ELENCO:
Gilbert Blythe como Luca Dawson
Luke Powell como Connor Bryan
Kyle Harrison como Emett Bernard
Fabian Penje como Joshua Green
Moritz Hau como Brendon Willians
Alisha Boe como Felícia Rowan
Emily Rudd como Keyth Dawson
Adelaide Kane como Alissa Bryan
Sadie Sink como Garett Maclinse
Alessandro Bedetti Como Ryan Rudborge
Como Helena Rudborge
Timothée Chalamet Como Richard Daves
Malte Gardinger Como Thomáz Sando
Nils Wetterholm Como Thales Patterson
A seleção do elenco foi feita com cautela, todos se enquadram nos devidos personagens de acordo,espero que tenham curtido a seleção e que aproveitem a história 🤙🏻🔥
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A luz do sol atravessava as janelas da sala de aula, projetando sombras compridas no chão enquanto o professor explicava, em voz monótona, as fórmulas de física. O quadro estava repleto de números e símbolos que pareciam flutuar no ar, completamente ignorados pela maioria dos alunos. Cadernos abertos, olhos distraídos. As conversas paralelas preenchiam o ambiente como um zumbido constante.
No fundo da sala, sentado em sua carteira habitual, Luca Dawson rabiscava no canto de seu caderno. Os traços de seu lápis corriam pelo papel com precisão, dando forma a algo que parecia um rosto. Para Luca, a aula era apenas um pano de fundo, uma trilha sonora distante para o mundo que ele criava em seus desenhos.
"É sempre assim," pensou ele. "Eu estou aqui, mas ninguém realmente nota. É como se eu fosse uma sombra entre eles."
Ele ergueu os olhos por um momento e observou seus colegas. Alguns estavam concentrados nas telas de seus celulares, outros sussurravam piadas entre si. Nenhum deles olhava para o garoto no fundo da sala, o aluno que sempre tinha as melhores notas, mas nunca fazia parte de nada. Luca já estava acostumado a isso. A invisibilidade era uma espécie de conforto para ele, ou pelo menos, era o que ele se obrigava a acreditar.
- Luca, você sabe a resposta? – perguntou o professor, interrompendo seus pensamentos. A voz ecoou na sala e, por um breve segundo, todos os olhos se voltaram para ele.
Luca piscou, um pouco surpreso. Ele não estava prestando atenção na explicação, mas a fórmula rabiscada no quadro parecia familiar. Ele assentiu, virando-se para frente.
- A força resultante é de 42 Newtons.
O professor o observou por um momento, balançando a cabeça em aprovação.
- Correto. Muito bem, Luca.
Quando o foco da sala voltou ao quadro, Luca suspirou e abaixou a cabeça novamente, deixando o lápis fluir no caderno. A figura em seu desenho estava quase completa — uma mulher, com o cabelo esvoaçando, olhando para um horizonte distante. Ele imaginava que ela também se sentia como ele. Sozinha, invisível em um mundo barulhento.
A campainha tocou, sinalizando o fim da aula, e todos começaram a recolher seus materiais. Luca guardou seus lápis e o caderno de desenhos, jogando a mochila sobre o ombro. Ao sair pela porta, ele percebeu que a maioria dos alunos já se envolvia em conversas animadas sobre os planos para o fim de semana.
"Eu sou só mais uma figura borrada no fundo do cenário," pensou, enquanto caminhava pelos corredores quase desapercebido. Ninguém o chamava. Ninguém o cumprimentava. Era sempre assim, e Luca, de certa forma, aceitava essa rotina.
Assim que chegou em casa, Luca subiu direto para o seu quarto, jogando a mochila no chão e ligando o computador. A luz da tela azulada refletia em seu rosto enquanto ele conectava seu tablet gráfico. As janelas da cidade lá fora começavam a se iluminar conforme o sol desaparecia no horizonte, mas o verdadeiro trabalho de Luca estava apenas começando.
Ele abriu seu perfil no Instagram, @Viewer_Life, e um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. As notificações não paravam de surgir — centenas de curtidas, comentários e compartilhamentos. Mais uma vez, uma de suas artes havia viralizado. Enquanto rolava entre os comentários dos posts,lia
| @keen_mihawk: Viewer, esse é o seu melhor trabalho até agora!
| @lis.eu: me conecto tanto com suas obras. Você é incrível!
