—Eu imploro, não vá! — implorou Ilán, com um gesto de dor enquanto segurava a barriga inchada, onde as cólicas se tornavam cada vez mais insuportáveis.
Desde a manhã, o ômega vinha sentindo leves contrações e mal-estar, mas havia suportado, acreditando que eram passageiras. No entanto, agora a dor se intensificava e se tornava impossível de ignorar. Sua respiração se tornava pesada, seu corpo tremia enquanto o instinto de proteção sobre o filho que carregava dentro o invadia. Os feromônios de angústia impregnavam o quarto, enchendo o ar com um aroma denso que deveria ter alertado qualquer um da gravidade da situação.
—Acho… acho que vou entrar em trabalho de parto — sussurrou Ilán com a voz entrecortada, o suor perolava sua testa, e sua respiração era irregular.
—Trabalho de parto? — Damon soltou uma gargalhada amarga, o tom de sua voz impregnado de sarcasmo. — Você realmente acha que vou cair em outra das suas mentiras? — Os feromônios de Damon se espalharam com dureza no ambiente, enchendo-o de autoridade e frieza. Antes que Ilán pudesse reagir, Damon o empurrou bruscamente, fazendo-o cair no chão.
Ilán caiu de joelhos, abafando um grito de dor enquanto as lágrimas brotavam involuntariamente de seus olhos. Seu corpo, frágil e dolorido, tremia de medo e desespero. Damon observou a cena por um breve instante. Uma parte dele, profundamente enterrada, queria ajudar o ômega que ele alguma vez havia amado. Mas as memórias das *mentiras* passadas de Ilán\, quando *fingia* estar doente só para reter sua atenção\, o encheram de ressentimento. Damon apertou os punhos\, inalando com força enquanto seus próprios feromônios nublavam seu julgamento.
—Não me importo — murmurou\, dando meia-volta. As palavras foram cruéis\, mas ressoaram no ar com o peso de uma decisão que o perseguiria para sempre. Damon saiu do quarto sem olhar para trás\, sabendo que seu amante o estava esperando. Sim\, Damon era um canalha\, mantinha uma relação extraconjugal com Ilán\, mas desde o princípio\, aquele casamento havia sido uma obrigação. Uma noite descontrolada em *Bali* havia resultado na gravidez de Ilán\, e Damon havia sido forçado a cumprir sua responsabilidade.
O que Damon não sabia naquele momento era que sua indiferença selaria seu destino. Naquele dia, Ilán realmente entrou em trabalho de parto, mas Damon chegou tarde demais. Ao entrar no quarto do hospital, a única coisa que encontrou foi o corpo imóvel de sua pequena filha, frágil demais, tarde demais para salvá-la.
—V-você é um assassino, Damon! — gritou Ilán, com sua voz quebrada pela dor. — Você matou nossa filha!
As palavras de Ilán perfuraram a alma de Damon. O peso da culpa se abateu sobre ele como uma tempestade escura. Os feromônios do ômega estavam carregados de ódio e devastação, inundando o ambiente com uma mistura de tristeza e desespero. Damon observou impotente como Ilán, o ômega com quem havia compartilhado aqueles meses tormentosos de casamento, chorava desconsoladamente, até que finalmente, sem mais palavras, Ilán o deixou, exigindo o divórcio e pondo fim ao pouco que restava de sua união.
O vento soprava suavemente entre as árvores altas e escuras da floresta, enquanto Damon caminhava incansavelmente. O som sussurrante de uma voz infantil tinha-o guiado até ali. Vez após outra, essa mesma frase repetida, "Papai, vem aqui!", atraía-o, fazendo-o adentrar-se cada vez mais na densidade da floresta. Damon não sentia medo, apenas uma estranha sensação de urgência, como se algo importante estivesse à sua espera.
Depois do que pareceram horas, Damon finalmente parou, seus passos se tornaram mais lentos até que ele parou completamente ao ver uma pequena menina de uns quatro ou cinco anos. Sua pele era pálida, quase translúcida, e seu vestido branco contrastava com a escuridão ao seu redor. Havia algo inegavelmente familiar em seu rosto, mas Damon não conseguia lembrar quem ela era. Sua mente o traía.
