com um toque de amargura na voz. "Meu pai se rendeu ao poder das sombras, acreditando que poderia controlá-las. Ele se perdeu e, no processo, destruiu nossa família e ameaçou nosso reino. Desde então, eu jurei caçar qualquer um que fosse corrompido pela escuridão."
Shin sentiu um aperto no peito ao ouvir isso. Ele entendia agora de onde vinha a desconfiança de Yuna. Para ela, as sombras não eram apenas um inimigo; eram uma lembrança dolorosa de sua própria perda. "Eu sinto muito," disse ele, sinceramente. "Mas, por favor, me ouça. Eu não escolhi esse poder. Eu não quero ser como seu pai."
Yuna o estudou por um longo momento, seus olhos buscando qualquer sinal de mentira. Finalmente, ela abaixou a espada completamente, embora sua postura permanecesse tensa.
"Se você está dizendo a verdade," disse ela, "então terá que provar. As sombras sempre tentam tomar o controle. Você precisará mostrar que pode resistir a elas."
"Eu quero aprender," respondeu Shin, aliviado por ela ter lhe dado uma chance. "Mas não posso fazer isso sozinho."
Yuna cruzou os braços, pensando. "Muito bem, Shin Kuroshi. Eu não confio em você, mas talvez haja uma maneira de descobrir se você pode controlar as sombras em vez de ser consumido por elas."
"Como?" perguntou Shin, esperançoso.
"Há um lugar," ela disse, olhando na direção da estrada que levava para fora da floresta. "O Templo da Luz, nas montanhas de Azura. Dizem que a pureza da luz lá é tão forte que pode purificar até as sombras mais profundas. Se você conseguir resistir àquela luz, talvez haja esperança para você."
Shin assentiu, sentindo um novo propósito crescer dentro de si. "Eu vou até lá. E provarei que não sou uma ameaça."
Yuna o olhou, séria, mas com um leve traço de aceitação em sua expressão. "Lembre-se, Shin. Esta é sua única chance. Se as sombras tomarem o controle de você... não hesitarei em destruí-las."
O aviso pairou no ar, e Shin sabia que ela falava sério. Mas, ao mesmo tempo, ele sentiu que essa era sua única oportunidade de aprender a controlar o poder que havia despertado dentro de si.
"Vamos," disse Yuna, virando-se e começando a caminhar pela trilha. "O caminho até o Templo da Luz não é fácil. E há coisas nas sombras que são muito piores do que eu."
Shin a seguiu, com o coração pesado, mas determinado. Ele sabia que a jornada à frente seria cheia de desafios, mas com Yuna ao seu lado, ele tinha uma chance. A primeira aliança entre luz e sombras havia sido formada — e, embora frágil, ela poderia ser a chave para salvar o reino de Azura do caos iminente.
Os dois caminharam juntos, cada um carregando o peso de seus passados, mas com os olhos voltados para o futuro. A jornada estava apenas começando.
Enquanto caminhavam pela trilha sinuosa que levava às montanhas, o silêncio entre Shin e Yuna era palpável. A tensão ainda permanecia, mas havia uma trégua temporária, uma união forçada pelas circunstâncias. Shin continuava tentando entender o que significava ser um Senhor das Sombras, mas tudo que ele sabia até agora era o peso da desconfiança de Yuna e a sua própria incerteza.
As árvores altas da floresta começaram a se abrir gradualmente, revelando a imponente cordilheira ao longe. A luz do sol se refletia nas rochas cobertas de neve, contrastando com as sombras que pareciam sempre rondar Shin. Ele observava Yuna de soslaio enquanto eles caminhavam. A jovem cavaleira era enigmática, uma combinação incomum de força e graça. Sua espada, que emanava uma luz quase divina, era um símbolo de poder, e Shin se perguntava como ela tinha aprendido a dominá-la tão bem.
Yuna, por sua vez, estava focada na trilha à frente, mas seus pensamentos estavam em conflito. Ela não sabia se havia cometido um erro ao permitir que Shin a acompanhasse. A memória de seu pai, consumido pelas sombras, ainda era fresca em sua mente. E agora, aqui estava ela, ao lado de alguém que carregava o mesmo poder sombrio. Cada passo ao lado de Shin a lembrava do perigo que ele representava, mas, ao mesmo tempo, havia algo nele que a fazia hesitar em destruí-lo imediatamente.
Finalmente, Yuna quebrou o silêncio.
“Você disse que não escolheu as sombras,” ela começou, sem desviar o olhar da trilha. “Mas agora que as possui, o que pretende fazer com esse poder?”
