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A Sombra do Caos: A Verdade de Celeste

E então meus olhos se fecharam...

A grande Mansão dos Voss se erguia majestosa no alto da colina, suas torres pontiagudas cortando o céu cinzento da manhã. O vento frio trazia consigo o cheiro da umidade da floresta vizinha, enquanto as folhas das árvores dançavam suavemente. A cidade abaixo pulsava com a vida vibrante da nobreza, mas dentro da mansão, a atmosfera era diferente. Para Celeste, cada dia era uma luta silenciosa.

Com seus longos cabelos vermelhos como fogo e olhos profundos como rubis, ela era a imagem da beleza que sua mãe, a Duquesa Elara, tanto prezava. Contudo, essa beleza era um fardo. A fobia social a isolava em seus aposentos, longe dos bailes e das conversas que enchiam os corredores da mansão. O reflexo da sua aparência no espelho lembrava-a de tudo que ela não era: confiante, carismática e desejada. Em vez disso, ela se via como uma sombra, um eco distante da mulher que poderia ter sido.

Nas horas silenciosas da manhã, quando o mundo ainda não despertara, Celeste se permitia sonhar. O sonho mais recorrente era de uma vida fora dos muros da mansão, longe das expectativas que a cercavam. Ela ansiava por aventuras, por descobertas e, principalmente, por liberdade. Mas cada vez que o pensamento surgia, era rapidamente abafado pelo medo e pela insegurança. O peso das expectativas de seus pais a sufocava, e a solidão se tornava insuportável.

Um leve toque na porta interrompeu seus pensamentos. Era Elys, seu irmão mais velho, que sempre voltava em segredo, trazendo notícias do mundo exterior. Com um sorriso gentil, ele entrou, e a presença dele trouxe um alívio que Celeste não sabia que precisava.

“Você está pronta para enfrentar o dia, pequena?” Ele perguntou, sua voz suave como um sussurro, mas com um toque de encorajamento. Elys sempre tinha esse efeito sobre ela; sua segurança a envolvia como um manto protetor.

Celeste hesitou, os lábios curvados em um sorriso tímido. "Eu não sei, Elys. O que há de tão interessante lá fora que eu não possa ignorar?"

Elys se aproximou e sentou-se ao seu lado, seu olhar atento. “Hoje, estive em uma vila onde as pessoas festejam com música e dança. Você não imagina as aventuras que vivi. Uma vez, enfrentei um bando de bandidos para proteger uma caravela de comerciantes! Foi emocionante!”

Celeste sorriu, intrigada. A maneira como ele falava fazia o mundo parecer mais vibrante. “Você é um verdadeiro herói, então. E eu sou apenas… uma garota trancada em seu castelo.”

Ele franziu a testa, observando-a com preocupação. “Não diga isso. Você é muito mais do que isso, Celeste. Tem um coração gentil e uma mente aguçada. Não deixe que as expectativas da nossa mãe a definam. Você é especial à sua maneira.”

“Mas o que há de especial em ser apenas um fardo?” pensou, sua mente lutando contra a tristeza que a envolvia. Celeste desviou o olhar, seu peito apertado. “Mas as pessoas só enxergam a beleza. O que mais posso oferecer a elas?”

Elys suspirou, hesitando. “A beleza é superficial. O que importa é quem você é por dentro. As pessoas que realmente importam verão sua luz.”

Enquanto conversavam, Celeste notou como ele parecia preocupado. Não apenas com ela, mas com o mundo ao seu redor. As histórias que ele contava eram repletas de emoção, mas também havia uma sombra de responsabilidade em seus olhos. Celeste desejava que ele pudesse compartilhar esse peso, mas sabia que ele estava determinado a viver sua vida como um mercenário, longe dos compromissos familiares.

“Você se lembra daquela vez que encontramos aqueles jovens viajantes no bosque?” Elys começou, um sorriso brincando em seus lábios. “Eles estavam tão felizes, tão livres. Era como se a vida estivesse apenas começando para eles. Eu me pergunto como seria estar na pele deles.”