A menina o olhou diretamente nos olhos, sua expressão era serena, mas ao mesmo tempo, carregada de tristeza. Damon sentiu uma pontada no peito, e sem pensar, levantou a mão para acariciar seu cabelo fino e macio. Seu corpo reagia por instinto, como se tivesse feito esse gesto milhares de vezes antes.
—O que você faz aqui, sozinha? —perguntou Damon, sua voz carregada de preocupação. Sentia a urgência de protegê-la, apesar de não entender o motivo.
A menina o olhou com uma calma perturbadora, como se seus olhos grandes soubessem mais do que estavam dispostos a revelar.
—Estou esperando... pelo meu papai.
—Papai? —Damon franziu a testa, incapaz de compreender completamente o que estava acontecendo. O coração batia fortemente em seu peito, e um leve aroma doce, que não havia notado antes, começou a se misturar com o ar frio da floresta. Feromônios. Seu corpo reagia, mas não estava seguro do motivo.
A pequena assentiu e, com uma delicadeza quase etérea, fez um gesto para que ele se inclinasse em sua direção. Damon obedeceu, quase sem pensar, e a menina apoiou suavemente sua mão sobre seu peito, bem sobre seu coração.
—Você é meu papai.
O ar parou nos pulmões de Damon. A proximidade da menina o sobrecarregava, como se uma parte dele soubesse que isso era verdade, embora sua mente não pudesse aceitar.
—Eu? Mas… —começou a dizer, antes que as palavras ficassem presas em sua garganta. De repente, a menina começou a afastar-se, dando pequenos passos em direção à floresta profunda e escura.
—Espere! Para onde você vai? —gritou Damon enquanto começava a correr atrás dela, seu corpo inteiro cheio de adrenalina e confusão. Sentia como o aroma doce dos feromônios da menina se esvaía a cada passo que ela dava, fazendo-o correr mais rápido, desesperado para não perdê-la.
No entanto, quanto mais corria, mais distante parecia estar a menina. O suor cobria sua testa, e sua respiração tornava-se errática. Seu corpo, apesar de forte, não conseguia acompanhar o ritmo. Ele parou, incapaz de continuar, suas mãos nos joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.
—Espere... por favor —murmurou, sua voz apenas um sussurro abafado pelo cansaço.
Como se respondesse ao seu pedido, a menina apareceu novamente, desta vez de pé bem à sua frente, como se nunca tivesse se movido. Damon levantou o olhar, incapaz de acreditar no que via. Era impossível que ela tivesse percorrido tal distância em tão pouco tempo. Mas ali estava ela, com a mesma expressão tranquila e esse ar misterioso.
—Estarei te esperando, papai —disse a menina num sussurro. Sua voz ecoou no ar, envolvendo-o como um eco suave. Depois, olhando-o nos olhos, acrescentou—: Mas agora tenho que ir. Cuide do papai e do meu irmãozinho antes de estarmos juntos novamente.
Damon sentiu como seu coração batia violentamente contra seu peito. As palavras "papai" e "irmãozinho" o confundiram ainda mais. Queria perguntar, queria exigir respostas, mas as palavras se recusavam a sair de sua boca.
—Papai? Irmãozinho? Quem são eles? —perguntou, finalmente, sua voz trêmula pela confusão e desespero.
Mas a menina não respondeu. Em vez disso, começou a andar novamente, e desta vez, seu corpo desvaneceu lentamente numa nuvem de fumaça branca que foi arrastada pelo vento.
Antes de desaparecer por completo, a suave voz da menina foi ouvida uma última vez:
—Eu te perdoei, papai. Viva feliz.
Damon sentiu como seu coração se partia em mil pedaços ao ouvir essas palavras, e antes que pudesse se conter, as lágrimas começaram a cair por seu rosto. A dor em seu peito era insuportável, uma pressão que não conseguia entender. Por que sentia tanto dor? Por que essas palavras o afetavam tanto?
