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Luz e Sombra: A Dança dos Vampiros

SOMBRAS DE VALEFORD

Sob o céu cinzento e pesado, a cidade de Valeford parecia envolta em um véu de mistério. As ruas de paralelepípedos estavam cobertas por uma neblina espessa, e cada esquina parecia esconder segredos antigos, aguardando para serem revelados. Elara Hawthorne caminhava por essas ruas com passos hesitantes, seu coração dividido entre a esperança e a inquietação.

Elara Hawthorne

Ela era uma jovem de beleza singular, seus cabelos ruivos caindo como chamas emolduradas pela névoa. Os olhos castanhos, cheios de determinação, contrastavam com a vulnerabilidade que ela carregava em seu interior. A vida em Valeford tinha sido uma prisão de responsabilidades e expectativas, e Elara sonhava em ir além dos muros invisíveis que a cercavam.

Naquele dia, enquanto suas pernas a guiavam pelas ruas que conhecia tão bem, ela se encontrou em frente à mansão de Sebastian Von Lichtenberg.

A construção gótica erguia-se na colina como um predador, observando a cidade abaixo com uma presença ameaçadora. As histórias sobre o vampiro que ali residia sussurravam em sua mente, carregadas de mistério e temor.

Sebastian era um nome envolto em lendas sombrias. Viúvo, recluso, e com uma filha, Lila, que havia sido tragicamente silenciada pela morte de sua mãe. Segundo boatos, o próprio vampiro predou sua companheira.

 Diziam que ele a protegia com um fervor quase animalesco, temendo que o mundo tirasse dela o pouco que restava de sua inocência. Elara sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Havia algo naquela mansão que parecia chamar por ela, como uma sombra antiga tentando se arrastar de volta à luz.

Lila Von Lichtenberg

Sebastian Von Lichtenberg

Ela balançou a cabeça, afastando os pensamentos, e apressou o passo, tentando esquecer a estranha sensação que a invadira. Mas a imagem de Sebastian permanecia, como um eco persistente em sua mente, mesmo que ela nunca o tenha visto pessoalmente.

A jovem caminhava em direção ao mercado, seus pensamentos tão inquietos quanto as folhas que o vento levava pelo caminho. A agitação do mercado contrastava com o peso silencioso que crescia em seu peito. O murmúrio das vozes, o som dos carrinhos de madeira passando sobre as pedras, tudo parecia abafado pela tempestade que rugia dentro dela. As dívidas que assombravam sua casa pareciam crescer a cada dia, ameaçando devorar a pequena loja que ela e seu pai lutavam para manter.

— Elara, — a voz de John Hawthorne soou áspera ao seu lado, enquanto ele vasculhava legumes com dedos calejados. — Frivolidades são um luxo que não podemos nos dar. Não mais. — Ele suspirou, sem erguer os olhos, como se o simples ato de falar sobre o assunto já o esgotasse.

— Frivolidades? — Elara parou por um instante, segurando um saco de açúcar com as mãos trêmulas. — Pai, é apenas um pouco de açúcar... para fazer um bolo. Uma simples lembrança do que a vida costumava ser, antes de tudo desmoronar. — Sua voz era um sussurro cortante, carregada de frustração contida.

John levantou os olhos lentamente, seu olhar cansado, oscilando entre a tristeza e a resignação. — Um pouco de açúcar... — Ele deu uma risada sem humor, seca como a terra estéril. — Se pudéssemos viver de bolos e doces, talvez eu não precisasse me preocupar se teremos um teto sobre nossas cabeças no próximo mês. Mas não é assim, Elara. A realidade não é doce. Cada moeda importa. Cada escolha pesa como uma pedra sobre nós.