Celeste sorriu, lembrando-se da cena. A liberdade deles era palpável, e ela sempre desejou fazer parte daquela vida despreocupada. Mas logo o sorriso se desfez, e a realidade se impôs. “Mas nós não podemos, não é? Estamos presos a esse lugar.”

Elys inclinou a cabeça, compreendendo. “Talvez um dia, Celeste. Talvez um dia.”

O tempo passou rapidamente enquanto conversavam, e, por um momento, Celeste sentiu que o mundo lá fora não importava. O calor da conexão entre eles a envolvia, e suas inseguranças pareciam distantes. Contudo, à medida que a conversa se arrastava, Celeste começou a se sentir cada vez mais fraca. A pressão no peito crescia, e as cores do quarto pareciam se desvanecer.

“Eu… não sei se estou bem,” confessou, tentando manter a voz firme. “Sinto como se estivesse desaparecendo…”

Elys a observou com preocupação, mas antes que pudesse perguntar, a criada apareceu à porta, pálida e ofegante.

“Meu senhor! O duque descobriu sobre sua visita e… Ele exige que você vá até ele,” a criada exclamou, a urgência em sua voz ecoando na mente de Elys.

“Fique aqui, Celeste. Eu volto logo,” ele disse, sua expressão grave.

Ela acenou com a cabeça, mesmo sabendo que o peso da sua ausência a deixaria ainda mais solitária. Assim que ele saiu, a solidão tomou conta do espaço, e o silêncio pesado se instalou. Celeste se deixou cair no chão, sentindo a frieza das pedras contra sua pele. O peso da tristeza e da pressão era insuportável. O eco da conversa deles ainda ressoava em sua mente, mas agora, cada palavra parecia uma lembrança dolorosa.

Enquanto esperava, ela olhou ao redor do quarto. As paredes eram adornadas com tapeçarias que contavam histórias de heroísmo e glória, mas aquelas histórias pareciam tão distantes de sua própria vida. “Ninguém sabe a verdade sobre minha luta. Sou apenas uma menina assombrada por medos que não compreendem.”

O tempo se arrastou, e a ansiedade a consumiu. Celeste sentiu o corpo fraquejar e a cabeça girar. Naquele momento de desespero, ela se lembrou das palavras de Elys: “Você é mais forte do que imagina.”

Mas mesmo essa lembrança não conseguiu sustentar seu espírito. A escuridão começou a envolver tudo ao seu redor, e o mundo se tornou um borrão. “Se eu pudesse ser livre… se eu pudesse ser alguém diferente…” Celeste fechou os olhos, sentindo-se levada para um lugar onde a dor e o medo não existiam. No momento em que seu coração finalmente cedeu, um leve sorriso surgiu em seus lábios. Era como se, finalmente, pudesse se libertar de todas as pressões e expectativas.

E naquele instante, Celeste deixou de existir, sem que ninguém soubesse a verdade sobre a luta que a consumira.

Enquanto isso no antigo império em 1500

Viana Scarlett estava em seu estúdio, cercada por frascos de poções e grimórios antigos. A luz suave das velas dançava nas paredes, criando sombras que pareciam sussurrar segredos. O ambiente estava carregado de energia, mas a sensação de traição pairava no ar. Kyan, seu discípulo mais próximo, entrou com um sorriso descontraído, como se nada estivesse prestes a acontecer.

“Mestra,” ele disse, a voz suave, “é sempre um prazer estar aqui. Eu precisava conversar com você.”

Viana levantou o olhar, desconfiada. “O que há, Kyan? Sua presença tem um peso que não costuma ter.”

Kyan hesitou por um momento, mas logo se aproximou, sentando-se ao seu lado. “Você sabe que sempre admirei você. Sua força, seu poder… tudo isso me inspira.”

“Fico feliz em ouvir isso, mas a adulação não é necessária. O que realmente você quer?” Viana perguntou, cruzando os braços.

