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Yggdrasil: O Ciclo do Renascimento

O Despertar no Silêncio

O frio cortava o ar, arranhando sua pele enquanto ele acordava lentamente. Seu corpo estava deitado sobre a terra dura e congelada, o cheiro de grama úmida misturado ao odor da morte e sangue, um perfume que não era estranho a ele. Ele sentiu a rigidez dos músculos, mas, quando tentou se mover, o cansaço era tão grande que, por um momento, pensou que ainda estivesse morto.

Seus olhos abriram-se com dificuldade, e a primeira coisa que viu foi o céu. Um vasto oceano cinzento, sem estrelas, sem sol, sem a chama reconfortante de qualquer astro que ele reconhecesse. Estava perdido, suspenso entre a vida e a morte.

Erik, ele pensou consigo mesmo. Eu sou Erik, o Rei de Midgard. Ou ao menos eu era.

A última coisa de que ele se lembrava era o campo de batalha. Os gigantes de Jotunheim marchando sobre seu exército, a fúria do Fenrir rugindo ao longe, como um trovão que rasgava o céu. Ele havia lutado com tudo que tinha, com a determinação de um rei, com o desespero de um homem que sabia que o fim estava próximo.

Ele se lembrava do gosto do sangue em sua boca, da espada cravada em seu estômago e do frio mortal que seguira. Ele se lembrava do vento, assoviando sobre os corpos caídos ao seu redor, e de ter encarado a sombra monstruosa de Fenrir. O fim do mundo. O fim de Midgard. Mas o que ele não conseguia entender era onde estava agora.

Erik — ou quem ele era agora — ergueu-se com dificuldade, sentindo o peso do seu corpo. Os dedos moveram-se lentamente, os músculos rígidos, mas não era dor o que ele sentia. Era mais como uma sensação de desconforto, como se estivesse em um corpo que não lhe pertencia totalmente.

Quando olhou para suas mãos, ele franziu a testa. Aquelas não eram as mãos que ele conhecia. As cicatrizes, os cortes profundos de batalhas antigas, haviam desaparecido. Ele estava em um corpo jovem, forte, mas não seu. Um calafrio percorreu sua espinha.

Ele ficou de pé, cambaleante, e olhou ao redor. Estava sozinho. Ao longe, o que parecia ser uma floresta densa, as árvores eram escuras, seus galhos retorcidos como mãos decepadas. Nenhum som. Nenhum sinal de vida.

Onde estou? A pergunta ecoava em sua mente, mas não havia resposta.

Ele começou a caminhar. Não porque sabia para onde ir, mas porque ficar parado parecia errado. Cada passo era cuidadoso, como se estivesse testando o chão sob seus pés. O terreno era irregular, com pedras e pequenos montes de vegetação morta, tudo envolto por uma névoa fraca que flutuava sobre o solo. O frio não diminuía, mas não parecia afligir tanto seu corpo quanto sua mente.

Enquanto caminhava, as lembranças da batalha o invadiam. Ragnarok. Ele sabia o que isso significava. A destruição de tudo. O fim dos deuses, o fim dos reinos, o fim de sua própria existência. Por que estou aqui? Algo estava errado. Ele não deveria estar aqui. Deveria estar morto, ou talvez em Valhalla, com seus companheiros guerreiros. Mas, em vez disso, estava vagando por um lugar que não reconhecia, com um corpo que não era o seu.

Depois de um tempo que parecia indefinido — talvez horas, talvez dias —, ele parou novamente. Seu corpo já não doía tanto, mas a exaustão mental crescia. A ausência de respostas era enlouquecedora.

Foi então que percebeu algo que não havia notado antes. Ao longo de seus braços, sob as roupas esfarrapadas que vestia, havia marcas. Linhas intrincadas, como tatuagens antigas, mas que brilhavam com um leve brilho dourado, quase imperceptível. Ele puxou a manga de sua túnica, observando as marcas mais de perto. Não eram naturais, e ele não se lembrava de tê-las antes. Eram símbolos. Runas. Mas o que significavam?