—Espere! Não vá! —gritou Damon, abrindo os olhos de repente, apenas para se encontrar em seu escritório, sentado diante de sua mesa.
O sonho o havia abandonado abruptamente, mas a dor em seu peito ainda estava presente. As lágrimas ainda caíam por seu rosto. Damon levou as mãos aos olhos, esfregando-os com força, como se quisesse apagar os vestígios desse estranho sonho que o perseguia noite após noite desde que havia voltado a Jacarta.
—Droga! —grunhiu, batendo na mesa com frustração. Sua respiração ainda estava agitada, e a sensação de perda o envolvia. O aroma de feromônios ainda flutuava no ar, como um vestígio do que havia experimentado no sonho. Damon sabia que aquele aroma não era real, mas seu corpo continuava reagindo, cada vez mais perturbado.
—Só precisa descobrir o que esse sonho significa —disse uma voz repentina do canto da sala.
Damon deu um pulo, surpreso por não estar sozinho. Virou a cabeça rapidamente e viu Zack, seu assistente, parado junto à porta.
—Caramba, Zack! Quase me matou de susto —bufou Damon, levando uma mão ao peito para acalmar seu coração acelerado—. O que você está fazendo aqui?
—Só faço meu trabalho, esqueceu? Você me pediu para ficar até tarde —respondeu Zack com tranquilidade.
Damon soltou um suspiro pesado, lembrando-se de que, de fato, havia pedido que Zack ficasse para terminar uns relatórios. Ultimamente, sua mente não estava no lugar. Os sonhos, os feromônios, tudo o fazia sentir-se fora de si, como se estivesse perdido em um mar de incerteza e confusão. Não conseguia se concentrar em nada, nem mesmo no trabalho.
—Desculpe. Eu esqueci completamente.
Zack o observou em silêncio por alguns momentos, notando o rastro de lágrimas nos olhos de Damon.
—Sonhou com a menina novamente, não é?
Damon assentiu, esfregando o rosto com as mãos numa tentativa desesperada de livrar-se da angústia. O aroma a feromônios intensificava-se ao seu redor, uma mistura de confusão e dor que enchia o ambiente.
—Sim. E cada vez ela me chama... de pai.
—Talvez aquela menina seja o espírito da sua filha... a que você perdeu há muito tempo.
Damon sentiu um aperto no peito.
A imagem da menina em seus sonhos, aquela que sempre o chamava de "papai", voltou a preencher sua mente. Lembrou-se também das últimas palavras que ela lhe disse, perdoando-o por tudo o que ele havia feito de errado. Essas palavras haviam aliviado, ainda que um pouco, o peso da culpa que o consumia durante todos esses anos. Os feromônios de Damon se intensificaram com a mistura de emoções, impregnando o ambiente com um aroma denso e melancólico.
—Você tem razão\, Zack... aquela menina é minha filha. Além disso\, o rosto dela se parece tanto com… —Damon se interrompeu bruscamente\, incapaz de pronunciar o nome da única pessoa que *realmente* havia amado. O nome daquele ômega, a quem havia destruído tanto física como emocionalmente sem piedade. O aroma cítrico de sua fúria e culpa se intensificou no ar—. Mas... por que em cada sonho ela me pede para cuidar do "papai" e do "irmãozinho"? —perguntou, sua mente voltando à realidade. Damon estava convencido de que Ilan só havia dado à luz uma vez. Uma menina que havia morrido antes mesmo de poder ver a luz do dia.
—E se você tivesse outro filho do qual não sabe nada? —perguntou Zack, sentindo a tensão no ambiente. Os feromônios de Damon saturavam o ar do escritório, provocando-lhe um suor frio.
—Ficou louco? Você sabe muito bem que eu só tive uma filha com meu ex… —respondeu Damon, irritado.
—E se foi com outra pessoa? Talvez outro ômega?
Não houve resposta de Damon, apenas um arquivo voando pela sala que atingiu Zack em cheio no peito. O alfa estava descontrolado pela confusão, e sua raiva era palpável.
