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Entre o Amor e o Perigo

Olhares que Cruzam Mundos.

Ana Clara ajustou a câmera uma última vez, sentindo o peso familiar do equipamento em suas mãos. A tranquilidade que vinha com o trabalho ajudava a acalmar sua mente sempre inquieta. O evento daquela noite era mais um em sua longa lista de compromissos profissionais — festas luxuosas, eventos beneficentes e ocasiões em que a elite da cidade se reunia. Mas aquela noite tinha algo diferente. Uma tensão no ar, algo que ela não conseguia definir.

O salão onde o evento ocorria era deslumbrante. Lustres de cristal pendiam do teto abobadado, lançando reflexos brilhantes nas paredes de mármore branco. O ambiente era uma mistura de sofisticação e ostentação; todos estavam ali para ser vistos, mais do que para realmente contribuir para qualquer causa beneficente. As risadas eram calculadas, as conversas pareciam fluir de maneira ensaiada, e Ana estava ali, invisível, capturando tudo através de sua lente.

Ela nunca se acostumara com esse mundo, mesmo tendo trabalhado nele por anos. Suas raízes eram simples. Filha de imigrantes, Ana cresceu em um bairro operário, longe do brilho e do glamour que agora a cercavam. A fotografia era sua fuga, sua maneira de transformar o ordinário em algo extraordinário. Mas, naquele salão, ela se sentia uma intrusa. Ali, onde as pessoas usavam trajes que custavam o que ela ganhava em um ano, era fácil se sentir deslocada.

Enquanto caminhava discretamente pelas bordas do salão, seu olhar vagou pelos convidados. Homens de terno ajustado e mulheres vestidas com o melhor da alta-costura. Ela reconheceu alguns rostos — políticos, empresários, celebridades locais. Mas seu olhar foi atraído por uma figura diferente, mais imponente. Ele estava no centro da sala, cercado por um grupo de homens e mulheres, todos atentos ao que ele dizia.

Enzo Ferrari. O nome já havia aparecido nos jornais, mas sempre entre linhas, nas entrelinhas das colunas sociais e nos boatos que corriam pela cidade. Ele não era apenas mais um magnata. Era o homem que controlava as sombras da cidade, o nome que ninguém ousava dizer em voz alta. Havia rumores sobre seu envolvimento com o tráfico de armas, extorsão e outras atividades ilícitas. Diziam que nada acontecia sem o seu consentimento. E ali estava ele, parecendo totalmente à vontade.

Ana sentiu um frio percorrer sua espinha ao observá-lo. Ele era bonito, de uma maneira perigosa. Os cabelos escuros estavam perfeitamente penteados para trás, e a barba bem aparada destacava seu queixo forte. Seus olhos, de um tom profundo de âmbar, varriam a sala como se nada escapasse a seu controle. Ele usava um terno sob medida que parecia tão natural nele quanto a própria pele. Mas não era isso que mais chamava a atenção. Era a aura de poder que ele exalava, uma presença que dominava o ambiente.

Ela tentou desviar o olhar, lembrando a si mesma que estava ali para trabalhar. Mas, antes que pudesse, os olhos de Enzo se encontraram com os dela. Foi como se o tempo tivesse parado por um momento. Um arrepio percorreu sua coluna, e ela teve a sensação incômoda de que ele podia ver mais do que ela queria mostrar. Seus olhos não eram apenas observadores, eram julgadores, analisando-a de uma maneira que a fazia se sentir vulnerável.

Ana rapidamente desviou o olhar, tentando se concentrar na câmera, mas o efeito daquele breve momento continuava com ela. Seu coração batia acelerado. Algo naquela troca de olhares a deixou inquieta, mas ela não sabia explicar o quê. Talvez fosse o fato de saber quem ele era — ou o que ele representava. Mas havia algo mais, uma faísca que ela não conseguia ignorar.

Ela continuou fotografando o evento, tentando se misturar ao ambiente. Mas a presença de Enzo era como uma sombra que a seguia, mesmo quando ele não estava mais em seu campo de visão. À medida que a noite avançava, Ana percebeu que ele também a observava de tempos em tempos, seus olhares se cruzando brevemente em meio à multidão.

