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EU, VOCÊ E A NOIVA

O pedido inesperado.

APRESENTAÇÃO DE PERSONAGENS PRINCIPAIS.  

...ISIS ...

Olá, sou Ísis, e se eu tivesse que me descrever, diria que sou uma mulher apaixonada por detalhes. Tudo que faço tem que ter um toque especial, seja no meu trabalho organizando casamentos ou na minha vida pessoal. Não sou de me prender em rótulos, mas confesso que sou perfeccionista. Gosto de tudo no lugar certo, da harmonia dos espaços, e acredito que cada pequena escolha faz uma grande diferença no final.

No fundo, sou alguém que carrega o desejo de deixar as coisas mais bonitas do que as encontrei. E não estou falando só de decorações. Acredito em transformar situações e trazer uma sensação de acolhimento por onde passo. Talvez por isso eu tenha me jogado tanto no trabalho. Mas também tenho meus momentos de diversão, onde permito que a espontaneidade tome conta. Na verdade, às vezes sou um furacão de ideias e sentimentos, e, mesmo com uma rotina louca, eu adoro o que faço. Minha vida é um equilíbrio entre responsabilidade e esse lado de sonhadora que não me deixa parar.

Sou leal com quem amo, e quando me envolvo, é de verdade. Eu busco viver com autenticidade, mesmo que isso signifique sair da zona de conforto e me desafiar constantemente.

"Organizar casamentos sempre foi meu refúgio, meu maior prazer, mas nunca imaginei que o destino transformaria isso na minha maior dor. O que antes me fazia vibrar, agora ameaça me destruir por dentro."

...BERNARDO LOHAN ...

Eu sou Bernardo, mas o nome que a maioria das pessoas usa comigo é Lohan. Dois nomes, duas versões de mim mesmo. Gosto de manter as coisas assim: separadas. Não é sobre me esconder, mas sobre escolher o que mostro e para quem. Acho que no fundo é uma forma de controle, algo que aprendi desde cedo, lidando com a empresa e com tudo que veio com ela. Sempre fui reservado, seletivo, e talvez um pouco misterioso. Mas essa é a minha natureza.

Nunca fui de me apegar facilmente, e nunca pensei que uma decisão pudesse mudar tanto o curso da minha vida. A verdade é que esse casamento... se eu soubesse que o destino seria tão cruel, por causa de uma única escolha, eu não teria feito. Não desse jeito.

As coisas ficaram complicadas, não vou mentir. Parece que quanto mais eu tento consertar, mais emaranhado tudo fica. Mas talvez seja porque, pela primeira vez, o controle não está mais nas minhas mãos. Não completamente. E, por mais que eu queira ser honesto, há coisas que não podem ser reveladas assim, de uma vez só. Algumas verdades são pesadas demais, e às vezes o silêncio parece a melhor escolha. Pelo menos por enquanto.

O que importa é que eu vou encontrar uma saída. Sempre encontrei. Mas se isso vai ser suficiente pra reparar o que já foi feito... só o tempo vai dizer.

Capítulo 1: O Pedido inesperado

Ser uma organizadora de casamentos é lidar com sonhos, dramas e, muitas vezes, expectativas irreais. Meu trabalho sempre foi minha paixão, uma forma de transformar momentos únicos em memórias inesquecíveis. Mas, quando recebi o evento de Amara, algo já parecia diferente.

Foi a mãe dela, Joana, quem me procurou primeiro. Ela queria garantir que tudo fosse impecável. Não era só mais um casamento, era “o” casamento. Para mim, cada casamento é especial, mas havia algo na forma como Joana falava sobre a cerimônia que me fez prestar mais atenção. A pressão era palpável, mesmo que Amara, a noiva, parecesse emocionalmente distante. Durante a primeira reunião, ela quase não falou. Sorria educadamente, respondia com monossílabos, e o brilho nos olhos, aquele que eu costumava ver em outras noivas, simplesmente não estava lá.

— Amara, querida, você já decidiu sobre as flores? — tentei, tentando animá-la. — Estava pensando que as peônias brancas combinariam perfeitamente com a sua paleta de cores.

Ela levantou o olhar, seu rosto sereno, mas vazio.