Ele sorriu, mas havia uma frieza em seu olhar. “Eu realmente gosto muito de você, mestra. Mas não posso mais viver assim, sob sua sombra.”

Antes que Viana pudesse responder, Kyan se inclinou, sua mão envolvendo seu ombro de forma quase carinhosa. “Às vezes, é preciso fazer escolhas difíceis.” O sorriso se desfez, e com um movimento rápido, ele retirou uma adaga de obsidiana, com o brilho de um sangue antigo.

Viana percebeu o movimento, mas já era tarde. A lâmina cravou-se em seu coração. Um choque de dor atravessou seu corpo, e seu olhar se fixou em Kyan, atônita.

“Você…?” ela sussurrou, a incredulidade misturada ao desprezo. “Porra… eu te criei… te tirei da rua…”

_“Awnn… Não é você mestra que sempre diz que não devemos confiar nem na nossa sombra… Pois bem… Eu estou sempre na sua sombra, eu nunca vou te ultrapassar eu precisava te pegar desprevenida e esse foi o momento perfeito”_ Ele respondeu, a expressão de satisfação tingida de algo sombrio.

Mesmo com a dor pulsando, Viana não era uma feiticeira fácil de derrubar. Concentrando-se, ela canalizou sua energia mágica, sua voz ressoando como um trovão em meio ao silêncio da sala.

“Eu já lhe disse não é kyan?”

_Kyan tenta usar sua magia pra atacar ela novamente mas em vão Viana bloqueia seu ataque_

-Eu não morro Kyan… A imortalidade que eu ensinei a você durará no máximo uns 500 anos… Até lá eu estarei de volta…

Scarlett sorri, era claro que em sua expressão havia apenas pena daquele jovem ingênuo. Logo os olhos de Viana começaram a sangrar, um brilho vermelho e dourado emergindo de seu ser. A energia pulsava, intensa, enquanto a adaga ainda estava cravada em seu peito. Então, em um último ato de poder, seu corpo começou a se esvanecer, transformando-se em partículas de luz e sombra e tudo que pode ser ouvido foi seu conjurio.

In hoc imperio ubi magae tubae magnae sunt, tantum Vossius prosapiae decus possidebit, in hunc locum incidat chaos.

Kyan recuou, os olhos arregalados, incapaz de compreender a magnitude da perda que acabara de causar e da maldição que libertou, sabia que ela era capaz de tudo. “Não!” ele gritou, mas a voz de Viana ecoou na sala, um lembrete sombrio de sua presença.

“Eu voltarei, Kyan. E quando isso acontecer, o legado que deixo não será esquecido.”

Viana o olha com superioridade e com isso, ela desapareceu, suas partículas se dispersando no ar, enquanto Kyan ficou ali, consumido pelo medo de seu conjurio e pelo terror que poderia estar por vir.

Fragmentos de memória

Logo após toda aquela luz se dissipar, um cansaço profundo tomou conta de Viana. Ela abriu os olhos lentamente, sentindo um ardor no peito, como se a dor de algo que ainda não entendia tivesse deixado uma marca. Com um esforço, sentou-se abruptamente na cama, uma pontada forte irradiando do local da adaga que ainda parecia cravar-se em sua pele.

"Celeste! Graças a Vontheur, você está acordada! Não se levante, pelo menos me diga como está se sentindo!" Elys se aproximou, segurando sua mão com força, seus olhos transbordando de preocupação.

"Eu... Argh!" Ela gemeu, uma dor lancinante tomando conta de sua cabeça, e logo uma avalanche de memórias da verdadeira Celeste começou a inundar sua mente. Era como se a consciência dela estivesse tentando se firmar, sobrecarregando aquele corpo frágil que acabara de assumir.

Elys, rapidamente, pediu que chamassem um médico, sua preocupação evidente. E, logo em seguida, o primeiro a aparecer no quarto foi Cristan. O clima entre os dois irmãos já era tenso, e, ao ver Celeste acordada, Cristan não perdeu tempo em fazer seu comentário irônico.