Enquanto caminhava para o bufê, Ana se pegou pensando em seu irmão, Guilherme. Ele sempre fora mais destemido do que ela, mais disposto a se arriscar em busca de seus sonhos. Mas seu desaparecimento recente havia lançado uma sombra sobre a vida de Ana. As últimas semanas foram repletas de incertezas, enquanto ela tentava desvendar o que havia acontecido com ele. As pistas eram poucas e levavam a becos sem saída, mas Ana sabia que o submundo da cidade estava de alguma forma envolvido. Ela só não sabia como. Ou quem.

Perto do fim da noite, enquanto os convidados começavam a se dispersar, Ana sentiu uma presença ao seu lado. Antes que pudesse se virar, uma voz grave e profunda soou em seu ouvido.

— Você tem um bom olhar.

Ela se virou rapidamente e deu de cara com Enzo Ferrari, mais próximo do que ela jamais imaginou estar. Ele era ainda mais intimidante de perto, a intensidade de seus olhos prendendo os dela.

— Obrigada, eu... — ela gaguejou, sem saber o que dizer.

— É raro ver alguém que observa, em vez de apenas enxergar — ele continuou, com um leve sorriso nos lábios. — Isso é uma qualidade rara.

Ana tentou manter a compostura, mas a proximidade dele a deixava nervosa. Ela sabia que ele não era o tipo de pessoa com quem se deveria estar à vontade. Havia algo nele que gritava perigo, mas, ao mesmo tempo, uma estranha atração a puxava para mais perto.

— Estou só fazendo meu trabalho — disse ela, finalmente encontrando sua voz.

— Eu sei quem você é — disse ele, calmamente. — Ana Clara, certo?

Ela sentiu um calafrio. Como ele sabia seu nome?

— Isso... Isso mesmo — respondeu, hesitante. — Como você...

Antes que pudesse terminar, ele deu um leve aceno de cabeça e se afastou, deixando-a ali, com mais perguntas do que respostas.

Enquanto Enzo desaparecia entre a multidão, Ana se deu conta de que sua vida acabara de tomar um rumo inesperado. E, de alguma forma, ela sabia que aquele breve encontro era apenas o começo de algo muito maior — e mais perigoso — do que ela poderia imaginar.

Segredos nas Sombras

O sol mal havia nascido quando Ana Clara acordou com o toque insistente de seu celular. Ela demorou alguns segundos para reconhecer o ambiente — seu pequeno apartamento no centro da cidade. Os acontecimentos da noite anterior ainda estavam frescos em sua mente. O evento beneficente, a atmosfera sufocante de riqueza e poder, e, principalmente, aquele encontro desconcertante com Enzo Ferrari.

Ela pegou o celular na mesa de cabeceira e olhou para a tela. Um número desconhecido. Por um instante, hesitou. Desde o desaparecimento de Guilherme, chamadas de números desconhecidos a deixavam inquieta. Mas a curiosidade falou mais alto, e ela atendeu.

— Alô?

Do outro lado, o silêncio. Depois, uma respiração pesada.

— Quem é? — Ana perguntou, a tensão crescendo em sua voz.

Um ruído estranho, como o de algo sendo arrastado, seguido por uma voz baixa e rouca.

— Cuidado onde pisa, Ana. Há coisas que você não quer descobrir.

Ela congelou. O coração batia descompassado. Antes que pudesse responder, a ligação foi encerrada. Ana ficou olhando para o celular, ainda atordoada. Quem poderia ser? E por que estavam a avisando?

O desaparecimento de Guilherme havia sido súbito e inexplicável. Ele era um jovem brilhante, sempre em busca de algo maior, sempre disposto a correr riscos. Ana sabia que ele andava com pessoas perigosas, mas sempre acreditou que, de alguma forma, ele conseguiria sair ileso. Até o dia em que ele simplesmente desapareceu. Sem aviso, sem rastros. Apenas um silêncio que a corroía por dentro.