Elara sentiu um aperto no peito, o gosto amargo da impotência subindo à sua garganta. — Você acha que não sei disso? — respondeu ela, a voz quebrando levemente. — Acha que eu não sinto esse peso todos os dias? Eu só queria... — Ela parou, incapaz de continuar, as palavras morrendo em sua boca. Queria dizer que apenas desejava um pedaço de normalidade, uma lembrança de tempos mais leves. Mas até isso parecia um sonho distante agora.

John suspirou profundamente, seus ombros curvando-se sob a carga invisível que o esmagava. — Eu sei que queres, filha. Mas desejos não pagam contas. — Ele fez uma pausa, os olhos suavizando por um breve momento. — Eu adoraria te dar o mundo, mas tudo o que posso te oferecer agora é sobrevivência. E até isso está ficando difícil de garantir.

O silêncio entre eles era pesado, carregado de palavras não ditas e de uma dor compartilhada que parecia crescer como uma sombra. Elara segurou o pacote de açúcar por mais um segundo antes de devolvê-lo à prateleira, sentindo o sabor amargo da derrota.

— Vamos terminar logo com isso, — murmurou ela, virando-se para continuar a seleção dos alimentos. Mas seu pai, percebendo a decepção nos gestos dela, tocou-lhe o ombro com suavidade.

— Elara, — sua voz agora era quase um sussurro, mais suave, mais humano. — Não estou te pedindo para desistir dos teus sonhos. Só preciso que segure as rédeas agora, enquanto os tempos são cruéis. — Ele a olhou com uma expressão de quem carregava um fardo muito maior do que suas palavras deixavam transparecer. — A tempestade vai passar. Só precisamos ser mais fortes que ela.

Na mansão dos Von Lichtenberg

Sebastian observava o jardim da mansão com olhos pesados, enquanto o sol da manhã tingia o céu de um tom suave de dourado. Mas o brilho da luz não conseguia dissipar a escuridão que pairava dentro de sua casa. Sua filha, Lila, brincava sozinha entre as flores, girando em silêncio, o vestido leve flutuando ao vento. Seu sorriso era tímido, quase como uma memória distante de algo perdido para sempre. Desde a morte da mãe, o silêncio havia se tornado sua única forma de comunicação. E para Sebastian, aquele silêncio era mais ensurdecedor do que qualquer grito.

Ele suspirou profundamente, sentindo o peso de uma impotência que nunca havia sentido antes. “Como posso proteger alguém do que ela não diz?” pensava ele. Todos os dias, ele tentava alcançar sua filha, quebrar o véu de tristeza que a cercava, mas era como tentar agarrar o vento.

— Lila, — chamou ele, sua voz suave, mas firme. A menina olhou para ele, seus olhos castanhos profundos, mas vazios. Não havia palavras, não havia perguntas. Apenas o silêncio.

Sebastian aproximou-se lentamente, sentindo cada passo como um mergulho em águas escuras. Ele se ajoelhou ao lado da filha, observando o rosto sereno, mas distante dela. — Você se lembra das histórias que sua mãe contava sobre as flores? — Ele tocou uma das pétalas com cuidado, como se ela pudesse quebrar ao menor toque. — Ela costumava dizer que cada flor tem uma música, mesmo que nós não possamos ouvi-la. — Seu tom era suave, quase um sussurro, como se tentasse alcançar o coração da filha por entre as sombras.

Lila continuou a girar, lentamente, o vestido flutuando ao redor dela como a brisa leve que movia as flores. Mas suas palavras não atravessavam o silêncio.

Sebastian fechou os olhos por um momento, sentindo a dor de sua própria incapacidade. “Como posso trazer a luz de volta ao mundo dela, quando eu mesmo estou preso na escuridão?” Ele pensava, os dedos apertando levemente o caule de uma flor.

A solidão o envolvia como um manto, denso e implacável, e pela primeira vez na vida, ele se sentia verdadeiramente impotente. Havia um buraco no coração de sua filha que ele não sabia como preencher, e isso o aterrorizava. Mais do que qualquer inimigo que já enfrentara, mais do que qualquer ameaça que já havia conhecido.