Para eles, ele não era Luca Dawson. Ele era Viewer, o artista anônimo que fazia desenhos poderosos, que tocavam as pessoas em um nível profundo. Naquele espaço virtual, ele não era invisível. Ele era visto, admirado, até mesmo reverenciado.
"Esse sou eu de verdade," pensou. "Aqui, ninguém me ignora. Eu sou alguém."
Ele abriu seu aplicativo de arte e começou a desenhar. Seus dedos moviam-se com agilidade, e uma nova imagem começou a tomar forma. Cada detalhe, cada sombra e traço, era cuidadosamente calculado. Viewer estava criando mais uma obra para o mundo ver, e ele sabia que a reação seria explosiva, como sempre.
Enquanto o desenho avançava, a sensação de isolamento e invisibilidade que ele carregava durante o dia se desvanecia. À noite, na tela do computador, ele era alguém que fazia a diferença, alguém que as pessoas admiravam.
A vida dupla de Luca era o seu segredo. Na escola, ele era uma sombra. Mas online, ele era a luz que iluminava os cantos mais profundos da criatividade das pessoas.
Luca perdeu a noção do tempo enquanto desenhava. As horas passavam sem que ele percebesse, cada linha se fundindo à próxima, dando forma a uma nova criação. Dessa vez, era um garoto parado à beira de um penhasco, com o vento agitando suas roupas, como se estivesse prestes a saltar rumo ao desconhecido. O fundo era um mar de nuvens, iluminado por uma luz difusa que deixava o cenário entre o real e o fantástico.
"Essa vai ser especial," pensou Luca, sentindo a satisfação crescer à medida que o desenho se completava. Ele sabia que suas obras causavam impacto. Havia algo na forma como capturava a solidão, a incerteza, e a beleza sombria do mundo, que ressoava com as pessoas.
Depois de algumas horas, ele finalizou os últimos detalhes, revisando as sombras e o brilho sutil no céu. Com um leve sorriso, assinou a obra com seu pseudônimo, "Viewer", no canto inferior.
Era hora de compartilhar.
Ele abriu o Instagram, fez o upload da imagem e escolheu a legenda com cuidado:
"Às vezes, a gente só precisa de coragem para dar o próximo passo, mesmo quando não conseguimos ver o que está por vir."
Postou. E, como sempre, em questão de minutos, as notificações começaram a aparecer.
"Incrível! Me sinto exatamente assim, obrigado por essa obra."
"Viewer nunca erra. Essa arte fala comigo de um jeito que eu não sei explicar. Me sinto em devaneio junto à incerteza
"Como você consegue capturar essas emoções de forma tão perfeita?"
Luca observava os comentários surgirem um atrás do outro, um pequeno orgulho crescendo em seu peito. A resposta que ele encontrava como Viewer era completamente diferente de qualquer coisa que experimentava na vida real. Aqui, ele era admirado, as pessoas se importavam com o que ele tinha a dizer — ou a desenhar.
"Se ao menos eles soubessem quem eu sou," pensou, imaginando por um instante como seria se, na escola, as mesmas pessoas que o ignoravam soubessem que ele era o famoso Viewer.
Mas a ideia logo se dissipou. O anonimato era parte do mistério, parte do motivo pelo qual Viewer era tão intrigante. Revelar sua verdadeira identidade poderia acabar com toda a magia. Luca Dawson não tinha a mesma força, o mesmo impacto. Viewer existia porque ninguém sabia quem ele era.
Um toque suave na porta o tirou de seus pensamentos. A porta se abriu devagar, e a cabeça da mãe de Luca apareceu no vão.
- Luca? Está na hora de dormir. Você tem aula amanhã – disse ela, com um sorriso cansado.
Luca olhou para o relógio no canto da tela do computador e percebeu que já passava da meia-noite. Ele suspirou, desligando o monitor.
- Tudo bem, já estou indo, mãe.
Ela fechou a porta com delicadeza, deixando Luca novamente sozinho em seu pequeno mundo.
"Mais um dia de invisibilidade," pensou, apagando as luzes do quarto e se jogando na cama. O quarto mergulhou na escuridão, exceto pelo brilho fraco do celular em sua mão enquanto ele ainda espiava as últimas notificações do Instagram antes de dormir. Um último comentário chamou sua atenção:
| @vikko.handre: Quem é você, Viewer? Parece que você me conhece tão bem, mas ninguém sabe quem você realmente é...