Desde então, ela vinha tentando juntar as peças de um quebra-cabeça que parecia impossível de completar. A polícia fora pouco útil, tratando o caso como mais um desaparecimento voluntário. Mas Ana sabia que algo mais estava em jogo. Algo que envolvia o submundo da cidade. E, depois da noite anterior, ela começava a suspeitar que Enzo Ferrari poderia estar no centro disso.

Ela se levantou da cama, o corpo ainda pesado de cansaço, e foi até a janela. O sol começava a iluminar as ruas movimentadas de São Paulo, mas, dentro dela, tudo parecia escuro e incerto. Precisava de respostas, e agora mais do que nunca.

Ana passou o resto da manhã tentando tirar Enzo da cabeça. Mas era inútil. A lembrança de seus olhos a encarando, de seu jeito calmo e perigoso, não a deixava em paz. Como ele sabia seu nome? E por que parecia tão interessado nela? O homem era um mistério, um que ela não tinha certeza se queria desvendar.

Por volta do meio-dia, enquanto revisava as fotos que havia tirado no evento, o celular vibrou novamente. Outra mensagem de um número desconhecido. Desta vez, um endereço. Rua 5, nº 154 — Zona Norte. Nenhuma explicação, nenhum nome. Apenas o endereço.

Ana sentiu um nó se formar no estômago. Cada parte racional de sua mente dizia para ignorar. Mas a parte dela que ainda buscava respostas para o desaparecimento de Guilherme não podia deixar passar. O que mais ela tinha a perder?

Decidida, pegou sua câmera e uma pequena bolsa, certificando-se de que tinha um spray de pimenta dentro, e saiu de casa. O bairro onde o endereço estava localizado não era dos melhores. Prédios antigos, ruas pouco movimentadas e o ar de abandono. Ana sabia que estava entrando em território desconhecido, mas algo a impelia a seguir em frente.

Ao chegar ao prédio mencionado na mensagem, olhou ao redor. Era um edifício antigo, com as paredes manchadas pelo tempo. Não havia sinal de vida ali, exceto pelo som distante do trânsito. Hesitante, Ana entrou no prédio e subiu as escadas até o terceiro andar. Lá, encontrou a porta marcada com o número 154.

Ela respirou fundo antes de bater. Nenhuma resposta. Tentou bater de novo, e dessa vez a porta se abriu com um rangido baixo. O corredor do apartamento estava mergulhado em sombras, a luz do corredor não chegava até lá dentro.

— Olá? — chamou, hesitante.

O silêncio era quase opressor. Ana deu um passo para dentro, sentindo o piso de madeira rangendo sob seus pés. O apartamento parecia vazio, mas havia algo de errado. Ela sentia o cheiro de mofo e de algo mais, algo metálico. Sangue?

No centro da pequena sala, havia uma mesa simples. Sobre ela, um envelope pardo. Ana se aproximou devagar, o coração batendo rápido, e abriu o envelope. Dentro, havia uma única fotografia. Seu coração quase parou quando ela viu quem estava na imagem: Guilherme, com o rosto marcado por ferimentos, preso a uma cadeira, em um lugar desconhecido.

Ana recuou, quase derrubando a cadeira atrás de si. Seu irmão estava vivo. Mas em que condições?

Antes que pudesse processar o que estava vendo, o som de passos ecoou pelo corredor. Seu instinto de sobrevivência assumiu o controle. Ela pegou a foto, enfiou de volta no envelope e saiu correndo do apartamento, descendo as escadas em um frenesi. Quando chegou à rua, olhou para trás apenas o suficiente para ver uma silhueta alta e esguia à porta do prédio, observando-a. Seria ele? Seria Enzo?

Ela não esperou para descobrir. Correu pelas ruas estreitas até encontrar um táxi. Ao entrar no carro e dar o endereço de seu apartamento ao motorista, as mãos de Ana tremiam. Não apenas porque descobrira que Guilherme estava vivo, mas porque sabia que aquela foto não havia sido deixada ali por acaso. Alguém queria que ela soubesse. Alguém a estava puxando para um jogo perigoso.

Mas quem?