— Eu vou encontrar uma maneira, — murmurou ele para si mesmo, embora não soubesse como. “Eu preciso encontrar uma maneira. Por ela. Pelo fantasma que deixamos para trás.”

ENCONTROS INESPERADOS

A jovem estava dormindo em sua cama, envolta em um sono profundo, quando, de repente, uma presença perturbadora a despertou. O escuro opressivo do quarto parecia mais denso naquela noite. Seu coração começou a bater mais rápido quando seus olhos detectaram algo, uma figura sombria. Na penumbra, ela avistou um homem misterioso, envolto em uma capa preta que absorvia a pouca luz ao redor.

— Fique longe de mim ! — gritou ela, sua voz ecoando no vazio do quarto, mas soando estranhamente distante, abafada, como se o próprio ar estivesse contra ela.

A figura avançou, seus passos silenciosos, e o pânico tomou conta de Elara. Ela recuou instintivamente, afastando-se, mas a cama a aprisionava. O homem, agora muito próximo, segurou suas mãos com uma força esmagadora, prendendo-a no colchão. O rosto dele permanecia oculto nas sombras, mas seus olhos vermelhos, brilhantes como chamas, penetravam-na com uma frieza gélida.

Ela tentou gritar novamente, mas nenhum som saiu. Desesperada, debatia-se, sentindo o medo crescente apertar seu peito. Ele inclinou-se, e o mundo à sua volta se transformou em um borrão de dor quando sentiu as presas afiadas cravarem-se em seu pescoço. A dor era insuportável, e, com um último grito, tudo se desfez em escuridão.

Com um sobressalto, Elara acordou ofegante, suada, o coração martelando em seu peito. Sentou-se rapidamente, o corpo ainda tremendo, tentando processar o que acabara de acontecer. Era um sonho, apenas um pesadelo horrendo. Tremendo, ela levou a mão ao pescoço, aliviada ao sentir a pele macia e intacta. Não havia marcas, mas a sensação da dor persistia, e a escuridão no quarto parecia mais ameaçadora do que antes.

...****************...

Na manhã seguinte, a luz do sol filtrava-se pelas cortinas, e Elara se esforçava para afastar o peso do pesadelo que a atormentara. Havia algo de inquietante que se recusava a deixá-la. Mesmo com a luz do dia, uma sombra parecia segui-la, invisível, mas presente. Saindo de casa, sentiu a brisa fresca, mas não o alívio que esperava. As responsabilidades do dia pesavam sobre seus ombros, e ela sabia que precisaria reunir toda a sua força para encarar mais um dia.

Caminhando pelas ruas de Valeford, tentou encontrar algum conforto na rotina dos pequenos comércios e nas pessoas que passavam apressadas. Mas sua mente ainda estava perdida no pesadelo, seus pensamentos distantes, até que um impacto súbito a fez parar bruscamente.

Ela bateu de frente em alguém. — O que você está fazendo? — exclamou ela, surpresa e irritada. Quando ergueu o olhar, seu coração quase parou. Diante dela, era Sebastian Von Lichtenberg. O homem tinha uma presença que a fez hesitar. Seus olhos azuis, frios e intensos, pareciam perfurá-la com um misto de curiosidade e desdém.

— Não presta atenção por onde anda? — respondeu ele, a voz grave e carregada de uma frieza que fez Elara arrepiar.

Ela respirou fundo, tentando recuperar a compostura. — Talvez você devesse ser mais cuidadoso. Ou é seu estilo esbarrar nas pessoas? — disse ela, com um toque de ironia, embora o nervosismo estivesse claro em sua voz.

Sebastian a encarou por um longo momento, um sorriso perigoso surgindo no canto de seus lábios. — Eu? Não sou o tipo que costuma errar, senhorita.