Luca encarou a tela por um momento, absorvendo as palavras. Era curioso como tantas pessoas se sentiam conectadas a ele, sem nem saber quem ele era. Talvez, de certa forma, ele também se conectava com elas através de sua arte. Era mais fácil expressar seus pensamentos e sentimentos dessa maneira do que em palavras ou em interações do mundo real.
"Talvez eles realmente me conheçam melhor do que qualquer pessoa ao meu redor," pensou Luca, antes de finalmente apagar o celular e deixar o sono tomar conta.
O dia seguinte começou como qualquer outro. Luca acordou com o som insistente do alarme, e o céu lá fora ainda estava pintado com os tons pálidos do amanhecer. Ele se arrastou para fora da cama, vestiu-se de maneira automática e desceu as escadas para tomar café. Sua mãe estava na cozinha, com uma xícara de café na mão, assistindo ao noticiário da manhã.
Dormiu bem, filho? – perguntou ela, sem tirar os olhos da TV.
Uhum – murmurou Luca, pegando uma torrada e dando uma mordida sem muita vontade.
Ele não mencionava seu trabalho como Viewer para ninguém, nem mesmo para sua mãe. Ela sabia que ele gostava de desenhar, mas não tinha ideia do sucesso que ele fazia online. Luca preferia manter isso como seu segredo.
Ao chegar na escola, tudo seguia como sempre. Os alunos passando por ele sem olhá-lo, como se ele não estivesse ali. Luca não se importava, não mais. Ele guardava sua energia e criatividade para o momento em que voltava para casa, onde poderia ser quem realmente era.
No intervalo, ele foi até a biblioteca. Sentou-se em uma mesa isolada e pegou o caderno de desenhos da mochila. Enquanto rabiscava sem compromisso, ele ouviu um grupo de alunos comentando animadamente na mesa ao lado.
- Você viu a nova arte do Viewer? – disse uma garota, claramente animada.
- Claro! Ele postou ontem à noite. Cara, é sempre incrível – respondeu um garoto. – Gostaria de saber quem ele é.
Luca congelou por um momento, as palavras ecoando em seus ouvidos. Aqueles eram seus colegas de classe, e eles estavam falando sobre ele... mas sem a menor ideia de que o próprio Viewer estava sentado bem ali, a poucos metros.
Ele baixou a cabeça, escondendo um sorriso discreto. O anonimato lhe dava uma certa liberdade, e essa liberdade era algo que ele não estava disposto a abrir mão tão cedo.
"Deixe que eles continuem imaginando," pensou, voltando a rabiscar em seu caderno. "Viewer é mais real para eles do que Luca jamais seria."
O som abafado da bola de basquete quicando no chão ecoava pelo pátio do colégio. O sol estava alto, e a maioria dos alunos aproveitava o intervalo ao ar livre. Luca estava sentado na arquibancada, afastado da confusão, com o caderno de desenhos equilibrado no joelho. Para ele, o intervalo era o momento perfeito para observar a vida escolar de longe, em silêncio. Seus dedos traçavam rapidamente as linhas que formavam o esboço de uma cidade à noite, enquanto seus olhos, atentos, captavam cada detalhe ao seu redor.
No entanto, naquele dia, algo fora do comum aconteceu. Um burburinho maior do que o normal tomava conta do pátio. Todos os olhares estavam voltados para um grupo de veteranos do terceiro ano jogando basquete, mas não era o jogo em si que chamava atenção. No centro da agitação, um aluno novo, que Luca ainda não tinha visto, implicava com os veteranos.
O garoto era alto, com uma expressão desafiadora e ombros largos. Suas roupas pareciam desalinhadas, o que combinava com sua atitude desleixada e, ao mesmo tempo, agressiva. Ele se movia de um lado para o outro da quadra, tentando tirar a bola das mãos dos jogadores mais velhos. Suas provocações eram barulhentas e diretas.
Ei, veteranos, por que não me deixam jogar? – provocou ele, rindo de forma sarcástica. – Ou será que têm medo de perder para um novato?
Luca observava em silêncio, sem se importar muito no início. Esse tipo de conflito entre veteranos e novatos era comum. No entanto, algo nesse novo aluno parecia diferente. Ele não estava apenas implicando — ele estava claramente tentando causar problemas.
"Ele vai acabar arrumando confusão mais cedo ou mais tarde," pensou Luca, enquanto voltava sua atenção para o caderno, traçando as sombras da cidade fictícia que desenhava.
