Hailey Miller é uma mulher maravilhosa, minha vida toda, assisti a minha mãe se desdobrar para ser tudo que eu precisava, foi minha médica, professora, psicóloga, pedagoga quando aprontei as minhas artes.
Mas uma coisa eu nunca reparei, talvez por puro egoísmo, ciúmes, ou sei lá, só sei que ela está sozinha.
— Você gostou do prédio?
Encarei a minha mãe, que está ao lado de mais alguns pais, essa primeira visita à faculdade já me abriu os olhos, e foi quase instantâneo. Casais de pai e mãe, vieram com os seus filhos para conhecer o “campus”.
— Sim, claro mãe!
Ela está com o mapa à mão, fazendo círculos em uma cafeteria, restaurantes e até uma tinturaria
— Mãe, o que acha que irei fazer em casa no final de semana? Vou levar a minha roupa para casa, não vou arriscar encolher as minhas roupas.
Ela sorriu e abraçou-me apertado. Ela sempre teve esse jeitinho, sempre demonstrando o quanto me ama. E o meu coração se apertou ao perceber, que. Quando finalmente eu entrar para a faculdade, irei criar as minhas raízes e ela vai ficar sozinha.
Tem isso também, conhecemos tantas cidades dos Estados Unidos e já tivemos tantos códigos postais no país, que já cogitei estarmos a fugir da polícia. Mas não foi o caso, era só a minha mãe que de uma maneira ou de outra, acabava perdendo o emprego, ela não tem culpa, nisso acredito que fui eu, já que ela foi mãe aos dezasseis anos, e não terminou o colegial.
Então todo trabalho que conseguia, estava ela lá, dando a cara a tapa. Trabalhando em horários horríveis, por salários piores ainda, mesmo sendo uma instrumentadora excelente.
E mesmo assim, conseguiu juntar suas economias para meus estudos. Eu não a decepcionarei, serei a melhor fisioterapeuta do país, para orgulhar a minha heroína.
Pai e filho, chegaram atrasados para o tour, o rapaz era alto, de olhos castanhos e cabelos castanhos cacheados, assim como o pai, e também eram bonitos.
— Olha mãe, que cara gato!
A minha mãe ficou vermelha, morta de vergonha. Como sempre ela ignorava qualquer interação com o sexo oposto?
— Mãe, por que nunca mais se casou?
A pergunta saiu fácil, mas ela encarou-me como se eu estivesse com o rosto sujo de #¿$?%!¡.
— Ora, mãe, foi só uma pergunta simples!
Ela bufou e voltou a andar, e aproximou-se de um grupo de mães animadas.
Aproximei-me dela e cruzei os meu braço no dela, como fazíamos, às vezes.
— Respondendo a sua pergunta, eu só não quis, e nem conheci ninguém que eu chegasse a pensar nisso.
Como eu disse, sozinha. E isso deixa-me triste e preocupada, não quero que ela seja infeliz.
Como posso ajudar a minha mãe a conhecer o seu príncipe encantado, por que ele com certeza está aí, à espera da mulher mais maravilhosa do mundo.
- Blair, essa é uma nova fase da sua vida, e eu tenho muito orgulho de você. Nem nos meus sonhos, eu imaginei ter uma filha como você.
Amo e odeio quando ela diz coisas assim. Sou uma manteiga derretida. E odeio chorar em público, ainda bem que não conheço ninguém aqui no meio desses calouros, que assim como eu, estão aqui para conhecer o “campus”, que iremos estudar e morar pelos próximos anos.
Limpei a minha lágrima que transbordou sem eu conseguir evitar.
- Também te amo, mamãe!
Eu olhei para a minha mãe enquanto conversava com as outras mães. A forma como ela sempre se ajustava a qualquer grupo me impressionava, ainda que ela sempre mantivesse certa distância, como se houvesse uma barreira invisível.
Eu sabia que, apesar de ser a mulher mais incrível que conheço, ela se protegia. E essa proteção não era só sobre mim, era também sobre ela mesma.
Enquanto caminhávamos para o próximo ponto do tour, me peguei pensando no que ela havia dito. Nunca quis, nunca conheceu ninguém. Isso soava um tanto triste, resignado. Como se ela tivesse simplesmente aceitado que estar sozinha era o destino dela. Não era justo. Ela se sacrificou tanto por mim que nunca teve a chance de viver a própria vida.
— Sabe, mãe, você merece mais do que isso — eu disse, interrompendo os meus próprios pensamentos. — Você merece ser feliz também.
Ela me olhou de lado, com aquele sorriso que conheço tão bem, o sorriso que usa quando acha que eu estou sendo dramática.