"Tsk! Não acredito que já está dando trabalho de novo... Como sempre, não faz nada e ainda dá trabalho!" Ele se aproximou da cama com desdém.

Mas Elys não deixou barato. Sua expressão endureceu, e ele olhou para o irmão com firmeza.

"Essa é a primeira coisa que você tem a dizer? Se veio aqui apenas para acusá-la de algo que nem sequer é culpa dela, peço que se retire," disse, sua voz cortante. Ele sempre havia sentido que Cristan gostava de fazer esses comentários venenosos para provocar a irmã, e não era a primeira vez que isso acontecia.

"Você é outro da laia dela, não é? Por isso a defende tanto," Cristan lançou uma provocação ainda mais ácida, os olhos dele brilharam com sarcasmo.

Mas antes que a discussão pudesse continuar, o médico entrou na sala, interrompendo o clima tenso.

"Err... Vossas Altezas, preciso que se retirem para que eu possa examinar a primeira princesa," disse o médico, ao se aproximar de Celeste com um olhar cuidadoso.

Elys e Cristan saíram do quarto, ainda com olhares pesados, e o médico começou o exame. Celeste, ainda um pouco atordoada, manteve-se em silêncio, respondendo apenas o necessário. Suas respostas eram curtas e diretas, quase como se estivesse tentando não se perder em pensamentos, enquanto a dor e as memórias da verdadeira Celeste inundavam sua mente.

"Você tem sinais fortes de anemia," disse o médico, enquanto escrevia algo em seu caderno. "Vou receitar um remédio e peço que volte a se alimentar adequadamente. Precisa comer pelo menos de três a quatro vezes por dia."

Celeste franziu o cenho, um pouco confusa, mas assentiu. Não tinha forças para questionar. Seus pensamentos estavam tão turvos, e seu corpo tão fraco, que mal podia focar no que ele dizia.

"Obrigado," murmurou ela, sua voz fraca, mas com um tom de autoridade que era natural dela. "Quando sair, diga aos outros que não quero receber ninguém. Estou muito cansada. Mandem uma empregada com o remédio e a refeição, por favor."

O médico olhou para ela surpreso, como se o tom de comando fosse algo que ele não esperava de Celeste. Ela sempre havia sido tímida, insegura.

"P-perdão?" ele perguntou, os olhos arregalados com a resposta dela.

"Acho que você entendeu bem... Preciso me esforçar para repetir?" Ela nem sequer olhou para ele enquanto falava, sua voz baixa, quase exausta.

"Sim, princesa. Com licença," o médico disse, rapidamente se retirando. Agora, Celeste estava sozinha.

"Ótimo, agora posso começar a recapitular tudo..." Ela murmurou para si mesma, enquanto lentamente se levantava. Sentia-se fraca, mas não queria continuar deitada. Caminhou até uma mesa, pegou uma folha de papel e uma caneta, e se sentou em frente à penteadeira, tentando organizar seus pensamentos.

Ao olhar para o espelho, não pôde evitar notar seus cabelos. Estavam vermelhos como sangue. E seus olhos... também estavam vermelhos. Havia algo de inquietante e fascinante na maneira como ela agora se via. Não era mais Celeste, não completamente. Era uma fusão estranha, uma mistura de identidade que ela mal conseguia controlar.

"Bem... Pelo menos ela é bem bonita," Celeste murmurou, sorrindo levemente para si mesma, embora o sorriso fosse forçado. Logo, porém, seu olhar ficou distante, enquanto as memórias da verdadeira Celeste inundavam sua mente. As informações sobre o mundo atual começavam a se ajustar, e ela tentava entender mais sobre a nova vida que estava assumindo.

"Atualmente, Celeste é a primeira filha mulher do Duque Cedric Voss... Ela tem três irmãos mais velhos e uma irmã mais nova, mas é considerada inútil por causa da sua reclusão..." Celeste refletia, absorvendo as informações. As memórias da verdadeira Celeste eram confusas, mas algumas delas começavam a fazer sentido.