O novo aluno, cujo nome ele ainda não sabia, finalmente conseguiu pegar a bola das mãos de um dos veteranos. O grupo de terceiro ano parou, encarando o garoto com desdém.
Você quer mesmo jogar com a gente, novato? – perguntou um dos veteranos, um garoto alto com expressão de tédio, conhecido por ser um dos capitães do time de basquete da escola. – Então, por que não tenta vencer a gente numa partida de verdade?
A tensão no ar ficou palpável. Alguns dos alunos ao redor começaram a se aproximar, esperando para ver no que aquilo ia dar. O novo aluno sorriu de forma desafiadora e segurou a bola com força.
Vamos nessa – disse ele, olhando diretamente nos olhos do veterano. – Eu sou melhor do que vocês pensam.
Luca, que observava de sua posição na arquibancada, começou a rabiscar os traços do garoto novo em seu caderno, quase sem perceber. Ele tinha o hábito de desenhar as figuras que chamavam sua atenção, mesmo que indiretamente. Algo na postura do garoto, na maneira como ele desafiava o sistema natural da escola, lhe parecia interessante.
Os veteranos trocaram olhares rápidos entre si, e então a partida começou. O novo aluno era habilidoso com a bola, movia-se com agilidade e parecia determinado a provar seu ponto. Entretanto, os veteranos não eram inexperientes, e o jogo rapidamente se transformou em uma troca intensa de provocação e competitividade.
Os alunos ao redor assistiam com olhares ávidos. Alguns torciam pelos veteranos, outros estavam simplesmente curiosos para ver até onde o novato iria.
Luca, por sua vez, observava tudo com uma certa distância emocional. Ele nunca se envolvia em situações como aquela. Na maioria das vezes, preferia permanecer à margem, invisível, observando como um espectador silencioso. Assim como Viewer, ele preferia ver o mundo de fora, sem se deixar envolver.
A partida se arrastou por mais tempo do que o esperado. Apesar da provocação inicial, o novo aluno estava conseguindo manter o ritmo, forçando os veteranos a se esforçarem mais do que o normal. Mas a tensão logo começou a transbordar.
Em um momento decisivo, um dos veteranos tentou derrubar o novo aluno com um empurrão mal disfarçado de uma "jogada" de corpo. O garoto, desequilibrado, tropeçou e caiu de costas no chão da quadra, segurando-se pela borda da cesta.
O silêncio caiu sobre o pátio. Luca levantou o olhar do caderno, vendo a cena desenrolar-se com mais atenção. O garoto permaneceu deitado no chão por um segundo, o rosto escondido pela sombra da cesta de basquete. Então, lentamente, ele se levantou, batendo as mãos nos joelhos e ajustando as roupas. O sorriso desafiador voltou ao seu rosto.
É assim que vocês jogam? – perguntou ele, a voz carregada de sarcasmo. – Achei que fossem mais durões.
Os veteranos não responderam, mas seus olhares eram frios, como se esperassem outro tipo de provocação para avançar. Era claro para Luca que a situação estava prestes a se descontrolar.
"Esse cara vai acabar se metendo em problemas," pensou Luca, observando a dinâmica entre eles. "Se continuar assim, vai arranjar encrenca com todo mundo, até os que não se importam."
Mas, como sempre, Luca ficou apenas observando. Ele não era do tipo que interferia — sua vida estava nas sombras, assim como seu alter ego, Viewer. Além disso, ninguém esperava que ele fizesse algo. Para eles, ele era apenas mais um rosto no fundo da multidão, invisível, enquanto o caos se desenrolava à sua frente.
Ele observou a situação de longe, capturando o momento em seus desenhos, refletindo sobre como esse novo elemento, esse garoto problemático, mudaria o clima já caótico da escola. O mundo ao seu redor continuava a girar, e Luca, como sempre, observava tudo de seu ponto seguro, à distância.
A quadra de basquete, que antes estava tomada por risos e gritos de incentivo, agora parecia envolta em uma tensão densa. O novo aluno se levantou, batendo a poeira de suas roupas, enquanto os veteranos trocavam olhares silenciosos. O capitão do time, um garoto chamado Ryan, se aproximou lentamente, os punhos cerrados ao lado do corpo.
- Acha engraçado? Ryan perguntou, a voz baixa, quase um sussurro, mas carregada de fúria.
O novato ergueu uma sobrancelha, desdenhoso.