Erik — ou talvez agora Alrek, um nome que surgira em sua mente sem aviso — franziu a testa. As runas pareciam se mover ligeiramente sob sua pele, como se tivessem vida própria. Elas não lhe causavam dor, mas havia algo perturbador nelas, algo que ele ainda não compreendia.

Ele fechou os olhos por um momento, respirando fundo. A batalha, a morte, o renascimento — era demais para sua mente processar. Mas ele sabia de uma coisa: precisava de respostas. E se havia algo que a batalha lhe ensinara, era que respostas só vinham àqueles que as buscavam com determinação.

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O que ele não esperava era encontrar outra pessoa tão cedo.

Enquanto caminhava pela floresta, os galhos secos das árvores arranhando seu rosto, ele ouviu algo à frente. Um som suave, quase um sussurro, como se o vento estivesse tentando dizer algo que ele não conseguia entender. Ele parou, seus sentidos imediatamente em alerta. Desde que acordara, não havia ouvido nada além do som de seus próprios passos.

Ele avançou lentamente, seus pés pisando com cuidado nas folhas secas, até que viu algo à frente. Entre as árvores retorcidas, sentado em uma rocha coberta de musgo, estava um homem. Ele parecia jovem, com cabelos negros desgrenhados e vestes simples, que contrastavam com o brilho quase etéreo ao seu redor. Mas o que mais chamou a atenção de Alrek foi o corvo pousado em seu ombro, que o observava atentamente com olhos astutos.

O homem, por sua vez, parecia totalmente à vontade, como se estivesse esperando por ele. Quando os olhos do estranho encontraram os de Alrek, ele deu um sorriso pequeno, enigmático.

— Você acordou, finalmente. — Sua voz era tranquila, quase casual, mas havia algo de perturbador nela. — Eu me perguntei quanto tempo levaria.

Alrek franziu a testa, sua mão inconscientemente movendo-se para o cabo da adaga simples que ele encontrara enquanto vagava pela floresta.

— Quem é você? — ele perguntou, sua voz mais firme do que se sentia.

O homem riu, um som leve e descontraído, como se achasse a pergunta engraçada.

— Eu? Sou apenas um observador... — Ele levantou-se lentamente, o corvo em seu ombro permanecendo imóvel, os olhos fixos em Alrek. — Mas você, Alrek, é uma peça interessante neste jogo.

Alrek deu um passo para trás, o nome reverberando em sua mente. Ele ainda não tinha certeza de quem ou o que ele era, mas aquele homem, quem quer que fosse, sabia algo.

— Como você sabe meu nome? — Alrek apertou os dentes, a frustração crescendo. — E o que está acontecendo? Onde estou?

O homem inclinou a cabeça levemente, como se estivesse ponderando a resposta.

— Ah, tantas perguntas, e tão poucas respostas. Isso deve ser frustrante para você. Mas, veja bem, Alrek, nem sempre as respostas vêm facilmente. Algumas coisas precisam ser descobertas com o tempo... — O sorriso dele cresceu, mas não havia nada reconfortante naquilo. — Mas, digamos que você está onde deveria estar. E quanto ao porquê... bem, isso é algo que você terá que descobrir por si mesmo.

Alrek estreitou os olhos, o corpo tenso. Ele não sabia quem era aquele homem, mas algo lhe dizia que ele não era alguém comum. A maneira como falava, a confiança despreocupada... tudo nele o incomodava.

— Eu não estou aqui para brincar de charadas, — Alrek respondeu, sua voz cortante. — Se você sabe algo, me diga.

O homem apenas riu novamente, como se a seriedade de Alrek o divertisse.

— Oh, não se preocupe. As respostas virão. Tudo a seu tempo, Alrek. Tudo a seu tempo.

E antes que Alrek pudesse responder, o homem deu um passo para trás, desaparecendo entre as sombras das árvores, como se nunca tivesse estado ali.

O corvo soltou um último croac antes de voar atrás dele, desaparecendo na escuridão.