De volta ao apartamento, Ana fechou a porta atrás de si, tentando recuperar o fôlego. Suas mãos ainda tremiam quando colocou o envelope sobre a mesa e olhou para a foto novamente. Ela sabia que, ao entrar naquele mundo, não havia volta. Mas agora que tinha uma pista, uma prova de que seu irmão ainda estava vivo, não podia desistir.

Enquanto encarava a imagem do irmão ferido, o telefone tocou novamente. Desta vez, uma mensagem curta apareceu na tela:

"Aproxime-se de Enzo Ferrari. Ele tem as respostas que você busca."

Ana sentiu um arrepio. A mensagem era clara: seu caminho agora estava entrelaçado ao de Enzo. E, de alguma forma, ele estava envolvido no desaparecimento de Guilherme. O que ele sabia? Por que estava no centro de tudo?

Ela sabia que se aproximar de um homem como Enzo era perigoso, mas não havia outra opção. Ela faria o que fosse necessário para salvar seu irmão, mesmo que isso significasse mergulhar de cabeça em um mundo de segredos, mentiras e traições.

Entre o Perigo e a Verdade.

Ana passou horas olhando fixamente para o celular, a última mensagem ainda brilhando na tela. “Aproxime-se de Enzo Ferrari.” Aquilo ressoava em sua mente repetidamente, como um aviso. Quem havia enviado aquela mensagem? E por que acreditavam que Enzo tinha as respostas que ela procurava?

Ela não podia confiar em ninguém. Guilherme havia desaparecido porque confiara nas pessoas erradas, e Ana não cometeria o mesmo erro. Mas, ao mesmo tempo, sabia que não poderia ignorar o que estava acontecendo. Guilherme estava vivo, e aquele era o primeiro sinal concreto que ela tinha em meses. A única saída era seguir o fio daquele labirinto até o fim, mesmo que significasse encarar o homem mais perigoso da cidade.

Nos dias seguintes, Ana fez o possível para se manter ocupada, tentando distrair a mente enquanto elaborava um plano. Continuou com seus trabalhos fotográficos, mas a cada clique da câmera, sua mente voltava para Enzo. Como ela poderia se aproximar de um homem tão inacessível? Alguém cercado por uma camada de segurança e desconfiança que mantinha até os mais ousados à distância?

Na terceira noite, depois de passar horas em claro, Ana tomou uma decisão. Ela voltaria ao mundo de Enzo, mas com cuidado. Precisava se infiltrar, ganhar sua confiança. Se ele realmente tivesse informações sobre Guilherme, era sua única chance de descobrir a verdade.

Com o plano em mente, ela pegou o telefone e discou um número familiar. Laura, sua amiga jornalista, era uma das poucas pessoas em quem Ana confiava. Elas se conheciam desde a faculdade e, por sorte, Laura tinha algumas conexões importantes no submundo.

— Laura, preciso de um favor — Ana disse assim que a amiga atendeu.

— Sempre um favor. O que foi dessa vez, Ana? — Laura respondeu, brincando, mas com uma pontada de preocupação.

Ana explicou brevemente o que estava acontecendo, omitindo os detalhes mais perigosos. Laura, apesar de relutante, concordou em conseguir um contato para que Ana fosse convidada para outro evento de caridade onde, segundo ela, Enzo estaria presente.

No fim de semana, Ana se encontrou em outro salão de mármore, ainda mais luxuoso que o anterior. Estava nervosa, mas determinada. Desta vez, não estava ali como fotógrafa. Trocou a câmera por um vestido elegante e um ar de segurança que disfarçava sua inquietação. O lugar estava lotado, mas ela sabia exatamente quem procurava. E, no fundo do salão, mais uma vez, lá estava ele.

Enzo Ferrari, cercado por seus associados, conversando casualmente com uma mulher que parecia pendurar-se em cada palavra que ele dizia. Ana respirou fundo. O plano era simples: se aproximar, fazer contato, e esperar que o jogo se desenrolasse a seu favor. Mas, por dentro, ela sabia que nada envolvendo Enzo seria simples.