Havia algo na maneira como ele falou que a deixou desconcertada. Era como se cada palavra dele carregasse um significado oculto, uma provocação velada. Elara sentiu o impulso de recuar, mas em vez disso, manteve-se firme. — Então, da próxima vez, tente não me fazer de alvo, senhor.

Ele riu, um som baixo e quase cruel. — Um alvo, você diz? Cuidado com suas palavras, senhorita. Pode não gostar do que elas atraem.

Elara sentiu o estômago revirar com aquela ameaça velada. Mas ela não iria ceder. Não diante dele. — Pode guardar seus enigmas para outra pessoa. Eu não tenho interesse nos seus joguinhos.

A expressão de Sebastian ficou séria por um momento, como se suas palavras tivessem tocado em algo profundo nele. Ele se aproximou, diminuindo ainda mais a distância entre eles, e Elara sentiu o ar ao redor ficar mais pesado. — Não são joguinhos. Mas é interessante ver como você reage a eles.

Ela sentiu a respiração prender no peito, mas recusou-se a desviar o olhar. — E é interessante ver como você acha que pode me intimidar.

Ele deu um passo para trás, uma expressão enigmática no rosto. — Não estou tentando intimidar você. Só estou... curioso. Você é diferente.

Elara revirou os olhos, tentando disfarçar a tensão. — Todos somos diferentes, senhor. Isso não te dá o direito de me seguir por aí.

Ele sorriu novamente, um sorriso lento e calculado que a deixou ainda mais desconfortável. — Não estou seguindo você. A cidade é pequena. Mas... — ele inclinou a cabeça, os olhos brilhando de forma intensa — talvez eu devesse.

Ela deu um passo para trás, agora consciente de que estava presa no olhar dele. — Fique longe de mim.

— Talvez. Mas quem sabe? — ele murmurou, e, com uma última olhada, se afastou, deixando Elara parada no meio da rua, o coração ainda martelando no peito.

...****************...

Horas depois, a jovem caminhava pelas ruas ainda tentando afastar o encontro perturbador com Sebastian de sua mente. A lembrança do sorriso dele, do olhar cheio de segredos, a incomodava profundamente. Ela não queria pensar nele, mas não conseguia evitar.

De repente, um toque suave em seu ombro a trouxe de volta à realidade. Ela se virou rapidamente, encontrando Stephen, seu velho amigo de infância, com um sorriso caloroso no rosto.

— Elara ! Quanto tempo ! — exclamou ele, a alegria evidente em seus olhos.

— Stephen ! — Ela sorriu, aliviada com a familiaridade do amigo. — É verdade, faz tanto tempo. O que tem feito?

— Ah, estou morando em Ravenswood agora, mas estou de passagem. Pensei em você esses dias. Como você está?

Ela suspirou, tentando esconder a confusão que dominava seus pensamentos. — A mesma de sempre. Nada muito novo.

Stephen riu, mas havia uma leve preocupação em seu olhar. — Pensei que já tivesse casado ou algo do tipo.

Elara arqueou uma sobrancelha, surpresa com a pergunta. — Casada? Deus me livre dessa hora. Não estou interessada nisso.

Stephen pareceu surpreso, mas não disse nada de imediato. — Você nunca muda, Elara — disse ele, por fim, o sorriso voltando aos lábios.

Naquela época, era quase um ato de rebeldia uma mulher expressar tal desejo. Casamentos eram esperados, impiedosamente empurrados para as jovens assim que atingissem a idade apropriada. Mas Elara era diferente; ela sentia a vida pulsando em suas veias, e a ideia de ser apenas uma esposa não a atraía.

Os dois começaram a caminhar juntos, uma dança familiar de risos e lembranças, enquanto Elara se permitia relaxar na companhia de Stephen. Ele a acompanhou até sua casa, e a atmosfera entre eles parecia carregada de uma energia palpável.

— E você, já está cortejando alguém? — perguntou a moça, a curiosidade despertando em seu coração, como uma chama acesa.