Alrek ficou sozinho novamente, mas agora com mais perguntas do que antes. Ele olhou para as runas em seus braços, o brilho leve refletindo a luz pálida que começava a surgir entre as árvores. Algo muito maior estava acontecendo, algo que ele ainda não compreendia.

Mas ele sabia de uma coisa: havia alguém lá fora que sabia mais sobre ele do que ele próprio. E, de alguma forma, ele estava no centro de tudo isso.

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O Caminho Solitário

O céu continuava carregado, como se as nuvens cinzentas e pesadas estivessem presas entre dois mundos. Alrek caminhava pela floresta, sentindo o frio persistente no ar e o silêncio inquietante que envolvia cada passo seu. Suas botas encontravam o chão úmido, o som abafado de folhas e galhos secos sob seus pés. Ele já não sabia quanto tempo havia se passado desde que o estranho, aquele homem misterioso com o corvo, desaparecera nas sombras.

"Raven," pensou ele. O nome não havia sido dito, mas algo dentro de Alrek o empurrava para essa palavra. Algo naquele homem o perturbava profundamente. Ele sabia demais, falava em enigmas, mas parecia enxergar através dele, como se conhecesse sua essência melhor do que o próprio Alrek.

O vento soprava levemente, carregando consigo a sensação de uma presença, mas nenhum som ou visão além das árvores densas. Ao redor, a floresta não parecia natural. Não era a Midgard que ele conhecia, nem qualquer outro lugar que sua mente conseguia identificar. Os galhos das árvores se retorciam como espirais grotescas, projetando sombras que se moviam conforme ele avançava. A atmosfera, carregada de uma espécie de peso invisível, pressionava-o mais a cada passo.

Alrek parou por um instante. Sua mente girava, cheia de perguntas que se recusavam a desaparecer. Por que eu?. Ele havia cumprido seu destino. Morrer no Ragnarok deveria ter sido o fim de sua história, como sempre fora para todos os reis. O destino dos heróis era claro: morrer gloriosamente e, então, se juntar aos guerreiros no grande salão de Valhalla. Mas ele não estava em Valhalla. Ele estava perdido, sozinho, em um corpo jovem, mas com o fardo de uma vida inteira gravado em sua alma.

Ele olhou novamente para os braços. As runas ainda estavam lá, brilhando suavemente sob a luz fraca da floresta. Os símbolos não eram familiares, pelo menos não de maneira que ele pudesse compreender totalmente. Ele conhecia as runas antigas — símbolos usados para proteção e poder — mas essas eram diferentes. Elas pareciam vivas, movendo-se suavemente, como se reagissem aos seus pensamentos e emoções.

Alrek fechou os punhos, tentando ignorar o desconforto. As runas o perturbavam. Ele não havia pedido por esse poder, não havia escolhido carregar esse fardo. Qual é o propósito disso?

— Há poder nelas, você sabe. — uma voz suave, quase como um sussurro no vento, interrompeu seus pensamentos.

Alrek virou-se rapidamente, puxando a adaga de seu cinto por instinto. Seus olhos varreram a escuridão entre as árvores, mas ele não conseguia ver ninguém. O som parecia vir de todos os lados e de lugar nenhum ao mesmo tempo.

— Você está onde poucos têm a chance de estar, Alrek, — a voz continuou, carregada de uma calma perturbadora. — Entre a vida e a morte, onde os destinos são reescritos.

— Mostre-se! — Alrek rugiu, girando em todas as direções, tentando localizar a origem da voz. — Eu não sou mais uma criança perdida em histórias. Se sabe algo, diga-me!

A floresta permaneceu silenciosa por um momento. Então, um som baixo de passos ecoou entre as árvores. Dessa vez, Alrek viu. Uma figura encapuzada saiu das sombras, movendo-se suavemente como o próprio vento, até parar a alguns metros dele.

O homem estava coberto por um manto escuro, que se misturava com as sombras ao redor, quase se fundindo a elas. Ele manteve a cabeça baixa, o capuz escondendo suas feições, mas Alrek sentia o olhar fixo sobre si.