Caminhou em direção ao bar, fingindo desinteresse, mas com os olhos atentos aos movimentos dele. Depois de alguns minutos, para sua surpresa, sentiu uma presença ao seu lado. Quando se virou, encontrou aqueles olhos âmbar encarando-a de perto.

— Parece que nos encontramos novamente, Ana Clara — disse Enzo, com um sorriso enigmático nos lábios. Ele a observava como se já soubesse exatamente o que ela estava fazendo ali.

— Não sabia que você se lembrava de mim — respondeu, tentando soar despreocupada, mas sua voz traiu uma leve hesitação.

— Eu sempre me lembro das pessoas que me interessam. — A voz dele era calma, mas havia um subtexto que a deixava desconcertada. Ele sabia algo, mas o quê?

Ana sorriu, tentando se manter no controle da situação. Mas antes que pudesse responder, Enzo continuou:

— Imagino que não esteja aqui apenas para desfrutar do evento. Não faz seu tipo. Então, por que veio? — Ele inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse esperando que ela contasse algo que já sabia.

Ana congelou por um segundo, o coração acelerando. Ela não podia ser transparente demais. Não ainda. Precisava jogar o jogo dele, entrar em sua órbita sem levantar suspeitas.

— Estou curiosa, talvez — respondeu, olhando diretamente para ele. — Você parece ser alguém que comanda tudo à sua volta. Eu quis ver de perto.

Enzo a observou com um olhar analítico, como se estivesse tentando ler cada pensamento dela. O silêncio entre eles pareceu durar uma eternidade, até que ele riu baixinho, um som que ressoou fundo no peito de Ana.

— Curiosidade é perigosa, Ana Clara. — Ele deu um passo para mais perto, reduzindo a distância entre eles. — Às vezes, leva a lugares de onde não se pode voltar.

Ela sentiu o peso de suas palavras, um aviso claro. Mas, ao invés de recuar, Ana sentiu algo despertando dentro de si — uma coragem impulsiva, misturada com a urgência de encontrar seu irmão.

— Talvez eu goste de viver perigosamente — respondeu, sem pensar, e logo se arrependeu da ousadia. Mas Enzo parecia satisfeito com a resposta.

— Eu sabia que havia algo diferente em você — disse ele, com um sorriso que era ao mesmo tempo encantador e ameaçador. — Venha, deixe-me mostrar algo.

Antes que Ana pudesse processar o que estava acontecendo, Enzo a conduziu pelo salão, movendo-se com uma confiança imperturbável. Ele a levou até uma porta lateral, que dava para um corredor escuro e silencioso, longe dos olhares curiosos da festa.

Ela sentiu uma onda de nervosismo. Estar sozinha com ele ali, afastada de todos, fazia seu coração disparar. Mas, ao mesmo tempo, ela sabia que aquela era sua chance. Ele a estava conduzindo para o lado mais sombrio de seu mundo, e talvez ali ela encontrasse respostas.

Quando chegaram ao fim do corredor, Enzo abriu uma porta de ferro que dava para uma sala simples, decorada com móveis austeros, contrastando com o luxo do resto do prédio. No centro da sala, uma mesa de madeira e, sobre ela, uma pequena pilha de documentos.

— Sente-se — disse ele, com um gesto que não permitia objeção.

Ana hesitou, mas se sentou. Enzo pegou um dos documentos da mesa e o colocou diante dela. A imagem de Guilherme, seu irmão, apareceu no topo da página. Ana sentiu um calafrio percorrer sua espinha.

— Você sabia desde o início, não é? — Ela perguntou, sua voz firme, apesar do medo crescente.

Enzo a encarou, seus olhos duros.

— Sim. Seu irmão se envolveu em coisas maiores do que ele podia lidar. E agora você também está envolvida. — Ele fez uma pausa, observando a reação de Ana. — A única pergunta que resta é: até onde você está disposta a ir para descobrir a verdade?

Ana olhou para a foto de Guilherme. Seu coração estava acelerado, sua mente, uma confusão de emoções. Mas havia uma coisa de que ela tinha certeza.

— Até o fim — respondeu, determinada.

Enzo deu um leve sorriso, um que não chegou aos olhos.

— Então você está no lugar certo.

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