— Eu sou feliz, Blair. Tenho você, não preciso de mais nada.
Suspirei. Era exatamente disso que eu estava falando. Ela sempre colocava minha felicidade à frente da dela. Era incrível e frustrante ao mesmo tempo.
— Sim, mãe, eu sei. Mas e depois que eu estiver ocupada com a faculdade? Depois que eu começar minha própria vida? Você não pode continuar só pensando em mim. Precisa pensar em você também.
Ela parou de andar e me encarou, com os olhos cheios de algo que eu não conseguia identificar.
— Você não precisa se preocupar comigo, Blair. Eu sempre dei conta, e vou continuar dando. Minha felicidade é ver você bem. E, de verdade, eu estou bem assim.
Aquilo me irritou um pouco. Não porque ela estava errada, mas porque ela não via o que eu via. Não via o quanto merecia mais. Mais do que só o papel de mãe dedicada. Ela merecia amor, companheirismo... Alguém que cuidasse dela, como ela sempre cuidou de mim.
— Mãe, me escuta
eu disse, parando na frente dela.
— Você passou tanto tempo sendo tudo para mim que se esqueceu de ser algo para você mesma. E isso não é justo. Nem pra mim e nem pra você. Eu não quero carregar a responsabilidade de ser o único motivo da sua felicidade.
Ela suspirou, visivelmente desconfortável com a conversa. Não era o tipo de coisa que discutíamos. Talvez porque eu só agora me dei conta de como ela sempre esteve sozinha.
— Você está crescendo, Blair. Está entrando numa nova fase da vida. É normal querer me ver bem , mas me empurrar para algo ou alguém, você precisa entender que as coisas não são tão simples assim.
Ela estava certa, claro. Não era simples. Mas eu sabia que, se dependesse dela, essa conversa morreria aqui e agora. Então, insisti.
— E se você desse uma chance? Um encontro. Nada sério, só... para ver como é. Quem sabe não encontra alguém interessante?
Ela balançou a cabeça e riu levemente, como se a ideia fosse completamente absurda. Mas parecia com medo
— E onde você acha que vou encontrar alguém? Entre os pais dos seus colegas de faculdade?
— Por que não?
perguntei, sorrindo de lado.
— Eu já vi uns dois ou três que parecem bem interessados.
Ela ficou vermelha de novo, e eu sabia que tinha acertado em cheio. Talvez ela ainda não tivesse percebido, mas havia algo ali. Ela só precisava estar aberta para enxergar.
Minha mãe é uma mulher linda, jovem e competente. Qualquer homem se interessaria nela fácil.
— Blair, você está louca — ela disse, balançando a cabeça, mas o sorriso que apareceu no rosto dela me deu esperança.
— Vamos focar no que importa agora, ok? Sua faculdade, seu futuro.
— E o seu também, mãe
eu insisti, pegando a mão dela e apertando.
— Seu futuro também importa.
Ela não respondeu, apenas apertou minha mão de volta. Gostaria de ter plantado uma semente, e torci para que, com o tempo, ela começasse a perceber que, sim, o futuro dela também era importante. Ela merecia ser feliz, tanto quanto eu.
De volta para casa, minha cabeça não parava. O tour pela faculdade tinha sido incrível, mas agora minha mente estava em outra coisa.
Mamãe. Ela era a única pessoa no mundo que nunca me decepcionou, sempre estava lá, e me machucava vê-la sozinha, faltava algo. Aquela conversa durante o tour só reforçou o que eu já sabia: se dependesse dela, ela nunca sairia dessa bolha.
Foi aí que tive uma ideia. Uma ideia louca, claro, mas quem disse que as melhores ideias não nascem assim? Abri o notebook, me sentei no sofá, e comecei a pesquisar. Aplicativos de namoro. Tinha dezenas deles, cada um com uma proposta diferente. Escolhi um dos mais populares, algo simples, onde ela pudesse encontrar alguém... "compatível".
Ri sozinha enquanto preenchia o perfil dela. Coloquei uma foto bonita, uma que ela tirou no último Natal, quando estava arrumada, com aquele sorriso que todo mundo sempre elogia. Na descrição, tentei não exagerar, mas também não me contive muito:
"Hailey Miller, 37 anos. Mãe dedicada, batalhadora e, acima de tudo, alguém que merece ser amada. Apaixonada por café, livros e viagens. Gosta de conversas profundas e boas risadas. Buscando alguém sincero e divertido para compartilhar momentos."