— Digamos que quem eu quero não compartilha desse mesmo sentimento — disse ele, e ao olhar para os olhos dela, Elara sentiu um frio na barriga. Havia algo não dito, um subtexto que a desafiava.

— Ummm... então você está apaixonado... — disse ela, um sorriso travesso brincando em seus lábios enquanto a percepção do que estava por trás de suas palavras a envolvia. Stephen, por sua vez, parecia um pouco constrangido, mas não desviou o olhar.

— Sempre estive... — afirmou ele, a intensidade em sua voz fazendo o ar ao redor deles vibrar, como se o tempo houvesse parado. O momento era eletricamente carregado, e Elara sentiu seu coração acelerar.

— Bom, vou entrar... — disse a moça, a timidez emergindo à medida que a realidade se impunha sobre a mágica da conversa.

— Foi bom te ver — disse Stephen, um sorriso suave nos lábios, mas os olhos traíam uma emoção mais profunda.

Ela deu um leve sorriso, sua mente ainda presa na complexidade do que havia entre eles.

— Até mais — murmurou ela, enquanto ele fazia um gesto com a cabeça, a expressão em seu rosto revelando um misto de saudade e esperança.

Quando finalmente se despediram, Elara ficou parada diante da porta de sua casa, olhando para o céu escuro acima. O pesadelo da noite anterior, o encontro com Sebastian, e agora Stephen, tudo parecia interligado de alguma forma. Ela sentia que algo estava mudando em sua vida, algo que ainda não podia entender completamente.

Mas uma coisa era certa: Sebastian Von Lichtenberg não sairia tão facilmente de seus pensamentos.

Elara e Stephen

UM ACORDO

A lua cheia brilhava intensamente no céu, sua luz prateada filtrando pela janela da casa de Jhon, que sentia o peso de uma dívida que parecia sufocá-lo. Elara, ao seu lado, captava cada detalhe do desespero que seu pai tentava esconder, mas suas palavras de conforto eram engolidas pela tensão que pairava no ar.

O silêncio da noite foi subitamente rasgado por um estrondo. A porta foi arrombada, e homens mascarados, com olhos frios e cruéis, invadiram a pequena casa. O coração de Elara disparou, e ela, sem pensar, se escondeu atrás de Jhon, buscando proteção.

— Viemos cobrar a dívida, — rosnou um dos homens, a voz dura e ameaçadora.

— Eu... eu não tenho o dinheiro ainda! — Jhon balbuciou, o medo evidente em cada palavra. — Preciso de mais tempo!

O líder do grupo deu um passo à frente, mas então, uma presença ainda mais ameaçadora se fez sentir. A sala pareceu encolher quando Sebastian entrou. Sua figura dominava o ambiente, e seu olhar, gélido e calculista, encontrou Elara com uma intensidade que a fez prender a respiração.

— Jhon, Jhon... — Sebastian disse, com um tom quase divertido. — Promessas quebradas. O que eu deveria fazer com você?

Jhon deu um passo à frente, desesperado. — Por favor, Sebastian ! Só mais um pouco de tempo, eu vou conseguir !

Sebastian o encarou, os olhos brilhando com uma ameaça velada. — Tempo? Você acha que estou aqui para lhe conceder mais tempo? — Ele se aproximou de Elara, o olhar fixo nela como se tivesse acabado de encontrar algo de muito maior valor. — Talvez haja outra forma de pagamento.

Elara congelou. O olhar predatório de Sebastian a travava no lugar, enquanto Jhon, num ato de desespero, se colocou entre eles.

— Não ! Ela não tem nada a ver com isso ! — Jhon gritou, mas foi tarde demais.

Com um movimento ágil e brutal, Sebastian agarrou o pescoço de Jhon e o levantou no ar como se ele não pesasse nada. O som do sufocamento encheu o ambiente enquanto o corpo de Jhon se debatia.