— Você tem muitas perguntas, como todos que despertam aqui. — a voz do homem era profunda, mas sem pressa. — Mas as respostas... essas, meu jovem, precisam ser buscadas. Não concedidas.

— Por que fui trazido de volta? — Alrek questionou, os punhos cerrados. Ele sentia o calor das runas em seus braços pulsando em resposta à presença do homem. — Quem fez isso comigo?

O homem sorriu levemente, mas era um sorriso vazio de respostas.

— Nem mesmo os deuses têm controle absoluto sobre o destino, — disse ele, finalmente revelando parte de seu rosto. Sua pele era pálida, como a de alguém que já havia estado entre o mundo dos vivos e o dos mortos. — Mas talvez haja algo maior em movimento. Algo que transcende o fim que você achou que conhecia.

Alrek deu um passo à frente, sem abaixar a guarda.

— Você está falando de enigmas novamente. Eu exigi respostas de outro como você, e ele desapareceu nas sombras. Não vou cair nos mesmos truques. — Alrek estreitou os olhos, avaliando o homem à sua frente. — Quem é você?

O homem suspirou levemente, e pela primeira vez, tirou o capuz, revelando completamente seu rosto. Ele parecia jovem, mas seus olhos, olhos profundos e azuis como o gelo, traziam a marca de alguém que havia vivido e visto muito mais do que sua aparência sugeria. Ele o encarou por um momento, como se estivesse ponderando o que dizer.

— Você está no início de uma jornada muito maior, Alrek, — ele disse, a voz mais grave agora. — Seu retorno não foi acidental. Mas, por enquanto, é tudo que posso dizer. Algumas verdades você terá que descobrir por si mesmo.

Alrek sentiu a frustração crescendo dentro de si. Ele estava cansado de enigmas, cansado de vozes misteriosas que o faziam sentir-se como uma peça em um jogo que não compreendia.

— Eu não pedi por isso, — ele disse, sua voz carregada de raiva contida. — Se há um propósito para mim aqui, eu exijo saber qual é.

O homem deu um passo para trás, sem deixar de encará-lo.

— Você está certo. Não pediu por isso. Mas o destino raramente consulta aqueles que o carregam. E agora, você é parte de algo muito maior. — Ele fez uma pausa, olhando para os braços de Alrek, para as runas brilhando sob a pele dele. — Essas runas... elas são antigas, mais antigas do que qualquer um de nós. Você foi marcado pelo poder delas. E esse poder, Alrek, é tanto uma bênção quanto uma maldição.

Alrek sentiu um arrepio percorrer sua espinha. Ele olhou para os próprios braços, observando as runas cintilarem novamente. Marcas do destino — era isso o que significavam?

— E o que eu devo fazer com isso? — ele perguntou, a raiva agora substituída por uma confusão profunda.

O homem sorriu novamente, mas desta vez, havia um toque de tristeza em seus olhos.

— Isso... é algo que você terá que descobrir. Mas saiba de uma coisa, Alrek. O ciclo que você conhecia — o ciclo de vida, morte e renascimento — foi interrompido. O Ragnarok, o fim de tudo... não terminou como você imagina. Você foi trazido de volta por uma razão, e essa razão é mais profunda do que qualquer batalha que você já lutou.

Antes que Alrek pudesse responder, o homem começou a se afastar, desaparecendo lentamente nas sombras da floresta, como se fosse parte do próprio ambiente.

— Espere! — Alrek gritou, dando um passo à frente, mas já era tarde demais. A figura já havia desaparecido, deixando-o novamente sozinho.

Alrek sentiu o peso da solidão voltar, mas desta vez, algo dentro dele mudara. As palavras do homem reverberavam em sua mente, e pela primeira vez desde que despertara, ele começou a compreender a magnitude da situação em que estava envolvido. Não era apenas sua vida em jogo. Era algo maior. Algo que envolvia os próprios alicerces do mundo.