"Cedric Voss... Esse sobrenome não me é estranho," murmurou ela, o pensamento atravessando sua mente como uma faísca. Sentia que havia algo mais ali, algo que ainda não conseguia entender completamente.

Ela se levantou lentamente e caminhou até a janela. Observou o que podia do mundo lá fora, a luz suave da tarde filtrando-se pelas cortinas. Sentou-se em um sofá próximo e fechou os olhos, permitindo-se relaxar por um momento. As memórias e as dores estavam se misturando em sua mente, e o cansaço começava a pesar de forma pesada.

"Eu deveria me preocupar com tudo isso agora? Devo me focar em entender esse mundo... ou seria melhor apenas descansar?" Celeste sussurrou, os olhos começando a se fechar. Seu corpo finalmente cedeu, e ela se entregou ao cansaço, seus olhos se fechando completamente.

O sono a envolveu, profundo e implacável. A confusão, as memórias e os novos pensamentos começaram a se esvair enquanto ela adormecia, permitindo-se, finalmente, um descanso que já era mais do que merecido.

Um pouco depois

Elys entrou silenciosamente no quarto, seus passos leves e cautelosos, como se temesse interromper algo importante. A porta se abriu com um leve rangido, e ele olhou para o lado da cama onde Celeste havia se deitado. A luz suave do final da tarde entrava pelas janelas, banhando o quarto com um brilho dourado, mas o ambiente parecia pesado, carregado de uma tensão silenciosa.

Apenas parado à porta, Elys ficou observando-a por alguns instantes. O ambiente parecia calmo, mas a preocupação em seus olhos não se dissipava. O que ele queria mais naquele momento era garantir que ela estava bem, que nada de ruim estava acontecendo enquanto ele não estava lá. A dor, as memórias que ainda pareciam estar a invadir o corpo de Celeste... tudo isso o deixava inquieto.

"Celeste?" Ele chamou seu nome suavemente, tentando não assustá-la, mas também sem muita certeza de como ela reagiria. No entanto, ela não respondeu. Apenas respirava com um ritmo constante e tranquilo, como se estivesse em um sono profundo.

Celeste estava ali, deitada no sofá perto da janela, com os olhos fechados, o corpo relaxado, mas com uma aura de exaustão visível. Ela parecia distante, imersa em algum pensamento profundo, ou talvez apenas buscando escapar dos próprios tormentos. O rosto dela estava pálido, e os cabelos vermelhos, como sangue, caíam em suaves ondas ao redor de seu travesseiro improvisado.

Elys observou Celeste por mais alguns momentos, com o coração apertado. A bandeja com a refeição ainda estava ali, mas ela parecia tão cansada, tão fraca, que ele sabia que ela não teria forças para se alimentar agora. O olhar que ele lançou à princesa era de profunda preocupação. Ela estava tão imersa em seu próprio turbilhão de memórias e sentimentos que sequer parecia ter notado o mundo ao seu redor.

O tempo parecia se arrastar enquanto ele pensava em como lidar com a situação. Ele queria que ela tivesse forças, que fosse mais forte, mas sabia que as circunstâncias estavam além de qualquer controle. A dor física que ela sentira, a fragilidade de seu corpo... Tudo estava gritando por descanso.

Com um suspiro, ele pegou a bandeja com a refeição que trazia e a colocou cuidadosamente ao lado dela, para que, ao acordar, ela pudesse se alimentar sem esforço. Ele sabia o quanto a situação era difícil, e o quanto a força que ela precisava reunir era quase sobre-humana. Mas ele não conseguia ignorar o fato de que, mesmo com todas as dificuldades, Celeste parecia distante de tudo isso.

Decidido, Elys se aproxima novamente após ter deixado a bandeja sobre uma mesa, foi até o sofá, abaixando-se ao lado de Celeste. Sua mão tocou levemente seu ombro, mas ela não reagiu. A jovem estava completamente alheia ao ambiente, os olhos fechados em um sono profundo e, aparentemente, reparador.