A cada linha que escrevia, sentia uma mistura de euforia e nervosismo. Mamãe ia me matar se descobrisse, mas eu estava decidida. Ela merecia ser feliz, e se ela não ia procurar por si mesma, eu faria isso por ela.
Assim que terminei o perfil, passei a deslizar pelas fotos dos possíveis pretendentes. E, para minha surpresa, até que não foi tão difícil encontrar alguns caras interessantes.
Eu dei um pequeno pulo no sofá. Mal podia acreditar que isso estava a funcionar, um compatível, mandou solicitação. Rapidamente, comecei a conversar com ele, como se fosse minha mãe. Claro, mantendo tudo no tom casual e sem parecer muito desesperada, afinal, eu estava a jogar um jogo delicado. E então, sem perder tempo, sugeri um encontro. Algo leve, numa cafeteria aconchegante no centro da cidade.
- Com certeza, ela vai me matar.
Na manhã do encontro, eu me levantei mais cedo do que o normal, ainda processando a loucura do que estava prestes a fazer.
Alguns outros caras até mandaram mensagem, conversei com alguns interessados .
Não sei porque, mas esse em especial, me pareceu mais sério. E. E mesmo com um pé atrás, e pensando coisas, como, se for um serial kiler? Eu fui.
Não era comum eu me meter nas coisas assim, mas a situação de minha mãe exigia medidas drásticas.
Elijah parecia ser uma boa escolha: bem-sucedido, sem filhos, com uma aparência simpática e uma conversa leve e envolvente. Nada muito fora do comum, o que era bom. Mamãe não era fã de surpresas.
No entanto, era impossível não me sentir culpada. Era como se eu estivesse prestes a cruzar uma linha que talvez não devesse.
Olhei para o perfil que havia criado para ela mais uma vez, conferindo as mensagens trocadas com Elijah. A conversa havia sido tranquila até agora, mas hoje... hoje eu teria que estar preparada para encarar completamente uma pessoa que eu nunca vi.
Respondi algumas de outros interessados, não posso descartar todos os outros, só porque vou conversar com um.
Eu me arrumei com cuidado, tentando parecer mais adulta do que os meus dezoito anos normalmente me faziam parecer. Escolhi um vestido simples, mas elegante, nada que chamasse muita atenção.
Isso parecia algo que minha mãe faria. O plano estava armado: eu iria à cafeteria, encontraria Elijah, teria uma conversa e, se ele não fosse embora e, se ele fosse legal, eu arrumaria uma maneira de, eventualmente, inserir minha mãe na equação. Fácil, certo?
Claro, tinha um problema. Se minha mãe descobrisse, provavelmente iria me deserdar... ou algo assim.
Cheguei cedo à cafeteria, com tempo suficiente para pedir um café e respirar fundo algumas vezes antes de Elijah aparecer.
Era um lugar agradável, com uma vibe tranquila que certamente agradaria à minha mãe. Eu já podia imaginar ela aqui, tomando um café enquanto folheava um livro. Era perfeito.
Então, ele entrou. Mais alto do que eu esperava, com uma postura confiante ele sorriu para a atendente ao entrar, aquele tipo de sorriso que lhe faz querer sorrir de volta, mesmo que você esteja com a consciência pesada. Elijah olhou em volta e não viu a minha mãe, óbvio.
Ele sentou-se numa mesa aleatória, e a garçonete serviu-lhe um café.
Munida de uma coragem que eu nunca tive, levantei-me e andei até ele, e sentei-me a cadeira à sua frente.
As suas sobrancelhas quase se juntaram, e ele encarou-me com estranheza.
- Olá, mocinha está perdida?
Perguntou ao olhar em volta, e depois voltando os olhos para mim
- Sou Blair, filha da Hailey.
Os seus olhos arregalaram-se e as suas mãos juntaram-se em frente a ele, em cima da mesa.
- Que tipo de brincadeira é essa?
— Não é uma brincadeira
eu disse, tentando soar o mais calma possível, embora o meu coração estivesse disparado.
— Eu sei que isso parece estranho, mas... preciso falar com você antes de qualquer coisa.
Elijah franziu a testa, claramente confuso e, quem sabe, um pouco irritado. Ele me estudou com aqueles olhos perspicazes, enquanto eu tentava manter a compostura.
— Filha da Hailey?
ele repetiu, a incredulidade em sua voz era palpável.
— Então, onde está sua mãe? E por que você está aqui no lugar dela?
Respirei fundo, tentando organizar meus pensamentos. Este era o momento da verdade. Se ele fosse embora agora, o plano todo desmoronaria. E teria que começar do zero, com outro pretendente. Mas se ele fosse alguém compreensivo...
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