Shin pensou por um momento antes de responder. “Eu... não sei. Tudo isso é novo para mim. Eu nunca quis esse poder, mas agora que o tenho, parece que é parte de mim.”
“Parte de você?” Yuna estreitou os olhos, desconfiada. “As sombras não são algo que você deveria aceitar tão facilmente. Elas corrompem, destroem. Você viu o que elas fizeram com meu pai.”
Shin balançou a cabeça. “Eu não estou aceitando. Eu... estou tentando entender. E talvez, se eu puder aprender a controlá-las, possa usá-las de uma maneira diferente.”
“Não existem maneiras diferentes de usar as sombras,” Yuna retrucou. “Elas só têm um propósito: devorar a luz.”
“E se não for assim para mim?” Shin perguntou, olhando para Yuna com intensidade. “E se houver um jeito de equilibrar? Não estou dizendo que as sombras são boas, mas talvez eu possa encontrar um meio-termo. Algo que nem seu pai, nem você, conseguiram ver.”
Yuna parou de caminhar por um momento, virando-se para encará-lo. “Você acha que pode ser diferente? Acha que pode controlar o que outros não conseguiram?” Sua voz estava cheia de ceticismo, mas também havia uma curiosidade incômoda em seu tom.
“Eu não sei,” Shin respondeu sinceramente. “Mas quero tentar. Se as sombras fazem parte de mim, então talvez exista uma forma de encontrar o equilíbrio.”
Yuna suspirou, voltando a caminhar. “Você fala de equilíbrio, mas parece que não entende o quão difícil isso é. Para cada Senhor das Sombras que existiu, houve tragédia. Eles sempre acabaram destruídos pela própria escuridão. O que te faz pensar que você será diferente?”
Shin ficou em silêncio por alguns momentos, pensando na pergunta. Ele não tinha uma resposta concreta. “Talvez eu não seja diferente,” disse ele, finalmente. “Mas prefiro tentar descobrir por mim mesmo do que simplesmente aceitar um destino que não escolhi.”
Yuna não respondeu imediatamente, mas suas palavras ecoaram em sua mente. Ela também havia lutado contra um destino imposto por seu passado. Ela sabia o peso de carregar um fardo que não escolheu, e talvez fosse isso que a fazia hesitar em julgar Shin tão rapidamente. Mas, ao mesmo tempo, ela não podia se permitir ser complacente. Não com as sombras.
Conforme subiam mais a montanha, o caminho se tornava mais íngreme e coberto de neve. A luz do sol diminuía, e a temperatura caía rapidamente. Yuna observava o horizonte com atenção, sabendo que o Templo da Luz não estava muito longe.
“Estamos quase lá,” disse ela, apontando para uma estrutura antiga que mal podia ser vista entre as montanhas. “O Templo da Luz.”
Shin olhou na direção que ela indicava. A estrutura era majestosa, embora estivesse parcialmente em ruínas. Ela parecia brilhar com uma luz própria, como se tivesse sido construída para repelir qualquer sombra que se aproximasse.
“Esse é o lugar onde vou provar que posso controlar meu poder?” perguntou ele.
Yuna assentiu. “Sim. Mas, esteja avisado, o Templo é um lugar sagrado. Qualquer sinal de trevas dentro dele pode ser purificado pela luz. Se as sombras dentro de você forem muito fortes, elas tentarão consumi-lo ou serão destruídas — e você junto com elas.”
Shin respirou fundo, sentindo o peso das palavras de Yuna. Ele sabia que o Templo seria um teste, mas não estava certo de que estava preparado. No entanto, não tinha outra escolha.
“Eu estou pronto,” disse ele, com mais confiança do que realmente sentia.
Yuna o olhou mais uma vez, tentando discernir suas intenções. Havia algo em Shin que a intrigava, mas ela não podia baixar a guarda. Não ainda.
“Vamos, então,” disse ela, começando a caminhar novamente. “Se você realmente quer encontrar o equilíbrio, o Templo da Luz será o primeiro passo.”
Shin a seguiu, seu coração batendo rápido. As sombras ao seu redor se agitaram, como se sentissem o perigo iminente. O Templo era um lugar de luz pura — algo que elas temiam instintivamente. Mas Shin sabia que precisava enfrentá-lo. Este era o momento para provar, não apenas a Yuna, mas a si mesmo, que poderia controlar a escuridão dentro de si.