"Você não deveria estar aqui... dormindo desse jeito", murmurou para si mesmo, mas suas palavras caíram no ar sem resposta.

Sabia que precisaria mover Celeste até a cama, mas não queria forçar nada. O corpo dela parecia tão leve e frágil, e ele queria ser o mais cuidadoso possível. Com as mãos trêmulas, Elys cuidadosamente passou um braço por debaixo dos ombros dela e o outro por trás de suas pernas. Ela estava tão relaxada, ainda alheia ao que acontecia ao seu redor. Elys podia sentir o calor do corpo dela, a suavidade dos seus cabelos vermelhos caindo por sobre o travesseiro improvisado.

Com um suspiro pesado, ele a levantou delicadamente, mantendo-a firmemente, mas sem fazer movimentos bruscos. O quarto estava quieto, e ele, em seu instinto protetor, não queria fazer barulho. Com uma leve dificuldade, Elys começou a caminhar, a princesa ainda nos seus braços, como se fosse uma criança. Ele tinha a sensação de que, de algum jeito, Celeste estava tão leve quanto a brisa da manhã. Ela não fez nenhum movimento, nenhuma palavra, nada. Apenas seguiu adormecida, entregue à sua exaustão.

Ele a colocou cuidadosamente na cama, ainda mantendo-a em seus braços por um momento, observando-a com ternura. Seus olhos estavam fechados e o semblante, embora pálido, parecia um pouco mais sereno. Ele ajeitou o edredom ao redor dela, cobrindo seu corpo com suavidade, sem querer interromper seu descanso. A princesa estava em um sono profundo, uma recuperação que ele sabia que era essencial.

Ele ficou ali por alguns minutos, sem se mover, apenas olhando para o rosto dela. A luz do final da tarde lançava sombras suaves sobre seus traços, fazendo-a parecer mais vulnerável do que ele havia visto antes. As memórias de tudo o que ela passara, e a sensação de que estava perdendo algo... ainda estava ali. Elys sabia que, de algum jeito, essa dor estava muito além do que ele podia ajudar.

Finalmente, ele se levantou, uma expressão de pesar se formando em seu rosto. "Descanse, Celeste", sussurrou, uma promessa silenciosa. "Eu estarei aqui quando acordar."

Elys então se retirou lentamente, fechou a porta suavemente e se afastou, ainda com a imagem de Celeste repousando em sua mente, seu corpo leve e vulnerável na cama. Sabia que, enquanto ela estivesse assim, ele estaria ao lado dela, tentando de todo coração aliviar o peso que parecia sobrecarregar seus ombros.

O despertar da alma

Por um momento, Viana estava imersa em um estado de semiconsciência. Os limites entre os sonhos e a realidade começavam a se desfocar, e, lentamente, uma voz distante se infiltrou em sua mente, chamando por ela. Era uma súplica que parecia vir de muito longe, mas com uma urgência crescente, como se a voz de alguém precisasse ser ouvida a qualquer custo.

"Por favor... Por favor..." O pedido ecoava, suave, mas desesperado.

"Me deixe dormir, eu tô cansada..." Viana diz, voz se arrastava, carregada de exaustão.

Mas havia algo mais, algo que não podia ser ignorado. "POR FAVOR, ME ESCUTA!!!" Agora, a súplica era clara e direta, uma demanda que cortava a névoa que envolvia sua mente. Seus olhos se abriram lentamente, e o ambiente ao redor dela começou a tomar forma. A visão, ainda turva, focou em uma figura misteriosa à sua frente.

Ela não era humana. Ou, ao menos, não parecia. Seus cabelos e olhos eram vermelhos como fogo, a luz que emanava dela estava quase hipnotizante. Era como se ela fosse uma visão, algo fugaz e efêmero, mas ao mesmo tempo real. O reflexo de sua própria aparência, apenas distorcido, quase como um espelho quebrado. Algo familiar, mas diferente.