- É, um pouco. Vocês acham que são donos desse lugar, né? Só porque estão aqui há mais tempo não significa que são melhores que eu. E, de qualquer forma, até agora, parece que quem tá ganhando sou eu.
Ryan não respondeu. Os outros veteranos, que antes observavam de longe, começaram a se aproximar lentamente, formando um semicírculo em volta do garoto. Um silêncio pesado tomou conta da quadra. Os alunos que assistiam ao jogo perceberam a mudança no clima e começaram a se afastar, pressentindo que algo ruim estava prestes a acontecer.
Luca, sentado na arquibancada, parou de desenhar por um momento. Seus olhos estavam fixos na cena, o lápis suspenso no ar. Ele podia sentir a tensão crescente, e, embora preferisse manter-se alheio às confusões da escola, algo nessa situação o prendeu.
"Isso não vai acabar bem," pensou Luca, observando a postura tensa dos veteranos. Ele conhecia aquele tipo de situação. Vira muitas outras parecidas ao longo dos anos uma faísca de provocação que, em um piscar de olhos, poderia se transformar em uma explosão violenta.
Ryan deu mais um passo à frente, o rosto agora a poucos centímetros do do novato.
- Quer uma lição, novato? a voz de Ryan estava carregada de desprezo. - Você precisa aprender a respeitar os veteranos. E a gente vai te ensinar do jeito difícil.
O novo aluno, teimoso, riu, como se estivesse desafiando o inevitável. Ele se endireitou, seus olhos brilhando com a mesma atitude provocadora que tinha mostrado desde o início.
- O que foi? Vocês precisam de um grupinho pra se sentirem fortes? Que piada.
O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor. Ninguém ao redor ousava dizer nada. Luca observou enquanto os veteranos avançavam mais um passo, cercando o garoto de maneira ameaçadora. O novo aluno não recuou, mas Luca conseguia ver que ele estava começando a entender a gravidade da situação.
"Ele passou do ponto," pensou Luca, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. "Agora não tem mais volta."
Os veteranos se moveram ao mesmo tempo, como se tivessem ensaiado. O primeiro golpe foi um empurrão no peito do novato, que o fez cambalear para trás. Ele tentou se manter firme, mas antes que pudesse reagir, Ryan desferiu um soco direto no estômago, fazendo-o dobrar-se de dor.
O novo aluno caiu de joelhos, arfando, e os outros veteranos o cercaram. Ninguém interveio. A multidão de alunos que antes assistia ao jogo agora apenas observava em silêncio, como se estivessem paralisados pelo que viam. Luca, ainda na arquibancada, sentia o nó no estômago apertar. Era como assistir a uma queda lenta e inevitável, algo que ele sabia que poderia ter sido evitado, mas que agora seguia um curso irreversível.
"Deveria fazer algo?" pensou Luca, mas a resposta veio rápida em sua mente. "Não. Isso não é problema meu."
Os veteranos começaram a desferir chutes e socos no garoto caído. Cada impacto ecoava pelo pátio, misturado aos murmúrios da plateia. O novo aluno, que antes era cheio de confiança e arrogância, agora estava vulnerável, tentando proteger-se como podia, mas sem chances de escapar.
Luca observava tudo de longe, o lápis ainda suspenso no ar. Algo na cena o prendia, uma mistura de curiosidade e repulsa. Ele sabia que não era o único a sentir isso a tensão no pátio era palpável, como uma tempestade prestes a desabar. E então, no meio do caos, o olhar do novo aluno, ainda deitado no chão, cruzou-se com o de Luca.
Por um breve momento, parecia que o tempo parou. Os olhos do garoto, antes cheios de desafio, agora mostravam dor e desespero. Luca sentiu um aperto no peito, mas permaneceu imóvel. Ele sabia que ninguém esperava nada dele. Ele era apenas uma sombra, uma figura apagada nas arquibancadas, um espectador invisível. No entanto, aquela troca de olhares ficou gravada em sua mente.
O som de passos apressados rompeu o silêncio. Um professor, finalmente percebendo a situação, correu em direção à quadra, gritando para os veteranos pararem. Em um instante, os veteranos se dispersaram, afastando-se como se nada tivesse acontecido, suas expressões neutras e indiferentes.
O novo aluno ficou no chão por alguns segundos, antes de se levantar lentamente, o corpo claramente marcado pela surra que levara. Ele passou os olhos pela multidão, ainda com uma sombra de orgulho no rosto, mas os sinais de dor eram evidentes. Com um último olhar para os veteranos, ele se afastou, caminhando com dificuldade em direção à saída do pátio, sem dizer uma palavra.