Enquanto eles se aproximavam da entrada do Templo, as sombras pareciam recuar cada vez mais, como se a própria estrutura sagrada as mantivesse à distância. O ar ao redor estava denso com uma sensação de poder, e Shin sentiu um arrepio subir por sua espinha.
“Este lugar...” murmurou ele, impressionado pela força da luz que emanava do Templo. “É tão... diferente.”
“Sim,” disse Yuna, com um toque de orgulho em sua voz. “Aqui, a luz é absoluta. Se houver algo sombrio em você, será revelado.”
Shin assentiu, ciente do que estava por vir. Eles pararam em frente à entrada, uma grande porta de pedra adornada com símbolos antigos.
Yuna colocou a mão na porta, e, com um gesto solene, empurrou-a, abrindo o caminho para o interior do Templo.
“Bem-vindo ao Templo da Luz,” disse ela, dando um passo para dentro. “Agora, veremos quem você realmente é, Shin Kuroshi.”
Continua...
O Templo da Luz era ainda mais imponente por dentro do que Shin havia imaginado. As paredes eram feitas de mármore branco, cintilando com uma luz etérea que parecia emanar de dentro da própria estrutura. Grandes pilares se erguiam até o teto abobadado, e símbolos antigos e indecifráveis estavam gravados nas superfícies, irradiando uma sensação de pureza e poder. No centro do salão principal, uma grande estátua da Deusa da Luz estava em pé, com uma espada erguida, como se estivesse prestes a desferir um golpe contra qualquer escuridão que ousasse se aproximar.
Shin sentiu uma pressão crescente dentro de si à medida que avançava, suas sombras recuando, quase tentando se esconder. Cada passo que ele dava parecia um desafio. Era como se o próprio Templo estivesse testando sua determinação. Ao seu lado, Yuna caminhava com firmeza, sua expressão impassível enquanto a luz ao redor a cercava como uma extensão natural de sua própria presença.
"Este é o lugar onde a luz purifica tudo," disse Yuna, quebrando o silêncio enquanto eles se aproximavam do centro do Templo. "Aqui, não há espaço para as sombras. Se você for consumido por elas, a luz revelará sua verdadeira natureza."
Shin olhou ao redor, sentindo a pressão crescente contra ele. "E se eu não conseguir controlar?"
Yuna parou, virando-se para encará-lo. "Então será o fim. A luz destruirá qualquer vestígio de escuridão dentro de você. Se houver alguma esperança de equilíbrio, este lugar o ajudará a encontrá-lo. Mas se não houver controle, as sombras tomarão conta e você será destruído."
Shin respirou fundo, seus pensamentos em turbilhão. Ele não sabia o que esperar, mas estava claro que este teste não seria apenas físico. O Templo da Luz não julgava apenas as ações, mas o coração e a alma.
"Eu não tenho outra escolha, não é?" ele murmurou, olhando para a grande estátua da Deusa.
"Não," Yuna respondeu com frieza. "Você aceitou esse caminho. Agora terá que enfrentar as consequências."
Os dois ficaram em silêncio por um momento antes de Yuna apontar para um círculo de luz no chão, em frente à estátua. "Entre no círculo," ordenou ela. "É onde o teste começa."
Shin sentiu as sombras ao seu redor se agitarem novamente, como se pressentissem o perigo. Seu instinto o alertava para recuar, mas ele sabia que não havia como voltar atrás agora. Ele deu um passo hesitante em direção ao círculo, sentindo a luz brilhar mais intensamente à medida que se aproximava.
Ao colocar os pés dentro do círculo, uma onda de energia percorreu seu corpo. A luz o cercou completamente, e as sombras que o acompanhavam começaram a ondular, como se estivessem sendo pressionadas de volta. Shin fechou os olhos por um momento, sentindo o peso daquela luz o cercar, invadindo seus pensamentos e suas emoções.
Ele ouviu a voz de Yuna ao longe. "Agora, Shin. Este é o momento. Você precisa confrontar o que há dentro de você. A luz vai trazer à tona seus medos, sua dor, e a escuridão que você carrega. Enfrente-a, ou será consumido."
As palavras dela ecoaram em sua mente enquanto a luz se intensificava. De repente, o mundo ao seu redor começou a mudar.
Shin abriu os olhos e se viu em um lugar completamente diferente. Ele estava de volta ao mundo que conhecia antes de sua morte, a cidade movimentada, as ruas cheias de pessoas que passavam apressadas, e os sons familiares de carros e vida moderna. Ele olhou ao redor, confuso. "Estou... de volta?"