— Pode ser… O que você achar melhor — respondeu, sua voz tão baixa que quase não a ouvi.

Houve uma pausa desconfortável na sala. Joana tentou preencher o silêncio com entusiasmo forçado.

— Minha filha é tão prática, não é, Ísis? Sempre confia no bom gosto dos outros. Ela só quer que tudo seja perfeito, sem complicações.

O sorriso de Amara não se mexeu, mas seus olhos revelaram uma tristeza profunda, quase como se estivesse em algum outro lugar. Algo naquilo me incomodava. Havia uma desconexão entre mãe e filha, como se estivessem em lados opostos de um mundo que eu não conseguia entender completamente.

— Bom, então posso sugerir um arranjo com peônias e ranúnculos? — continuei, tentando puxar a atenção de Amara de volta para a conversa. — São flores que combinam bem com o estilo mais clássico do evento. Acho que vai trazer um toque romântico sem ser muito extravagante.

— Sim, claro — Amara murmurou. Ela parecia desconfortável, como se não quisesse estar ali.

Algo estava claramente errado, mas eu não podia pressionar demais. No meu trabalho, aprendi a equilibrar opiniões conflitantes e a suavizar tensões, mas, naquele momento, parecia que qualquer tentativa de trazer Amara para o centro das decisões seria em vão.

Joana olhou para mim, quase como se pedisse desculpas pelo comportamento da filha.

— Tenho certeza de que ela vai amar o que você sugerir, Ísis. Confio completamente no seu bom gosto. Aliás, quero garantir que o local da cerimônia seja absolutamente perfeito. Você já visitou a propriedade?

Eu assenti.

— Sim, é um espaço lindo, mas vou precisar fazer algumas adaptações para o estilo que vocês estão procurando. Podemos adicionar um arco de flores na entrada principal e aproveitar o jardim para a recepção. O pôr do sol lá deve ser espetacular.

— O arco parece ótimo — Joana respondeu com entusiasmo, enquanto Amara permanecia quieta, os olhos fixos no anel em sua mão esquerda. — Este casamento é muito importante para nossas famílias, você entende? Não é apenas uma celebração... é o legado das duas famílias que se unem.

Eu sorri, compreendendo a profundidade das palavras de Joana. Para ela, esse casamento era mais que um simples evento social — era um contrato entre duas famílias de renome, e o sucesso ou fracasso desse dia refletiria muito mais do que flores e decoração.

— Com certeza, faremos o possível para que o casamento de vocês seja impecável — garanti, mas ainda não conseguia desviar os pensamentos de Amara, que parecia desconfortavelmente à margem de sua própria celebração.

Joana continuou a discutir detalhes enquanto eu anotava tudo diligentemente, mas minha mente estava presa na noiva silenciosa à minha frente. O que estaria passando pela cabeça dela? Será que havia algo mais profundo acontecendo, algo que eu ainda não entendia?

Quando finalmente terminamos a reunião, Joana foi a primeira a se levantar, animada com todos os detalhes organizados.

— Tenho certeza de que tudo ficará perfeito, Ísis. Estou muito animada.

Amara ainda estava sentada, como se tivesse ficado para trás. Quando Joana saiu da sala, me virei para ela, hesitante, mas sentindo a necessidade de dizer algo.

— Amara… se houver algo que você queira mudar ou adicionar, não hesite em me falar, tá? Este é o seu dia também.

Ela me olhou, e, por um breve momento, vi algo mais em seus olhos — uma mistura de confusão e desespero. Ela abriu a boca como se fosse falar, mas então a fechou rapidamente, balançando a cabeça.

— Está tudo bem — disse, com um sorriso forçado. — É só que... Meu pai faleceu a alguns meses e eu se quer consigo pensar em flores, sem lembrar do seu velório.

Senti o pesar, empática disse.

— Eu sinto muito, Se você quiser, envés de flores, podemos por um véu de led, um lugar bem iluminado com pontos de luzes.

Ela sorriu brevemente.

— Está tudo bem, as flores estão ótimo, confio no gosto de minha mãe e no seu trabalho. Eu... só preciso ir agora.

E, com isso, ela se levantou e saiu da sala, deixando para trás um vazio que ecoou em mim. Algo definitivamente não estava certo, mas eu não sabia o que era.