Viana sentiu seu corpo se mover automaticamente em resposta à figura. Suas palavras saíram quase sem querer, um murmúrio de confusão:

— "Eu...?"

A mulher diante dela parecia ansiosa, desesperada. Ela se aproximou de Viana, e, ao tocar suas mãos com firmeza, o calor daquela presença parecia incendiar a própria essência de Viana, fazendo com que suas palavras escapassem de sua garganta sem qualquer controle. A mulher chorava, lágrimas vermelhas, como se o próprio sangue se convertesse em lamento.

— "Por favor... Não viva como eu," ela implorou, sua voz quebrada por uma dor que transcendia o tempo. "Mostre a eles que não sou uma inútil... Ao menos faça isso por mim, pois eu não consegui."

Viana sentiu uma onda de memórias, de imagens, de sensações que não eram suas, mas que começaram a invadir sua mente. As memórias da verdadeira Celeste, a mulher cujo corpo ela agora habitava, começavam a se infiltrar, e o turbilhão de informações a sobrecarregava. Cada fragmento de vida, de dor, de frustração, de limitações que Celeste havia vivido estava agora se tornando uma parte de Viana também.

— "O segundo príncipe... Ele não deve ser Imperador... Jamais! Não deixe eles casarem você com ele!" a figura continuou, sua voz um grito desesperado.

Foi como se uma avalanche de informações tivesse explodido na mente de Viana, e, com um suspiro assustado, ela acordou do transe, ainda assustada com a intensidade da experiência. Seu coração batia forte, e ela levou alguns segundos para se recompor.

— "A-ah... O que foi isso...?" Ela sussurrou, mais para si mesma, tentando entender o que havia acabado de acontecer.

Durante todos os séculos em que havia mudado de corpo e identidade, nunca antes havia ocorrido algo assim. Nenhuma alma havia se comunicado com ela enquanto estava em um novo corpo. Nunca uma alma tinha reclamado da posse de seu corpo de forma tão intensa e clara. Era como se algo dentro dela estivesse prestes a quebrar um ciclo que durava milênios.

Ela se sentou na cama e olhou ao redor. A comida estava ali, ao lado dela. Com um gesto automático, Viana pegou a água e bebeu, depois começou a comer, mas seus olhos estavam distantes, seu corpo ainda se recuperando do turbilhão de emoções e informações. O relógio nas paredes do quarto dizia que já estava escuro. Não sabia quantas horas haviam se passado, nem mesmo quanto tempo se dera ao descanso. Apenas sabia que algo havia mudado.

Por fim, decidiu chamar Noctis, seu confidente e protetor, que sempre estivera ao seu lado em todas as suas vidas, em todas as reencarnações.

— "Noctis..." sussurrou, e sua voz reverberou no silêncio do quarto. Assim que o nome escapou de seus lábios, as sombras se moveram, e, do canto mais escuro do quarto, uma figura alta e imponente apareceu. Noctis.

Ele era uma presença poderosa, e, embora seus olhos dourados brilhavam mesmo na escuridão, ele não era apenas uma sombra. Ele tinha uma aura de força, sua altura era impressionante, e seus cabelos negros, como a escuridão, caíam levemente sobre seu rosto. Sua voz profunda ecoou com suavidade.

— "Minha senhora... Pensei que não iria me chamar."

Viana o observou com um olhar de curiosidade e cansaço. Ela sentia o peso de tudo o que havia acontecido de forma diferente de suas outras reencarnações.

Noctis se aproximou, seus passos silenciosos e firmes, e pegou sua mão com uma leveza que, mesmo em sua força, era cheia de carinho e devoção.

— "Estava com saudade por acaso?" perguntou Viana, com um tom de brincadeira.

Ele olhou-a com um sorriso leve, mas seu olhar se manteve firme, como se quisesse mostrar que o cuidado que tinha por ela nunca se desfez.