Mas algo estava errado. O céu estava escuro, como se uma sombra pairasse sobre tudo. As pessoas ao seu redor andavam como sombras indistintas, sem rostos, movendo-se mecanicamente. Um sentimento de desespero e solidão tomou conta de Shin. Ele reconheceu o cenário, mas estava distorcido, vazio de vida verdadeira.
“Não é real,” disse ele para si mesmo, tentando se lembrar de onde estava de verdade. “Isso... é o teste. O Templo da Luz.”
Enquanto tentava controlar sua respiração, uma voz conhecida surgiu das sombras ao seu redor. “Você não pertence aqui, Shin.”
Ele se virou, e seus olhos se arregalaram ao ver uma figura familiar. Era ele mesmo — ou melhor, uma versão sombria de si mesmo. Os olhos daquela figura brilhavam com um tom escuro, e as sombras pareciam envolvê-la completamente. A versão sombria de Shin sorriu, um sorriso cruel e distorcido.
“Você sempre foi parte das sombras,” disse o outro Shin, sua voz baixa e ameaçadora. “Acha mesmo que pode escapar disso? Acha que pode encontrar equilíbrio? Não existe equilíbrio para quem é nascido na escuridão.”
Shin deu um passo para trás, sentindo o peso daquelas palavras. “Eu... não nasci nas sombras. Eu fui trazido para este mundo. Não escolhi isso.”
“Não importa,” disse o outro Shin, avançando lentamente. “As sombras já fazem parte de você. Elas o consomem, e é só uma questão de tempo até você aceitar isso. Pare de lutar.”
O verdadeiro Shin apertou os punhos, lutando contra o medo que crescia dentro dele. “Eu não vou me render. Não como você.”
A versão sombria riu, um som que reverberou pelo ambiente. “Você não tem escolha. As sombras são inevitáveis. Quanto mais você resistir, mais forte elas se tornam. Eu sou a prova disso.”
Shin sentiu a escuridão se aproximando, sufocando-o. O peso das palavras de seu outro eu ressoava em sua mente. Mas então, ele se lembrou das palavras de Yuna. Ela havia falado sobre encontrar equilíbrio, sobre não ser consumido pelas sombras, mas controlá-las.
“Eu não vou deixar isso acontecer,” disse Shin, mais para si mesmo do que para a figura diante dele. “As sombras podem fazer parte de mim, mas isso não significa que elas me definem.”
O outro Shin parou, observando-o com olhos atentos. “Você realmente acredita nisso? Acredita que pode usar as sombras sem ser destruído por elas?”
“Sim,” Shin respondeu, com uma confiança crescente. “Porque eu não sou apenas escuridão. Há mais em mim do que isso. E eu vou provar isso.”
A figura sombria deu um sorriso perverso. “Então, venha e prove.”
Com um movimento rápido, o outro Shin avançou, envolto em sombras, sua mão estendida como garras escuras. Shin reagiu instintivamente, concentrando-se na escuridão dentro de si. Em um instante, ele convocou suas próprias sombras, formando uma lâmina negra em sua mão.
As duas lâminas colidiram com um som agudo, e Shin sentiu a força da escuridão tentando dominá-lo. Mas ele resistiu, lembrando-se de sua promessa a Yuna e de sua própria determinação.
“Eu sou mais do que isso,” murmurou, apertando sua lâmina com mais força. “Eu sou o equilíbrio.”
Com um grito, Shin empurrou o outro eu para trás, e a figura sombria recuou, dissolvendo-se nas sombras ao redor. A luz ao seu redor começou a brilhar mais forte, dissipando a escuridão e restaurando o cenário do Templo da Luz.
Shin abriu os olhos e se viu de volta ao círculo de luz, ofegante. Yuna o observava com atenção, seus olhos cheios de curiosidade e, talvez, um pouco de respeito.
“Você conseguiu,” disse ela, sua voz firme mas suave. “Você resistiu.”
Shin, ainda recuperando o fôlego, olhou para ela e assentiu lentamente. “Eu não sou apenas sombras,” ele disse, mais para si mesmo do que para Yuna. “Eu posso ser mais.”
Yuna deu um passo à frente, sua expressão finalmente suavizando um pouco. “Talvez haja esperança para você, afinal.”
Enquanto a luz ao redor deles diminuía, o peso do teste começava a desaparecer, mas Shin sabia que a jornada estava apenas começando. O verdadeiro desafio ainda estava por vir, e a batalha pelo equilíbrio entre luz e sombras estava apenas começando.
Continua...
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