Talvez fosse a falta do pai, talvez saber que entrará sozinha ou com outro alguém que não fosse ele, bom.. Isso talvez nunca soubesse.

Quando fiquei sozinha, suspirei profundamente. Sabia que seria um casamento complexo, mas não esperava esse tipo de desconexão. Fiquei pensando em como era estranho que Amara, a noiva, parecia tão distante do evento que deveria ser um dos dias mais importantes da vida dela. Havia algo mais, algo que ainda estava oculto.

Mal sabia eu que esse seria apenas o começo das reviravoltas. Aquele casamento, que parecia ser apenas mais um na minha longa lista de eventos, se revelaria um dos maiores desafios emocionais da minha vida. E a figura misteriosa que surgiria em breve mudaria tudo, para mim, para Amara e para todos os envolvidos.

 

MISTÉRIOS, QUEM É O NOIVO?

PRÓLOGO

E então, havia o noivo. O homem sobre o qual Amara raramente falava. A cada vez que eu mencionava o nome dele, ela parecia desconfortável, como se ele fosse uma peça de um quebra-cabeça que ela não queria realmente encaixar. Quem era ele? Eu sabia que deveria conhecê-lo, afinal, ele era o noivo do casamento que eu estava planejando. Mas, estranhamente, ele nunca apareceu. Nem uma vez. Era sempre a mãe de Amara ou a própria noiva quem tratava dos detalhes, mas o noivo permanecia uma figura ausente, uma sombra.

Isso até que, numa tarde qualquer, enquanto revia alguns contratos, minha mente me traiu. Voltei a pensar no homem da lavanderia. E então, uma ideia absurda surgiu em minha mente. Não, não poderia ser... ou poderia?

Rascunho

ILUSTRAÇÃO ...

Capítulo 2: Encontro Acidental

Era para ser um dia de folga. Um raro momento em que eu finalmente teria tempo para organizar meu pequeno apartamento, resolver pendências e, claro, lavar aquela montanha de roupas que se acumulava há semanas. Mas, como de costume, os planos nunca saíam como esperado. No momento em que coloquei os pés na lavanderia, meu telefone tocou — de novo.

— Sim, eu já falei que vou cuidar disso — disse, tentando manter a calma enquanto equilibrava a pilha de roupas sujas e o celular ao mesmo tempo.

Era uma cliente insistente, que não aceitava "não" como resposta. O evento dela já estava praticamente resolvido, mas, ainda assim, ela fazia questão de ajustar cada detalhe, como se eu não soubesse o que estava fazendo. Entre acrobacias com as roupas, o telefone, e tentando não deixar nada cair, avancei até a máquina de lavar. O dia estava bagunçado e eu também.

— Claro, vamos ajustar o cronograma... — continuei, tentando acalmar a cliente enquanto abria a máquina e começava a enfiar as roupas lá dentro.

Foi então que aconteceu. Com um movimento apressado e desajeitado, esbarrei no galão de sabão que estava ao meu lado. Ele não só estava destampado, mas prestes a tombar, derramando todo o conteúdo sobre o chão da lavanderia. Um desastre iminente. Soltei um pequeno grito de frustração, ainda segurando o telefone, tentando me equilibrar para salvar o galão... mas alguém foi mais rápido.

Uma mão firme surgiu à minha frente, pegando o galão com precisão antes que ele caísse. Olhei para o lado, surpresa, e vi o homem que eu sempre via na lavanderia. Ele estava lá quase toda vez que eu ia, sempre calmo, silencioso, mas com um olhar que parecia ver mais do que demonstrava. Hoje, pela primeira vez, ele havia se aproximado.

— Opa, Acho que você precisa de uma folga de verdade — disse ele, com um sorriso misterioso nos lábios.

Desliguei o telefone, sem nem lembrar da desculpa que dei à cliente, e encarei-o. Algo no modo como ele falou, no olhar que ele me deu, fez o ambiente ao nosso redor parecer mais calmo. Mas ao mesmo tempo, ele exalava uma energia que me deixava curiosa.

— É, talvez eu precise mesmo — respondi, ajeitando o cabelo e tentando fingir que não estava totalmente desconcertada. Droga, no meu dia mais desajeitada.