—"Tsk! Não fale bobagens..." Ela se afasta se sentando sobre a penteadeira enquanto olhava para noctis através do espelho espelho

— "Sabe que vivo por você, minha mestre." Ele disse com a seriedade de sempre, deixando claro o vínculo que os unia.

Noctis, como sempre, se aproximou dela e pegou uma escova. Com movimentos experientes e gentis, começou a pentear seus cabelos vermelhos. Aquelas mãos que haviam estado com ela por séculos, através de várias encarnações, pareciam confortá-la de uma maneira que nenhum outro poderia.

— "Sempre esse vermelho fascinante", ele murmurou. "É uma pena que agora você pareça tão frágil. Prefere ficar nessa aparência?"

De repente, a imagem de Viana no espelho, refletindo sua forma antiga, apareceu diante dela. Aquela mulher poderosa e temível que havia sido tantas vezes no passado, com seus cabelos vermelhos e olhos flamejantes. Uma força indomável.

A sua eu, cujo tudo que almejava era caos e destruição no entanto, agora, ela não se sentia assim. Ela se sentia… fraca, como o corpo que agora habitava.

— "Pare com isso", ela disse, desviando o olhar do espelho. "Quer que eu destrua o mundo como antigamente também? Minha destruição corroeu você completamente?"

Noctis deu um sorriso contido e se deu por vencido. Ele sabia que ela estava lidando com mais do que apenas o corpo atual. Havia algo novo, algo que ela não poderia prever.

— "Vai dizer que assim eu não o encanto?" ela provocou, um sorriso quase imperceptível brincando em seus lábios. "No fim, eu sempre estou com cabelos vermelhos, não é?"

Ele suspirou, rindo baixo, e, por um momento, a seriedade se dissolveu. Noctis terminou de prender seus cabelos de forma simples, e o silêncio entre os dois se fez mais confortável.

— "São por volta de cinco da manhã", ele comentou, já começando a pensar em seus próximos passos. "Logo pela manhã, entrarei na mansão e trabalharei como seu empregado pessoal. Já planejei tudo."

Ela arqueou uma sobrancelha, olhando-o com um misto de ceticismo e divertimento.

— "Que inapropriado, trabalhando para uma donzela, um homem?" Ela suspirou, quase como se a ideia de depender de alguém a incomodasse. "Acho difícil que deixem."

Noctis sorriu, não se deixando abalar pela sua atitude.

— "Não se preocupe. Apenas relaxe e eu cuidarei de tudo. Enfim eu não acredito que tenha morrido por aquilo. Vai se vingar? Pelo que senti, avançamos uns trezentos anos depois." Ele disse, seu tom se tornando mais sério. As palavras de Noctis não passavam despercebidas. Ele sentia o peso da história, as memórias se entrelaçando com as de Viana.

Ela olhou para ele, suas palavras se tornando mais sombrias, como se uma nuvem de incerteza pairasse sobre seu coração. O que havia mudado? Ela sentia que algo estava prestes a acontecer, algo que talvez quebraria o ciclo eterno em que havia estado por tanto tempo, mas não sabia se era isso que queria.

— "Você viu? A alma desse corpo... Ela se comunicou comigo", Viana disse, sua voz mais baixa, como se ainda estivesse processando tudo o que acontecera. "Isso nunca havia acontecido... As almas geralmente perdem a memória de quem foram...

Noctis permaneceu em silêncio por um momento, absorvendo as palavras dela e o peso das implicações. Algo maior estava em jogo, algo que os envolvia a ambos. Ele sabia que a resposta a essa questão seria mais difícil do que qualquer desafio que haviam enfrentado antes.

— "Eu não sei porque isso aconteceu... Mas ou é algo que tinha nela ou tem algum propósito...", respondeu ele finalmente, sua voz suave, mas cheia de convicção. "Mas se você está prestes a quebrar o ciclo... Precisa rever seus passos..."

"Me deixe um pouco só por favor" Ela fala seguido de um suspiro e logo Noctis assente desaparecendo sobre o escuro daqueles madrugada.

imagem extra de como era a Viana

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