Luca, parado no meio da arquibancada, observou o garoto desaparecer pelo corredor. Ele sabia que aquela não seria a última vez que veria o novo aluno, e que a tensão entre ele e os veteranos estava longe de acabar. Algo naquela situação parecia inacabado, como se houvesse mais por vir.
"Que Déjà vu" pensou Luca, fechando o caderno de desenhos. O som da campainha interrompeu seus pensamentos, sinalizando o fim do intervalo.
Enquanto Luca descia as escadas da arquibancada e seguia em direção à sala de aula, sentia o peso daquela troca de olhares ainda preso em sua mente. O novo aluno poderia ser um problema, mas, de alguma forma, ele parecia ter mais profundidade do que a primeira impressão deixava transparecer.
Ainda pensativo, Luca entrou na sala e sentou-se em sua mesa. O zumbido habitual das vozes dos colegas encheu o ambiente, mas ele não conseguia tirar o acontecimento do pátio da cabeça.
"Quem é esse garoto, afinal?" pensou Luca, enquanto rabiscava distraidamente no canto de uma folha de papel. Algo naquele olhar, naquela vulnerabilidade escondida sob a fachada de rebeldia, mexera com ele de uma forma que não conseguia entender.
Essa mancada do aluno novo não acabaria ali, com certeza os veteranos colariam os olhos nele agora que ele os provocou
Luca estava em seu quarto, as luzes baixas iluminando apenas o suficiente para que ele pudesse enxergar a tela de seu tablet gráfico. Seus dedos se moviam com precisão enquanto ele traçava linhas firmes, mas delicadas. Na tela, uma nova obra estava tomando forma: uma figura solitária, de costas para o observador, parada diante de uma vastidão nebulosa. A silhueta estava encurvada, quase como se estivesse sendo puxada para trás por memórias pesadas, mas ainda assim, seus pés permaneciam firmes no solo.
A névoa ao redor parecia representar o passado, uma coleção de formas indefinidas e sombras, sussurrando arrependimentos e erros. A figura central, embora de pé, transmitia uma sensação de fragilidade, como se estivesse à beira de ser engolida pelo próprio arrependimento.
"Essa deve ser a sensação," pensou Luca, parando por um momento para observar o progresso de seu desenho. "De carregar o peso do que já foi, sem saber como seguir em frente."
Ele suspirou profundamente. Havia algo melancólico em sua criação dessa vez, algo que tocava em uma parte de si que ele preferia manter trancada. Quando finalmente terminou a obra, Luca recostou-se na cadeira e ficou encarando a imagem por alguns minutos, perdido em pensamentos.
"Será que todos carregam algo assim?" refletiu. "Ou será que sou só eu?"
Era tarde. Ele sabia que deveria estar dormindo, mas aquela sensação persistente de inquietude o mantinha acordado. Mesmo assim, postou a arte em seu Instagram, "Viewer", com uma legenda cuidadosa:
"Às vezes, o peso do passado nos prende, mas o que importa é continuar em pé."
Logo, as notificações começaram a aparecer, mas Luca as ignorou por ora. Desligou o tablet e foi se deitar. O sono o alcançou lentamente, enquanto seus pensamentos vagavam pela figura solitária que havia criado.
No dia seguinte, Luca acordou com o som irritante do despertador. Ele se espreguiçou, pegou o celular e abriu o Instagram. As curtidas e os comentários se acumulavam, como de costume.
| @artsy_glow: “Esse realmente mexeu comigo. Obrigado por compartilhar!”
| @zezu._.vibes: “Viewer, você nunca decepciona. Essa obra é pesada,Transmite a nós a sensação de tormenta por causa de águas passadas. Surreal 🔥
| @eo.alexan_der.bnt: “Sad and Reflective 😔”
Luca não pôde evitar um pequeno sorriso antes de se levantar da cama. A arte que ele criava parecia sempre tocar as pessoas, mesmo que ele nunca soubesse exatamente por quê. Era reconfortante saber que, em algum lugar, alguém compreendia o que ele estava tentando dizer sem precisar de palavras.
Ele se arrumou rapidamente, colocou o material na mochila e desceu para tomar café da manhã. Não demorou muito até estar na escola novamente, caminhando pelos corredores lotados e, como sempre, praticamente invisível.