Estava vestindo um short jeans curto, com um rasgo ao bolso. Blusa larga e um coque preso por minha companheira de sempre, minha caneta de anotações. Também usava um óculos de lentes transparentes, de armação preta.

Ele colocou o galão de sabão no chão e me deu um sorriso que não consegui decifrar totalmente. Não parecia o típico "sorriso simpático" de quem só está ajudando. Havia algo mais. Algo que me fez querer perguntar seu nome, saber mais sobre ele. Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, ele falou novamente:

— Você sempre está tão ocupada. Parece que a vida não te dá uma pausa. Talvez precise desligar um pouco... sair dessa rotina.

Eu ri, um pouco sem graça. Ele estava certo, minha vida era um turbilhão de eventos, listas e clientes exigentes. Mas ele não parecia estar fazendo apenas um comentário casual. Tinha algo no modo como me observava que parecia mais profundo, como se houvesse uma segunda camada naquelas palavras.

— Você sempre vem aqui... Quer dizer, eu sempre te vejo aqui.— Disse nervosamente.

— Você também. — Respondeu com humor. — Talvez, precise só reduzir um pouco a velocidade, achar outras coisas para desacelerar além da lavanderia.

Encarei ele surpresa, então... Ele também me observava? novata nossos dias de folga praticamente juntos, era como um encontro semanal, sempre no mesmo dia, no mesmo horário. Mesmo que troque os horários, vez ou outra vinha de manhã, e até parecia que ele sentia, do nada... Ele estava lá, com seu olhar cativante, sorriso encantador.

— Não que eu não goste de ver você toda semana, Mas acho que seria bom encontrar algo novo.

Abrir um sorriso pequeno, sutil e intrigado.

— E o que você sugere? — perguntei, meio brincando, meio curiosa.

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, caminhou até mim, parando ao meu lado. Então, de forma completamente inesperada, ele removeu a caneta que eu havia prendido no coque de cabelo. Senti um arrepio correr pela minha espinha quando ele pegou minha mão, sem pressa, e escreveu seu número ali, na palma.

— Se algum dia você quiser uma pausa de verdade, me liga — disse ele, sua voz baixa e confiante.

Soltei a respiração que nem percebi estar segurando. Ele entregou a caneta de volta, e antes que eu pudesse perguntar algo mais, ele se afastou, mantendo aquele sorriso enigmático.

— Mas… como você se chama? — consegui perguntar, já um pouco sem fôlego.

Ele apenas deu de ombros e olhou por cima do ombro, como se dissesse "você vai descobrir".

— Pode saber, se me ligar! —Disse com seu sorriso tão atraente.

E assim, o homem misterioso saiu da lavanderia, me deixando com uma mão cheia de roupas e a outra com o número dele escrito. Eu sorri, sem saber muito bem o que pensar. Quem ele era? E por que eu sentia que, de alguma forma, aquilo mudaria tudo?

__________________________________________

Chego em casa exausta, arrastando os pés enquanto cumpro o ritual diário: sapatos fora, chaves no balcão. Meu apartamento, embora pequeno, é meu refúgio, e hoje, mais do que nunca, sinto a necessidade de me afundar no sofá e deixar o mundo lá fora.

Suspiro profundamente, sentindo o peso do dia em meus ombros. Ainda tenho uma pilha de tarefas a fazer, e a ideia de ter que buscar as roupas passadas mais tarde só aumenta minha exaustão. No entanto, algo diferente aconteceu hoje. Aquele encontro na lavanderia... o homem misterioso que deixou seu número na minha mão.

Pego o celular, olho para o número anotado na minha palma e decido salvá-lo. Sei lá.. Talvez, só talvez ele merecesse.

Com o número já salvo, abro o aplicativo de mensagens e começo a digitar um simples "oi". Mas, conforme meu dedo hesita sobre o botão enviar, uma dúvida me invade. Será que devo realmente enviar essa mensagem? O que espero conseguir com isso? E se ele for alguém que eu realmente não deveria conhecer?

Fico ali, sentada, com o celular na mão, ponderando sobre o peso de uma simples mensagem. A curiosidade batalha com a cautela, e eu me pergunto se estou pronta para desvendar o mistério desse homem intrigante.

...

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