Ele olhou para seus braços mais uma vez. As runas brilhavam suavemente sob a luz fraca do céu. Poder. Maldição. Ele não sabia o que essas palavras realmente significavam para ele, mas sabia que precisava descobrir.

Com isso em mente, ele se virou e continuou a caminhar pela floresta, sentindo que cada passo o levava para mais perto da verdade. Mesmo que essa verdade pudesse mudar tudo o que ele pensava saber.

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O Sussurro das Sombras

A floresta continuava tão implacável quanto a escuridão que engolia o horizonte. Cada passo que Alrek dava era acompanhado pelo som abafado de folhas secas se partindo sob seus pés, e o vento frio soprava constantemente, como um aviso distante de que algo o observava. As palavras daquele homem misterioso — aquele com o corvo — ainda ecoavam em sua mente. “Você está onde deveria estar.”

Mas onde exatamente isso era? E por que ele, Alrek, ou melhor, Erik, havia sido trazido de volta? Nenhuma dessas perguntas tinha uma resposta clara. E o que ele mais queria agora eram respostas, não mais charadas.

Ele olhou para os braços novamente, as runas brilhando fracamente sob sua pele. Quanto mais olhava para elas, mais sentia que não eram apenas marcas de poder, mas algo que o prendia, que o amarrava a um destino do qual não poderia escapar. O que quer que aquilo significasse, sentia que havia um peso por trás, como se as runas guardassem uma verdade que ele ainda não estava pronto para enfrentar.

A caminhada continuava sem rumo. Ele não sabia para onde estava indo, mas seguir em frente parecia a única opção. O céu cinzento e opressivo acima não oferecia nenhuma noção de tempo. Era como se o dia e a noite fossem indistinguíveis. Sem o sol, sem a lua, Alrek se sentia preso em uma espécie de limbo.

"O que quer que esteja acontecendo, deve haver uma saída," ele pensou, tentando não sucumbir à frustração.

Foi então que o som familiar de passos veio novamente, interrompendo seus pensamentos.

Dessa vez, os passos eram mais apressados. Alrek parou instantaneamente, suas mãos movendo-se instintivamente em direção à adaga que mantinha à cintura. O som estava mais próximo do que antes, e seu coração acelerou, enquanto ele se concentrava, tentando discernir a direção exata.

As árvores ao seu redor pareciam mais fechadas agora, os galhos grossos e retorcidos formando uma barreira quase impenetrável. Alguém — ou algo — o seguia. Mas dessa vez, não era como antes, quando Raven — aquele homem enigmático — o abordara com enigmas. Desta vez, havia um tom de urgência. Algo diferente.

De repente, a figura surgiu entre as árvores.

Era uma mulher.

Ela vinha correndo entre as árvores com uma graça fluida, mas havia uma expressão de medo em seu rosto. Suas vestes eram simples, mas desgastadas, como se estivesse correndo por um longo tempo. Seus cabelos escuros caíam desordenadamente sobre os ombros, e seus olhos estavam arregalados, cheios de pânico. Ela olhou diretamente para Alrek, e por um breve momento, ele sentiu a energia ao redor dela mudar. Havia algo mais por trás daquela aparência comum.

— Ajude-me! — ela gritou, a voz rouca pelo desespero.

Alrek hesitou por um segundo. Ele não conhecia aquela mulher, mas o medo em seus olhos era inegável, e sua voz carregava um desespero que ele não podia ignorar.

— O que está acontecendo? — Alrek perguntou, firmando o cabo da adaga em sua mão enquanto observava ao redor.

Ela tropeçou para mais perto, ofegante. — Eles estão vindo! Você precisa fugir!

— Quem? — ele exigiu, estreitando os olhos. — Fugir de quem?

Antes que ela pudesse responder, o som de passos mais pesados encheu a floresta. Esses eram diferentes. Eram fortes, ritmados, como os de um pequeno exército. Alrek virou-se, com os sentidos em alerta máximo, e percebeu a chegada iminente de algo perigoso.

Das sombras entre as árvores, figuras emergiram.