— PARE ! — Elara gritou, a voz quebrando. — Eu vou com você! Eu faço o que quiser, mas por favor... deixe meu pai viver!

Sebastian a soltou com um sorriso frio, permitindo que Jhon caísse ao chão, ofegante e derrotado. Ele deu um passo em direção a Elara, os olhos brilhando de triunfo.

— Você vai comigo? — Ele sussurrou, a voz carregada de uma malícia cortante. — E em troca, eu deixo seu pai vivo. É isso que está me oferecendo?

Elara engoliu em seco, lutando contra as lágrimas. — Sim. Mas você tem que prometer que ele estará seguro e que a dívida será quitada.

Sebastian a observou por um momento, o silêncio pairando como uma lâmina prestes a cair. Então, ele riu baixinho, um som que fez a espinha de Elara gelar. — Feito. Mas saiba que, uma vez que cruzar essa linha, não há volta. Você será minha... para sempre.

— Elara, não ! — Jhon implorou do chão, os olhos desesperados. — Não faça isso !

— Eu faço isso por você, pai, — ela respondeu, sua voz trêmula, mas firme. — Não posso deixar que você morra.

Sebastian, impaciente, puxou Elara pelo braço. — Chega de melodrama. Vamos.

Enquanto era arrastada para fora, Elara lançou um último olhar para seu pai. — Eu te amo, pai. Prometo que vou voltar !

O som das rodas da carruagem ecoava pela rua de paralelepípedos enquanto a lua continuava a brilhar acima deles. Elara foi empurrada para dentro do veículo, onde o cheiro de couro e madeira antiga a cercava. Sebastian entrou em seguida, o espaço pequeno tornando sua presença ainda mais sufocante.

— Você fez uma escolha corajosa, senhorita, — ele disse, a voz baixa e letal, enquanto a carruagem começava a se mover. — Mas foi estúpida.

— Eu fiz isso para salvar meu pai, — ela retrucou, tentando manter a firmeza em sua voz, apesar do medo crescente. — E espero que mantenha sua palavra.

Sebastian a encarou com um sorriso desdenhoso, seus olhos a despindo de qualquer ilusão de controle. — Eu mantenho minhas promessas. Mas você... — ele se inclinou para mais perto, até que ela pudesse sentir a respiração dele em sua pele. — Você pertence a mim agora.

Elara segurou o fôlego, o corpo travado enquanto ele a observava como um predador. Então, como se degustasse o momento, Sebastian se aproximou ainda mais, passando o nariz pelo seu pescoço.

— Você fede a medo, — ele sussurrou, cada palavra carregada de uma ameaça palpável. — E eu me alimento disso.

Ela tremia, tentando se afastar, mas a carruagem era pequena demais para permitir qualquer fuga. Sebastian, no entanto, apenas recuou com um sorriso satisfeito.

— Você vai cuidar da minha filha, — ele disse, o tom de comando absoluto. — Lila. Você será os olhos, as mãos e a proteção dela. Mas... — ele a olhou com uma seriedade mortal. — Se ela se ferir, ou se algo lhe acontecer... saiba que você pagará o dobro.

Elara sentiu o coração acelerar. — Sua filha... eu não... eu não sou uma babá, — ela murmurou, tentando entender o que ele estava pedindo.

Sebastian a silenciou com um olhar penetrante. — Não é uma escolha, Elara. Cumpra seu papel ou será a última coisa que fará.

O silêncio dentro da carruagem era opressivo. As rodas continuavam a raspar o solo, e cada balanço do veículo parecia ecoar a incerteza que consumia Elara. O olhar de Sebastian continuava fixo nela, como uma fera que aguardava o momento certo para atacar. Mas ele não parecia apressado. Pelo contrário, havia um controle assustador em sua postura, como se já tivesse total domínio sobre a situação, sobre ela.