Quando chegou na sala de aula, as conversas já estavam rolando, todas sobre o que havia acontecido com o aluno novo no dia anterior. Luca ouviu fragmentos aqui e ali enquanto se sentava, mas não deu muita atenção.
"Connor. Então esse é o nome dele," pensou Luca, ao escutar um dos comentários de um colega. Connor, do primeiro ano, era a nova obsessão da escola — o garoto que ousou desafiar os veteranos e pagou o preço por isso.
As horas passaram lentamente enquanto Luca estava na sala de aula, cercado pelo burburinho constante sobre Connor. Murmúrios e fofocas flutuavam pelo ar como uma névoa sufocante.
"Fiquei sabendo que ele ameaçou o pessoal do terceiro ano," sussurrou uma garota sentada à sua frente.
"A Gaby me contou que ele já foi internado duas vezes. Imagina a cabeça desse garoto!" respondeu um colega, com uma risada nervosa.
Luca apenas ouvia, seus pensamentos vagando para longe das conversas. O drama ao redor de Connor estava se tornando uma história de colégio digna de um filme, mas para Luca, era apenas mais uma razão para permanecer invisível. Ele se perguntou o que o motivava a se meter em tal confusão. A ideia de desafiar os veteranos parecia tola, e ele não podia deixar de pensar que Connor estava apenas cavando sua própria cova.
Quando o relógio da sala começou a marcar os últimos minutos da aula, Luca já não conseguia mais suportar a pressão dos cochichos incessantes. O tédio e a dor de cabeça começaram a se acumular, e ele decidiu que precisava de um momento para si mesmo.
Professor, posso me ausentar um momento? – pediu Luca, levantando a mão.
O professor acenou, distraído com a correção de algumas provas, e Luca aproveitou a oportunidade. Ele saiu da sala e seguiu em direção ao banheiro, esperando que um pouco de silêncio o ajudasse a clarear a mente.
Ao entrar, Luca foi direto para uma das cabines. Não estava realmente com vontade de se aliviar; o que precisava era de um refúgio longe do barulho da sala de aula. Sentou-se na privada, tirou um caderninho de notas da mochila e começou a desenhar. As linhas começaram a fluir, uma forma mais abstrata e cheia de angústia, refletindo a confusão de seus sentimentos sobre a situação de Connor.
De repente, a porta do banheiro se abriu, e Luca ouviu passos firmes ecoando pelo azulejo frio. Ele não se importou em olhar, pois estava muito concentrado em seu desenho. Mas, então, reconheceu a voz que começou a murmurar, cheia de raiva.
"Eles vão pagar por isso. Aqueles idiotas do time de basquete... Não vão me deixar em paz, e eu não vou deixá-los em paz," dizia Connor, claramente irritado. "Ninguém me respeita, mas isso vai mudar."
Luca encolheu-se na cabine, sentindo-se um intruso em uma conversa que não deveria ouvir. Ele queria se levantar e sair, mas sua curiosidade o manteve ali, a caneta desenhando com mais intensidade, como se suas emoções pudessem ser capturadas em forma de arte.
Connor continuou a murmurar, e Luca percebeu que o garoto parecia completamente obcecado pela ideia de se vingar. Ele falava sobre planejar algo para o time de basquete, sobre como eles o haviam humilhado e como ele não deixaria aquilo barato.
"Eles não sabem com quem estão lidando. Eu vou fazer eles se arrependerem," resmungou Connor, sua voz se elevando um pouco, como se estivesse se convencendo de que o que estava pensando era o que deveria fazer.
Luca ficou paralisado, a sensação de desconforto crescendo em seu estômago. Ele sabia que aquele caminho poderia levar a consequências sérias, tanto para Connor quanto para os veteranos. O que ele deveria fazer? Era realmente seu lugar se meter naquela situação?
"Eu só quero ser invisível," pensou, enquanto os traços em seu caderno se tornavam mais frenéticos.
A tensão no ar era palpável, e a ideia de sair do banheiro parecia agora um movimento arriscado. No entanto, não poderia ignorar a crescente sensação de responsabilidade. Connor estava prestes a cruzar uma linha que poderia mudar tudo, e Luca, mesmo em sua invisibilidade, não conseguia se livrar da sensação de que deveria fazer algo.
- Pra falar a verdade, o conflito na escola não me é tão relevante,mas eles não sairão ilesos de toda a situação…
"O que ele quis dizer com isto? " - se perguntou Luca
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