—Eu disse que só tive um filho com meu ex e ninguém mais! —explodiu Damon, furioso. Seus olhos brilhavam com raiva enquanto seu cheiro de alfa dominante impregnava cada canto da sala, obrigando Zack a se submeter sem replicar.
Zack ficou em silêncio, sabendo que insistir só o meteria em mais problemas. O assistente temia que não fossem apenas arquivos que voariam se continuasse provocando seu chefe. Então, com um suspiro, ficou em seu lugar, resignado.
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Ao mesmo tempo, em outro lugar, em um amplo parque onde muitas crianças brincavam alegremente de futebol, uma figura sentada observava com atenção. Ilan, um ômega de beleza melancólica, olhava para seu pequeno filho de cinco anos, Gio, que corria junto com seus amigos, seu riso se misturando com os sons do parque. Um sorriso quase imperceptível cruzou os lábios de Ilan, embora uma sombra de tristeza ainda permanecesse em seus olhos.
—O tempo passa rápido, não é? Gio já cresceu muito —disse uma voz ao seu lado, quebrando o silêncio.
Ilan desviou o olhar para Hesti, seu melhor amigo, que o acompanhava no banco. As palavras de Hesti ecoaram em seu coração.
—Sim... parece que foi ontem que o tive em meus braços pela primeira vez —murmurou Ilan, com a voz embargada, enquanto as lembranças inundavam sua mente. Lembrou-se daquela noite dolorosa, seis anos atrás, quando havia dado à luz seus gêmeos em solidão. O alfa que havia prometido estar ao seu lado havia partido sem remorsos, deixando-o à mercê de sua dor e sofrimento.
O aroma suave de Ilan, um perfume de lavanda com um toque salgado de lágrimas contidas, o envolvia. Lutava para manter a compostura, mas as lembranças sempre o dominavam.
—Não pense nisso agora, Ilan. Já passou —disse Hesti, notando como a dor ressurgia em seu amigo. Sabia que cada vez que Ilan se lembrava daqueles dias, o sofrimento voltava a dominá-lo. Apesar de não ter estado presente, as vezes em que Ilan lhe havia contado a história eram suficientes para fazê-lo entender a gravidade do que havia vivido. Sobretudo, como havia perdido uma de suas filhas por chegar tarde demais ao hospital.
—Mas... você nunca pensou em perdoá-lo? —perguntou Hesti, sua voz suave, mas firme, enquanto lançava um olhar sério para seu amigo ômega.
Ilan negou com a cabeça, sua expressão se endurecendo. —Não. Nunca poderei perdoá-lo. Não depois de tudo o que ele fez —respondeu com uma resolução que parecia inabalável.
—Nem mesmo por Gio? —perguntou Hesti, vendo como o rosto de Ilan mudava com a menção de seu filho. Ilan olhou para ele, franzindo a testa, claramente confuso.
—O que Gio tem a ver com isso? Meu filho é feliz comigo. Não precisa de mais ninguém —disse com firmeza. Embora a loja de bolos que tinha fosse sua única fonte de renda, Ilan havia se certificado de dar a Gio uma vida digna e cheia de amor.
Hesti suspirou, observando Gio à distância, enquanto o menino ficava imóvel, olhando como outras crianças jogavam futebol com seus pais. —Claro que ele é feliz com você, Ilan. Mas... ele também precisa de seu pai. Você não vê? Ele fica sempre quieto quando vê as outras crianças brincando com seus pais —apontou com o olhar para Gio, que parecia ter perdido a energia enquanto observava, com uma expressão vazia, um pai e um filho compartilhando um momento de alegria no campo.
Ilan seguiu a direção para onde Hesti apontava e, após um longo silêncio, balançou a cabeça com tristeza. —Gio não precisa de um pai, muito menos de um alfa desprezível como Damon —respondeu com frieza, sua voz carregada de uma dor profunda.
O vento soprava suavemente, levando consigo o aroma de pão fresco da pequena padaria próxima, misturando-se com os feromônios dos presentes, criando uma atmosfera carregada de sentimentos não expressos.
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