Elara, por outro lado, estava tentando manter a calma, mas sentia seu coração batendo tão forte que era como se cada pulsação estivesse prestes a rompê-la por dentro. A ideia de estar presa à mercê daquele homem, sem saber o que o futuro lhe reservava, a enchia de terror.

— Quem é sua filha? — Ela perguntou, tentando recuperar um mínimo de controle sobre a conversa, mesmo que suas palavras saíssem mais vacilantes do que gostaria.

Sebastian arqueou uma sobrancelha, como se a pergunta o divertisse.

— Lila, — ele disse calmamente, mas havia algo sombrio em seu tom, como se o nome carregasse muito mais do que Elara podia imaginar. — Uma menina muito especial. E você vai descobrir isso em breve.

Elara tentou decifrar as palavras dele, mas antes que pudesse reagir, Sebastian mudou de posição, inclinando-se para frente com uma velocidade que a surpreendeu. Seu rosto agora estava perigosamente próximo do dela, os olhos cintilando com uma intensidade assustadora. Ela sentiu o ar entre eles ficar mais denso, quase palpável, e seu corpo se encolheu instintivamente.

— Quero deixar uma coisa bem clara, — ele sussurrou, a voz baixa e ameaçadora, enquanto seus dedos frios tocavam de leve o queixo de Elara, forçando-a a manter o olhar fixo no dele. — Se você falhar em cuidar de Lila, não haverá lugar no mundo onde você possa se esconder de mim. Eu vou te encontrar. E o que farei com você... — Ele sorriu, um sorriso cruel e perturbador. — Será algo que você nem consegue imaginar.

Elara engoliu em seco, o medo que antes borbulhava em seu peito agora explodindo em pânico total. Ela estava diante de um monstro, um ser que parecia se deliciar com o sofrimento alheio. Mas, ao mesmo tempo, havia algo em seu olhar que indicava uma obsessão perigosa por ela.

— Eu... eu não vou falhar, — ela sussurrou, tentando manter a voz firme, mesmo que sentisse as pernas tremerem. — Vou cuidar dela, eu prometo.

Sebastian soltou seu queixo e se recostou novamente, o sorriso ainda presente, mas agora menos ameaçador. Parecia satisfeito com a submissão dela.

— Assim está melhor, — ele disse, o tom casual de alguém que acabou de fazer um acordo rotineiro.

A carruagem continuou sua jornada pela escuridão, mas agora a tensão dentro dela era quase insuportável. Elara se perguntava que tipo de vida a aguardava. Quem era realmente Lila? Por que ela deveria ser protegida a qualquer custo? E, mais importante, como Sebastian se encaixava em tudo isso?

A carruagem fez uma curva acentuada, e ela pôde sentir que estavam se afastando da cidade, as luzes desaparecendo à medida que entravam numa área mais isolada. O som das rodas nas pedras deu lugar a um suave rangido de madeira sobre terra, e a escuridão do caminho era cortada apenas pela luz da lua e das estrelas.

— Estamos chegando, — o vampiro disse, sua voz agora calma, quase indiferente.

Elara sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ela tentou olhar pela janela, mas tudo o que pôde ver foram sombras dançando entre árvores altas e imponentes. Um peso no peito começou a crescer à medida que a carruagem diminuía a velocidade. Um portão de ferro surgiu, abrindo-se com um som metálico e arrastado, como se nunca tivesse sido lubrificado, convidando-os a entrar num domínio que parecia isolado do resto do mundo.

— Bem-vinda à minha casa, Elara, — Sebastian disse, sua voz suave, mas com um tom sombrio e inescapável. — A partir de agora, este é o seu mundo.

A carruagem parou, e antes que Elara pudesse reagir, Sebastian abriu a porta e saltou com a graça sobrenatural de um predador. Ele estendeu a mão para ela, e embora tudo dentro dela gritasse para recuar, ela sabia que não tinha escolha.

Com uma respiração pesada, ela aceitou a mão de Sebastian e desceu da carruagem.

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