Homens, ou pelo menos algo parecido com eles. Suas armaduras eram negras como a noite, com espinhos que pareciam crescer dos próprios ossos. Seus olhos brilhavam com uma luz avermelhada e suas mãos seguravam lâminas longas e escuras. Eles não falavam, mas o modo como avançavam mostrava que não estavam ali para conversar.

Alrek se moveu rapidamente, colocando-se entre a mulher e os estranhos seres. Ele não sabia por que, mas algo dentro dele o impulsionava a protegê-la. Talvez fosse seu instinto de guerreiro, ou talvez a visão da vulnerabilidade dela tivesse despertado uma velha parte dele, a parte que acreditava em proteger os indefesos.

— Afaste-se! — ele gritou para os soldados, levantando sua adaga.

Os homens não responderam. Eles apenas continuaram a avançar, seus olhos fixos em Alrek e na mulher atrás dele.

Alrek sabia que com uma adaga simples ele estava em desvantagem, mas ele também sabia que não havia escolha. Ele nunca fora do tipo que recuava de uma luta.

Os primeiros dois soldados avançaram, rápidos e brutais. Alrek se esquivou do golpe de um deles, girando o corpo e desviando a lâmina escura que quase cortou sua garganta. Ele contra-atacou com um movimento rápido, enfiando a adaga no flanco do segundo soldado, mas para sua surpresa, a lâmina apenas ricocheteou, sem fazer qualquer efeito.

Esses não são humanos, pensou ele, sentindo o suor frio escorrer pela sua pele.

Antes que pudesse reagir, um dos soldados o empurrou com força, lançando-o para trás contra uma árvore. O impacto o atordoou, e ele sentiu a dor se espalhar por suas costas.

— Kyaaa! — A mulher gritou, sua voz carregada de terror.

Ele ofegou, tentando recuperar o fôlego, mas quando os soldados avançaram novamente, algo dentro dele mudou. As runas em seus braços começaram a brilhar com mais intensidade. Ele sentiu uma onda de calor pulsar sob sua pele, irradiando de seu corpo como uma força que ele não compreendia completamente.

Instintivamente, ele ergueu os braços, e o brilho das runas se intensificou, quase cegando os soldados que se aproximavam. Antes que ele pudesse entender o que estava acontecendo, um impulso invisível saiu de seu corpo, como uma onda de choque. Os soldados foram jogados para trás, caindo no chão como bonecos de pano, suas armaduras estilhaçadas pelo poder desconhecido que Alrek acabara de liberar.

Ele ficou parado por um momento, ofegante, tentando processar o que havia acabado de acontecer. O brilho das runas começou a diminuir, mas o calor ainda pulsava sob sua pele.

A mulher se aproximou lentamente, os olhos arregalados de surpresa e alívio.

— Você... você os deteve. — ela disse, sua voz cheia de admiração. — Como fez isso?

Alrek balançou a cabeça, ainda confuso.

— Eu... eu não sei. — Ele olhou para seus braços, para as runas agora cintilando fracamente. O que está acontecendo comigo?

Antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, o som de passos mais pesados ecoou novamente pela floresta. Mais deles estavam vindo.

A mulher agarrou seu braço, puxando-o com urgência.

— Temos que sair daqui agora! — disse ela, olhando desesperadamente para a escuridão entre as árvores. — Eles não vão parar até nos pegarem!

Alrek ainda estava atordoado pelo que havia acabado de acontecer, mas sabia que ela estava certa. Não havia tempo para pensar. Eles precisavam se mover.

Juntos, começaram a correr pela floresta, com os passos pesados dos soldados sombrios soando cada vez mais próximos. O poder que Alrek havia liberado lhe dava uma vantagem, mas ele não sabia quanto tempo conseguiria manter aquilo.

As runas... elas me protegeram. Mas por quê?

Enquanto corriam, uma coisa era certa: o que quer que estivesse acontecendo, ele havia acabado de se envolver em algo muito maior. E a jornada de Alrek apenas começara.

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